Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães

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Elina Guimarães
Nome completo Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães da Palma Carlos
Nascimento 8 de agosto de 1904
Lisboa, Reino de Portugal Portugal
Morte 24 de junho de 1991 (86 anos)
Lisboa, Portugal Portugal
Nacionalidade Portugal Portuguesa
Progenitores Mãe: Alice Pereira Guimarães
Pai: Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães
Cônjuge Adelino da Palma Carlos (1928, 2 filhos)
Ocupação Escritora e jurista
Prémios Oficial da Ordem da Liberdade

Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães OL (Lisboa, 8 de agosto de 1904 - Lisboa, 24 de junho de 1991), mais conhecida por Elina Guimarães, foi uma escritora, jurista, activista feminista e vice-presidente da direcção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP). Era filha do político republicano Vitorino Guimarães.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros Anos[editar | editar código-fonte]

Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães nasceu a 8 de agosto de 1904 em Lisboa, filha única de Alice Pereira Guimarães e de Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães, militar do Exército Português que exerceu cargos políticos de relevo durante a Primeira República Portuguesa, entre as quais as funções de presidente do Ministério, o equivalente ao actual cargo de primeiro-ministro de Portugal.

Crescendo num ambiente doméstico dominado pela política, desde cedo se interessou pela acção política, em especial pela defesa dos direitos da mulher.[1] Entusiasta e combativa na defesa das suas convicções de igualdade de direitos e oportunidades de homens e mulheres e de valorização da capacidade intelectual feminina, mereceu de Afonso Costa, amigo da família, o epíteto de "mulher do futuro".

Depois de realizados os primeiros estudos em casa e de frequentar o Liceu de Almeida Garrett e o Liceu de Passos Manuel, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, cujo curso concluiu a 25 de novembro de 1926 com a classificação de 18 valores.

Ativismo Social e Feminismo[editar | editar código-fonte]

Em 1925, ainda estudante universitária, aderiu ao movimento feminista, publicando no periódico Vida Académica uma contestação ao conteúdo derrogatório em relação às mulheres que estudavam a obra O Terceiro Sexo de Júlio Dantas. Em resultado desse artigo, foi convidada por Adelaide Cabete para integrar o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), do qual logo em 1927 assumiu as funções de secretária-geral.[2]

Em 1928 foi eleita vice-presidente da direcção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e elaborou, com a colaboração de Angélica Lopes Viana Porto e Sara Beirão, um plano de conferências feministas. Nesse cargo, que exerceu no período de 1928-1929 e em 1931, promoveu uma revisão estatutária do Conselho e desenvolveu uma intensa actividade, em particular da defesa do direito de participação feminina na vida política e na luta pela conquista do sufrágio feminino.[3][4]

Outra grande causa a que se dedicou foi a da defesa de uma educação igualitária, que considerava a via para assegurar às mulheres a mesma preparação profissional e liberdade de trabalho de que gozavam os homens. Com esse objectivo apresentou várias comunicações em congressos e reuniões públicas, entre as quais as intituladas "A protecção à mulher trabalhadora" e "Da situação da mulher profissional no casamento".[5][6]

Em 1931 esteve entre os intelectuais e activistas que protestaram junto do Ministro da Instrução Pública contra a supressão da coeducação no ensino primário, defendendo a existência de conteúdos de educação cívica e moral nas escolas públicas e demonstrando o seu pendor maternalista, afirmando ser "necessário que as mulheres da nossa terra mais do que nunca se consagrem a essa obra tão linda e de tão vasto alcance que é a protecção à infância" .

Anos mais tarde, em 1946, foi eleita vice-presidente da assembleia geral do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, ocupando o cargo em 1947, ano em que as autoridades do regime do Estado Novo determinaram o seu encerramento.[7]

Foi ainda membro destacado de várias organizações internacionais, entre as quais do International Council of Women, da International Alliance for Women's Sufffrage, da Phi Delta Legal Society e da Federation International des Femmes Diplômées em Droit.

Colaborações na Imprensa[editar | editar código-fonte]

Durante a década de 1930 e nos anos que se seguiram, Elina Guimarães manteve uma forte presença na imprensa, com artigos em defesa dos direitos políticos das mulheres, da coeducação e do livre acesso das mulheres à vida profissional.[8] Publicou artigos educativos, de temática feminista e jurídica, lutando contra os equívocos conceptuais associados ao feminismo e procurando interessar as mulheres pela causa da "equivalência moral, intelectual e social dos dois sexos".[9] Assumiu a direcção da revista Alma Feminina (1929-1930),[10] foi responsável pela "Página Feminista" na revista Portugal Feminino e manteve colaboração em múltiplos periódicos, entre os quais O Rebate, Diário de Lisboa, Seara Nova, Diário de Notícias, O Primeiro de Janeiro, Máxima e Gazeta da Ordem dos Advogados.[11]

Casamento[editar | editar código-fonte]

Casou em 1928 com Adelino da Palma Carlos, advogado, professor de Direito e defensor dos ideais democráticos, que chefiaria o primeiro governo após a Revolução dos Cravos. O casal teve dois filhos, Antero da Palma-Carlos, médico, professor e especialista de renome mundial na Imunoalergologia,[12] e Guilherme da Palma-Carlos, juiz-conselheiro.[13]

Morte[editar | editar código-fonte]

Elina Guimarães faleceu a 24 de junho de 1991, em Lisboa, com 86 anos de idade. Encontra-se sepultada no cemitério do Alto de São João.[14]

Obras Seleccionadas[editar | editar código-fonte]

Escreveu: [15]

  • Dos Crimes Culposos (1930)
  • O Poder Maternal (1933)
  • A Lei em Que Vivemos, Noções de Direito Usual Relativo à Vida Feminina (1937)
  • La Condition de la Femme au Portugal (1938)
  • A Condição Jurídica da Mulher no Direito de Família perante as Nações Unidas (1962)
  • Coisas de Mulheres (colectânea, 1975)
  • Mulheres Portuguesas: Ontem e Hoje (1978)
  • Sete Décadas de Feminismo (1991)

Homenagens e Legado[editar | editar código-fonte]

A 26 de abril de 1985, Elina Guimarães foi condecorada com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade em reconhecimento pelo seu papel na defesa dos direitos das mulheres e na luta pela democracia em Portugal. [16]

O seu nome faz parte da toponímia dos concelhos de: Amadora, Cascais (freguesia de São Domingos de Rana), Lisboa (freguesia do Lumiar), Odivelas (freguesias de Odivelas e Pontinha), Seixal, Setúbal e Sintra (freguesia de Massamá). [17]

A UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), deu o seu nome ao Centro de Documentação e Arquivo Feminista da associação. [18]

Foi instituído, pelo Conselho Geral da Ordem dos Advogados, o "Prémio Elina Guimarães" que tem como objectivo distinguir personalidades ou entidades que "se tenham destacado especificamente na defesa dos direitos das mulheres e na defesa da igualdade de género".[19]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. CIDM, Elina Guimarães: Uma Feminista Portuguesa, Vida e Obra (1904-1941). Lisboa, 2004
  2. Guimarães, Elina (2002). Elina Guimarães: movimento feminista. [S.l.]: Câmara Municipal de Lisboa, Department de Cultura 
  3. Janz, Oliver; Schönpflug, Daniel (1 de abril de 2014). Gender History in a Transnational Perspective: Networks, Biographies, Gender Orders (em inglês). [S.l.]: Berghahn Books 
  4. Bermúdez, Silvia; Johnson, Roberta (1 de janeiro de 2018). A New History of Iberian Feminisms (em inglês). [S.l.]: University of Toronto Press 
  5. Kimble, Sara L.; Röwekamp, Marion (1 de julho de 2016). New Perspectives on European Women's Legal History (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  6. García, Rosa María Ballesteros (2001). El movimiento feminista portugués: del despertar republicano a la exclusión salazarista, 1909-1947 (em espanhol). [S.l.]: Universidad de Málaga 
  7. Melo, Helena Pereira de (15 de junho de 2018). Os direitos das mulheres no Estado Novo. [S.l.]: Leya 
  8. Notícias. [S.l.]: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. 2010 
  9. Cova, Anne; Ramos, Natália; Joaquim, Teresa (2004). Desafios da comparação: família, mulheres e género em Portugal e no Brasil. [S.l.]: Celta Editora 
  10. Guimarães, Elina (1989). Mulheres portuguesas, ontem e hoje. [S.l.]: Comissão da Condição Feminina 
  11. Nacional (Portugal), Biblioteca (1994). Fontes portuguesas para a história das mulheres. [S.l.]: Presidéncia do Conselho de Ministros, Secretaria de Estado da Cultura, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro 
  12. Romeira, Almerinda (29 de março de 2019). «Morreu o professor Antero da Palma-Carlos. Portugal perde um dos seus grandes símbolos». O Jornal Económico 
  13. Rocha, José Augusto (13 de fevereiro de 2018). «"In memoriam" de Guilherme da Palma Carlos». PÚBLICO 
  14. «Morte de Elina Guimarães». RTP Play. 24 de junho de 1991 
  15. «Obras de Elina Guimarães na BNP». Biblioteca Nacional de Portugal - Catálogo. Consultado em 28 de agosto de 2021 
  16. «ENTIDADES NACIONAIS AGRACIADAS COM ORDENS PORTUGUESAS - Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 28 de agosto de 2021 
  17. «Código Postal». Código Postal. Consultado em 28 de agosto de 2021 
  18. «UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta - Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães». www.umarfeminismos.org. Consultado em 28 de agosto de 2021 
  19. «Prémio Elina Guimarães». Ordem dos Advogados (em inglês). Consultado em 1 de abril de 2024 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • História de Portugal (Dicionário de Personalidades) ISBN 989-554-120-1
  • Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães da Palma Carlos, in Zília Osório de Castro, João Esteves (coordenadores), Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), Lisboa, Livros Horizonte, 2005 ISBN 9789722413688

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]