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Vibhajjavāda: diferenças entre revisões

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===Primeiro Concílio Budista (544 a.C)===
===Primeiro Concílio Budista (544 a.C)===
Alguns registros históricos dizem que meses após o [[parinirvana|parinibbana]] do [[Buda]] (por volta de 544 a.C), durante o retiro das chuvas, reuniram-se cerca de 500 bhikkhus em Rajagaha ([[Rajgir]]) para o [[Primeiro Concílio Budista]] patrocinado pelo rei [[Ajatasatru]] de [[Reino de Mágada|Magadha]] e presidido pelo venerável [[Maha Kassapa]]. Nesse concílio foram recitados os discursos do Buda ("[[Darma (budismo)|Dhamma]]") pelo venerável [[Ananda (discípulo de Buda)|Ananda]] de modo que constituiriam os [[sutta]]s, por isso os suttas começam com a seguinte frase: "Assim ouvi";<ref>Harvey, Peter (2013). ''An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.).'' Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.</ref> enquanto que as regras monásticas ("[[Vinaya]]") foram recitadas pelo monge Upali.<ref>Harvey, Peter (2013). ''An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.).'' Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.</ref> De acordo com o Cullavagga do Vinaya Pitaka, a ocasião que levou Maha Kassapa a dirigir o primeiro concílio remontava a um incidente que teria ocorrido com o bhikkhu Subhadda, este teria censurado a estrita disciplina em que os monges viviam sob as ordens do contemplativo Gotama e louvado o recente falecimento do mesmo.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16#R46 Digha Nikaya 16.6.20] E sentado junto com o grupo estava um certo Subhadda, que havia seguido a vida santa já com a idade avançada e ele disse para aqueles bhikkhus: “Já basta, amigos, não chorem, não se lamentem! Ainda bem que nos livramos do Grande Contemplativo. Sempre fomos importunados com as observações dele: ‘Não é apropriado que você faça isso, não é apropriado que você faça aquilo!’ Agora podemos fazer o que quisermos!”</ref> Maha Kassapa ficou impressionado com aquela reprovação e temia que o Dhamma-Vinaya ensinado pelo Buda pudesse ser corrompido caso os outros monges se comportassem da mesma maneira que Subhadda. Em seguida, Maha Kassapa relata o episódio acontecido para os bhikkhus e decide que seja organizado um concílio com a aprovação da sangha.<ref>[https://suttacentral.net/en/pi-tv-kd21 Ver Cv. XI.I]</ref><ref>[http://www.yellowrobe.com/history/buddhist-councils/173-the-first-buddhist-council.html The First Buddhist Council]</ref> Nesse momento ficaram registrados por meio de uma tradição oral firmemente estabelecida os ensinamentos e exortações do Buda.<ref>{{citar web|url=http://www.acessoaoinsight.net/cronologia.php|título= Budismo Theravada - Uma Cronologia Histórica}}</ref> No Mahaparinibbana Sutta, o Buda teria concedido a sangha a permissão de abolir algumas regras menores em razão de seu iminente falecimento, mas não havia dito quais eram elas.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16 Digha Nikaya 16.6.3] "Se desejarem, a Sangha poderá abolir as regras menores depois do meu falecimento." Nota do Tradutor: A Sangha não se beneficiou desta concessão porque Ananda não perguntou quais seriam essas regras menores.</ref> Para evitar dissensões a sangha tomou a decisão unânime de manter todas as regras do vinaya, tanto as maiores como as menores.
Alguns registros históricos dizem que meses após o [[parinirvana|parinibbana]] do [[Buda]] (por volta de 544 a.C), durante o retiro das chuvas, reuniram-se cerca de quinhentos bhikkhus em Rajagaha ([[Rajgir]]) para o [[Primeiro Concílio Budista]] patrocinado pelo rei [[Ajatasatru]] de [[Reino de Mágada|Magadha]] e presidido pelo venerável [[Maha Kassapa]]. Nesse concílio foram recitados os discursos do Buda ("[[Darma (budismo)|Dhamma]]") pelo venerável [[Ananda (discípulo de Buda)|Ananda]] de modo que constituiriam os [[sutta]]s, por isso os suttas começam com a seguinte frase: "Assim ouvi";<ref>Harvey, Peter (2013). ''An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.).'' Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.</ref> enquanto que as regras monásticas ("[[Vinaya]]") foram recitadas pelo monge Upali.<ref>Harvey, Peter (2013). ''An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.).'' Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.</ref> De acordo com o Cullavagga do Vinaya Pitaka, a ocasião que levou Maha Kassapa a dirigir o primeiro concílio remontava a um incidente que teria ocorrido com o bhikkhu Subhadda, este teria censurado a estrita disciplina em que os monges viviam sob as ordens do contemplativo Gotama e louvado o recente falecimento do mesmo.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16#R46 Digha Nikaya 16.6.20] E sentado junto com o grupo estava um certo Subhadda, que havia seguido a vida santa já com a idade avançada e ele disse para aqueles bhikkhus: “Já basta, amigos, não chorem, não se lamentem! Ainda bem que nos livramos do Grande Contemplativo. Sempre fomos importunados com as observações dele: ‘Não é apropriado que você faça isso, não é apropriado que você faça aquilo!’ Agora podemos fazer o que quisermos!”</ref> Maha Kassapa ficou impressionado com aquela reprovação e temia que o Dhamma-Vinaya ensinado pelo Buda pudesse ser corrompido caso os outros monges se comportassem da mesma maneira que Subhadda. Em seguida, Maha Kassapa relata o episódio acontecido para os bhikkhus e decide que seja organizado um concílio com a aprovação da sangha.<ref>[https://suttacentral.net/en/pi-tv-kd21 Ver Cv. XI.I]</ref><ref>[http://www.yellowrobe.com/history/buddhist-councils/173-the-first-buddhist-council.html The First Buddhist Council]</ref> Nesse momento ficaram registrados por meio de uma tradição oral firmemente estabelecida os ensinamentos e exortações do Buda.<ref>{{citar web|url=http://www.acessoaoinsight.net/cronologia.php|título= Budismo Theravada - Uma Cronologia Histórica}}</ref> No Mahaparinibbana Sutta, o Buda teria concedido a sangha a permissão de abolir algumas regras menores em razão de seu iminente falecimento, mas não havia dito quais eram elas.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16 Digha Nikaya 16.6.3] "Se desejarem, a Sangha poderá abolir as regras menores depois do meu falecimento." Nota do Tradutor: A Sangha não se beneficiou desta concessão porque Ananda não perguntou quais seriam essas regras menores.</ref> Para evitar dissensões a sangha tomou a decisão unânime de manter todas as regras do vinaya, tanto as maiores como as menores.


Alguns pesquisadores{{quem?}} acreditam que esse concílio não aconteceu{{carece de fontes|data=setembro de 2017}} ou tenha sofrido alguma interpolação sectária posterior,{{carece de fontes|data=setembro de 2017}} para eles{{quem?}} a contradição reside no modo em como o incidente relacionado a "Subhadda" é relatado no MPS (MahaParinibbana Sutta) e no Cullavagga (Cv.) XI.I. No MPS, na ocasião em que Subhadda teria contrariado na presença da sangha a estrita disciplina ensinada pelo Buda e demonstrava-se contente pela sua morte, Maha-Kassapa teria apenas pronunciado aos bhikkhus nada mais que um eventual conselho sobre a impermanência.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16#R46 Digha Nikaya 16.6.20] "Amigos, já basta desse choro e lamentação! O Abençoado já não lhes disse que todas aquelas coisas que para nós são queridas e estimadas e prazerosas estão sujeitas à mudança, separação e alteração? Então porque tudo isso? Como poderia ser possível que tudo aquilo que nasce, veio a ser, condicionado, que está sujeito à dissolução, não desapareça – isso é impossível."</ref> Por outro lado, no relato trazido pelo Cv. XI.I, Maha-Kassapa teria reagido com seriedade em relação aquilo que foi dito por Subhadda e havia proposto a convocação de um concílio para esmagar o crescimento de tendências heréticas, ele teria aproveitado a oportunidade do momento para a convocação de uma reunião geral.<ref>[https://suttacentral.net/en/pi-tv-kd21 Ver Cv. XI.I]</ref> Segundo o indologista [[Hermann Oldenberg]], não é possível estabelecer uma relação entre esses dois textos, principalmente porque o autor do Mahaparinibbana Sutta não teria registrado nada a respeito do primeiro concílio, isso levaria o leitor a inferir que as duas contas não teriam procedido da mesma fonte.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=DxTM_gWu15IC&pg=PA74&lpg=PA74&dq=the+author+of+mahaparinibbana+sutta+did+not+know+anything+of+the+first+council&source=bl&ots=eRK_TIm289&sig=yA8ZZh6EULQm7xgor-IOuY8ujWU&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiSurj_h5vWAhWEGpAKHR9eBYEQ6AEIPTAE#v=onepage&q=the%20author%20of%20mahaparinibbana%20sutta%20did%20not%20know%20anything%20of%20the%20first%20council%20oldenberg&f=false Locations of Buddhism: Colonialism and Modernity in Sri Lanka]</ref>
Alguns pesquisadores{{quem?}} acreditam que esse concílio não aconteceu{{carece de fontes|data=setembro de 2017}} ou tenha sofrido alguma interpolação sectária posterior,{{carece de fontes|data=setembro de 2017}} para eles{{quem?}} a contradição reside no modo em como o incidente relacionado a "Subhadda" é relatado no MPS (MahaParinibbana Sutta) e no Cullavagga (Cv.) XI.I. No MPS, na ocasião em que Subhadda teria contrariado na presença da sangha a estrita disciplina ensinada pelo Buda e demonstrava-se contente pela sua morte, Maha-Kassapa teria apenas pronunciado aos bhikkhus nada mais que um eventual conselho sobre a impermanência.<ref>[http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16#R46 Digha Nikaya 16.6.20] "Amigos, já basta desse choro e lamentação! O Abençoado já não lhes disse que todas aquelas coisas que para nós são queridas e estimadas e prazerosas estão sujeitas à mudança, separação e alteração? Então porque tudo isso? Como poderia ser possível que tudo aquilo que nasce, veio a ser, condicionado, que está sujeito à dissolução, não desapareça – isso é impossível."</ref> Por outro lado, no relato trazido pelo Cv. XI.I, Maha-Kassapa teria reagido com seriedade em relação aquilo que foi dito por Subhadda e havia proposto a convocação de um concílio para esmagar o crescimento de tendências heréticas, ele teria aproveitado a oportunidade do momento para a convocação de uma reunião geral.<ref>[https://suttacentral.net/en/pi-tv-kd21 Ver Cv. XI.I]</ref> Segundo o indologista [[Hermann Oldenberg]], não é possível estabelecer uma relação entre esses dois textos, principalmente porque o autor do Mahaparinibbana Sutta não teria registrado nada a respeito do primeiro concílio, isso levaria o leitor a inferir que as duas contas não teriam procedido da mesma fonte.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=DxTM_gWu15IC&pg=PA74&lpg=PA74&dq=the+author+of+mahaparinibbana+sutta+did+not+know+anything+of+the+first+council&source=bl&ots=eRK_TIm289&sig=yA8ZZh6EULQm7xgor-IOuY8ujWU&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiSurj_h5vWAhWEGpAKHR9eBYEQ6AEIPTAE#v=onepage&q=the%20author%20of%20mahaparinibbana%20sutta%20did%20not%20know%20anything%20of%20the%20first%20council%20oldenberg&f=false Locations of Buddhism: Colonialism and Modernity in Sri Lanka]</ref>

Revisão das 17h36min de 12 de outubro de 2017

Vibhajjavāda (Pāli; sânscrito: Vibhajyavāda; chinês tradicional: 分別說部; pinyin: fēnbiéshuō-bù), ou Ensino da Análise,[1] era uma designação que especificava algumas tradições budistas iniciais que teriam pertencido a linhagem dos sthaviras (sêniores), as quais promoviam a "análise" (vibhajya) como ferramenta principal para o desenvolvimento da visão, os "vibhajjavadins" contrapuseram-se a aceitar certos ensinamentos da escola sarvastivada durante o período do terceiro concílio budista (cerca de 250 a.C).[2] Eles rejeitavam a afirmação da escola Sarvastivada de que os dhammas (fenômenos) existem no passado, no presente e no futuro.[3][4][5] Em vista disso eles fizeram distinções entre os dhammas que existem e os que não existem, por isso foram denominados como "distincionistas", "detalhistas" ou "analistas" (vibhajja-vadī). Essa corrente enfatizava a descrição precisa de todos os fenômenos e de suas intrincadas e dinâmicas relações. Para os vibhajjavadins, os fenômenos não possuem "natureza própria", ao invés disso eles analisavam a insubstancialidade e interdependência de todas as coisas.[6] Portanto, eles acreditavam que todos os fenômenos surgem devido a causas e condições.[7][8][9] Os seus pontos de vista foram descritos por Moggaliputta Tissa Thera[10] que presidiu o terceiro concílio convocado pelo imperador mauria Asoka, por volta de 250 a.C, na cidade de Pataliputra (a moderna Patna) e podem ser encontrados no Kathavatthu ("Pontos de Controvérsia"), contido na quinta seção do Abhidharma Pitaka, o terceiro cesto do Canône Pali.[11][12][13]

Nomenclatura e Etimologia

A palavra "vibhajya-vāda" vem do sânscrito (onde vibhajya significa: "dividir", "distinguir" ou "analisar" + vāda: "doutrina" ou "ensinamentos").[14]

Os vibhajyavādins não são registrados uniformemente pelas antigas tradições budistas como sendo uma seita distinta, nem são associados a algum período de tempo.[15] Não há um consenso entre os estudiosos sobre se os vibhajjavadins eram adeptos de alguma seita ou faziam parte de um agrupamento de seitas durante aquela época, mas não há nenhuma referência a respeito de uma escola "Vibhajjavada" descrito no Kathavatthu.[16] Segundo Andrew Skilton, a análise dos fenômenos (skt. dharmas) era a ênfase e preocupação doutrinária principal dos vibhajyavādins.[14]

Antecedentes Históricos

Primeiro Concílio Budista (544 a.C)

Alguns registros históricos dizem que meses após o parinibbana do Buda (por volta de 544 a.C), durante o retiro das chuvas, reuniram-se cerca de quinhentos bhikkhus em Rajagaha (Rajgir) para o Primeiro Concílio Budista patrocinado pelo rei Ajatasatru de Magadha e presidido pelo venerável Maha Kassapa. Nesse concílio foram recitados os discursos do Buda ("Dhamma") pelo venerável Ananda de modo que constituiriam os suttas, por isso os suttas começam com a seguinte frase: "Assim ouvi";[17] enquanto que as regras monásticas ("Vinaya") foram recitadas pelo monge Upali.[18] De acordo com o Cullavagga do Vinaya Pitaka, a ocasião que levou Maha Kassapa a dirigir o primeiro concílio remontava a um incidente que teria ocorrido com o bhikkhu Subhadda, este teria censurado a estrita disciplina em que os monges viviam sob as ordens do contemplativo Gotama e louvado o recente falecimento do mesmo.[19] Maha Kassapa ficou impressionado com aquela reprovação e temia que o Dhamma-Vinaya ensinado pelo Buda pudesse ser corrompido caso os outros monges se comportassem da mesma maneira que Subhadda. Em seguida, Maha Kassapa relata o episódio acontecido para os bhikkhus e decide que seja organizado um concílio com a aprovação da sangha.[20][21] Nesse momento ficaram registrados por meio de uma tradição oral firmemente estabelecida os ensinamentos e exortações do Buda.[22] No Mahaparinibbana Sutta, o Buda teria concedido a sangha a permissão de abolir algumas regras menores em razão de seu iminente falecimento, mas não havia dito quais eram elas.[23] Para evitar dissensões a sangha tomou a decisão unânime de manter todas as regras do vinaya, tanto as maiores como as menores.

Alguns pesquisadores[quem?] acreditam que esse concílio não aconteceu[carece de fontes?] ou tenha sofrido alguma interpolação sectária posterior,[carece de fontes?] para eles[quem?] a contradição reside no modo em como o incidente relacionado a "Subhadda" é relatado no MPS (MahaParinibbana Sutta) e no Cullavagga (Cv.) XI.I. No MPS, na ocasião em que Subhadda teria contrariado na presença da sangha a estrita disciplina ensinada pelo Buda e demonstrava-se contente pela sua morte, Maha-Kassapa teria apenas pronunciado aos bhikkhus nada mais que um eventual conselho sobre a impermanência.[24] Por outro lado, no relato trazido pelo Cv. XI.I, Maha-Kassapa teria reagido com seriedade em relação aquilo que foi dito por Subhadda e havia proposto a convocação de um concílio para esmagar o crescimento de tendências heréticas, ele teria aproveitado a oportunidade do momento para a convocação de uma reunião geral.[25] Segundo o indologista Hermann Oldenberg, não é possível estabelecer uma relação entre esses dois textos, principalmente porque o autor do Mahaparinibbana Sutta não teria registrado nada a respeito do primeiro concílio, isso levaria o leitor a inferir que as duas contas não teriam procedido da mesma fonte.[26]

De acordo com Louis Finot (p. 243-244, 1932), essa conclusão anterior foi fundada em uma má compreensão dos fatos. Segundo ele, não há qualquer contradição entre os dois textos. No MPS, é registrado que Maha Kassapa e seus discípulos caminhavam de Pava em direção a Kusinara e teriam ouvido os últimos acontecimento após o falecimento do Mestre, naquele momento Subhadda teria saudado a futura liberdade para os monges. Então, Maha Kassapa aconselhou os monges sobre a impermanência. Em outra ocasião, o Cv. XI.I, apresenta o venerável Maha Kassapa relatando para a sangha dos bhikkhus o incidente com Subhadda.[27] Segundo Louis Finot, o que agora é conhecido como o MPS por um lado, e o Cv. XI-XII[28] por outro, inicialmente não estavam separados, mas constituíam uma única narrativa contínua a começar pelas viagens do Buda antes de sua morte, o parinibbana e o funeral, mais adiante estariam o primeiro concílio e o segundo concílio, por alguma razão os concílios teriam sido separados dessa continuidade, respectivamente, uma parte do MPS ficou no sutta pitaka e a outra parte sobre os concílios foram atribuídas ao Cullavagga XI e XII, do vinaya pitaka atual, sem quase nenhuma tentativa de fazer eles se encaixarem com essa nova configuração, o que seria responsável por tais inconsistências observadas anteriormente.[29] Alguns trechos contidos no Mahaparinibbana Sutta[30] sugerem que as regras monásticas ainda não estariam tão definidas após a morte do Buda, como no vinaya pitaka atual.

Segundo Louis Finot (p. 245, 1932), o décimo segundo e último capítulo do Cullavagga também deu origem a múltiplas discussões. Isto é, praticamente certo de que a dissensão que surgiu um século após o Parinibbana do Buda, entre os monges ocidentais e orientais, que defendiam, respectivamente, um processo mais ou menos rígido na disciplina, leva-nos de volta a um período em que as regras monásticas ainda não estavam tão definidas como observado no vinaya pitaka atualmentente existente.[31]

Segundo Concílio Budista (444 a.C)

Segundo a tradição Theravada, cerca de 100 anos após a morte do Buda (por volta de 444 a.C) ocorreu um incidente com a sangha (assembléia monástica) de Vesali. O Segundo Concílio Budista do qual participaram 700 bhikkhus de várias cidades e regiões foi presidido pelo bhikkhu Yasa e convocado pelo rei Calasoca para resolver disputas geradas em torno da admissibilidade de determinadas práticas, dentre elas haviam nove pontos de disciplina monástica e uma questão de princípio que estava por trás de todas as práticas dos bhikkhus de Vesali: que seria permissível a um monge ser guiado pelas práticas realizadas pelo seu mestre pessoal (professor, ou tutor). Diante disso algumas regras do vinaya poderiam ser omitidas por um bhikkhu, caso seu mestre não as seguisse ou adotasse. O objetivo desse concílio era julgar dez pequenas infrações ao vinaya cometidas pelos monges de Vesali, dentre elas havia também a questão do manuseio de dinheiro e o consumo de alimentos após o meio dia.[carece de fontes?]

Conforme a tradição Theravada, os sthaviras se mantiveram fiéis as regras monásticas, mas a sangha de Vesali era mais flexível com relação a essa disciplina, uma das questões principais havia sido o uso de ouro e prata (que era uma denominação utilizada para incluir o uso de qualquer tipo de dinheiro). O vinaya original proibia os monges de lidarem com o dinheiro, mas a sangha de Vesali acreditava que essa regra era impraticável e por isso a suspenderam. Os monges de Vesali vagavam pedindo esmolas, esse comportamento foi notado e provocou uma grande controvérsia, um certo bhikkhu Yasa visitava a cidade naquele momento e não teria concordado com essas práticas, por isso ele presidiu o segundo concílio convocado pelo rei Calasoca. A sangha monástica é estruturada de modo que todas as ações e decisões devem ser unanimemente tomadas em consenso.[32] A maioria dos estudiosos[quem?] concordam com a veracidade deste concílio e que a questão de disputa se referia as regras monásticas. O segundo concílio tem um pouco mais de corroboração histórica do que os outros e é geralmente considerado um evento histórico.[carece de fontes?]

O segundo concílio teria discutido extensivamente o assunto das regras monásticas, mas não conseguiu chegar a um acordo duradouro entre as partes envolvidas. O resultado disso foi o cisma dentro da ordem budista que levou a formação de duas escolas de pensamento divergentes. Segundo a tradição Theravada, o primeiro grupo defendeu a adesão estrita às antigas tradições do budismo e ao cumprimento dos ensinamentos originais do Buda. Eles foram chamados de sthaviras. Por outro lado, o segundo grupo não encontrou um problema em ter uma atitude liberal em relação às regras prescritas no vinaya e os desvios seguidos pelos monges de Vesali. Eles se tornaram conhecidos como os mahasamghikas. Alguns historiadores,[quem?] no entanto, duvidam da autenticidade do segundo concílio também.[carece de fontes?]

As inscrições do Mahāsāṃghika Śāriputraparipṛcchā contam uma outra versão sobre esse evento, o primeiro cisma na sangha que surgiu como resultado do segundo concílio budista foi provocado por um pequeno grupo de membros idosos (os sthaviras),[carece de fontes?] eles eram um grupo de monges reformadores que queriam adicionar mais regras ao vinaya.[carece de fontes?] A versão do Mahāsāṃghika Śāriputraparipṛcchā relata que naquele momento um velho monge teria reorganizado e aumentado o vinaya tradicional causando dissensões entre os monges que passaram a exigir a arbitragem do rei e eventualmente precipitando o primeiro cisma. O rei teria considerado que a doutrina representada pelos dois partidos eram do Buda, mas como as preferências de cada um não eram as mesmas, eles não deveriam conviver juntos. Após a tentativa sem sucesso de modificar as regras monásticas, esse pequeno grupo de membros idosos (os sthaviras) se separaram da maioria (mahasangha) que eram os mais conservadores e haviam resistido a tentativa reformista de apertar a disciplina; como os que eram fiéis ao velho vinaya constituíam a maioria, eles passaram a ser chamados de mahāsāṃghikas.[33]

Alguns estudiosos[quem?] concordam com os mahāsāṃghikas e essa posição é reforçada pelos próprios textos do vinaya, visto que o vinaya associado aos sthaviras possui mais regras que o vinaya mahāsāṃghika. Por exemplo, o patimokkha mahāsāṃghika possui 67 regras na seção śaikṣa-dharma, enquanto que a versão Theravāda conta com 75 regras. Alguns estudiosos[quem?] acreditam que o vinaya "Mahāsāṃghika" é o verdadeiro e o mais antigo, em concordância com o monge chinês Faxian que teria viajado a Índia para obtê-lo, pois foi considerado o original.[34] Entretanto, alguns pesquisadores[quem?] discordam dessa versão sobre a precocidade do vinaya "Mahāsaṅghika", para eles a justificativa anterior baseia-se no fato bem conhecido de que a conta do segundo concílio no Mahāsaṅghika, embora substancialmente semelhante as outras, é muito mais curta e apenas enumera uma ofensa ao invés das dez infrações. A relevância desta afirmação desaparece, no entanto, quando é levado em consideração que o vinaya Mahāsaṅghika regularmente abreviam material narrativo. Esta é uma característica literária do vinaya Mahāsaṅghika em geral, e não somente para o segundo concilio.

Os estudiosos consideram que a versão do segundo concílio apresentado pelos mahasanghikas pode ser o resultado de uma revisão editorial posterior deliberada e que a conclusão do monge chinês Faxian reflete as opiniões sectárias da escola de quem o vinaya em questão havia sido obtido, o que seria irrelevante para uma discussão histórica.[35]

Primeiro Cisma na Sangha [Pataliputra I] (404 a.C)

Adição de regras ao Vinaya (Versão Śāriputraparipṛcchā)

As narrativas que concernem ao segundo concílio são, normalmente, confusas e ambíguas; mas todas elas concordam que o resultado desse evento foi a cisão da sangha entre o sthavira nikāya e o mahāsāṃghika nikāya,[carece de fontes?] embora não seja acordado por todos qual foi a verdadeira causa dessa divisão.[36] De acordo com Andrew Skilton, os problemas das fontes contraditórias são resolvidos pelo Mahāsāṃghika Śāriputraparipṛcchā, que é o primeiro relato sobrevivente do cisma.[37] Nesse relato, havia sido convocado uma nova reunião que teria lugar em Pataliputra para discutir o assunto das regras monásticas do vinaya, não há unanimidade entre os historiadores sobre quando e como isso ocorreu, o cisma resultou com a maioria (mahasangha) se recusando a aceitar a adição de regras pela minoria (sthaviras). Os mahāsāṃghikas compreendiam os sthaviras como um grupo reformador que estava tentando acrescentar mais regras ao vinaya original.[38] Segundo Andrew Skilton, um estudo aprofundado da escola Mahāsāṃghika pelos historiadores poderá contribuir para uma melhor compreensão do dhamma-vinaya pré-sectário do que a escola Theravada.[39]

A Lenda de Mahadeva (Versão Theravada)

Os registros Theravada contam outra versão relativamente diferente do mesmo cisma, nesse caso o primeiro cisma na sangha teria ocorrido em Pataliputra a cerca de 30-40 anos após o incidente em Vesali. De acordo com os theravadins, 35 anos após o termino do segundo concílio havia sido convocado uma reunião que teria lugar em Pataliputra, a história do cisma que muitas vezes é confundida com o segundo concílio diz respeito a Mahadeva, um monge que possuía má reputação (mas certamente era uma figura literária).[carece de fontes?] A razão do cisma foi doutrinária e envolvia questões cujas respostas não podiam ser encontradas no Canône. Acredita-se que Mahadeva havia proposto cinco doutrinas sobre as quais a assembléia não teria concordado e isso causou o cisma entre duas facções. Nessa conta, a maioria (mahasangha) se uniu a Mahadeva e a minoria (sthaviras) se opunham a ele, o que teria causado uma divisão na sangha.[40] As questões em discussão eram as seguintes: (1) que um arahant poderia ser seduzido por outro ser, (2) que um arahant poderia desconhecer certos assuntos, (3) que um arahant poderia ter dúvida, (4) que um arahant poderia receber informações, (ser instruído), por outra pessoa, (5) que alguém poderia realizar o caminho supramundano como resultado de palavras ditas. Os monges desfavoráveis a essas questões formaram o grupo dos "sthaviras" e aqueles que integravam a maioria e eram favoráveis a elas ficaram conhecidos como os "mahāsāṃghikas".[41]

Nas fontes derivadas do ramo Sthavira (Theravada), Mahadeva é considerado como o fundador dos mahāsāṃghikas e constitui a figura que causou a cisão entre os dois ramos.[42] Todavia, alguns estudiosos[quem?] concluíram que uma associação de "Mahādeva" com o primeiro cisma foi uma interpolação sectária posterior.[carece de fontes?] Diversas fontes[qual?] apresentam Mahadeva como desempenhando papéis diferentes e a existência histórica de tal pessoa é muitas vezes criticada.[carece de fontes?] Mahadeva não corresponde ao cisma primário que teria dividido a sangha em torno das regras monásticas, seu aparecimento é controverso tendo ocorrido muito tempo depois em que já teria acontecido uma cisão entre as escolas sthavira nikāya e a mahāsāṃghika nikāya, essa última já existia naquele momento em consequência do segundo concílio.[43] Os pesquisadores,[quem?] em geral, concordam com a versão anterior do Mahāsāṃghika Śāriputraparipṛcchā em que a razão do cisma era relativa as regras monásticas.[44]

Terceiro Concílio Budista [Pataliputra II] (250 a.C)

Em contraste marcante com as fontes uniformes do segundo concílio budista, existem vários relatos de possíveis "terceiros concílios".[carece de fontes?] Essas diferentes versões funcionam para autorizar a fundação de uma determinada escola ou outra.

Após o primeiro cisma foram surgindo sub-ramos da linhagem "sthavira" como os sammitiyas, os sarvastivadins e os vibhajjavadins.[45] De acordo com a tradição Theravada, por volta de 250 a.C, em Pataliputra (a moderna Patna), teria sido convocado o terceiro concílio budista presidido por Moggaliputta Tissa Thera[46] e patrocinado pelo imperador mauria Asoka. A razão tradicional para a realização deste concílio foi para livrar a sangha da corrupção e dos falsos monges que detinham pontos de vistas heréticos. Este concílio é reconhecido tanto por fontes mahayana como theravada, embora sua importância seja significativa apenas para este último.[47] As questões que seriam tratadas eram de natureza doutrinária, o que resultou na compilação do Kathavatthu (Pontos de Controvérsia) pelo venerável Mogaliputta Tissa para refutar uma série de heresias e garantir que o Dhamma fosse mantido "puro". O imperador Asoka teria perguntado aos monges suspeitos o que o Buda havia ensinado e estes responderam com pontos de vista sobre o eternismo e entre outras ideias que são rechaçadas no Brahmajala Sutta.[48] Posteriormente, ele fez a mesma pergunta aos monges virtuosos e eles responderam que o Buda era um "professor da análise" (vibhajjavādin), essa resposta foi confirmada por Mogaliputta Tissa. Esse termo é usado em vários sentidos, e não está claro exatamente o que isso significou naquele contexto. Tradicionalmente, no entanto, os theravadins do Sri Lanka e outras escolas continentais do Budismo Antigo identificaram-se como Vibhajjavada. Aqueles que não foram incluídos entre os vibhajjavadins eram os mahāsāṃghikas, os sammitīyas (remanescente da escola Puggalavāda) e os sarvastivadins que foram considerados como possuindo "visões equivocadas", conforme os pontos de vista descritos na seção do Kathavatthu (do Abhidharma Pitaka "Theravada").[49][50]

Visões Sectárias

Proselitismo budista no período do reinado de Ashoka (260–218 a.C).

Os mahāsāṃghikas e os sammitīyas acreditavam de modos diferentes a respeito de como surgiram os vibhajjavadins. Segundo os mahāsāṃghikas, os vibhajjavadins emergiram a partir do cisma radical do budismo que deu origem aos sthaviras, aos mahāsāṃghikas e aos vibhajyavādins,[15] Por outro lado, os sammitīyas acreditavam que os vibhajjavadins se desenvolveram a partir da escola Sarvastivada. O Abhidharma Mahāvibhāṣa Śāstra[51] dos sarvastivadins descreve os vibhajjavadins como sendo o tipo de hereges que "fazem objeções, que defendem doutrinas prejudiciais e atacam aqueles que seguem o Dhamma autêntico."[52][53] O termo "vibhajyavādins" significa "aqueles que fazem distinções", e engloba algumas das escolas iniciais do budismo, tais como: Kāśyapīya, Mahīśāsaka, Dharmaguptaka e Tamraparniya (linhagem do Sri Lanka); acredita-se que essas escolas evoluíram a partir dos vibhajjavadins após o terceiro concílio budista. Durante o reinado de Asoka, vários emissários foram convocados a espalhar o budismo para outras regiões da Ásia e do Oriente.[12][54]

As doutrinas dos vibhajjavadins são semelhantes com as das escolas mahāsāṃghika, sammitīya e sarvastivada.[55] Os autores Bhavya e Vinītadeva descreveram os vibhajjavadins como um ramo da escola Sarvastivada, por outro lado o comentário chinês Vijñaptimātratā-Siddhi identifica-os com a escola Prajñaptivada (Mahāsāṃghika). Os estudiosos[quem?] concordam que eles emergiram a partir da cisão com a escola Sarvastivada que ocorreu por volta do século III a.C., provavelmente devido ao terceiro concílio budista (ver Concílios budistas), os ensinamentos dos vibhajjavadins se assemelham em muito com o que se tem hoje da tradição Theravada. O monastério Mahavihara fundado em Anuradhapura (Sri Lanka), durante o reinado de Devanampiya Tissa no terceiro século antes de Cristo, por ocasião da missão convocada pelo imperador Asoka para expandir o budismo, foi considerado o primeiro assentamento naquela região e um dos principais centros da tradição Theravada no Sri Lanka, os "mahaviharavasins" também eram conhecidos por serem vibhajyavādins ou seguidores do "Ensino da Análise", conforme encontrado no último verso do terceiro capítulo do Cullavagga (Vinaya Pitaka), intitulado Samucca­yak­khan­dhaka;[56][57] e no comentário sobre Tikapaṭṭhāna e no Dipavamsa XVIII, 41, 44.[55]

O Mahavihara foi um local de refúgio para alguns comentadores históricos que tiveram influência marcante na construção da moderna tradição "Theravada", como Buddhaghosa (4º a 5º século d.C) que escreveu comentários sobre o Tripitaka e textos conhecidos como o Visuddhimagga. Nas crônicas budistas, não há distinção entre Theravada e "Vibhajjavada" ("Escola" do Discurso Analítico), mas "theravada" provavelmente é um termo geral que significa apenas "autêntica doutrina".[58][59][60] O termo "Thera" (em Pali) equivale a "Sthavira" (em sânscrito), por essa e outras razões a escola Theravada reivindica a continuidade doutrinal da linhagem Sthavira. O Prajñaptivada, ramo da escola Mahasamghika, uma das primeiras escolas da Índia Antiga, também era conhecido pelo nome Bahuśrutīya-Vibhajyavādins (cujos membros preferiam assim ser chamados).[52]

Acepções acerca do termo nos Suttas em Pali

É possível que o termo vibhajjavādo[61][62] tenha sido utilizado pelo Buda, o mesmo ocorre nos seguintes suttas MN 99 e AN X.94, embora esse termo não seja empregado no sentido de uma escola específica: "Eu sou aquele que fala depois de fazer uma análise (vibhajja-vādī)." (MN 99.4)[63] "O Abençoado critica o que merece ser criticado e elogia o que merece ser elogiado. Criticando aquilo que merece ser criticado e elogiando o que merece ser elogiado o Abençoado fala depois de fazer uma análise (vibhajja-vādī); ele não fala de um modo unilateral." (AN X.94)[64] Em outros suttas, como no Samyutta Nikaya XII.51, o Buda exorta aos bhikkhus sobre a importância de exercer uma investigação minuciosa sobre os fenômenos: "Aqui, bhikkhus, ao fazer uma investigação profunda, um bhikkhu investiga assim: 'Os muitos e variados tipos de sofrimento que surgem no mundo [encabeçados pelo] envelhecimento e morte: qual é a fonte desse sofrimento, qual é a sua origem, do que ele nasce e é produzido? O que existindo faz com que o envelhecimento e morte surjam? O que não existindo faz com que o envelhecimento e morte não surjam?'" (SN XII.51)[65]

O chefe de família Upali era seguidor de Nigantha Nataputta (Mahavira) e havia sido convocado pelo seu mestre para refutar a doutrina do Buda e convertê-lo, mas depois de conversar com o Buda o chefe de família ficou tão impressionado que decidiu tornar-se um seguidor dele. "Investigue a fundo, chefe de família. É bom que pessoas tão bem conhecidas como você investiguem a fundo." "Venerável senhor, eu estou ainda mais satisfeito e contente com o Abençoado por me dizer isso. Pois outros líderes de seitas, ao me obterem como seu discípulo, conduziriam uma bandeira por toda Nalanda anunciando: 'O chefe de família Upali se tornou meu discípulo.' Mas, ao contrário, o Abençoado me diz: 'Investigue a fundo, chefe de família. É bom que pessoas tão bem conhecidas como você investiguem a fundo.' Então pela segunda vez, venerável senhor, eu busco refúgio no Abençoado, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Abençoado me aceite como discípulo leigo que nele buscou refúgio para o resto da sua vida." (MN 56.16)[66]

Em alusão a um dos suttas mais conhecidos entre os estudiosos e céticos,[quem?] o Kalama Sutta demonstra de modo claro a importância da investigação e da dúvida para compreender a realidade das coisas conforme o que vem a ser. "Então como eu disse, Kalamas: 'Não se deixem levar pelos relatos, pelas tradições, pelos rumores, por aquilo que está nas escrituras, pela razão, pela inferência, pela analogia, pela competência (ou confiabilidade) de alguém, por respeito por alguém, ou pelo pensamento, "Este contemplativo é o nosso mestre." Quando vocês souberem por vocês mesmos que, "Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são criticáveis pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento" - então vocês devem abandoná-las,' foi por causa disso que isso foi dito." (AN III.65)[67] Segundo Bhikkhu Bodhi, a interpretação desse texto tornou-se um pouco controversa entre os estudiosos modernos, uma vez que muitas vezes é utilizada pelos céticos de maneira extrema para excluir todas as formas de fé, em que tenta-se converter o Buda a uma espécie de "empirista pragmático".[68] O que o texto sugere é que não se deve acreditar em algo somente porque é relatado, faz parte da cultura, da tradição ou está nas escrituras. Isso significa que se deve dar importância significativa a investigação dos fenômenos.

O que dizem os estudiosos?

Alguns estudiosos[quem?] acreditam que não havia uma escola de budismo chamada "vibhajjavada", mas alguns pesquisadores[quem?] acreditam que o termo as vezes era afixado ao nome de uma escola para indicar que esta divergia da escola principal no que diz respeito a algumas doutrinas;[69] nesse caso os adeptos seriam vibhajjavadins dessa escola principal. Acredita-se que os theravadins do Sri-Lanka seriam sthavira-vibhajjavadins ou, simplesmente, vibhajjavadins;[70] divergindo em alguns pontos da linhagem principal Sthavira em suas interpretações doutrinárias (embora não seja mencionada qualquer escola "Vibhajjavada" no Kathavatthu, do Abhiddhamma Pitaka (Theravada)).[71][69][15]

O Prajñaptivada, ramo da escola Mahasamghika, uma das primeiras escolas da Índia Antiga, também era conhecido pelo nome Bahuśrutīya-Vibhajyavādins (cujos membros preferiam assim ser chamados).[52]

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Referências

  1. See "On the Vibhajjavādins", Lance Cousins, Buddhist Studies Review 18, 2 (2001)
  2. http://www.philtar.ac.uk/encyclopedia/budsm/dhamma/VIBHAJYAVADA.html
  3. Sarvastivada ("Doctrine That All Is Real"). Os sarvastivadins enfatizavam que os dhammas (fenômenos) são realidades eternamente existentes. Literalmente, era uma seita que enfatizava a existência de todas as coisas.
  4. Taisho, vol. 27, n°1545
  5. Sarvastivada. Sarvastivada is an early school of Buddhism that held to 'the existence of all dharmas in the past, present and future, the 'three times'. The Abhidharma Kosa-bhaṣya, a later text, states: "25c-d. He who affirms the existence of the dharmas of the three time periods [past, present and future] is held to be a Sarvastivadin."
  6. http://folhasnocaminho.nalanda.org.br/o-caso-dos-monges-suicidas-do-tibete-3/
  7. http://www.philtar.ac.uk/encyclopedia/budsm/dhamma/VIBHAJYAVADA.html
  8. http://palikanon.com/english/wtb/u_v/vibhajja_vaada.htm
  9. Wardery 2000, p. 264.
  10. Moggaliputta-Tissa Thera. Presidente do Terceiro Concílio Budista.
  11. Michael Beisert. Budismo Theravada. Uma Cronologia Histórica "...no sul da Índia a escola de pensamento predominante era a "Vibhajjavada" que acabou se estabelecendo no Sri Lanka com a denominação Theravada." Consultado em 02 de agosto de 2017.
  12. a b Berkwitz 2012, p. 58.
  13. https://suttacentral.net/kv
  14. a b Skilton 2004, p. 67.
  15. a b c Baruah 2008, p. 51.
  16. https://suttacentral.net/kv
  17. Harvey, Peter (2013). An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.). Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.
  18. Harvey, Peter (2013). An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.). Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 88.
  19. Digha Nikaya 16.6.20 E sentado junto com o grupo estava um certo Subhadda, que havia seguido a vida santa já com a idade avançada e ele disse para aqueles bhikkhus: “Já basta, amigos, não chorem, não se lamentem! Ainda bem que nos livramos do Grande Contemplativo. Sempre fomos importunados com as observações dele: ‘Não é apropriado que você faça isso, não é apropriado que você faça aquilo!’ Agora podemos fazer o que quisermos!”
  20. Ver Cv. XI.I
  21. The First Buddhist Council
  22. «Budismo Theravada - Uma Cronologia Histórica» 
  23. Digha Nikaya 16.6.3 "Se desejarem, a Sangha poderá abolir as regras menores depois do meu falecimento." Nota do Tradutor: A Sangha não se beneficiou desta concessão porque Ananda não perguntou quais seriam essas regras menores.
  24. Digha Nikaya 16.6.20 "Amigos, já basta desse choro e lamentação! O Abençoado já não lhes disse que todas aquelas coisas que para nós são queridas e estimadas e prazerosas estão sujeitas à mudança, separação e alteração? Então porque tudo isso? Como poderia ser possível que tudo aquilo que nasce, veio a ser, condicionado, que está sujeito à dissolução, não desapareça – isso é impossível."
  25. Ver Cv. XI.I
  26. Locations of Buddhism: Colonialism and Modernity in Sri Lanka
  27. No MPS 16.6.19, é relatado que Maha Kassapa estava caminhando pela estrada principal de Pava a Kusinara, em sua companhia havia uma comitiva de bhikkhus, então ele sentou-se à sombra de uma árvore, naquele momento um certo ajivika se aproximou. O venerável Maha Kassapa logo o avistou e indagou a ele se o mesmo conhecia o Mestre Gotama, o ajivika respondeu que sim e sabia que o Buda havia falecido a pouco mais de uma semana. Ao mesmo tempo, aqueles bhikkhus que ainda não teriam superado o acontecido lamentavam e padeciam pela morte do Buda. Logo em seguida, no MPS 16.6.20, um certo bhikkhu Subhadda se manifesta perante aqueles bhikkhus dizendo que eles não precisam mais sofrer, pois antes as observações do Buda os impediam de fazer certas coisas, agora que o contemplativo Gotama havia falecido eles estariam livres dessa disciplina. Maha Kassapa, ao que parece, repete um ensinamento do Buda aos bhikkhus de que todas as coisas que surgem, nascem, vem a ser, condicionadas estão sujeitas a separação. Nesse episódio não há qualquer menção de Maha Kassapa repreendendo aquilo que foi dito por Subhadda ou pelo menos de modo explícito. Entretanto, mais adiante no Cv. XI.I, Maha Kassapa relata em outra ocasião para a sangha o que havia decorrido naquele instante, ainda surpreendido com o que Subhadda teria dito, então ele assevera a sangha a realizarem um concílio para evitar que tais acontecimentos não venham a corromper o Dhamma.
  28. Ver Cv. XII
  29. Buddhism: Buddhist origins and the early history of Buddhism in South and Southeast Asia
  30. (Digha Nikaya 16.6.3 e 4.) 6.3 "Se desejarem, a Sangha poderá abolir as regras menores depois do meu falecimento. 6.4 Depois do meu falecimento o bhikkhu Channa deve receber a punição de Brahma." "Mas, venerável senhor, o que é a punição de Brahma?" - "Qualquer coisa que o bhikkhu Channa quiser ou disser, nenhum bhikkhu deve falar com ele ou admoestá-lo, ou ensiná-lo." Segundo Louis Finot (1932), antes de morrer, o Buda ordenou que a penalidade de brahmadanda (punição de Brahma) deveria ser infligida ao bhikkhu Channa. Ananda curiosamente ignora o que é o brahmadanda e pede uma definição, que lhe é dada. Como essa penalidade não é mencionada em qualquer lugar no Canône, exceto nas duas passagens paralelas do MPS. VI.4 e Cv. XI, 1, 12-15, dificilmente se pode evitar chegar à conclusão de que a regra sobre o brahmadanda pertencia a um estágio tárdio do Vinaya budista.
  31. Mahaparinibbana-sutta e Cullavagga
  32. «Budismo Theravada - Uma Cronologia Histórica» 
  33. Harvey, Peter (2013). An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices (2nd ed.). Cambridge, UK: Cambridge University Press. pg. 89-90.
  34. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 64
  35. Mahasanghika - The Earliest Vinaya?
  36. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 47
  37. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 48
  38. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 64
  39. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 64
  40. Skilton, Andrew. A Concise History of Buddhism. 2004. p. 47
  41. «Budismo Theravada - Uma Cronologia Histórica» 
  42. Walser, Joseph. Nāgārjuna in Context: Mahāyāna Buddhism and Early Indian Culture. 2005. pp. 49-50
  43. Williams, Jane, and Williams, Paul. Buddhism: Critical Concepts in Religious Studies, Volume 2. 2005. p. 188
  44. The Buddhist Councils - The Story of Early Buddhism
  45. Skilton 2004, p. 66-67.
  46. Moggaliputta Tissa
  47. A detailed account in Chinese of the 3rd Buddhist Council is found starting at line T24n1462_p0678b01(00) of the 善見律毘婆沙.
  48. Digha Nikaya 1 - Brahmajala Sutta
  49. The Buddhist Way of Life: Its's Philosophy and History. This short survey of the first four Buddhist Councils or Conferences indicates that four chief schools held the field: (1) Theravadins; (2) Mahasanghikas; (3) Sammitiyas; (4) Sarvastivadins. "...(1) Theravadins: '...Two other names for this school are Sthaviravadins and Vibhajjavadins.'"
  50. https://suttacentral.net/kv
  51. Introdução a Filosofia Budista: Vaibhāṣika (Detalhistas). Os seguidores desta escola eram adeptos do Mahāvibhāṣa Śāstra (oceano de detalhadas explanações, ou grandes explanações detalhadas), e dos textos do Abhidhamma (Sarvastivada) de modo geral. Eles argumentam que os três tempos - presente, passado e futuro - são substancialmente existentes, e se focam em identificar e classificar os componentes "últimos do real", que são denominados de dharmas - e é esse o sentido que a palavra dharma adquire nesse contexto. Esta escola tem origem muito antiga, compreendendo o ramo caxemira da escola Sarvastivada.
  52. a b c Baruah 2008, p. 48.
  53. Tripathi 2008, p. 113.
  54. «What is Theravada?» 
  55. a b Lal Hazra, pag. 164
  56. See Vinaya, CV., pp. 72, 312. "Ācariyānaṃ ­vibhaj­ja­padānaṃ, Tamba­paṇ­ṇidīpa­pasāda­kā­naṃ; Mahā­vihāra­vāsīnaṃ, Vācanā sad­dhammaṭ­ṭhiti­yāti."(Pi Tv Kd 13) Tradução automática do inglês:. A recitação é para a manutenção do verdadeiro dhamma, entre os professores das doutrinas de Vibhajjya, os quais, moradores do Mahāvihāra, iluminam Tambapaṇṇidīpa.
  57. Cūḷavagga: Samucca­yak­khan­dhaka
  58. Developments during and after the third council. Hypothetical combined list. Sthaviravada > Vibhajjavada (prior to 240 BCE; during Asoka) > Theravada (c. 240 BCE). p.362.
  59. State of Mind. "The council also saw the formation of the sangha of the Vibhajjavada ("school of analytical discourse") out of various schools of the Sthaviravada lineage."
  60. A History of Indian Literature: Buddhist literature and Jaina literature. "There is no distiction in the chronicles between Theravada and Vibhajjavada; but Theravada is probably a geneneral term meaning merely "authentic doctrine"."
  61. Majjhima Nikaya 99: Subha Sutta. "Vibhajjavādo kho ahamettha, māṇava; nāhamettha ekaṃsavādo." MN 99.4
  62. Anguttara Nikaya X.94: Vajji­ya­māhita­sutta. "Gārayhaṃ kho pana, bhante, bhagavā garahanto pasaṃsitabbaṃ pasaṃsanto vibhajjavādo bhagavā. Na so bhagavā ettha ekaṃsavādo”ti." AN X.94
  63. «Majjhima Nikaya 99 - Subha Sutta» 
  64. «Anguttara Nikaya X.94 - Vajjiyamahita Sutta» 
  65. «Samyutta Nikaya XII.51 - Parivimamsana Sutta (Investigação Profunda)» 
  66. «Majjhima Nikaya 56 - Upali Sutta (Para Upali)» 
  67. «Anguttara Nikaya III.65 - Kalama Sutta (Para os Kalamas)» 
  68. «Revendo o Kalama Sutta (Por Bhikkhu Bodhi)» 
  69. a b Dutt 1998, p. 211.
  70. Buddhist Sects in India. Chapter IX. Doctrines of Group V Schools. Sthaviravada or Theravada.
  71. https://suttacentral.net/kv

Bibliografia

  • Baruah, Bibhuti (2008), Buddhist Sects and Sectarianism. 
  • Berkwitz, Stephen C. (2012), South Asian Buddhism: A Survey, Routledge. 
  • Dutt, Nalinaksha (1998), Buddhist Sects in India. 
  • Harvey, Peter (1995), An introduction to Buddhism, Cambridge University Press. 
  • Hazra, Kanai Lal (2002), Buddhism and Buddhist Literature in Early Indian Epigraphy, Munshiram Manoharlal Publishers Pvt. Ltd. 
  • Skilton, Andrew (2004), A Concise History of Buddhism. 
  • Tripathi, Sridhar (2008), Encyclopaedia of Pali Literature. 
  • Warder, A.K. (2000), Indian Buddhism, Motilall Banarsidas.