Joana Angélica: diferenças entre revisões

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Revisão das 02h28min de 13 de dezembro de 2018

 Nota: Se procura o filme de Walter Lima Jr., veja Joana Angélica (filme).
Madre Joana Angélica de Jesus
Abadessa do Convento da Lapa
Info/Prelado da Igreja Católica
Atividade eclesiástica
Ordem Ordem da Imaculada Conceição
Diocese Arquidiocese de Salvador
Mandato 1821 - 1822
Ordenação e nomeação
Brasão episcopal
Dados pessoais
Nascimento Salvador
12 de dezembro de 1761
Morte Salvador
19 de fevereiro de 1822 (60 anos)
Nacionalidade brasileiro
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Sóror Joana Angélica de Jesus, registrada Joanna Angélica de Jesus (Salvador, 12 de dezembro de 176119 de fevereiro de 1822) foi uma religiosa concepcionista baiana, pertencente à Ordem das Reformadas de Nossa Senhora da Conceição e mártir da Independência brasileira.[1]

Nascida durante o período colonial, morreu aos 60 anos[2] atingida por um golpe de baioneta quando resistia à invasão pelas tropas portuguesas ao Convento da Lapa, em Salvador.[1] Tornou-se assim, a primeira heroína da independência do Brasil.[3]

A freira ficou conhecida como a autora da famosa frase: “Para trás, bandidos! Respeitai a casa de Deus! Só entrarão passando por cima do meu cadáver!”. No entanto, uma extensa pesquisa de documentos referentes a vida de Joana Angélica não encontrou nenhuma evidência de que a frase tenha sido de fato proferida pela Sóror.[4]

Conhecida principalmente pelo ato de bravura final de sua vida, Joana Angélica tem hoje sua imagem reconstruída por historiadores que pontuam sua importância também como mártir da fé.[4]

Era filha de José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva, uma família rica da capital baiana.[3] Foi batizada na Freguezia da Santa Fé, em Salvador.[5]

Martírio de Sóror Angélica.

A vida no Convento da Lapa

Tinha 20 anos, quando foi aceita, em caráter de exceção, para o noviciado no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa em 1782. A profissão da fé foi feita em 18 de maio de 1783, quando ingressou como irmã da Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição e passou a se chamar Joana Angélica de Jesus. Permaneceu reclusa ali durante 20 anos, e foi escrivã, mestra de noviças, conselheira, vigária e, finalmente, abadessa.[3]

Entre fevereiro de 1792 e 1801 foi escrivã do convento. Já no ano de 1812 assumiu a função de vigária, que exerceu por dois anos. A direção do convento lhe foi concedida em 1815 quando foi escolhida abadessa, função que desempenhou até 1817. Voltou à posição de abadessa em 1821, até o dia de sua trágica morte defendendo o convento.[5]

Toda a Cidade da Bahia apontava para o Mosteiro da Lapa, como o asilo das virgens sem nodoa, e falava com orgulho de sua madre abadessa. (Norberto, 1862 apud. Souza, 1972)

Apesar de circular a ideia de que era carmelitana, documentos encontrados no Convento da Lapa afirmam que ela pertencia a ordem das irmãs Franciscanas. Consta, equivocadamente, no livro O Brasil Religioso, escrito pelo Pe. Fernando de Macedo que em 1822 as religiosas do Convento da Lapa pertenciam à vertente das Franciscanas Claras (também chamadas Claristas e Clarisas). Entretanto, documentos do próprio convento afirmam que as freiras pertenciam à ordem das Franciscanas Concepcionistas[5]

Independência do Brasil na Bahia

Ataque ao convento

Reza a tradição e afirmam todos os documentos da época que, de todos os fatos lutuosos dos tormentosos dias 19 e 20 de fevereiro de 1822, nenhum impressionou mais fundo a alma da Bahia do que o selvagem ataque dos soldados contra o indefeso Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, onde morreu nobremente a primeira heroína da epopéia da Independência, Madre Joanna Angelica. (Souza, 1972)

Existem duas versões contraditórias sobre o episódio do ataque ao Convento da Lapa. Para o historiador brasileiro Bernardino José de Souza, a versão portuguesa, patrocinada principalmente pelo historiador português José d'Arriaga, não tem sustentação em documentos. Segundo a história lusitana, agentes do partido reacionário (pró-Independência) havia se escondido no convento e atirado nos soldados de dentro do edifício.[5] Já os historiadores brasileiros afirmam que as tropas portuguesas estavam entrando em diversos edifícios, praticando roubos e até mortes, com o pretexto de que tiros haviam saindo de dentro de determinado local; assim como acontecera com o convento.[5] O jornal Diário da Bahia publicou em sua edição do dia 2 de julho de 1936, uma reportagem completa sobre o ataque ao convento e o martírio da Sóror. Nela consta a descrição da crise política e excessos cometidos pelos soldados lusitanos[6]:

A cidade surpreende-se com a designação de Madeira de Mello para o commando das Armas da Província. Vitoriosos, os comandados de Madeira apossam-se da cidade (…) ódio e vingança. Incendios e saques. Selvagerias e homicidios.

Um erro cronológico sobre o acontecimento permeia muitos dos livros que tratam do assunto. É comum encontrar que a data do ataque corresponde ao dia 19 de fevereiro de 1822. No entanto, de acordo com o termo de falecimento da Madre Joana Angélica, o fato ocorreu entre 11 horas e meio-dia de 20 de fevereiro de 1822. Outra concepção equivocada é de que o capelão do convento, Daniel da Silva Lisboa, teria sido assassinado pelos soldados portugueses no mesmo episódio. Mas como prova o atestado de óbito, contido no Livro de óbitos da Freguezia de S. Pedro, ano de 1938, fls. 232, o Padre Daniel Nunes da Silva Lisbôa morreu em 1833.[5]

Sólida construção colonial, ainda hoje existente na capital baiana, o Convento da Lapa compõe-se de uma clausura, cuja principal entrada é guarnecida por um portão de ferro. Um grupo de soldados tentava arrombar o portão enquanto Joana Angélica ordenava às irmãs fugissem pelos fundos.[7] A fim de proteger a clausura e integridade das irmãs,[8] a Sóror se colocou como último obstáculo entre o convento e a tropa lusitana. A porta testemunha do sacrifício da freira segue sendo a mesma atacada pelos soldados até hoje.[5]

Conta a tradição, reproduzida por diversos historiadores, que então exclamou:

No entanto, uma extensa pesquisa realizada em inúmeros arquivos pelo país, conduzida pela pesquisadora Antônia da Silva Santos durante dez anos, nenhum documento prova que a Sóror disse isso de fato[4]

Joana Angélica tornou-se, assim, a primeira mártir da grande luta que continuaria, até a definitiva libertação da Bahia, no ano seguinte, a 2 de julho, data efetiva da independência baiana, data marcante num contexto de rompimentos entre as partes da então América Portuguesa com a Metrópole.[9]

Processo de beatificação

O Convento da Lapa solicitou, em 2001, a inclusão da pesquisa de documentos comprobatórios do martírio da Madre Joana Angélica, para que se tornasse possível o processo canônico da beatificação da citada freira. A pesquisa, conduzida pela pesquisadora Antônia da Silva Santos, iniciada em Salvador, consultou os seguintes arquivos: Arquivo Público do Estado da Bahia, Mosteiro de São Bento, Convento de Nossa Senhora da Piedade, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Biblioteca Central do Estado e Arquivo da Cúria Metropolitana.

Insuficiente, a pesquisa seguiu para outras localidades do Brasil. Em São Paulo, a pesquisa se estendeu aos arquivos: Arquivo de Documentação e Iconografia, Museu Paulista, Arquivo do Mosteiro da Luz e Arquivo da Cúria Metropolitana. No Rio de Janeiro visitaram: Biblioteca Nacional, Museu Histórico Nacional e Mosteiro Nossa Senhora da Ajuda. E em Brasília , Biblioteca do Senado, Biblioteca do Ministério da Justiça, Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional.

Ainda em busca de material para constituir o processo de candidatura à beatificação a pesquisa foi para Lisboa consultar o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e Biblioteca Nacional; e finalmente, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.[4]

Homenagens

Desfile cívico revive o martírio de Joana Angélica
Caetité-BA, 2 de julho de 2007.

O jornal O Impacial, publicado na cidade de Salvador em 23 de maio de 1923, trazia na capa uma homenagem à Sóror Joana Angélica.[6]

Na reunião de ontem do Conselho Municipal, foi aventada uma idêa que aliá, merece os applausos de toda a Bahia, por não quê, revelando o sentimento civico que caracteriza o nosso povo, homenageia a memoria imperecível daquela que, na reclusão do convento da Lapa, emprestou a melhor de suas forças em prol da liberdade da Bahia. Assim, não é justo que, no próximo 2 de julho, quando celebramos o primeiro centenario da nossa emancipação, deixe de ser relembrado o glorioso sacrifício de soror Joanna Angelica.

Na mesma assembleia foi apresentado o projeto de lei que nomeava a rua da Lapa onde estava localizado o convento de Avenida Joanna Angelica. A placas seriam colocadas no dia do centenario. Hoje, com a grafia ajustada para Joana Angélica, a rua, localizada na região central da capital baiana, segue homenageando a mártir. Por todo Brasil ruas e avenidas carregam o nome da mártir, como a avenida Joana Angélica em Ipanema, no Rio de Janeiro.

Em 2 de julho de 1936, o Diario da Bahia também publicou uma homenagem ao martírio de Joana Angélica, ocupando uma página inteira da edição. Denominada "Soror Joanna Angelica - A primeira mártir da Independencia ", a reportagem reconta a história do ataque ao convento e dá detalhes sobre a vida da freira[10]

Em 20 de fevereiro de 1922 o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia comemorou o primeiro Centenário do martírio da Madre Joanna Angelica de Jesus.[5]

Em 26 de julho de 2018 foi declarada Heroína da Pátria Brasileira pela Lei Federal nº 13.697, tendo seu nome inscrito no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria", que se encontra no "Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves", situado em Brasília, Distrito Federal.

Galeria

Referências

  1. a b Centro Cultural Câmara dos Deputados (2016). «Mulheres pioneiras: elas fizeram história». Publicação governamental 
  2. Cordeiro, Tiago. «A guerra da Bahia - Guia do Estudante». origin.guiadoestudante.abril.com.br. Consultado em 16 de novembro de 2017 
  3. a b c Centro Cultural Câmara dos Deputados (2015). «Dois de julho: a independência do Brasil na Bahia». Série: Histórias não contadas. 2 
  4. a b c d SANTOS, Antônia da Silva (2011). «Joana Angélica - saindo dos papéis à beatificação» (PDF). Anais do XV Congresso Nacional de Linguística e Filologia. Consultado em 19 de janeiro de 2016 
  5. a b c d e f g h SOUZA, Bernardino José de (1972). Heroínas Bahianas: Joanna Angélica, Maria Quitéria, Anna Neri. Brasília: Editora Paralelo?MEC 
  6. a b BAHIA, Diario da (2 de julho de 1936). «Soror Joanna Angelica: a primeira martyr da Independencia». Jornal diário 
  7. Costa, Rodrigo. «A guerra que orgulha a Bahia». desafios.ipea.gov.br. Consultado em 16 de novembro de 2017 
  8. «Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa - Salvador - BA». Patrimônio Espiritual. 5 de março de 2015. Consultado em 19 de janeiro de 2016 
  9. RIBEIRO, Elisa de Moura. «Desconstruindo uma trajetória para a Independência: Bahia 1808-1823» (PDF). Universidade Federal da Bahia. Consultado em 19 de janeiro de 2016 
  10. IMPARCIAL, O (23 de maio de 1923). «Homenageando». Jornal diário