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Foi um dos [[ditador]]es mais sanguinários da África, tendo sido denunciado dentro e fora do continente por matar dezenas de milhares de pessoas durante seu governo. Algumas estimativas dizem que o número ultrapassa as trezentas mil pessoas. Muitos ugandenses acusavam o ex-campeão de boxe de manter cabeças decepadas no frigorífico, de alimentar crocodilos com cadáveres, de ter desmembrado uma de suas esposas (Kay Adroa foi encontrada esquartejada dentro do porta-malas de um carro), de mutilar pessoas e deixá-las sangrar até morrer e manter prisioneiros enterrados em buracos fundos cheios de água gelada até morrerem lentamente de frio. Alguns{{Quem?|data=Outubro de 2015}} diziam que praticava [[canibalismo]].
Foi um dos [[ditador]]es mais sanguinários da África, tendo sido denunciado dentro e fora do continente por matar dezenas de milhares de pessoas durante seu governo. Algumas estimativas dizem que o número ultrapassa as trezentas mil pessoas. Muitos ugandenses acusavam o ex-campeão de boxe de manter cabeças decepadas no frigorífico, de alimentar crocodilos com cadáveres, de ter desmembrado uma de suas esposas (Kay Adroa foi encontrada esquartejada dentro do porta-malas de um carro), de mutilar pessoas e deixá-las sangrar até morrer e manter prisioneiros enterrados em buracos fundos cheios de água gelada até morrerem lentamente de frio. Alguns{{Quem?|data=Outubro de 2015}} diziam que praticava [[canibalismo]].


Rompeu relações diplomáticas com [[Israel]] sem um motivo aparente (depois alegou que o governo israelense desejava invadir o Uganda, mas nunca apresentou provas sobre tal especulação), e quando o grupo palestino [[Setembro Negro]] atacou onze atletas de Israel em [[Munique]], enviou um telegrama a [[Kurt Waldheim]], na época [[secretário-geral da ONU]], onde elogiou [[Adolf Hitler]], dizendo que fizera bem em [[Holocausto|assassinar 6 milhões de judeus]].<ref>KLEIN, p. 238.</ref> Em um dos atos mais notórios do seu regime, ele declarou "guerra econômica" no país e ordenou a expulsão de 60 mil asiáticos, a maioria comerciantes de origem [[Índia|indiana]] e [[Paquistão|paquistanesa]], e de vários judeus e cidadãos estrangeiros, principalmente europeus. Num de seus comentários chegou a se oferecer para tornar-se rei da [[Escócia]] e liderar seus súditos para conquistar a independência do [[Reino Unido]].<ref>{{citar web | url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1708200315.htm. | título= Título ainda não informado (favor adicionar) | publicado=www1.folha.uol.com.br }}Página visitada em 24 de setembro de 2014.</ref> Foi recebido, em [[1975]], pelo [[Papa Paulo VI]] como chefe em exercício da [[Organização da Unidade Africana]]. Foi notícia internacional em [[1976]] quando, depois do sequestro de um avião da [[Air France]] por terroristas palestinos e da intervenção das [[Forças de Defesa de Israel]] (FDI) na operação militar conhecida como [[Operação Entebbe]] (ocorrida no aeroporto de [[Entebbe]] - nome do aeroporto onde se sucederam os fatos, que fica nos arredores de Kampala, a 37 km do centro da cidade), foram libertados todos os reféns com exceção de um (uma senhora idosa, posteriormente executada a mando de Amin como retaliação pelo ocorrido). O ataque deixou 31 mortos, entre eles 20 ugandenses, uma intervenção que foi encarada como uma humilhação pessoal, pois Idi Amin na ocasião declarava-se neutro para a imprensa internacional, quando na verdade apoiava os sequestradores palestinos.
Rompeu relações diplomáticas com [[Israel]] sem um motivo aparente (depois alegou que o governo israelense desejava invadir o Uganda, mas nunca apresentou provas sobre tal especulação), e quando o grupo palestino [[Setembro Negro]] atacou onze atletas de Israel em [[Munique]], enviou um telegrama a [[Kurt Waldheim]], na época [[secretário-geral da ONU]], onde elogiou [[Adolf Hitler]], dizendo que fizera bem em [[Holocausto|assassinar 6 milhões de judeus]].<ref>KLEIN, p. 238.</ref> Em um dos atos mais notórios do seu regime, ele declarou "guerra econômica" no país e ordenou a expulsão de 60 mil asiáticos, a maioria comerciantes de origem [[Índia|indiana]] e [[Paquistão|paquistanesa]], e de vários judeus e cidadãos estrangeiros, principalmente europeus. Num de seus comentários chegou a se oferecer para tornar-se rei da [[Escócia]] e liderar seus súditos para conquistar a independência do [[Reino Unido]].<ref>{{citar web | url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1708200315.htm. | título= Título ainda não informado (favor adicionar) | publicado=www1.folha.uol.com.br }}Página visitada em 24 de setembro de 2014.</ref> Foi recebido, em [[1975]], pelo [[Papa Paulo VI]] como chefe em exercício da [[Organização da Unidade Africana]].
Foi notícia internacional em [[1976]] quando, depois do sequestro de um avião da [[Air France]] por terroristas palestinos e da intervenção das [[Forças de Defesa de Israel]] (FDI) na operação militar conhecida como [[Operação Entebbe]] (ocorrida no aeroporto de [[Entebbe]] - nome do aeroporto onde se sucederam os fatos, que fica nos arredores de Kampala, a 37 km do centro da cidade), foram libertados todos os reféns com exceção de um (uma senhora idosa, posteriormente executada a mando de Amin como retaliação pelo ocorrido). O ataque deixou 31 mortos, entre eles 20 ugandenses, uma intervenção que foi encarada como uma humilhação pessoal, pois Idi Amin na ocasião declarava-se neutro para a imprensa internacional, quando na verdade apoiava os sequestradores palestinos.


Rompeu em [[1976]] relações diplomáticas com o [[Reino Unido]] e, dois anos depois, fracassa um atentado contra ele nos subúrbios de Kampala. Após os assassinatos do bispo Luwum e dos ministros Oryema e Oboth Ofumbi em 1977, vários ministros e integrantes do governo de Amin ou desertaram ou fugiram do país.<ref name=bishop>{{citar jornal|url=http://www.ugandaobserver.com/new/archives/2006arch/features/spec/feb/spec200602161.php |título=Not even an archbishop was spared |arquivourl=http://web.archive.org/web/20071012152659/http://ugandaobserver.com/new/archives/2006arch/features/spec/feb/spec200602161.php |arquivodata=12 de outubro de 2007 |obra=The Weekly Observer |data=16 de fevereiro de 2006}}</ref> Em 1978, o apoio ao general Amin, dentro e fora de Uganda, havia declinado e, com a economia e a infraestrutura da nação entrando em colapso devido a má gestão, fez com que o número de inimigos do seu regime aumentasse. Em novembro de 1978, o vice do presidente Amin, o general [[Mustafa Adrisi]], foi gravemente ferido em um suspeito acidente de carro. As tropas leais a ele decidiram se amotinar. Idi Amin enviou forças do exército para enfrentar os amotinados, mas muitos já haviam fugido para a Tanzânia.<ref name=LOC_Rule_Under_Amin>{{citar web|obra=Federal Research Division |publicado=United States Library of Congress |título=Country Studies: Uganda: Military Rule Under Amin |acessodata=8 de agosto de 2009 |url=http://lcweb2.loc.gov/frd/cs/ugtoc.html#ug0159}}</ref> Amin acusou o presidente daquele país, [[Julius Nyerere]], de agressão contra Uganda, e ordenou a invasão de partes do território da [[Tanzânia]] e formalmente [[Guerra Uganda-Tanzânia|anexou]] uma seção da [[Kagera (região)|região de Kagera]].<ref name=LOC_Rule_Under_Amin/><ref name="Idi-otic" />
Rompeu em [[1976]] relações diplomáticas com o [[Reino Unido]] e, dois anos depois, fracassa um atentado contra ele nos subúrbios de Kampala. Após os assassinatos do bispo Luwum e dos ministros Oryema e Oboth Ofumbi em 1977, vários ministros e integrantes do governo de Amin ou desertaram ou fugiram do país.<ref name=bishop>{{citar jornal|url=http://www.ugandaobserver.com/new/archives/2006arch/features/spec/feb/spec200602161.php |título=Not even an archbishop was spared |arquivourl=http://web.archive.org/web/20071012152659/http://ugandaobserver.com/new/archives/2006arch/features/spec/feb/spec200602161.php |arquivodata=12 de outubro de 2007 |obra=The Weekly Observer |data=16 de fevereiro de 2006}}</ref> Em 1978, o apoio ao general Amin, dentro e fora de Uganda, havia declinado e, com a economia e a infraestrutura da nação entrando em colapso devido a má gestão, fez com que o número de inimigos do seu regime aumentasse. Em novembro de 1978, o vice do presidente Amin, o general [[Mustafa Adrisi]], foi gravemente ferido em um suspeito acidente de carro. As tropas leais a ele decidiram se amotinar. Idi Amin enviou forças do exército para enfrentar os amotinados, mas muitos já haviam fugido para a Tanzânia.<ref name=LOC_Rule_Under_Amin>{{citar web|obra=Federal Research Division |publicado=United States Library of Congress |título=Country Studies: Uganda: Military Rule Under Amin |acessodata=8 de agosto de 2009 |url=http://lcweb2.loc.gov/frd/cs/ugtoc.html#ug0159}}</ref> Amin acusou o presidente daquele país, [[Julius Nyerere]], de agressão contra Uganda, e ordenou a invasão de partes do território da [[Tanzânia]] e formalmente [[Guerra Uganda-Tanzânia|anexou]] uma seção da [[Kagera (região)|região de Kagera]].<ref name=LOC_Rule_Under_Amin/><ref name="Idi-otic" />

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Idi Amin
Idi Amin
Amin em 1973
Presidente de Uganda
Período 25 de janeiro de 1971
a 11 de abril de 1979
Vice-presidente Mustafa Adrisi (1977–1978)
Antecessor(a) Milton Obote
Sucessor(a) Yusuf Lule
Dados pessoais
Nome completo Idi Amin Dada
Nascimento c. 1923–1928
Koboko ou Kampala, Uganda
Morte 16 de agosto de 2003
Jidá, Meca, Arábia Saudita
Progenitores Mãe: Assa Aatte
Pai: Andreas Nyabire
Esposas Malyamu (1966–1974)
Kay (1966–1974)
Nora (1967–1974)
Nalongo Madina (1972–2003)
Sarah Kyolaba (1975–2003)
Filhos(as) 43 (estimado)[1]
Religião Islamismo
Serviço militar
Lealdade  Reino Unido (1946–1962)
 Uganda (1962–1979)
Serviço/ramo Exército Britânico (1946–1962)
Força de Defesa Popular de Uganda (1962–1979)
Anos de serviço 1946–1979
Graduação Tenente (Reino Unido)
Marechal de campo (Uganda)
Unidade King's African Rifles (1946–1962)
Conflitos Revolta dos Mau-Mau
Golpe de Estado em Uganda
Guerra Uganda-Tanzânia

Idi Amin Dada (Koboko ou Kampala, c. Década de 1920Jidá, 16 de agosto de 2003) foi um ditador militar e o terceiro presidente de Uganda entre 1971 e 1979. Amin se juntou ao King's African Rifles, um regimento colonial britânico, em 1946, servindo na Somália e no Quênia. Eventualmente, ele chegou a patente de Major-General no exército ugandense, e tornou-se Comandante antes de liderar um golpe de estado em 1971, depondo o então presidente Milton Obote. Mais tarde, como chefe de estado, se autopromoveu a Marechal de Campo.

O governo de Amin ficou caracterizado por violações dos direitos humanos, repressão política, perseguição étnica, assassinatos, nepotismo, corrupção e má gestão econômica. O número de mortos durante seu regime ditatorial é estimado por observadores internacionais e grupos de direitos humanos como estando entre cem mil e quinhentos mil. Durante seus anos no poder, Amin deixou de ser um anticomunista com considerável apoio de Israel e passou a ser apoiado por Muammar al-Gaddafi, a União Soviética e a Alemanha Oriental. Entre 1975 e 1976, ele foi o presidente da Organização da Unidade Africana, um grupo criado para promover a solidariedade entre as nações no continente. Entre 1977 e 1979, Uganda foi membro da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em 1977, quando o Reino Unido rompeu relações diplomáticas com o país, Amin declarou que havia derrotado os britânicos, adicionando "CBE", de "Conquistador do Império Britânico", aos seus títulos. Seu título completo era "Sua Excelência Presidente Vitalício, Marechal de Campo Alhaji Dr. Idi Amin Dada, VC, DSO, MC, CBE".

Após a Guerra Uganda-Tanzânia (1978–1979), onde Amin tentou anexar a região de Kagera, dissidentes conseguiram encerrar seu regime de oito anos, forçando seu exílio. Primeiro ele foi para a Líbia, depois para a Arábia Saudita, onde viveu até sua morte em 16 de agosto de 2003. É lembrado até os dias atuais como um dos déspotas mais sanguinários da história da África.[2]

Biografia

Primeiros anos

Amin nunca escreveu uma autobiografia ou autorizou algum relato oficial sobre sua vida, dessa forma, há discrepâncias sobre quando e onde ele nasceu. A maioria das fontes biográficas afirmam que ele nasceu em Koboko ou Kampala por volta de 1925.[nota 1] Outras fontes colocam seu nascimento em 1923 ou em 1928. De acordo com Fred Guweddeko, um pesquisador da Universidade Makerere, Amin era filho de Andreas Nyabire. Nyabire, um kakwa, converteu-se do catolicismo para o islamismo em 1910 e mudou seu nome para Amin Dada. Ele nomeou seu primeiro filho em sua homenagem. Abandonado pelo pai ainda jovem, Idi Amin cresceu com a família de sua mãe em uma fazenda no noroeste de Uganda. Guweddeko diz que sua mãe se chamava Assa Aatte, uma lugbara cristã e herbalista tradicional que tratava os membros da realeza de Buganda, entre outros. Amin entrou em uma escola islâmica de Bombo no ano de 1941. Após alguns anos, ele saiu da escola tendo estudado apenas até a quarta série, trabalhando em bicos até ser recrutado como oficial pelo exército colonial britânico.[3]

Carreira militar e política

Alistado no exército britânico, foi inicialmente ajudante de cozinha do regimento colonial britânico chamado King's African Rifles. Impressionou com seu 1,90 metro de altura, e os seus 110 quilos bem como a sua habilidade pugilística, que o converteram num campeão de boxe na categoria de pesos-pesados do seu país, de 1951 a 1960.

Após a independência do país, em 1962, tornou-se chefe do Exército do presidente Milton Obote. Pouco tempo após assumir este cargo, Amin e Obote começaram a ter desavenças.[5] A popularidade de Amin entre os militares e o atentado contra a vida de Obote em 1969 fizeram com que ambos se tornassem rivais.[5] Sabendo que o então presidente planejava prende-lo por supostamente desviar fundos das forças armadas, Idi Amin deu um golpe de estado com a ajuda do exército ugandense em 25 de janeiro de 1971,[6] aproveitando-se do momento em que Obote estava fora do país, numa conferência de primeiros-ministros do Commonwealth em Singapura[7]. Em uma transmissão de rádio ao povo ugandense, Amin falou que ele era um soldado e não um político, e que ele libertaria todos os prisioneiros políticos e colocaria a economia do país em ordem novamente.[8] Em 2 de fevereiro, ele se declarou Comandante em chefe das forças armadas e presidente vitalício, impondo disciplina militar a seu gabinete e colocou seus apoiantes em cargos proeminentes do seu governo.[9] Obote, que retornava da conferência, decidiu permanecer na Tanzânia após ter seu pedido de asilo aceito, e outros 20 mil soldados desertores e simpatizantes da oposição fugiram do país para o exílio em países vizinhos, como a Tanzânia.[10] Em retaliação, Idi Amin começou a expurgar oficiais de lealdade duvidosa do Exército, o que terminou com a morte de mais de 5 000 militares. Muitos intelectuais, artistas e políticos também começaram a ser presos sob suspeita de fazer oposição ao governo.[11]

Após o golpe, depois de alguns meses de moderação, iniciou rapidamente a arbitrariedade como estilo de seu governo, que durou oito anos, sendo um regime brutal que deixou um país arruinado e pelo menos 300 mil ugandenses mortos. As perseguições, as mortes e os desaparecimentos, que tinham natureza étnica, política e financeira, começaram pouco após sua chegada ao poder.[12] O brigadeiro Hussein Suleiman, leal a Obote, foi preso, torturado e morto após espancamentos e golpes de rifles. Há também relatos de morte de soldados das etnias acholi e langi de maneira brutal. Eram colocados em filas, seus crânios eram esmagados por marretas pelo soldado que vinha atrás, que por sua vez seria assassinado pelo soldado seguinte. Dois norte-americanos, que investigavam os extermínios, também foram mortos. Nicholas Stroh, jornalista do Evening Bulletin de Filadélfia e Robert Seidle, professor de sociologia, foram assassinados pelos soldados de Amin.[13]

Demonstrando um temperamento megalômano, vingativo e violento, começou, em 1972, o processo de expulsão do seu país de cerca de 60 mil asiáticos, descendentes de imigrantes do império britânico na Índia, e milhares de europeus, dizendo que Deus lhe havia dito para transformar Uganda num país de homens negros. Os asiáticos eram perseguidos, suas casas atacadas e suas empresas fechadas. Uma figura grande e imponente, o seu comportamento excêntrico criou a imagem de um homem dado a explosões irregulares e foi chamado de "Big Daddy" ("paizão"). Uma vez declarou-se "rei da Escócia", proibiu os hippies e as minissaias, e chegou a um funeral da realeza saudita usando um kilt. Certa vez (1999) disse a um jornal ugandense que gostava de tocar acordeão e de recitar o Alcorão. Ficou conhecido também por debochar de vários líderes internacionais: afirmava dar conselhos ao presidente americano Richard Nixon, criou o "Fundo Ugandense para a Salvação da Inglaterra" e cogitou a transferência da sede da ONU de Nova York para a capital de Uganda. Depois de assumir o poder (1971), tornou-se um ditador que violava os direitos humanos fundamentais frequentemente durante um "reinado de horror", segundo a Comissão Internacional de Juristas.

Foi um dos ditadores mais sanguinários da África, tendo sido denunciado dentro e fora do continente por matar dezenas de milhares de pessoas durante seu governo. Algumas estimativas dizem que o número ultrapassa as trezentas mil pessoas. Muitos ugandenses acusavam o ex-campeão de boxe de manter cabeças decepadas no frigorífico, de alimentar crocodilos com cadáveres, de ter desmembrado uma de suas esposas (Kay Adroa foi encontrada esquartejada dentro do porta-malas de um carro), de mutilar pessoas e deixá-las sangrar até morrer e manter prisioneiros enterrados em buracos fundos cheios de água gelada até morrerem lentamente de frio. Alguns[quem?] diziam que praticava canibalismo.

Rompeu relações diplomáticas com Israel sem um motivo aparente (depois alegou que o governo israelense desejava invadir o Uganda, mas nunca apresentou provas sobre tal especulação), e quando o grupo palestino Setembro Negro atacou onze atletas de Israel em Munique, enviou um telegrama a Kurt Waldheim, na época secretário-geral da ONU, onde elogiou Adolf Hitler, dizendo que fizera bem em assassinar 6 milhões de judeus.[14] Em um dos atos mais notórios do seu regime, ele declarou "guerra econômica" no país e ordenou a expulsão de 60 mil asiáticos, a maioria comerciantes de origem indiana e paquistanesa, e de vários judeus e cidadãos estrangeiros, principalmente europeus. Num de seus comentários chegou a se oferecer para tornar-se rei da Escócia e liderar seus súditos para conquistar a independência do Reino Unido.[15] Foi recebido, em 1975, pelo Papa Paulo VI como chefe em exercício da Organização da Unidade Africana.

Foi notícia internacional em 1976 quando, depois do sequestro de um avião da Air France por terroristas palestinos e da intervenção das Forças de Defesa de Israel (FDI) na operação militar conhecida como Operação Entebbe (ocorrida no aeroporto de Entebbe - nome do aeroporto onde se sucederam os fatos, que fica nos arredores de Kampala, a 37 km do centro da cidade), foram libertados todos os reféns com exceção de um (uma senhora idosa, posteriormente executada a mando de Amin como retaliação pelo ocorrido). O ataque deixou 31 mortos, entre eles 20 ugandenses, uma intervenção que foi encarada como uma humilhação pessoal, pois Idi Amin na ocasião declarava-se neutro para a imprensa internacional, quando na verdade apoiava os sequestradores palestinos.

Rompeu em 1976 relações diplomáticas com o Reino Unido e, dois anos depois, fracassa um atentado contra ele nos subúrbios de Kampala. Após os assassinatos do bispo Luwum e dos ministros Oryema e Oboth Ofumbi em 1977, vários ministros e integrantes do governo de Amin ou desertaram ou fugiram do país.[16] Em 1978, o apoio ao general Amin, dentro e fora de Uganda, havia declinado e, com a economia e a infraestrutura da nação entrando em colapso devido a má gestão, fez com que o número de inimigos do seu regime aumentasse. Em novembro de 1978, o vice do presidente Amin, o general Mustafa Adrisi, foi gravemente ferido em um suspeito acidente de carro. As tropas leais a ele decidiram se amotinar. Idi Amin enviou forças do exército para enfrentar os amotinados, mas muitos já haviam fugido para a Tanzânia.[9] Amin acusou o presidente daquele país, Julius Nyerere, de agressão contra Uganda, e ordenou a invasão de partes do território da Tanzânia e formalmente anexou uma seção da região de Kagera.[9][10]

Em janeiro de 1979, o presidente tanzaniano Nyerere mobilizou o exército de seu país e contra-atacou, com o apoio de grupos dissidentes ugandenses como a Frente de Libertação Nacional de Uganda (UNLA). As forças de Amin recuaram frente a contraofensiva e, apesar do apoio militar vindo do ditador líbio, Muammar al-Gaddafi, ele foi obrigado a fugir do país em 11 de abril de 1979, após a queda da capital Kampala.[17] Os ugandenses comemoraram nas ruas, com vários carros do exército anunciando com alto-falantes frases como "Volta à sanidade", "O ditador fascista está liquidado" e "Viva Nyrere". Idi Amin fugiu então para a Líbia, mas teve de procurar um novo refúgio quando Gaddafi o expulsou do país em meados de 1980. Recebeu então asilo da Arábia Saudita em nome da caridade islâmica, onde passou a viver até o fim de sua vida, acompanhado pelas suas quatro esposas e seus mais de 50 filhos. Quando o seu estado de saúde se agravou, em julho, uma de suas quatro mulheres pediu para voltar a Uganda para morrer, mas o governo daquele país negou o pedido, sob o argumento que se retornasse seria julgado pelas suas atrocidades.

Morte

Amin faleceu a 16 de agosto de 2003 no Hospital Rei Faisal na cidade saudita de Jidá, acometido de insuficiência renal, tendo vivido quase 24 anos no exílio.[18] Foi enterrado na mesma cidade que faleceu, após um pequeno funeral horas depois de sua morte no sábado. Os ugandenses reagiram com uma mistura de alívio com a morte de um tirano sanguinário e de nostalgia por um líder que muitos aplaudiram por expulsar asiáticos que dominavam a vida econômica local.

Representação na mídia

Em 2006, foi lançado o filme "The Last King of Scotland" ("O Último Rei da Escócia"), que retrata as atrocidades de Idi Amin. O ator Forest Whitaker estrela o filme encarnando o ditador ugandense, papel pelo qual conquistou o Oscar da Academia como melhor ator.

Em 2014, o History contou a história de Amim, na série "Um Dia na Vida de um Ditador"[19].

Notas

  1. Muitas fontes, como a Encyclopædia Britannica, dizem que Amin nasceu em Koboko ou Kampala por volta de 1925, e que a data exata de seu nascimento é desconhecida. O pesquisador Fred Guweddeko afirma que ele nasceu em 17 de maio de 1928,[3] porém isso é contestado.[4] A única certeza é que Amin nasceu durante a década de 1920.

Referências

  1. «Return of Idi Amin's son casts a shadow over Ugandan election». The Guardian. Consultado em 19 de julho de 2019 
  2. «"Top 10 Worst Dictators of Africa: General Idi Amin of Uganda"». answersafrica.com . Página acessada em 31 de março de 2017.
  3. a b Guweddeko, Fred (12 de junho de 2007). «Rejected then taken in by dad; a timeline». The Monitor. Consultado em 28 de outubro de 2012. Arquivado do original em 12 de junho de 2007 
  4. O'Kadameri, Billie (1 de setembro de 2003). «Separate fact from fiction in Amin stories». The Monitor. Consultado em 28 de outubro de 2012 
  5. a b «General Idi Amin overthrows Ugandan government». British Council. 2 de fevereiro de 1971. Consultado em 8 de agosto de 2009. Arquivado do original em 25 de fevereiro de 2007 
  6. «On this day: 25 January 1971: Idi Amin ousts Ugandan president». BBC. 25 de janeiro de 1971. Consultado em 8 de agosto de 2009 
  7. KLEIN, Shelley. Os ditadores mais perversos da história. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004, p. 233.
  8. Fairhall, John (26 de janeiro de 1971). «Curfew in Uganda after military coup topples Obote». The Guardian. Londres. Consultado em 8 de agosto de 2009 
  9. a b c «Country Studies: Uganda: Military Rule Under Amin». Federal Research Division. United States Library of Congress. Consultado em 8 de agosto de 2009 
  10. a b «An Idi-otic Invasion». Time. 13 de novembro de 1978. Consultado em 8 de agosto de 2009 
  11. Tall, Mamadou (Primavera–Verão 1982). «Notes on the Civil and Political Strife in Uganda». Issue: A Journal of Opinion, Vol. 12, No. 1/2. A Journal of Opinion. 12 (1/2): 41–44. JSTOR 1166537. doi:10.2307/1166537 
  12. Moore, Charles (17 de setembro de 2003). «Obituary: Idi Amin». Daily Telegraph. Londres. Cópia arquivada em 9 de agosto de 2009 
  13. KLEIN, p. 235-236.
  14. KLEIN, p. 238.
  15. «Título ainda não informado (favor adicionar)». www1.folha.uol.com.br Página visitada em 24 de setembro de 2014.
  16. «Not even an archbishop was spared». The Weekly Observer. 16 de fevereiro de 2006. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2007 
  17. «Idi Amin». Encyclopædia Britannica. 19 de dezembro de 2008. Consultado em 8 de agosto de 2009. Arquivado do original em 18 de novembro de 2008 
  18. «"Obituary: Idi Amin"». www.theguardian.com . The Guardian. Página acessada em 25 de fevereiro de 2016.
  19. «Título ainda não informado (favor adicionar)». seuhistory.com. Consultado em 27 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 5 de março de 2016