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Filosofia greco-romana: diferenças entre revisões

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o [[helenismo]], a [[expansão]] do ''modus vivendi'' grego imposto ao resto do mundo conhecido, através das conquistas de [[Alexandre Magno]] (séculos III e II a.C.). Embora a desintegração deste império se dê mais rápido ainda que a sua constituição, o fato é que ele tinha aberto uma nova compreensão do mundo, mais universalista e etnocêntrica, provocando profundas crises e transformações. Os romanos irão na esteira do império helênico. Mas cabe ressaltar aqui, que com Alexandre, as cidades gregas perdem sua autonomia, são obrigadas a pagar pesados [[impostos]] e têm seus exércitos e funções administrativas básicas subordinadas aos [[grupos]] ligados ao "conquistador".
o [[helenismo]], a [[expansão]] do ''modus vivendi'' grego imposto ao resto do mundo conhecido, através das conquistas de [[Alexandre Magno]] (séculos III e II a.C.). Embora a desintegração deste império se dê mais rápido ainda que a sua constituição, o fato é que ele tinha aberto uma nova compreensão do mundo, mais universalista e etnocêntrica, provocando profundas crises e transformações. Os romanos irão na esteira do império helênico. Mas cabe ressaltar aqui, que com Alexandre, as cidades gregas perdem sua autonomia, são obrigadas a pagar pesados [[impostos]] e têm seus exércitos e funções administrativas básicas subordinadas aos [[grupos]] ligados ao "conquistador".


Vendo frustradas as possibilidades políticas, a democracia corrompida pela tirania, a [[pólis]] destruída pela força, aliadas ao cada vez maior intercâmbio comercial e com influências do Oriente helenizado, o grego desenvolve um retorno ao misticismo, o que geralmente ocorre em épocas de crise, ao mesmo tempo que cria um tipo de sentimento de pessimismo e justificação, resistência e negação da realidade em que vive. Isso explicaria os diversos movimentos de idéias e seitas morais que surgem nesta época (séc. II a.C.), nas diversas cidades gregas: o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. A "polis" grega percebe o seu fim e o cidadão grego volta-se para seu próprio interior, para si mesmo, descrente e indefeso diante da enormidade do Império e da fatalidade histórica da dominação e perda da liberdade política. Descrente dos deuses, da mitologia e dos heróis, descrente da "polis", da Justiça e do Bem, da ''filia'' política e da própria Filosofia, o grego volta-se para a sua natureza interior. Já não pesquisa o princípio da natureza (''physis''), ou o princípio da realidade. Refugia-se no misticismo e num conceito de "indivíduo" exigindo que esta síntese lhe proporcione a felicidade pessoal que compense a perda da liberdade política. O grego deste período quer tornar-se auto-suficiente, realizar em si o ideal da ''[[autarquia|autarkéia]]'', a completa autonomia e despojamento individual. Já não se sente um cidadão de uma determinada pólis, da qual antes se orgulhava; ao contrário, quer desprender-se de todos os laços familiares, religiosos ou que pertençam a uma determinada cidadania. Esta filosofia têm em comum um retorno ao ideal do sábio, como homem universal, cidadão do mundo, sem qualquer característica particularizante ou "nacional".
Vendo frustradas as possibilidades políticas, a democracia corrompida pela tirania, a [[pólis]] destruída pela força, aliadas ao cada vez maior intercâmbio comercial e com influências do Oriente helenizado, o grego desenvolve um retorno ao misticismo, o que geralmente ocorre em épocas de crise, ao mesmo tempo que cria um tipo de sentimento de pessimismo e justificação, resistência e negação da realidade em que vive. Isso explicaria os diversos movimentos de idéias e seitas morais que surgem nesta época (séc. II a.C.), nas pais nos cus casarbit cidades gregas: o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. A "polis" grega percebe o seu fim e o cidadão grego volta-se para seu próprio interior, para si mesmo, descrente e indefeso diante da enormidade do Império e da fatalidade histórica da dominação e perda da liberdade política. Descrente dos deuses, da mitologia e dos heróis, descrente da "polis", da Justiça e do Bem, da ''filia'' política e da própria Filosofia, o grego volta-se para a sua natureza interior. Já não pesquisa o princípio da natureza (''physis''), ou o princípio da realidade. Refugia-se no misticismo e num conceito de "indivíduo" exigindo que esta síntese lhe proporcione a felicidade pessoal que compense a perda da liberdade política. O grego deste período quer tornar-se auto-suficiente, realizar em si o ideal da ''[[autarquia|autarkéia]]'', a completa autonomia e despojamento individual. Já não se sente um cidadão de uma determinada pólis, da qual antes se orgulhava; ao contrário, quer desprender-se de todos os laços familiares, religiosos ou que pertençam a uma determinada cidadania. Esta filosofia têm em comum um retorno ao ideal do sábio, como homem universal, cidadão do mundo, sem qualquer característica particularizante ou "nacional".


O ceticismo prega a indiferença teórica e prática. O ideal sábio será a completa e absoluta imperturbabilidade, o despojamento total e o domínio das "paixões internas" até atingir a ''ataraxia''. Os céticos desenvolvem um sentimento de relativização de tudo, tanto para com os usos e costumes, a moral, como para o próprio Conhecimento. [[Epicuro]] (séc. II a.C.) prega o Ateísmo, o universalismo (o ideal do homem sem pátria) o individualismo, mas de uma maneira ainda mais explícita do que os céticos. Não há deuses nem Verdades pelas quais se deva viver ou morrer. O ateísmo e a descrença é, para ele, condição de felicidade humana. O que deve fazer o Homem, segundo Epicuro? Fugir de todo sofrimento, paixão e perturbação (''páthos''). O homem deve viver para buscar o Prazer. Contudo é preciso observar que este conceito de "prazer" em Epicuro não é o de "libertinagem" como nos apresentou a historiografia filosófica criada pela Igreja. O prazer epicurista tem uma conotação racional, o prazer é a contemplação absoluta, a serenidade e a fuga de todo sofrimento. Epicuro aconselha a "fugir da política e da religião que só provocam ilusões e sofrimento", como já dissemos anteriormente.
O ceticismo prega a indiferença teórica e prática. O ideal sábio será a completa e absoluta imperturbabilidade, o despojamento total e o domínio das "paixões internas" até atingir a ''ataraxia''. Os céticos desenvolvem um sentimento de relativização de tudo, tanto para com os usos e costumes, a moral, como para o próprio Conhecimento. [[Epicuro]] (séc. II a.C.) prega o Ateísmo, o universalismo (o ideal do homem sem pátria) o individualismo, mas de uma maneira ainda mais explícita do que os céticos. Não há deuses nem Verdades pelas quais se deva viver ou morrer. O ateísmo e a descrença é, para ele, condição de felicidade humana. O que deve fazer o Homem, segundo Epicuro? Fugir de todo sofrimento, paixão e perturbação (''páthos''). O homem deve viver para buscar o Prazer. Contudo é preciso observar que este conceito de "prazer" em Epicuro não é o de "libertinagem" como nos apresentou a historiografia filosófica criada pela Igreja. O prazer epicurista tem uma conotação racional, o prazer é a contemplação absoluta, a serenidade e a fuga de todo sofrimento. Epicuro aconselha a "fugir da política e da religião que só provocam ilusões e sofrimento", como já dissemos anteriormente.

Revisão das 23h11min de 30 de março de 2011

A filosofia greco-romana foi a maneira com que os antigos gregos e romanos sistematizaram, nos últimos cinco séculos antes de Cristo, uma forma de conhecimento, um modo de reflexão ou uma teoria da realidade. Esta filosofia pode ser classificada em dois períodos: o cosmológico e o antropológico clássico.

Classificação

Período cosmológico

Neste estágio primitivo e rural, predominou uma explicação mitológica do universo e da origem das principais significações da realidade. Os mitos gregos são marcadamente concebidos com características semelhantes ao mundo, relações e modos de vida dos homens daquele tempo. Houve entre os gregos uma imensa tradição mitológica oral, que mais tarde foi sistematizado por Homero em suas duas grandes obras: Ilíada e Odisséia. Costuma-se classificar este primeiro período grego (primitivo, rural, tribal e mitológico) como "Tempos Homéricos", abrangendo-se até por volta dos anos 1000 a.C. Este saber mitológico "explicava", para a época e para aquele momento histórico, as principais questões da existência humana, da natureza e da sociedade. Explicava a origem dos reis, a própria origem dos homens, a origem do povo grego, das guerras, dos amores, das doenças, enfim, de toda a riqueza de sua cultura. A síntese do mito e a consciência mitológica justificam as estruturas associada e cimentam as relações de trabalho, parentesco e política entre os gregos. Neste período, entre vários filósofos que buscavam o conhecimento do princípio material da natureza, encontram-se: Anaximandro: Procurava provar que o princípio de tudo resumia-se numa construção espiritual, invisível. Tales de Mileto: Sua filosofia consistia-se em afirmar que a origem de todas as coisas era a água. Demócrito: Para esse filósofo, as substâncias eram compostas de fragmentos invisíveis, aos quais deu o nome de átomos. Demócrito e Leucipo interpretavam o universo como um ser vazio e que agregava apenas átomos. Esses dois filósofos não diferenciavam a alma das demais substâncias, pois a entendiam como sendo também um átomo. Pitágoras: Defendia o panteísmo, que significa uma relação entre teorias matemáticas e a matempsicose ou seja, a transformação da alma. Pitágoras é considerado um dos mais importantes matemáticos, no âmbito mundial. A geometria teve sua continuidades nos estudos desenvolvidos por ele. Anaxágoras: Acreditava que o Nóus, um espírito, seria o centro do universo e que todas as coisas eram regidas por ele. Heráclito: Via no lógus, uma lei que determinava o desenvolvimento de tudo, a verdadeira transformação dos seres. Anaxímenes: Para esse filósofo, o início de tudo se encontrava no ar que, após ter passado por algumas transformações físicas, teria dado origem à criação. Zenão de Citio: Fundador da escola estóica, cujo ensinamento resumia-se no estudo de uma lei universal, a Natureza. Segundo essa lei, o indivíduo que não se adaptasse às normas de boa conduta e virtude, não teria uma condição satisfatória de vida. Empédocles: Dizia que a terra, o ar, a água e o fogo misturaram-se e deram origem às substâncias. Parmênides e Xenófones: Entendiam o ser como sendo uno; as coisas eram imutáveis, permanentes e não se desenvolviam.

Período antropológico clássico

A filosofia, como ciência e atividade humana, no início foi produzida por homens situados em determinados momentos históricos. Nas cidades gregas, aos poucos, a filosofia vai ganhando sua identidade e tomando diferentes funções sociais. A Grécia, após ter passado pela era primitiva, tribal, e pelo período político denominado pólis, que significa cidade-estado, alcançou sua autonomia e independência. Atenas se sobressai economicamente e consegue elevar a Grécia no âmbito político e cultural. Segundo J.P. Vernant, há uma relação entre o surgimento da filosofia e da cidade-estado. Enquanto na mitologia a filosofia significa o "saber" da Grécia rural, de tradição oral, esparsa e popular, com a instituição da pólis essa filosofia se traduz em uma nova ideologia, uma visão melhor do mundo, mais racional e organizada. Os filósofos deste período, a começar com os sofistas,homens que ganhavem dinheiro, cobravam para ensinar; criaram uma nova temática para a filosofia: O Homem, capaz de conhecer. isto é, ser capaz de dominar conteúdos antes atribuídos ao domínio de deuses.Os filósofos, a começar por Tales de Mileto, passaram pensar, questionar a realidade que os cercava. Passaram a perguntar: por que o Sol aparece no nascente e se põe no poente? Por que acontece o trovão? Será que os acontecimentos da natureza são obra de deuses, ou é possivel encontrar uma explicação racional, natural para tudo o que acontece? A filosofia muda de espaço geográfico, das colônias da região jonica, para o centro cultural de Atenas. Esta mudança causa também a mudança de objeto de pesquisa: passa do questionamento da natureza para o homem. Perguntam, por que o Homem nasce, se desenvolve, cria filhos, envelhece e morre?Há uma mudança de temática: o discurso cosmológico e materialista passa a dar lugar a um discurso moral e político, pois na cidade a convivência humana precisa ser fundamentada, bem como será preciso um modelo de enquadramento social efetivo: a paidéia, o ideal educativo. O período antropológico, com Sócrates, Platão e Aristóteles, coincide com o ponto alto da democracia.

Decadência

Chama-se "decadente" ao último período da filosofia grega que coincide com a própria decadência do mundo grego depois de um apogeu político e cultural. Em síntese, as filosofia deste período não têm o brilho clássico nem propostas novas e originais. Antes, quase sempre são sistemas místico-filosóficos, sincréticos, próprios de épocas de crise estrutural como foram os dois últimos séculos antecedentes à era cristã.

O estoicismo, do grego "stoá", que significa "pórtico", aludindo aos que ficavam às portas da cidade pregando sua doutrina, é extremamente individualista. Descrente dos deuses e da "pólis", o estóico volta-se para seu mundo interior, sobre si mesmo. Exalta a igualdade humana pela "razão" como forma de superar as identidades culturais e raciais da "pólis" destruída. Levanta-se agora um cidadão universal, sem família, pátria ou obrigações. Quer buscar a completa autonomia individual - autárquica e na prática das virtudes atingir a sabedoria.

O filósofo, ou sábio estóico, vivendo virtudes numa dimensão prática e racional, suprimira todas as paixões, fontes da dor, engano e confusão, pelo domínio de sua "natureza interior". O completo domínio das paixões leva as pessoas à "Ataraxia", a completa contemplação interior. O estoicismo é, portanto, um subjetivismo moral, e individualmente se torna o refúgio do grego dominado. É universalista enquanto exige a razão e a sabedoria como distinção de todo homem pensante. O sábio estóico não teme a morte nem os deuses - vive para si mesmo. O cristianismo incorpora a moral e o universalismo dos estóicos.

Já o epicurismo, que se forma a partir das idéias de Epicuro, abre uma outra perspectiva embora igualmente era moralizante e individualista. Afirma que o fim único da existência é o prazer, não compreendendo por isso o conceito de "pecado" e "devassidão" cristão, mas o completo ajustamento as leis naturais. O homem deve fugir de todas as situações de dor e sofrimento (páthos) até atingir a completa imperturbabilidade pessoal (apatia), que consiste em "não-sofrer". Deve cultivar a amizade universal - filia - e fugir das fontes de sofrimento que são a religião e a política. Divide e classifica os prazeres em:

  • naturais e necessários - comer, beber.
  • naturais e não-necessários - vestir, escolher certo alimento
  • não-naturais e não-necessários - o poder e a crença

Classifica as formas de prazer, dos sentidos, do gosto, dos sons e do apetite, do amor e da contemplação que fazem a felicidade (eudaimonia) do homem. O confronto com o cristianismo vai descaracterizar o epicurismo, além da própria razão platônica revigorada em Plotino.

Embora de menor influência, os cínicos e os céticos, onde destaca-se como precursor Diógenes, pautam-se por uma completa crítica social, aos deuses, aos costumes, ao poder, à justiça, e à própria Filosofia. É mais um completo subjetivismo radical que chega a negar a objetividade do mundo, fruto do desespero e da crise Antiga.

Plotino (205-270 d.C.) retoma o pensamento de Platão e acrescenta-lhe uma estrutura mística: o conceito de Nóus, uma inteligência organizadora do mundo e a idéia de um emanacionismo divino da matéria. É o último dos grandes filósofos gregos. O período decadente da filosofia grega baseia-se no declínio da sociedade da Grécia.

O período decadente e o cristianismo

Alguns paralelos nos permitem compreender a decadência do Império Romano e o êxito do cristianismo.
O fim das fronteiras regionais do mundo antigo é o helenismo, a expansão do modus vivendi grego imposto ao resto do mundo conhecido, através das conquistas de Alexandre Magno (séculos III e II a.C.). Embora a desintegração deste império se dê mais rápido ainda que a sua constituição, o fato é que ele tinha aberto uma nova compreensão do mundo, mais universalista e etnocêntrica, provocando profundas crises e transformações. Os romanos irão na esteira do império helênico. Mas cabe ressaltar aqui, que com Alexandre, as cidades gregas perdem sua autonomia, são obrigadas a pagar pesados impostos e têm seus exércitos e funções administrativas básicas subordinadas aos grupos ligados ao "conquistador".

Vendo frustradas as possibilidades políticas, a democracia corrompida pela tirania, a pólis destruída pela força, aliadas ao cada vez maior intercâmbio comercial e com influências do Oriente helenizado, o grego desenvolve um retorno ao misticismo, o que geralmente ocorre em épocas de crise, ao mesmo tempo que cria um tipo de sentimento de pessimismo e justificação, resistência e negação da realidade em que vive. Isso explicaria os diversos movimentos de idéias e seitas morais que surgem nesta época (séc. II a.C.), nas pais nos cus casarbit cidades gregas: o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. A "polis" grega percebe o seu fim e o cidadão grego volta-se para seu próprio interior, para si mesmo, descrente e indefeso diante da enormidade do Império e da fatalidade histórica da dominação e perda da liberdade política. Descrente dos deuses, da mitologia e dos heróis, descrente da "polis", da Justiça e do Bem, da filia política e da própria Filosofia, o grego volta-se para a sua natureza interior. Já não pesquisa o princípio da natureza (physis), ou o princípio da realidade. Refugia-se no misticismo e num conceito de "indivíduo" exigindo que esta síntese lhe proporcione a felicidade pessoal que compense a perda da liberdade política. O grego deste período quer tornar-se auto-suficiente, realizar em si o ideal da autarkéia, a completa autonomia e despojamento individual. Já não se sente um cidadão de uma determinada pólis, da qual antes se orgulhava; ao contrário, quer desprender-se de todos os laços familiares, religiosos ou que pertençam a uma determinada cidadania. Esta filosofia têm em comum um retorno ao ideal do sábio, como homem universal, cidadão do mundo, sem qualquer característica particularizante ou "nacional".

O ceticismo prega a indiferença teórica e prática. O ideal sábio será a completa e absoluta imperturbabilidade, o despojamento total e o domínio das "paixões internas" até atingir a ataraxia. Os céticos desenvolvem um sentimento de relativização de tudo, tanto para com os usos e costumes, a moral, como para o próprio Conhecimento. Epicuro (séc. II a.C.) prega o Ateísmo, o universalismo (o ideal do homem sem pátria) o individualismo, mas de uma maneira ainda mais explícita do que os céticos. Não há deuses nem Verdades pelas quais se deva viver ou morrer. O ateísmo e a descrença é, para ele, condição de felicidade humana. O que deve fazer o Homem, segundo Epicuro? Fugir de todo sofrimento, paixão e perturbação (páthos). O homem deve viver para buscar o Prazer. Contudo é preciso observar que este conceito de "prazer" em Epicuro não é o de "libertinagem" como nos apresentou a historiografia filosófica criada pela Igreja. O prazer epicurista tem uma conotação racional, o prazer é a contemplação absoluta, a serenidade e a fuga de todo sofrimento. Epicuro aconselha a "fugir da política e da religião que só provocam ilusões e sofrimento", como já dissemos anteriormente.

Epicuro liberta o homem da fatalidade cíclica grega. Faz do homem senhor de sua própria conduta e lhe dá a responsabilidade de conquistar a sua ataraxia individual (Eudaimonia). Já os Estóicos radicalizaram estas características: todos os homens podem ser sábios desde que dediquem-se às virtudes. O principal meio de se conseguir a imperturbabilidade é viver de acordo com a Razão. O sábio estóico deve abandonar a família, condição social, pátria, raça, etc… e por-se na busca na Sabedoria que é viver de acordo com a reta razão. O que identifica a todos os homens é que todos são portadores da razão e estão aptos à vivência da Virtude e Perfeição, cidadãos do mesmo Cosmos.

É também conhecido o episódio de Diógenes Laércio, que anda pelas ruas da cidade procurando, de vela acesa na mão e durante o dia, "um Homem", numa atitude ferozmente crítica que demonstra a decadência do ideal grego de Homem, seja guerreiro, atleta ou legislador. Há um sentimento de descrédito e pessimismo, próprio de épocas de crise. Se nos aventurássemos pelo terreno da história teríamos muitos outros elementos a acrescentar: a grande massa de escravos gerada pela conquista, o sincretismo cultural entre os povos dominados, as tensões dos grupos dominantes e o modo de impor seu modelo cultural e social e as tantas formas de resistência, etc. Limitamo-nos porém, ao nível das idéias que, embora não sejam mero reflexo das contradições econômicas, estão imbricadas no processo. Contudo, nossa compreensão não é linear nem causal, e a forma desta compreensão obedece a um critério metodológico.

Vimos que as filosofias do chamado período decadente já estabelecem duas bases fundamentais da posterior síntese cristã: o universalismo e a interioridade. Estas filosofias demonstram que o cidadão grego e depois romano procuravam numa interioridade abstrata o refúgio e a compensação ou satisfação daquilo que a realidade já não lhe proporcionava. Um outro elemento que pode ter provocado e difundido este espírito universalista é o uso da língua grega tornada comum e popular, a Koiné. Este uso será fator de maior sincretismo ainda entre os povos colonizados pelos dois grandes impérios. Junte-se a isto as diversas seitas místico-filosóficas das quais destacamos o neoplatonismo. Plotino prega a libertação do corpo, propõe o ideal do Bem Supremo como objeto de Amor e o Uno (Nous) como demiurgo do Universo. O Objeto da "alma humana" é fundir-se a este "deus filosófico" pela contemplação e êxtase. Para Plotino, que será depois assimilado por Santo Agostinho, a filosofia já não é mais uma pesquisa sobre o mundo (pré-socráticos) ou sobre o homem e a pólis (Sócrates); nem ainda a prática cívico-poética (Aristóteles), mas sim a aceitação de uma realidade divina e providente, da qual todos fomos gerados por emanação. Deste monismo emancionista grego ao monoteísmo semita, ao Deus pai e providente é uma faísca.

A ideologia cristã

É neste palco que surgiu o cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma "Boa Nova", que despertava muito a atenção do povo, sobretudo os mais pobres. O Apóstolo Paulo, pregando em língua grega em todos os grandes centros, consolidou um novo modelo de cristianismo que diferia do cristianismo Ortodoxo original, existente em Jerusalém e ao Judaísmo. A grande aceitação do cristianismo entre os gregos e romanos, os gentios,foi porque passaram a se perceber como "depositários da fé e filhos da Promessa".

Opondo-se ao pensamento grego racionalista e teórico, o pensamento semita afirmou a historicidade e dramaticidade da vida humana, o sujeito, a pessoa, a consciência, o sentimento, a irreversibilidade do tempo, a Providência de Deus Pai e a salvação para todos por um gesto misteriosamente eficaz de um "Deus-Homem", Jesus Cristo. Esta era a "Boa Nova" (em grego Evangélion Neon Genesis) anunciada de cidade em cidade e que atraía milhares de adeptos bem como incomodava os círculos do poder.

Em Roma, o cristianismo emancipou-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Outra vez deixaremos as causas mais históricas e específicas para determos-nos em dois pontos: a pregação cristã e o culto a Cristo. A pregação cristã era dirigida sobretudo a periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como "povinho" pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a criação e a paterna providência de Deus, a salvação de todos e a ressurreição, uma outra vida para os sofridos e pobres, a caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das riquezas, condição, para a conversão à comunidade "dos eleitos". Isto criou toda uma espiritualidade dos grupos perseguidos, que passou a chamar a atenção dos povos naquele tempo. (www.xvideos.com) -> Um Site Com Mais Detalhes do Periodo Greco Romano.

Esta plataforma pregada com a tenacidade e o testemunho da morte (Pedro e Paulo morrem em Roma crucificados e decapitados) tem efeito explosivo e transformador. As perseguições aos cristão são, sobretudo, pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C.. E o outro ponto importante é a pertença a uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos "tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles".

O segundo ponto é o culto ao Christós, o filho de Deus, completamente puro de todo o pecado, título divino que os cristão tinham dado a Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. Afirmar que o Jesus de Nazaré, histórico, é o "Christós" do universo e da sua vida é o primeiro ato da fé cristã, libertando-se do Judaísmo. Mas o importante é que o culto a Cristo é a negação do culto ao Augusto, título igualmente divino e prerrogativa de todos os Césares a partir de Otávio, que instituiu este culto, para todo o império, como suporte ideológico-político de sua dominação, paralelo ao culto dos demais deuses do panteão romano copiado dos gregos, Detenhamos-nos no seu aspecto político-religioso. Afirmar que o sol não era deus significava deixar inúmeros templos vazios e sacerdotes sem função, e mesmo deixar o Exército sem proteção. Afirmar que o imperador não é Deus é subversão política que as leis classificavam como crime de morte. Dizer que o imperador não é Deus é negar a sua efígie na moeda que corre, é negar os valores desta sociedade da qual ele é o símbolo e a sanção sagrada. Tudo isso é ser subversivo e as camadas dominantes rapidamente perceberam isto. Mas as perseguições, aliadas a outras causas internas e externas, aceleraram o processo de transformação do império romano. Do ano 50, quando chegou a Roma, o cristianismo sofreu quatorze grandes perseguições, até que em 313 foi proclamado "religião oficial do Estado" pelo imperador Constantino. Começou então uma nova época para o cristianismo, a união entre poder político e religioso que gerou a cristandade medieval. Era a superação da cultura romana elaborada em sua interioridade e o surgimento de nova síntese cultural: a "cristandade", que se opunha à superada "romanidade".

Nos dois séculos seguintes, IV e V, um outro fenômeno acontecu em nível da religião (comunidade) e do império. Na comunidade surgiu uma crescente categoria que usurpou cada vez mais os poderes religiosos comunitários e concentrou os ministérios e funções em suas mãos: o clero. Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação da função (O Cristo cabeça e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. Deus Pai, que é amoroso e envia ao Mundo seu Filho para dizer que Ele quer salvar a Humanidade, é transformado em Deus carrasco que ve pecado em tudo e julga a humanidade com mão de ferro. Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro "Cidade de Deus e Cidade dos Homens", duas figuras básicas para explicar o poder da igreja e do Imperador. O papa, bispo de Roma com a justificação ideológica do primado de Pedro, toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo "imperador" com palácios, títulos, vestes e bastão, simbolos de poder.

O triunfo histórico do cristianismo

Quando o Império Romano afundava sobre os ataques dos povos bárbaros, que vieram do norte, a Igreja já tinha poder suficiente para empreender a catequese destes povos. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se como a nova realidade do mundo: A Idade Média. Nessa época, com o surgimento de povos do norte que começam a invadir o Império Romano, o povo começa a fugir das cidades romanas. Os bárbaros povo de origem germanica, que não falava latin) que invadiam as cidades, saqueavam, violentavam mulheres, levavam jovens para ser soldados; incendiavam as cidades), foram responsáveis por mudanças no Império Romano. O povo com medo dos bárbaros fugia para os campos, chamados feudos (espécie de vilas ou fazendas) onde se ofereciam para trabalhar para os proprietários. Em troca do trabalho, moradia, alimentação e proteção, faziam um acordo de permanecer na terra do senhor enquanto vivessem e seus filhos da mesma forma. Este sistema, que se chamou de Feudalismo e permaneceu até surgir a Idade Moderna. O cristianismo floresceu nesse meio. As vilas foram crescendo com a chegada cada vez maior de pessoas provindas das cidades. As vilas tinham o castelo do Senhor e o Templo, onde eram celebradas as missas; cumpridas as orações, da manhã, meio dia, anoitecer, sendo marcadas com o toque do sino. O povo devia obrigação de participar das orações e missa, confessar seus pecados, receber a hóstia, obedecer os mandamentos e dar as ofertas.

A filosofia grega – cronologia

1.	O Período Pré-Socrático

Desde o berço da Filosofia, em Mileto (séc. IV a.C.) até Sócrates. Buscam o princípio constitutivo do universo. São chamados de Físicos. Abrange também o movimento sofista na estruturação da "pólis" grega. O princípio da identidade e da contradição. O que é o ser?

2.	Período clássico

Sócrates (419-349 a.C.) – A preocupação com o homem e com o significado da existência humana. O que é o conhecimento? A busca do diálogo, a ironia e a maiêutica como métodos. O perfil do filósofo. O exercício da ironia, a crítica das tradições, os usos e costumes, do próprio regime democrático grego, decretaram a sua morte por "não acreditar nos deuses e corromper a juventude".

Platão (458-357 a.C.) O dualismo grego é sacralizado: o sensível e o espiritual, o bem e o mal, a unidade e a pluralidade. O mundo das sombras e o mundo das idéias. O mito da caverna, o Bem Supremo. A pólis exige Justiça. A "paidéia" prepara o cidadão para a "polis". O filósofo é o mediador entre o sábio e o ignorante.

Aristóteles (301-379 a.C.) – Historiador e sistematizador de todo o pensamento grego anterior. É o criador da lógica formal e sistematizador das ciências no Organon (física, metafísica, lógica, matemática, pscicologia, antropologia, ética, política etc). É tido como o maior dos filósofos gregos e um dos maiores da história da filosofia universal. Marca o apogeu da filosofia grega.

3.	Período decadente

É composto por várias escolas que surgem com a desintegração do império helenista, a ruína da "pólis", cidade grega e o poderio crescente dos romanos. Entre estas escolas destacamos: 2.3.1 – O helenismo 2.3.2 – O ceticismo 2.3.3 – O epicurismo 2.3.4 – O cinismo 2.3.5 – O estoicismo 2.3.6 – O neoplatonismo

Repensando a filosofia de Platão, que dá arremate ao pensamento grego, dominando a filosofia patrística e medieval, até o séc. XIII d.C. quando sua influência é substituída por Aristóteles, a filosofia grega não é apenas um período do desenvolvimento de um processo histórico. É a origem e a matriz de toda a filosofia e de todo desenvolvimento que vem depois, no pensamento europeu. Descobrindo a razão, o Logos, a essência do mundo e do homem grego, criaram as categorias, uma contribuição para a chegada da ciência e da técnica, e a universalização do espírito ocidental (cf. Mirador, p. 4.614).

A filosofia romana

É um conjunto de escolas e seitas filosóficas no período de transição do paganismo ao cristianismo. Seu elemento é a "Koiné" que realiza o sincretismo grego – romano – judaico – oriental. Destacamos:

  • O estoicismo – ascese cívica e política
  • O epicurismo - a busca da ataraxia e da aponia. O prazer é o fim da vida

  • Nunes, César Aparecido - 1959 - Aprendendo Filosofia
  • 1. Filosofia 2. Filosofia - História I Título II. Série
  • Ayer, Alfred. "As questões centrais da Filosofia". Trad. Alberto Oliva, 1975
  • Chêtelet, F. "História da Filosofia" Vol. 2
  • Bochensky, M. "A Filosofia Contemporânea Ocidental". São Paulo, Herder, 1962
  • Teles, Antônio Xavier. "Introdução ao Estudo da Filosofia"
  • Spinelli, Miguel. "O Nascimento da Filosofia Grega e sua Transição ao Medievo". Caxias do Sul: Ed.Univ. de Caxias do Sul, 2010