«Não fui à escola até aos dez anos por problemas de saúde. Tinha professora em casa. Aprendi francês, inglês, alemão e piano. O liceu, frequentei no Colégio Coração de Maria. Aos 15 anos queria tirar pintura, mas a esperta da minha mãe (ela também pintava e frequentava o atelier da Eduarda Lapa) aconselhou-me a tirar primeiro um curso de comércio na Escola Lusitânia para o meu pai ficar contente (...). Depois treinei-me em aulas noturnas de modelo nu na Sociedade Nacional de Belas Artes, acompanhada pelo meu irmão, que gostava de desenhar. E entrei na Escola Superior das Belas Artes. No entanto, quando me questionassem sobre o meu curso devia dizer que estudava para professora. Era mais digno. Nada de confusões.[5]»
Iniciou o curso de Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa no final dos anos cinquenta, altura em que o programa era muito académico e fechado, motivo pelo qual quis, logo no final do primeiro ano, passar uma temporada na Suíça, onde teve oportunidade de trabalhar no atelier de um conhecido professor da Bauhaus e de acompanhar exposições de grandes mestres da pintura moderna.[5]
Entre 1956-1957 frequentou um curso de Design de moda na Kunstgewerbeschule (trad. Escola de Artes Industriais - eram escolas de estudos vocacionais de arte que existiam nos países de língua alemã), em Zurique, na Suíça[2], trabalhando paralelamente no Departamento de Moda da Vollmoeller, em Uster.
Em 1962 foi pela primeira vez à Bienal de Veneza, ficando fortemente impressionada pelas colagens de Robert Rauschenberg já que, precisamente nessa altura, andava a explorar as linhas de Pablo Picasso, Georges Braque e Juan Gris. A técnica dos relacionamentos pictóricos do Cubismo, adicionada à Colagem e à Arte abstrata, abriram caminho e marcaram a direção de desenvolvimento do seu trabalho.
Foram as suas influências culturais mais próximas que trouxeram os temas e os detalhes: as origens dos seus pais – o Minho, com a sua carga religiosa, mais erudita, e o Alentejo, de agricultores e sabedoria popular — e toda a expressão artística feminina, como os barros da Rosa Ramalho, os de Estremoz, as Renda de bilros e os objetos do seu quotidiano. Explorou as vivências e as memórias que levava guardadas no coração: a família, os lugares, os registos de viagens, os primeiros desenhos das filhas e depois dos netos, os verões na praia e o mar de que tanto gostava.
Tríptico, 1992 (Maria Velez)
«Voltei por redescobri-la na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes, expondo a memória e a prática poética do visível. Lembro-me particularmente desse conjunto de obras, peculiar entre o que surgia no país, pinturas híbridas, feitas em grandeza de coisas aparentemente rasgadas do quotidiano, de fotografias e textos e riscos antigos também, de tintas texturadas sobre colagens, rasuras, suspensas, (...) objetos reais suspensos, a lembrar Rauschenberg(...).» [6] Rocha de Sousa, 2003
O ensino tomou uma dimensão muito relevante na sua vida. Acreditou e defendeu sempre que, para saber desenhar, basta aprender a gramática das artes visuais e que a criatividade se estimula quando se experimenta fazer, tendo ensinado assim milhares de alunos.
Velez foi docente do Ensino Técnico Profissional na Escola de Artes Decorativas António Arroio e na Escola Secundária Josefa de Óbidos, em Lisboa, de 1961 a 1963, tendo concluído o estágio para professora efetiva, com exame de estado, em Maio de 1963.
De 1963 a 1965 ocupou o cargo de diretora do 5.º Grupo da Escola Industrial e Comercial de Sintra (atual Escola Secundária Ferreira Dias), em Agualva-Cacém.
Trabalhou desde 1967 como consultora de moda numa empresa comercial. Desenhou entre 1975 e 1978 várias coleções de moda para a Industria Confecionadora Portuguesa.[4]
Foi assistente de desenho na Faculdade de Arquitectura de Lisboa de 1983 a 1995.[4] Apresentou provas de aptidão pedagógica e capacidade científica em 1987, com os trabalhos "Considerações acerca do desenho Básico" e "Estudo da Perceção do Espaço".
No início da sua carreira, em 1964, o crítico Fernando Pernes escrevia que Maria Velez fazia parte da «primeira fila dos pintores portugueses», salientando o carácter «feminil”, íntimo e poético» das suas colagens, chamando a atenção para a sua «alegria puríssima, lúdica e irónica». Mais tarde a crítica distanciar-se-ia do alegado «teor decorativo» da sua obra, deixando de apreciar a sua feminilidade.
A pintora atribuiu esse distanciamento à formação em Portugal da delegação da Associação Internacional dos Críticos de Arte — AICA em 1973. Desde essa altura, escreveu Maria Velez num texto ainda inédito, «deu-se um absoluto silêncio nos orgãos de comunicação por parte de críticos de arte sobre o trabalho de todos os que contestaram o conceito “os críticos é que fazem os artistas”. O interessante é que deixámos de existir.» [2]
Maria Velez morreu a 2 de março de 2017, com 82 anos.[4][7]