O Eternauta

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El Eternauta
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País de origem  Argentina
Editora(s) Frontera
Primeira publicação 1957-1959, serializada em Hora Cero Semanal
Gênero ficção científica
Argumento Héctor Germán Oesterheld
Desenho Francisco Solano López ( Eternauta 1 e 2)
Alberto Breccia (remake de 1965)
Título(s) em português O Eternauta
Editora(s) lusófona(s) Martins Fontes (Brasil)[1]

Comix Zone

O Eternauta (El Eternauta, em espanhol) é uma história em quadrinhos de ficção científica escrita pelo autor argentino Héctor Germán Oesterheld com arte de Francisco Solano López. Foi publicada pela primeira vez na revista Hora Cero Semanal, entre 1957 e 1959.[1]

Oesterheld publicou um remake da história em 1969, com arte de Alberto Breccia e uma sequência em 1976, com Solano López.[2] Ambas apresentavam um tom mais político, reflexo da situação política na Argentina com o golpe militar. Nessa época, Oesterheld juntou-se ao grupo guerrilheiro Montoneros e desapareceu em 1977, quando finalizava o roteiro da sequência do Eternauta.

Com a volta da democracia à Argentina, em 1983, histórias com o Eternauta foram publicadas por outros autores.[3]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A história começa com a visita de um homem vindo do futuro à casa de um quadrinista (alter ego do próprio Oesterheld).[4] Este homem, Juan Salvo, narra a história dos estranhos eventos pelos quais passou.

Uma nevasca mortífera cai sobre Buenos Aires e região metropolitana, eliminando toda a vida em poucas horas. Juan Salvo, junto com alguns amigos (Favalli, Lucas e Polski) com os quais estava jogando truco, sua esposa e sua filha ficam a salvo, graças à proteção da casa de Salvo e à engenhosidade de Favalli. Eles se organizam para sobreviver ao fenômeno, confeccionando roupas especiais para poderem sair de casa e coletar provisões. Em uma destas viagens, encontram Pablo, um garoto de doze anos, e percebem que os sobreviventes desesperados podem ser uma ameaça tão grande quanto a própria neve.

Dias depois do início da nevasca, eles descobrem que o fenômeno foi provocado por uma invasão alienígena à Terra. São recrutados por uma força de resistência para combater os invasores. Durante este tempo, Salvo conhece e faz amizade com alguns de seus companheiros ,como Franco, torneiro mecânico, e Mosca, jornalista. Enquanto os insurgentes marcham em direção a capital do país, eles lutam em diversas ocasiões contra insetos gigantes (cascarudos, "besouros"); uma espécie humanóide com muito mais dedos do que os seres humanos, especialmente em suas mãos direitas (Manos, "Mãos"); feras gigantes capazes de derrubar prédios ("Gurbos"), e outros homens que foram capturados e alterados (hombres-robot, "homens-robô"). Todos estes seres são peões, controlados remotamente através de implantes ou dispositivos de medo pelos verdadeiros invasores, los Ellos ("Eles"), criaturas sobrenaturais que permanecem ocultas, controlando tudo à distância.

Depois de conseguir algumas vitórias, as forças de resistência são emboscadas e reduzidas a alguns homens. Juan Salvo decide voltar para sua esposa e filha a se esconder com eles. Um míssil intercontinental passando convence Favalli e Franco que uma guerra global maior está começando, e que eles não podem voltar de mãos vazias. Salvo relutantemente concorda em se juntar a eles. Depois que o trio ataca o QG dos alienígenas em Buenos Aires, derrubando o "campo anti-armas nucleares", eles fogem. Buenos Aires é arrasada por uma ogiva nuclear.

Aos poucos, os alienígenas atraem os bolsões de sobreviventes em todo o país para "zonas livres de neve" como parte de um ardil elaborado. O grupo de Salvo se divide, e ele tenta fugir com a mulher e a filha utilizando uma das naves alienígenas. Ele acidentalmente desencadeia um dispositivo de viagem no tempo na nave. Como resultado, os três se perdem em dimensões de tempo separadas, conhecidos como "contínuos". Juan Salvo começa a viajar no tempo em busca deles, sendo chamado de Eternauta, um viajante da eternidade.

Análise[editar | editar código-fonte]

O traço mais destacado da obra por quadrinistas e jornalistas especializados é a amplitude de informações sutis, referências veladas e outras interpretações que poderiam ser feitas dela. O próprio Oesterheld, por exemplo, indica que em O Eternauta o protagonismo é sempre de um grupo de pessoas, às vezes menor, às vezes maior, formando assim um "herói coletivo" ou "herói em grupo", o qual valorizava mais que um herói individual.[5] [6]

O comentário mais frequente assinala nos invasores e em seus métodos referências veladas aos golpes de estado em que vivia o país.[7] Neste sentido, vale assinalar que as três versões escritas por Oesterheld (a primeira, o remake de Breccia e a segunda) coincidiram com os governos de Pedro Eugenio AramburuJuan Carlos Onganía  e do Processo de Reorganização Nacional respectivamente.

Também foi observado que, excetuando-se " los Ellos"- que são mencionados mas não aparecem em nenhum momento- nenhum dos invasores é realmente mau; são seres forçados a cumprirem ordens de outros. Críticos veem nisso um ataque de Oesterheld à guerra,[8] ou uma alegoria à luta de classes.[9]

Adaptação para o cinema[editar | editar código-fonte]

Em maio de 2008 uma adaptação do Eternauta para o cinema foi cogitada, dirigida por Lucrecia Martel.[10] A diretora acabou desistindo do projeto no ano seguinte.[11]

  1. a b «O Eternauta | Clássico dos quadrinhos argentinos é lançado no Brasil». Omelete. 18 de janeiro de 2012 
  2. «Folha.com - Ilustrada - Desenhista de "El Eternauta" morre aos 83 anos em Buenos Aires - 12/08/2011». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 4 de outubro de 2018 
  3. «INFOnews». INFOnews (em espanhol). Consultado em 4 de outubro de 2018. Arquivado do original em 22 de fevereiro de 2014 
  4. Fonseca, Rodrigo (20 de fevereiro de 2012). «"O Eternauta", enfim, chega ao Brasil». Gazeta Online. Consultado em 14 de fevereiro de 2014 
  5. «"O Eternauta", enfim, chega ao Brasil - gazeta online». gazetaonline.globo.com. Consultado em 4 de outubro de 2018 
  6. «Lançada no Brasil, "O Eternauta" resgata o melhor do comic latino». operamundi.uol.com.br. Consultado em 4 de outubro de 2018 
  7. Clarín.com. «Eterno resplandor» (em espanhol) 
  8. «Este sensible “mano” que dirige ocasionalmente las operaciones de limpieza en un confín de la Tierra y del Universo llamado barrio de Belgrano, en Buenos Aires, no tiene nada, particularmente, en contra de Juan Salvo o Franco. Y sin embargo trata —y debe hacerlo— de aniquilarlos… No es diferente a cualquier situación de las historias de Ernie Pike.»-Sasturain, Juan (setembro de 1985). «Oesterheld y el héroe nuevo» 1 ed. Buenos Aires: De la Urraca. El libro de Fierro / Especial Oesterheld (em espanhol) 
  9. «La explotación de unos seres vivos para el exclusivo beneficio de otros, como impuesto sustento de un determinado orden político y social es, a priori, el gran tema que El Eternauta debate, denunciando claramente una herramienta de sometimiento: El enfrentamiento de oprimidos contra oprimidos (¿pobres contra pobres?)»García, Fernando (2007). El Eternauta, 50 años. Buenos Aires): Doedytores. 978-987-9085-26-04 
  10. «Lucrecia Martel filmará "El Eternauta"». Perfil.com. 4 de outubro de 2018 
  11. «Eternauta: Lucrecia Martel não vai mais dirigir adaptação da HQ sci-fi argentina». Omelete. 10 de setembro de 2009