Especiação: diferenças entre revisões

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{{Evolução2}}
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'''Especiação''' é o processo evolutivo pelo qual as [[população (biologia)|populações]] de uma [[espécie]] evoluem para se tornarem espécies distintas. O processo de especiação deu origem a uma enorme diversidade de organismos.
'''Especiação''' é o processo evolutivo pelo qual as [[espécie]]s vivas se formam. Este processo pode ser uma transformação gradual de uma espécie em outra ('''[[anagênese]]''') ou pela divisão de uma espécie em duas por '''[[cladogênese]]'''. Há quatro modos principais de especiação: a especiação [[especiação alopátrica|alopátrica]], [[especiação simpátrica|simpátrica]], [[especiação parapátrica|parapátrica]] e [[especiação peripátrica|peripátrica]]. A especiação pode também ser induzida artificialmente, através de cruzamentos selecionados ou experiências laboratoriais.

O termo se aplica a um processo de divisão das [[clado|linhagens]] ([[cladogênese]]), em oposição à evolução de uma espécie em outra ([[anagênese]]).<ref>{{Citar periódico |url=https://zenodo.org/record/1447954 |titulo=Factors of species-formation |data=1906-03-30 |acessodata=2020-10-06 |publicado=Science |ultimo=Cook |primeiro=Orator F. |paginas=506–507 |doi=10.1126/science.23.587.506 |pmc= |pmid=17789700 |edicao=587 |volume=23}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/279001 |titulo=Evolution Without Isolation |data=1908-11-01 |acessodata=2020-10-06 |publicado=The American Naturalist |ultimo=Cook |primeiro=Orator F. |paginas=727–731 |doi=10.1086/279001 |edicao=503 |volume=42}}</ref> [[Charles Darwin]] foi o primeiro a descrever o papel da [[seleção natural]] na especiação, em seu livro ''A origem das espécies''.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2702801/ |titulo=Natural selection in action during speciation |data=2009-06-15 |acessodata=2020-10-06 |publicado=PNAS |ultimo=Via |primeiro=Sara |paginas=9939–9946 |doi=10.1073/pnas.0901397106 |pmc=2702801 |pmid=19528641 |edicao= |volume=106(Suppl 01)}}</ref> Ele também identificou a seleção sexual como um mecanismo provável, mas ainda não foi definitivamente confirmado se esta é uma das causas da especiação ou não.

Há quatro modos principais de especiação: a especiação [[especiação alopátrica|alopátrica]], [[especiação simpátrica|simpátrica]], [[especiação parapátrica|parapátrica]] e [[especiação peripátrica|peripátrica]]. A especiação pode também ser induzida artificialmente, através de cruzamentos selecionados ou experiências laboratoriais.

== Antecedentes históricos ==
{{Artigo principal|História da especiação}}
Ao abordar a questão da origem das espécies, existem duas questões principais: (1) quais são os mecanismos evolutivos da especiação e (2) o que explica a separação e individualidade das espécies? Desde a época de Charles Darwin, os esforços para entender a natureza das espécies têm se concentrado principalmente no primeiro aspecto, e agora é amplamente aceito que o fator crítico por trás da origem de novas espécies é o isolamento reprodutivo.<ref>{{Citar livro|título=O desenvolvimento do pensamento biológico: diversidade, evolução e herança|ultimo=Mayr|primeiro=Ernst|editora=Editora UNB|ano=1998|local=Brasília|isbn=9788523003753}}</ref>

A seguir, nos concentramos no segundo aspecto da origem das espécies.

=== O dilema de Darwin: Por que as espécies existem? ===
Em ''[[A origem das espécies]]'' (1859), Darwin interpretou a evolução biológica em termos de seleção natural, mas ficou perplexo com o agrupamento de organismos em espécies.<ref name="OofS">{{harvnb|Darwin|1859}}</ref> No capítulo 6 do livro de Darwin, intitulado "Dificuldades levantadas contra a hipótese da descendência com modificações", ele indaga: "se as espécies derivam de outras espécies por graus insensíveis por que não encontramos inumeráveis formas de transição? Por que não está tudo na natureza no estado de confusão? Por que são as espécies tão bem definidas?", um dilema que pode ser referido como "a falta ou raridade de variedades transitórias no habitat".<ref>{{Citar livro|último=Sepkoski|primeiro=David |título=Rereading the Fossil Record: The Growth of Paleobiology as an Evolutionary Discipline |url=https://books.google.com/books?id=jNfJyXKSDRcC&pg=PA9 |data=2012 |editora=University of Chicago Press |isbn=978-0-226-74858-0 |páginas=9–50 |capítulo=1. Darwin's Dilemma: Paleontology, the Fossil Record, and Evolutionary Theory}}</ref>

Outro dilema,<ref>{{Citar periódico|ultimo1=Stower|primeiro1=Hannah|título=Resolving Darwin's Dilemma|publicado=Nature Reviews Genetics|ano=2013|volume=14|edição=747| páginas=747|doi=10.1038/nrg3614}}</ref> relacionado ao primeiro é a ausência ou raridade de variedades transitórias no tempo. Darwin apontou que, de acordo com a teoria da seleção natural, "inúmeras formas de transição devem ter existido" e se perguntou "por que não as encontramos incrustadas em incontáveis números na crosta terrestre". O fato de espécies claramente definidas realmente existirem na natureza tanto no espaço quanto no tempo implica que alguma característica fundamental da seleção natural opera para gerar e manter espécies.<ref name="OofS" />

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== Especiação natural ==
== Especiação natural ==
Todos os modos de especiação ocorreram na Natureza, embora a importância relativa de cada um na formação da biodiversidade atual ainda seja amplamente debatida na comunidade científica.
Todas as formas de especiação natural ocorreram ao longo da [[história evolutiva da vida]]; embora a importância relativa de cada mecanismo na formação da [[biodiversidade]] atual ainda seja amplamente debatida na comunidade científica.<ref>{{Citar periódico |primeiro=Jason M. |data=Junho 2005 |título=Adaptive speciation: The role of natural selection in mechanisms of geographic and non-geographic speciation |volume=36 |edição=2 |páginas=303–326 |doi=10.1016/j.shpsc.2005.03.005 |pmid=19260194 |url=http://philsci-archive.pitt.edu/2331/1/baker-speciation-2005.pdf |acessodata= |publicado= |ultimo=Baker}}</ref>


Atualmente, também não há consenso sobre a taxa a que eventos de especiação acontecem na [[escala de tempo geológico|escala geológica]]. Uma visão partilhada por muitos biólogos evolutivos é que o número de eventos de especiação tem se mantido constante ao longo do tempo. Uma posição contrastante foi inicialmente proposta por [[Niles Eldredge]] e [[Stephen Jay Gould]]. Ela defende que as espécies se mantiveram relativamente estáveis durante longos períodos de tempo, pontuado por períodos de tempo relativamente curtos quando a especiação ocorre. Esta visão é conhecida pela [[teoria dos equilíbrios pontuados]].
Atualmente, também não há consenso sobre a taxa a que eventos de especiação acontecem na [[escala de tempo geológico|escala geológica]]. Uma visão partilhada por muitos biólogos evolutivos é que o número de eventos de especiação tem se mantido constante ao longo do tempo. Uma posição contrastante foi inicialmente proposta por [[Niles Eldredge]] e [[Stephen Jay Gould]]. Ela defende que as espécies se mantiveram relativamente estáveis durante longos períodos de tempo, pontuado por períodos de tempo relativamente curtos quando a especiação ocorre. Esta visão é conhecida pela [[teoria dos equilíbrios pontuados]].
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=== Alopátrica ===
=== Alopátrica ===
{{Artigo principal|[[Especiação alopátrica]]}}
{{Artigo principal|[[Especiação alopátrica]]}}
Durante a especiação alopátrica, a população inicial divide-se em duas populações alopátricas (geograficamente isoladas) devido, por exemplo, a fragmentação do [[habitat]] pelo aparecimento de uma cadeia montanhosa. As populações assim isoladas vão se diferenciar [[genótipo|genotipica]] e/ou [[fenótipo|fenotipicamente]] que por as populações estarem sujeitas a pressões [[selecção|seletivas]] diferentes ou por factores aleatórios como a [[deriva genética]]. Após um certo tempo, quando as barreiras ao contacto entre as populações desaparecem, os indivíduos que faziam parte da mesma espécie voltam a se encontrar, agora, diversificados o suficiente para estarem reprodutivamente isolados ou já não serem capazes de trocar genes entre si.
Durante a especiação alopátrica (do grego antigo ''allos'', "outro" + ''patrā'', "pátria"), a população inicial divide-se em duas populações geograficamente isoladas (alopátricas) devido, por exemplo, a fragmentação do [[habitat]] pelo aparecimento de uma cadeia montanhosa. As populações assim isoladas vão sofrer diferenciação [[genótipo|genotípica]] e/ou [[fenótipo|fenotípica]], por:(a) as populações se tornam sujeitas a pressões [[selecção|seletivas]] diferentes; (b) elas sofrem [[deriva genética]] independentemente; (c) diferentes [[mutações]] surgem nas duas populações. Após um certo tempo, quando os indivíduos que faziam parte da mesma espécie voltam a entrar em contato, eles evoluem de tal forma que estão reprodutivamente isolados e já não são mais capazes de trocar [[gene]]s entre si.


=== Parapátrica ===
=== Parapátrica ===
{{Artigo principal|[[Especiação parapátrica]]}}
{{Artigo principal|[[Especiação parapátrica]]}}
Na especiação parapátrica, não há separação geográfica completa entre as duas populações isoladas. Isso implica que algum [[fluxo génico]] pode ocorrer. Indivíduos das duas populações podem entrar em contacto ou mesmo atravessar a barreira de tempos a tempos, embora híbridos tenham uma viabilidade reduzida, levando eventualmente ao reforço das barreiras à reprodução.
Na especiação parapátrica, não há separação geográfica completa entre as duas populações isoladas e apenas uma separação parcial das zonas de duas populações divergentes. Isso implica que algum [[fluxo génico]] pode ocorrer. Indivíduos das duas populações podem entrar em contacto ou mesmo atravessar a barreira de tempos a tempos, embora híbridos tenham uma viabilidade reduzida, levando eventualmente ao reforço das barreiras à reprodução.<ref>{{Citar web |url=https://www.nature.com/scitable/knowledge/library/speciation-the-origin-of-new-species-26230527/ |titulo=Speciation: The Origin of New Species |acessodata=2020-10-06 |publicado=Nature Education Knowledge |ultimo=Safran |primeiro=Rebecca J. |ano=2012}}</ref>


=== Peripátrica ===
=== Peripátrica ===
{{Artigo principal|[[Especiação peripátrica]]}}
{{Artigo principal|[[Especiação peripátrica]]}}
A especiação peripátrica é um tipo especial de especiação alopátrica ou parapátrica, em que uma das populações isoladas é bastante menor do que a outra. Nestes casos, como a população é pequena, mecanismos como a deriva genética ou o [[efeito fundador]] são mais importantes, pois populações pequenas sofrem frequentemente do [[efeito de gargalo]].
A especiação peripátrica é um tipo especial de especiação alopátrica em que uma das populações isoladas é consideravelmente menor do que a outra. Assim, novas espécies são formadas em populações periféricas menores e isoladas que são impedidas de trocar genes com a população principal. A deriva genética é frequentemente proposta para desempenhar um papel significativo na especiação peripátrica.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4487588/ |titulo=Divergence at the edges: peripatric isolation in the montane spiny throated reed frog complex}}</ref>

Nestes casos, como a população é pequena, mecanismos como a deriva genética ou o [[efeito fundador]] são mais importantes, pois populações pequenas sofrem frequentemente do [[efeito de gargalo]].{{carece de fontes}}


=== Simpátrica ===
=== Simpátrica ===
{{Artigo principal|[[Especiação simpátrica]]}}
{{Artigo principal|[[Especiação simpátrica]]}}
Na especiação simpátrica, as populações divergem quando ainda ocupam a mesma área. Este tipo de especiação pode ocorrer muitas vezes em insetos que se tornam dependentes de plantas [[hospedeiro|hospedeiras]] diferentes numa mesma área.
Na especiação simpátrica, as populações divergem quando ainda ocupam a mesma região geográfica. Este tipo de especiação pode ocorrer muitas vezes em insetos que se tornam dependentes de plantas [[hospedeiro|hospedeiras]] diferentes numa mesma área.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1131876 |ultimo4=Velez |primeiro9=Martin |ultimo9=Aluj |primeiro8=Kenneth |ultimo8=E. Filchak |primeiro7=Hattie |ultimo7=Dambroski |primeiro6=Brian |ultimo6=Leung |primeiro5=Andrew |ultimo5=Forbes |primeiro4=Sebastian |primeiro3=Juan |titulo=Mayr, Dobzhansky, and Bush and the complexities of sympatric speciation in ''Rhagoletis'' |ultimo3=Rull |pmid=15851672 |pmc=1131876 |doi=10.1073/pnas.0502099102 |paginas=6573–6580 |primeiro2=Xianfa |ultimo2=Xie |primeiro=Jeffrey L. |ultimo=Feder |publicado=PNAS |acessodata=2020-10-06 |data=2005-05-01 |numero-autores=3}}</ref>


A especiação simpátrica pode ocorrer quando as populações divergem em mudança para habitats ou nichos diferentes, se tornando reprodutivamente isolada em decorrência da seleção natural resultante, mesmo dentro de uma mesma área geográfica. Isso leva a uma redução do [[fluxo gênico]], de modo que as populações se tornem espécies diferentes.
Um outro mecanismo que permite a especiação simpátrica é a [[poliploidia]]. Nem todos os organismos poliploides estão reprodutivamente isolados das espécies parentais. Por isso, a duplicação do número de [[cromossoma]]s não leva necessariamente ao cessar do fluxo génico entre os recém-criados poliploides e os seus parentais [[diploide]]s.


Um outro mecanismo que permite a especiação simpátrica é a [[poliploidia]], uma condição na qual um organismo tem um conjunto extra de cromossomo, leva à especiação simpátrica em plantas. Nem todos os organismos poliploides estão reprodutivamente isolados das espécies parentais. Por isso, a duplicação do número de [[cromossoma]]s não leva necessariamente ao cessar do fluxo génico entre os recém-criados poliploides e os seus parentais [[diploide]]s.<ref>{{Citar livro|título=Biologia de Campbell}}</ref>
Hibridação entre duas espécies diferentes pode levar, por vezes, a fenótipos diferentes. Este fenótipo poder ser mais viável do que as linhagens parentais. Nesse caso, a seleção natural pode favorecer os indivíduos híbridos. Eventualmente, se o isolamento reprodutivo for alcançado, isto levará ao aparecimento de uma nova espécie. No entanto, o isolamento reprodutivo entre híbridos e as gerações parentais é muito difícil de alcançar e por isso a especiação por hibridação é considerada um caso muito raro.


== Tipos de isolamentos reprodutivos ==
== Métodos de seleção ==
[[Imagem:Darwins first tree.jpg|direita|thumb|250px|Primeiro esboço de uma árvore evolutiva feito por [[Charles Darwin]] no seu livro ''First Notebook on Transmutation of Species'' (1837)]]
[[Imagem:Darwins first tree.jpg|direita|thumb|250px|Primeiro esboço de uma árvore evolutiva feito por [[Charles Darwin]] no seu livro ''First Notebook on Transmutation of Species'' (1837)]]
Em alguns casos o isolamento reprodutivo pode ocorrer antes da fecundação, sendo chamado de '''isolamento reprodutivo pré-zigótico''' . Nesse caso pode ocorrer (dentre outros fatores) por:
Em alguns casos o isolamento reprodutivo pode ocorrer antes da fecundação, sendo chamado de isolamento reprodutivo pré-zigótico. Nesse caso pode ocorrer (dentre outros fatores) por:


* ''Mudança de Comportamento (etológico)''- O comportamento de um dos sexos não é compreendido pelo outro sexo, por exemplo no momento da corte;
* Mudança de comportamento (etológico) - o comportamento de um dos sexos não é compreendido pelo outro sexo, por exemplo no momento da corte;
* ''Habitat'' - Duas populações ocupam a mesma região, mas tem habitats diferentes. Estas duas populações estão isoladas e não trocarão genes entre si;
* Habitat - duas populações ocupam a mesma região, mas tem habitats diferentes. Estas duas populações estão isoladas e não trocarão genes entre si;
* ''Inadequação Anatômica (morfológica)''- Todo o indivíduo e/ou seus órgãos reprodutivos se alteram a ponto de não se adequarem fisicamente à ocorrência do ato sexual;
* Inadequação anatômica (morfológica) - todo o indivíduo e/ou seus órgãos reprodutivos se alteram a ponto de não se adequarem fisicamente à ocorrência do ato sexual;
* ''Mudança no ciclo reprodutivo''- Ciclos reprodutivos não se ajustam, impedindo o sucesso da reprodução.
* Mudança no ciclo reprodutivo - ciclos reprodutivos não se ajustam, impedindo o sucesso da reprodução.


Em outros casos o '''isolamento reprodutivo''' é atingido após a fecundação - '''Pós-zigótico''' - onde o desenvolvimento do zigoto é inviável, ou se ocorrer esse desenvolvimento a progênie pode ser frágil e morrer rapidamente ou ainda ser infértil. Essa falta de sucesso na reprodução configura uma alteração importante na carga gênica dos envolvidos, a ponto de ocasionar a falta de estabilização necessária na(s) formação(ões) do(s) novo(s) indivíduo(s) gerado(s) - Inviabilidade da progênie - Infertilidade da prole, portanto aqueles que geraram o indivíduo não são da mesma espécie.
Em outros casos o isolamento reprodutivo é atingido após a fecundação - pós-zigótico - onde o desenvolvimento do zigoto é inviável, ou se ocorrer esse desenvolvimento a progênie pode ser frágil e morrer rapidamente ou ainda ser infértil. Essa falta de sucesso na reprodução configura uma alteração importante na carga gênica dos envolvidos, a ponto de ocasionar a falta de estabilização necessária na(s) formação(ões) do(s) novo(s) indivíduo(s) gerado(s) - Inviabilidade da progênie - Infertilidade da prole, portanto aqueles que geraram o indivíduo não são da mesma espécie.


=== Reforço do isolamento reprodutivo ===
=== Reforço do isolamento reprodutivo ===
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[[Imagem:Drosophila speciation experiment pt.svg|centro|thumb|600px|A experiência com ''Drosophila'' realizada por Diane Dodd em 1989.]]
[[Imagem:Drosophila speciation experiment pt.svg|centro|thumb|600px|A experiência com ''Drosophila'' realizada por Diane Dodd em 1989.]]


A história destas experiências está descrita em Rice & Hostert (1993).<ref>{{Citar periódico| titulo =Laboratory experiments on speciation: What have we learned in forty years?| autor =W.R. Rice and E.E. Hostert| jornal =Evolution|volume=47| ano =1993| paginas =1637-1653}}</ref>
A história destas experiências está descrita em Rice & Hostert (1993).<ref>{{Citar periódico|titulo=Laboratory experiments on speciation: What have we learned in forty years?|autor=W.R. Rice, E.E. Hostert|publicado=Evolution|volume=47|ano =1993|paginas =1637-1653}}</ref>


== Genética ==
== Genética ==
===Especiação via poliploidia===
{{Artigo principal|[[Poliploidia]]}}
A poliploidia, condição na qual um organismo tem um conjunto extra de cromossomos, é um mecanismo que causou muitos eventos de especiação simpátrica, porque a prole de, por exemplo, acasalamentos tetraploide x diploide frequentemente resultam em descendência estéril triploide.<ref>{{Citar periódico |titulo=Pathways, mechanisms, and rates of polyploid formation in flowering plants |url=https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev.ecolsys.29.1.467 |jornal=Annual Review of Ecology and Systematics |data=1998-11-01 |issn=0066-4162 |paginas=467–501 |numero=1 |acessodata=2020-10-07 |doi=10.1146/annurev.ecolsys.29.1.467 |primeiro=Justin |ultimo=Ramsey |primeiro2=Douglas W. |ultimo2=Schemske}}</ref> No entanto, nem todos os poliploides são isolados reprodutivamente de suas plantas parentais, e o fluxo gênico ainda pode ocorrer, por exemplo, através de cruzamentos triploides de híbridos x diploides que produzem tetraploides, ou cruzamentos entre gametas não reduzidos meioticamente de diploides e gametas de tetraploides.

A especiação por poliploidia tem sido especialmente importante na história evolutiva das plantas, embora ela tenha contribuído também para a especiação em animais, ainda que em menor escala.<ref name=":0">{{Citar periódico |titulo=The advantages and disadvantages of being polyploid |url=https://www.nature.com/articles/nrg1711 |jornal=Nature Reviews Genetics |data=2005-11 |issn=1471-0064 |paginas=836–846 |numero=11 |acessodata=2020-10-07 |doi=10.1038/nrg1711 |lingua=en |primeiro=Luca |ultimo=Comai}}</ref> A reprodução de espécies poliploides de sucesso às vezes é assexuada, por partenogênese ou apomixia, pois por razões desconhecidas muitos organismos assexuados são poliploides. Casos raros de mamíferos poliploides são conhecidos, mas na maioria das vezes resultam em morte pré-natal.

=== Especiação por hibridação ===
=== Especiação por hibridação ===
Hibridação entre duas espécies leva por vezes ao aparecimento de [[fenótipo]]s diferentes. Este fenótipo pode estar melhor adaptado do que as linhagens parentais e por isso, a [[selecção natural]] pode favorecer estes indivíduos. Eventualmente, se for alcançado o [[isolamento reprodutivo|isolamento reproductivo]], pode levar a uma espécie diferente. No entanto, isolamento reprodutivo entre os híbridos e os seus parentais é particularmente difícil de alcançar e por isso a especiação por hibridação é considerado um evento raro. A espécie ''Anas oustaleti'' (agora extinta) originou de especiação por hibridação.
Hibridação entre duas espécies diferentes pode levar, por vezes, ao aparecimento de fenótipos diferentes. Este fenótipo poder ser mais viável do que as linhagens parentais e por isso, a [[seleção natural]] pode favorecer os indivíduos híbridos. Eventualmente, se o [[isolamento reprodutivo]] for alcançado, isto levará ao aparecimento de uma nova espécie. No entanto, o isolamento reprodutivo entre híbridos e as gerações parentais é muito difícil de alcançar e por isso a especiação por hibridação é considerada um caso muito raro. A espécie ''Anas oustaleti'' (agora extinta) se originou de especiação por hibridação.


A hibridização é um meio importante de especiação em plantas, uma vez que a poliploidia (tendo mais de duas cópias de cada cromossomo) é tolerada em plantas mais prontamente do que em animais.<ref>{{Citar periódico |titulo=Genome evolution in polyploids |url=https://doi.org/10.1023/A:1006392424384 |jornal=Plant Molecular Biology |data=2000-01-01 |issn=1573-5028 |paginas=225–249 |numero=1 |acessodata=2020-10-07 |doi=10.1023/A:1006392424384 |lingua=en |primeiro=Jonathan F. |ultimo=Wendel}}</ref><ref>{{Citar periódico |titulo=The advantages and disadvantages of being polyploid |url=https://www.nature.com/articles/nrg1711 |jornal=Nature Reviews Genetics |data=2005-11 |issn=1471-0064 |paginas=836–846 |numero=11 |acessodata=2020-10-07 |doi=10.1038/nrg1711 |lingua=en |primeiro=Luca |ultimo=Comai}}</ref> A poliploidia é importante em híbridos, pois permite a reprodução, com dois conjuntos diferentes de cromossomos, cada um sendo capaz de emparelhar com um parceiro idêntico durante a meiose.<ref name=":0" /> Os poliplóides também têm mais diversidade genética, o que os permite evitar a depressão por endogamia em pequenas populações.<ref>{{Citar periódico |titulo=The role of genetic and genomic attributes in the success of polyploids |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC34383/ |jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America |data=2000-06-20 |issn=0027-8424 |paginas=7051–7057 |pmid=10860970 |numero=13 |acessodata=2020-10-07 |primeiro=Pamela S. |ultimo=Soltis |primeiro2=Douglas E. |ultimo2=Soltis |publicado=}}</ref>
Quando a hibridação que leva a especiação não resulta numa mudança do número de [[cromossoma]]s chama-se especiação por hibridação [[homoplóide]]. É considerado muito raro mas já foi demonstrado em [[borboleta]]s do género ''[[Heliconius]]''<ref name="Mavarez2006">{{Citar periódico | last =Mavarez | primeiro = J. | coautores =Salazar, C.A., Bermingham, E., Salcedo, C., Jiggins, C.D. , Linares, M. | ano = 2006 | titulo =Speciation by hybridization in Heliconius butterflies | jornal = Nature}}</ref> e em girassóis. Especiação [[poliplóide]], que envolve mudanças no número de cromossomas, é um fenômeno mais comum, especialmente em plantas.

Quando a hibridação que leva a especiação não resulta numa mudança do número de [[cromossoma]]s chama-se especiação por hibridação homoploide. É considerado muito raro mas já foi demonstrado em [[borboleta]]s do género ''[[Heliconius]]''<ref name="Mavarez2006">{{Citar periódico |last=Mavarez |primeiro=J. |coautores=Salazar, C.A., Bermingham, E., Salcedo, C., Jiggins, C.D. , Linares, M. |ano=2006 |titulo=Speciation by hybridization in Heliconius butterflies |jornal=Nature |url=https://ui.adsabs.harvard.edu/abs/2006Natur.441..868M |data= |acessodata= |publicado=}}</ref> e em girassóis. Especiação [[poliplóide|poliploide]], que envolve mudanças no número de cromossomas, é um fenômeno mais comum, especialmente em plantas.


=== Transposição de genes como causa de especiação ===
=== Transposição de genes como causa de especiação ===
[[Theodosius Dobzhansky]], que estudou Drosophilas nos primórdios da investigação em genética nos anos 30, especulou que partes do genoma que mudam de um sítio para o outro podem provocar a separação de uma espécie em duas. Ele esquematizou como seria possível para secções de um cromossoma de se relocalizarem num [[genoma]]. Estas secções móveis podem causar esterilidade em [[Híbrido (biologia)|híbrido]]s inter-específicos, o que pode atuar como impulsionador de especiação. Em teoria, a ideia parecia boa, mas houve um longo debate entre os cientistas sobre se isto realmente aconteceria na Natureza. Eventualmente, uma teoria concorrente que envolvia a acumulação gradual de mutações foi demonstrada tão frequentemente em meios naturais que geneticistas ignoraram a hipótese dos genes móveis.<ref>[http://www.rochester.edu/news/show.php?id=2603]</ref>
[[Theodosius Dobzhansky]], que estudou [[Drosophila|drosófilas]] nos primórdios da investigação em genética na década de 1930, especulou que partes dos cromossomos que mudam de um local para outro podem fazer com que uma espécie se divida em duas espécies diferentes. Ele esquematizou como seria possível para secções de cromossomas se realocassem num [[genoma]]. Estas secções móveis podem causar esterilidade em [[Híbrido (biologia)|híbrido]]s inter-específicos, o que pode agir como uma pressão de especiação. Em teoria, sua ideia era sólida, mas houve um longo debate entre os cientistas sobre se isto realmente aconteceria na natureza. Eventualmente, uma teoria concorrente que envolvia a acumulação gradual de mutações foi demonstrada na natureza com tanta frequência que geneticistas os rejeitaram amplamente a hipótese dos genes móveis.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://www.rochester.edu/news/show.php?id=2603 |titulo=Genetic Surprise Confirms Neglected 70-Year-Old Evolutionary Theory |data= |acessodata=2020-10-07 |website=http |publicado=}}</ref> No entanto, pesquisas recentes demonstraram que genes que ''saltam'' de um cromossoma para outro podem contribuir para o surgimento de uma nova espécie.<ref>{{Citar periódico |autor=Masly, John P., Corbin D. Jones, Mohamed A. F. Noor, John Locke, and H. Allen Orr |ano=2006 |titulo=Gene Transposition as a Cause of Hybrid Sterility in Drosophila |volume=313 |numero=5792 |paginas=1448-1450 |url=http://www.sciencemag.org/cgi/content/short/313/5792/1448 |acessodata=2007-03-18 |publicado=[[Science (journal)|Science]] |ultimo=}}</ref> Isto valida o mecanismo de isolamento reproductivo, que é um elemento essencial da especiação.<ref>Minkel, J.R. (2006) [http://www.sciam.com/article.cfm?chanID=sa003&articleID=000A84DB-CA3B-1501-8A3B83414B7F0000 "Wandering Fly Gene Supports New Model of Speciation"] {{Wayback|url=http://www.sciam.com/article.cfm?chanID=sa003&articleID=000A84DB-CA3B-1501-8A3B83414B7F0000|date=20071016205759}} ''Science News''</ref>


== Especiação no ser humano ==
No entanto, pesquisa recentes mostraram que genes que ''saltam'' de um cromossoma para outro podem contribuir para o nascimento de uma nova espécie.<ref>{{Citar periódico | autor =Masly, John P., Corbin D. Jones, Mohamed A. F. Noor, John Locke, and H. Allen Orr | ano = September 2006 | titulo =Gene Transposition as a Cause of Hybrid Sterility in Drosophila | jornal = [[Science (journal)|Science]] | volume =313 | numero = 5792 | paginas = 1448-1450 | url= http://www.sciencemag.org/cgi/content/short/313/5792/1448 | accessadoem = 2007-03-18}}</ref> Isto valida o mecanismo de isolamento reproductivo, que é um elemento essencial da especiação.<ref>Minkel, J.R. (September 8, 2006) [http://www.sciam.com/article.cfm?chanID=sa003&articleID=000A84DB-CA3B-1501-8A3B83414B7F0000 "Wandering Fly Gene Supports New Model of Speciation"] {{Wayback|url=http://www.sciam.com/article.cfm?chanID=sa003&articleID=000A84DB-CA3B-1501-8A3B83414B7F0000 |date=20071016205759 }} ''Science News''</ref>
Os seres humanos têm semelhanças genéticas com [[chimpanzé]]s e [[gorila]]s, o que sugere antepassados comuns. Uma análise de derivação genética e recombinação sugeriu que o ancestral comum mais próximo entre o homem e o chimpanzé sofreu especiação (por cladogênese) há 4,1 milhões de anos, formando duas novas espécies que, através de caminhos evolutivos diferentes, deram origem aos indivíduos atuais.<ref>{{Citar periódico |url=https://journals.plos.org/plosgenetics/article?id=10.1371/journal.pgen.0030007 |titulo=Genomic Relationships and Speciation Times of Human, Chimpanzee, and Gorilla Inferred from a Coalescent Hidden Markov Model |publicado=PLOS Genetics |primeiro= |doi=10.1371/journal.pgen.0030007 |autores=Hobolth A, Christensen OF, Mailund T, Schierup MH |ano=2007}}</ref>

=== Especiação no Homem ===
Os seres humanos têm semelhanças genéticas com [[chimpanzé]]s e [[gorila]]s, o que sugere antepassados comuns. Uma análise de derivação genética e recombinação sugeriu que o ancestral comum mais próximo entre o homem e o chimpanzé sofreu especiação (por cladogênese) há 4,1 milhões de anos, formando duas novas espécies que, através de caminhos evolutivos diferentes, deram origem aos indivíduos atuais.<ref>Hobolth A, Christensen OF, Mailund T, Schierup MH (2007) [http://genetics.plosjournals.org/perlserv/?request=get-document&doi=10.1371/journal.pgen.0030007 "Genomic Relationships and Speciation Times of Human, Chimpanzee, and Gorilla Inferred from a Coalescent Hidden Markov Model."]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }} ''PLoS Genet'' '''3'''(2): e7 (doi:10.1371/journal.pgen.0030007)</ref>


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* [[Seleção natural]]
* [[Conceito biológico de espécie]]

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Revisão das 03h46min de 7 de outubro de 2020

Especiação é o processo evolutivo pelo qual as populações de uma espécie evoluem para se tornarem espécies distintas. O processo de especiação deu origem a uma enorme diversidade de organismos.

O termo se aplica a um processo de divisão das linhagens (cladogênese), em oposição à evolução de uma espécie em outra (anagênese).[1][2] Charles Darwin foi o primeiro a descrever o papel da seleção natural na especiação, em seu livro A origem das espécies.[3] Ele também identificou a seleção sexual como um mecanismo provável, mas ainda não foi definitivamente confirmado se esta é uma das causas da especiação ou não.

Há quatro modos principais de especiação: a especiação alopátrica, simpátrica, parapátrica e peripátrica. A especiação pode também ser induzida artificialmente, através de cruzamentos selecionados ou experiências laboratoriais.

Antecedentes históricos

Ver artigo principal: História da especiação

Ao abordar a questão da origem das espécies, existem duas questões principais: (1) quais são os mecanismos evolutivos da especiação e (2) o que explica a separação e individualidade das espécies? Desde a época de Charles Darwin, os esforços para entender a natureza das espécies têm se concentrado principalmente no primeiro aspecto, e agora é amplamente aceito que o fator crítico por trás da origem de novas espécies é o isolamento reprodutivo.[4]

A seguir, nos concentramos no segundo aspecto da origem das espécies.

O dilema de Darwin: Por que as espécies existem?

Em A origem das espécies (1859), Darwin interpretou a evolução biológica em termos de seleção natural, mas ficou perplexo com o agrupamento de organismos em espécies.[5] No capítulo 6 do livro de Darwin, intitulado "Dificuldades levantadas contra a hipótese da descendência com modificações", ele indaga: "se as espécies derivam de outras espécies por graus insensíveis por que não encontramos inumeráveis formas de transição? Por que não está tudo na natureza no estado de confusão? Por que são as espécies tão bem definidas?", um dilema que pode ser referido como "a falta ou raridade de variedades transitórias no habitat".[6]

Outro dilema,[7] relacionado ao primeiro é a ausência ou raridade de variedades transitórias no tempo. Darwin apontou que, de acordo com a teoria da seleção natural, "inúmeras formas de transição devem ter existido" e se perguntou "por que não as encontramos incrustadas em incontáveis números na crosta terrestre". O fato de espécies claramente definidas realmente existirem na natureza tanto no espaço quanto no tempo implica que alguma característica fundamental da seleção natural opera para gerar e manter espécies.[5]

Especiação natural

Todas as formas de especiação natural ocorreram ao longo da história evolutiva da vida; embora a importância relativa de cada mecanismo na formação da biodiversidade atual ainda seja amplamente debatida na comunidade científica.[8]

Atualmente, também não há consenso sobre a taxa a que eventos de especiação acontecem na escala geológica. Uma visão partilhada por muitos biólogos evolutivos é que o número de eventos de especiação tem se mantido constante ao longo do tempo. Uma posição contrastante foi inicialmente proposta por Niles Eldredge e Stephen Jay Gould. Ela defende que as espécies se mantiveram relativamente estáveis durante longos períodos de tempo, pontuado por períodos de tempo relativamente curtos quando a especiação ocorre. Esta visão é conhecida pela teoria dos equilíbrios pontuados.

Mecanismo

A especiação se inicia quando uma subpopulação de uma espécie se isola geograficamente, altera o seu nicho ecológico ou o seu comportamento, de maneira que fique isolada reprodutivamente do restante da população daquela espécie. Esta subpopulação, ao se isolar e sofrer mutações cumulativas que alteram, com o passar do tempo, o seu genótipo e, consequentemente, sua relação com o meio, ou seja, a expressão fenotípica desta, se transformando em uma nova espécie.

Comparação de especiação por alopatria, peripatria, parapatria e simpatria.

Alopátrica

Ver artigo principal: Especiação alopátrica

Durante a especiação alopátrica (do grego antigo allos, "outro" + patrā, "pátria"), a população inicial divide-se em duas populações geograficamente isoladas (alopátricas) devido, por exemplo, a fragmentação do habitat pelo aparecimento de uma cadeia montanhosa. As populações assim isoladas vão sofrer diferenciação genotípica e/ou fenotípica, por:(a) as populações se tornam sujeitas a pressões seletivas diferentes; (b) elas sofrem deriva genética independentemente; (c) diferentes mutações surgem nas duas populações. Após um certo tempo, quando os indivíduos que faziam parte da mesma espécie voltam a entrar em contato, eles evoluem de tal forma que estão reprodutivamente isolados e já não são mais capazes de trocar genes entre si.

Parapátrica

Ver artigo principal: Especiação parapátrica

Na especiação parapátrica, não há separação geográfica completa entre as duas populações isoladas e apenas uma separação parcial das zonas de duas populações divergentes. Isso implica que algum fluxo génico pode ocorrer. Indivíduos das duas populações podem entrar em contacto ou mesmo atravessar a barreira de tempos a tempos, embora híbridos tenham uma viabilidade reduzida, levando eventualmente ao reforço das barreiras à reprodução.[9]

Peripátrica

Ver artigo principal: Especiação peripátrica

A especiação peripátrica é um tipo especial de especiação alopátrica em que uma das populações isoladas é consideravelmente menor do que a outra. Assim, novas espécies são formadas em populações periféricas menores e isoladas que são impedidas de trocar genes com a população principal. A deriva genética é frequentemente proposta para desempenhar um papel significativo na especiação peripátrica.[10]

Nestes casos, como a população é pequena, mecanismos como a deriva genética ou o efeito fundador são mais importantes, pois populações pequenas sofrem frequentemente do efeito de gargalo.[carece de fontes?]

Simpátrica

Ver artigo principal: Especiação simpátrica

Na especiação simpátrica, as populações divergem quando ainda ocupam a mesma região geográfica. Este tipo de especiação pode ocorrer muitas vezes em insetos que se tornam dependentes de plantas hospedeiras diferentes numa mesma área.[11]

A especiação simpátrica pode ocorrer quando as populações divergem em mudança para habitats ou nichos diferentes, se tornando reprodutivamente isolada em decorrência da seleção natural resultante, mesmo dentro de uma mesma área geográfica. Isso leva a uma redução do fluxo gênico, de modo que as populações se tornem espécies diferentes.

Um outro mecanismo que permite a especiação simpátrica é a poliploidia, uma condição na qual um organismo tem um conjunto extra de cromossomo, leva à especiação simpátrica em plantas. Nem todos os organismos poliploides estão reprodutivamente isolados das espécies parentais. Por isso, a duplicação do número de cromossomas não leva necessariamente ao cessar do fluxo génico entre os recém-criados poliploides e os seus parentais diploides.[12]

Métodos de seleção

Primeiro esboço de uma árvore evolutiva feito por Charles Darwin no seu livro First Notebook on Transmutation of Species (1837)

Em alguns casos o isolamento reprodutivo pode ocorrer antes da fecundação, sendo chamado de isolamento reprodutivo pré-zigótico. Nesse caso pode ocorrer (dentre outros fatores) por:

  • Mudança de comportamento (etológico) - o comportamento de um dos sexos não é compreendido pelo outro sexo, por exemplo no momento da corte;
  • Habitat - duas populações ocupam a mesma região, mas tem habitats diferentes. Estas duas populações estão isoladas e não trocarão genes entre si;
  • Inadequação anatômica (morfológica) - todo o indivíduo e/ou seus órgãos reprodutivos se alteram a ponto de não se adequarem fisicamente à ocorrência do ato sexual;
  • Mudança no ciclo reprodutivo - ciclos reprodutivos não se ajustam, impedindo o sucesso da reprodução.

Em outros casos o isolamento reprodutivo é atingido após a fecundação - pós-zigótico - onde o desenvolvimento do zigoto é inviável, ou se ocorrer esse desenvolvimento a progênie pode ser frágil e morrer rapidamente ou ainda ser infértil. Essa falta de sucesso na reprodução configura uma alteração importante na carga gênica dos envolvidos, a ponto de ocasionar a falta de estabilização necessária na(s) formação(ões) do(s) novo(s) indivíduo(s) gerado(s) - Inviabilidade da progênie - Infertilidade da prole, portanto aqueles que geraram o indivíduo não são da mesma espécie.

Reforço do isolamento reprodutivo

Reforço é um processo através do qual a seleção natural aumenta o isolamento reprodutivo. Pode ocorrer quando duas populações da mesma espécie estão separadas e voltam a estar em contacto. Se o seu isolamento reprodutivo fosse completo, então elas já seriam duas espécies separadas. Se o isolamento reprodutivo é incompleto, então acasalamentos posteriores darão origem a híbridos, que podem ou não ser férteis. Se os híbridos forem inférteis, ou menos aptos que os antecessores, a seleção natural poderá favorecer a fixação de alelos que aumentem ainda mais o isolamento reprodutivo. Se, pelo contrário, os híbridos forem mais aptos que os seus pais, então as populações tenderão a fundir-se perdendo-se a diferenciação entre elas.[13]

Especiação artificial

Espécies novas foram criadas por seleção de animais de pecuária, mas as datas iniciais e os métodos usados para dar origem a tais espécies não são claros. Por exemplo, a ovelha doméstica (Ovis aris) foi criada através de hibridação, e já não produz descendentes férteis com o muflão (Ovis orientalis), que é uma das espécies que lhe deu origem.[14] Gado domesticado, por outro lado, ainda pode ser considerado como a mesma espécie que várias variedades de gado selvagem, porque conseguem produzir descendentes férteis com estas variedades.[15]

A criação de novas espécies em laboratório que melhor foi documentada, realizou-se no fim dos anos 80 por William Rice e G.W. Salt. Estes cientistas criaram mosquinha-da-fruta, Drosophila melanogaster, usando um labirinto com três escolhas diferentes tais como escuro/claro e seco/molhado. Cada geração era colocado no labirinto, e o grupo de moscas que saía em duas das oito possíveis saídas eram separadas para procriar dentro do seu próprio grupo. Após trinta e cinco gerações, os dois grupos e os seus descendentes não conseguiam procriar entre eles, mesmo quando essa era a única oportunidade de se reproduzir.[16]

Diane Dodd também foi capaz de demonstrar especiação alopátrica por isolamento reprodutivo em Drosophila pseudoobscura após apenas oito gerações usando diferentes tipos de comida, amido e maltose.[17] A experiência de Dodd tem sido facilmente replicada por outros, incluindo outras espécies de moscas da fruta e alimentos.[18]

A experiência com Drosophila realizada por Diane Dodd em 1989.

A história destas experiências está descrita em Rice & Hostert (1993).[19]

Genética

Especiação via poliploidia

Ver artigo principal: Poliploidia

A poliploidia, condição na qual um organismo tem um conjunto extra de cromossomos, é um mecanismo que causou muitos eventos de especiação simpátrica, porque a prole de, por exemplo, acasalamentos tetraploide x diploide frequentemente resultam em descendência estéril triploide.[20] No entanto, nem todos os poliploides são isolados reprodutivamente de suas plantas parentais, e o fluxo gênico ainda pode ocorrer, por exemplo, através de cruzamentos triploides de híbridos x diploides que produzem tetraploides, ou cruzamentos entre gametas não reduzidos meioticamente de diploides e gametas de tetraploides.

A especiação por poliploidia tem sido especialmente importante na história evolutiva das plantas, embora ela tenha contribuído também para a especiação em animais, ainda que em menor escala.[21] A reprodução de espécies poliploides de sucesso às vezes é assexuada, por partenogênese ou apomixia, pois por razões desconhecidas muitos organismos assexuados são poliploides. Casos raros de mamíferos poliploides são conhecidos, mas na maioria das vezes resultam em morte pré-natal.

Especiação por hibridação

Hibridação entre duas espécies diferentes pode levar, por vezes, ao aparecimento de fenótipos diferentes. Este fenótipo poder ser mais viável do que as linhagens parentais e por isso, a seleção natural pode favorecer os indivíduos híbridos. Eventualmente, se o isolamento reprodutivo for alcançado, isto levará ao aparecimento de uma nova espécie. No entanto, o isolamento reprodutivo entre híbridos e as gerações parentais é muito difícil de alcançar e por isso a especiação por hibridação é considerada um caso muito raro. A espécie Anas oustaleti (agora extinta) se originou de especiação por hibridação.

A hibridização é um meio importante de especiação em plantas, uma vez que a poliploidia (tendo mais de duas cópias de cada cromossomo) é tolerada em plantas mais prontamente do que em animais.[22][23] A poliploidia é importante em híbridos, pois permite a reprodução, com dois conjuntos diferentes de cromossomos, cada um sendo capaz de emparelhar com um parceiro idêntico durante a meiose.[21] Os poliplóides também têm mais diversidade genética, o que os permite evitar a depressão por endogamia em pequenas populações.[24]

Quando a hibridação que leva a especiação não resulta numa mudança do número de cromossomas chama-se especiação por hibridação homoploide. É considerado muito raro mas já foi demonstrado em borboletas do género Heliconius[25] e em girassóis. Especiação poliploide, que envolve mudanças no número de cromossomas, é um fenômeno mais comum, especialmente em plantas.

Transposição de genes como causa de especiação

Theodosius Dobzhansky, que estudou drosófilas nos primórdios da investigação em genética na década de 1930, especulou que partes dos cromossomos que mudam de um local para outro podem fazer com que uma espécie se divida em duas espécies diferentes. Ele esquematizou como seria possível para secções de cromossomas se realocassem num genoma. Estas secções móveis podem causar esterilidade em híbridos inter-específicos, o que pode agir como uma pressão de especiação. Em teoria, sua ideia era sólida, mas houve um longo debate entre os cientistas sobre se isto realmente aconteceria na natureza. Eventualmente, uma teoria concorrente que envolvia a acumulação gradual de mutações foi demonstrada na natureza com tanta frequência que geneticistas os rejeitaram amplamente a hipótese dos genes móveis.[26] No entanto, pesquisas recentes demonstraram que genes que saltam de um cromossoma para outro podem contribuir para o surgimento de uma nova espécie.[27] Isto valida o mecanismo de isolamento reproductivo, que é um elemento essencial da especiação.[28]

Especiação no ser humano

Os seres humanos têm semelhanças genéticas com chimpanzés e gorilas, o que sugere antepassados comuns. Uma análise de derivação genética e recombinação sugeriu que o ancestral comum mais próximo entre o homem e o chimpanzé sofreu especiação (por cladogênese) há 4,1 milhões de anos, formando duas novas espécies que, através de caminhos evolutivos diferentes, deram origem aos indivíduos atuais.[29]

Ver mais

Livros da Wikipédia

Referências

  1. Cook, Orator F. (30 de março de 1906). «Factors of species-formation» 587 ed. Science. 23: 506–507. PMID 17789700. doi:10.1126/science.23.587.506. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  2. Cook, Orator F. (1 de novembro de 1908). «Evolution Without Isolation» 503 ed. The American Naturalist. 42: 727–731. doi:10.1086/279001. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  3. Via, Sara (15 de junho de 2009). «Natural selection in action during speciation». PNAS. 106(Suppl 01): 9939–9946. PMC 2702801Acessível livremente. PMID 19528641. doi:10.1073/pnas.0901397106. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  4. Mayr, Ernst (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico: diversidade, evolução e herança. Brasília: Editora UNB. ISBN 9788523003753 
  5. a b Darwin 1859
  6. Sepkoski, David (2012). «1. Darwin's Dilemma: Paleontology, the Fossil Record, and Evolutionary Theory». Rereading the Fossil Record: The Growth of Paleobiology as an Evolutionary Discipline. [S.l.]: University of Chicago Press. pp. 9–50. ISBN 978-0-226-74858-0 
  7. Stower, Hannah (2013). «Resolving Darwin's Dilemma» 747 ed. Nature Reviews Genetics. 14. 747 páginas. doi:10.1038/nrg3614 
  8. Baker, Jason M. (Junho 2005). «Adaptive speciation: The role of natural selection in mechanisms of geographic and non-geographic speciation» (PDF) 2 ed. 36: 303–326. PMID 19260194. doi:10.1016/j.shpsc.2005.03.005 
  9. Safran, Rebecca J. (2012). «Speciation: The Origin of New Species». Nature Education Knowledge. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  10. «Divergence at the edges: peripatric isolation in the montane spiny throated reed frog complex» 
  11. Feder, Jeffrey L.; Xie, Xianfa; Rull, Juan; et al. (1 de maio de 2005). «Mayr, Dobzhansky, and Bush and the complexities of sympatric speciation in Rhagoletis». PNAS: 6573–6580. PMC 1131876Acessível livremente. PMID 15851672. doi:10.1073/pnas.0502099102. Consultado em 6 de outubro de 2020 
  12. Biologia de Campbell. [S.l.: s.n.] 
  13. |Ridley, M. (2004) Evolution 3th ed. (Blackwell Science Ltd)
  14. Hiendleder S., et al. (2002) "Molecular analysis of wild and domestic sheep questions current nomenclature and provides evidence for domestication from two different subspecies" Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 269:893-904
  15. Nowak, R. (1999) Walker's Mammals of the World 6th ed. (Baltimore: Johns Hopkins University Press)
  16. Rice, W.R. and G.W. Salt (1988). «Speciation via disruptive selection on habitat preference: experimental evidence». The American Naturalist. 131: 911-917 
  17. Dodd, D.M.B. (1989) "Reproductive isolation as a consequence of adaptive divergence in Drosophila pseudoobscura." Evolution 43:1308–1311.
  18. Kirkpatrick, M. and V. Ravigné (2002) "Speciation by Natural and Sexual Selection: Models and Experiments" The American Naturalist 159:S22–S35 DOI
  19. W.R. Rice, E.E. Hostert (1993). «Laboratory experiments on speciation: What have we learned in forty years?». Evolution. 47: 1637-1653 
  20. Ramsey, Justin; Schemske, Douglas W. (1 de novembro de 1998). «Pathways, mechanisms, and rates of polyploid formation in flowering plants». Annual Review of Ecology and Systematics (1): 467–501. ISSN 0066-4162. doi:10.1146/annurev.ecolsys.29.1.467. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  21. a b Comai, Luca (novembro de 2005). «The advantages and disadvantages of being polyploid». Nature Reviews Genetics (em inglês) (11): 836–846. ISSN 1471-0064. doi:10.1038/nrg1711. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  22. Wendel, Jonathan F. (1 de janeiro de 2000). «Genome evolution in polyploids». Plant Molecular Biology (em inglês) (1): 225–249. ISSN 1573-5028. doi:10.1023/A:1006392424384. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  23. Comai, Luca (novembro de 2005). «The advantages and disadvantages of being polyploid». Nature Reviews Genetics (em inglês) (11): 836–846. ISSN 1471-0064. doi:10.1038/nrg1711. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  24. Soltis, Pamela S.; Soltis, Douglas E. (20 de junho de 2000). «The role of genetic and genomic attributes in the success of polyploids». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (13): 7051–7057. ISSN 0027-8424. PMID 10860970. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  25. Mavarez, J.; Salazar, C.A., Bermingham, E., Salcedo, C., Jiggins, C.D. , Linares, M. (2006). «Speciation by hybridization in Heliconius butterflies». Nature 
  26. «Genetic Surprise Confirms Neglected 70-Year-Old Evolutionary Theory». http. Consultado em 7 de outubro de 2020 
  27. Masly, John P., Corbin D. Jones, Mohamed A. F. Noor, John Locke, and H. Allen Orr (2006). «Gene Transposition as a Cause of Hybrid Sterility in Drosophila». Science. 313 (5792): 1448-1450. Consultado em 18 de março de 2007 
  28. Minkel, J.R. (2006) "Wandering Fly Gene Supports New Model of Speciation" Arquivado em 16 de outubro de 2007, no Wayback Machine. Science News
  29. Hobolth A, Christensen OF, Mailund T, Schierup MH (2007). «Genomic Relationships and Speciation Times of Human, Chimpanzee, and Gorilla Inferred from a Coalescent Hidden Markov Model». PLOS Genetics. doi:10.1371/journal.pgen.0030007