Raul Carrion

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Raul Carrion
Raul Carrion
Vereador de Porto Alegre
Período 2001 a 2006
Deputado estadual do Rio Grande do Sul
Período 2007 a 2014
Dados pessoais
Nome completo Raul Kroeff Machado Carrion
Nascimento 22 de dezembro de 1945 (78 anos)
Porto Alegre
Nacionalidade Brasileiro
Cônjuge Elvira Ballester Lafertt
Partido PCdoB (1969 - presente)
Religião Católico
Profissão Historiador, operário, sindicalista, escritor

Raul Kroeff Machado Carrion (Porto Alegre, 22 de dezembro de 1945) é um historiador, sindicalista, escritor e político brasileiro.[1] Foi vereador de Porto Alegre e duas vezes Deputado estadual do Rio Grande do Sul, tendo militado por mais de 50 anos no Partido Comunista do Brasil (PCdoB).[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Raul Carrion, nasceu na cidade de Porto Alegre no dia 22 de dezembro de 1945, filho da professora Erna Maria Kroeff Carrion e do advogado Francisco Machado Carrion que foi professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).[3] Fez seu ensino fundamental e médio, em escolas tradicionais do Rio Grande do Sul, como o Colégio Farroupilha e o Colégio Anchieta.[4] Ingressou na militância política com 17 anos, inspirado pelas movimentações pelas Reformas de base do então presidente João Goulart, entrando para o movimento de esquerda cristã, chamado Ação Popular.[5][6]

Após passar no vestibular, ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ano de 1964 para o curso de Engenharia química. Logo começou a entrar em contato com a militância dentro da universidade, em diretórios acadêmicos e na União Nacional dos Estudantes (UNE).[1] Em 1967, abandonou o curso de engenharia química para dedicar-se a vida política e dos movimentos sindicais de Porto Alegre, como associou-se aos sindicatos dos transportes e dos metalúrgicos.[4] No ano de 1969, conseguiu um emprego, então, em uma fábrica de componentes de calçados, como operador de máquina na cidade Novo Hamburgo. Lá participou de organizações sindicais. [4] Também nesse ano, com a incorporação da Ação Popular-ML ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Carrion tornou-se militante do partido.[7] Em 1970, reingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas nessa vez para cursar Química.[4]

Em 1971, devido a sua militância política e sindical, Carrion foi preso pela Ditadura militar brasileira.[8] Por conta disso, teve que abandonar seu curso e parar com os estudos.[9] No DOPS, foi submetido a torturas como o pau de arara e a choques elétricos, após ter sido acusado de ser propagandista do PCdoB e supostamente ter entregue munição para outro militante do partido.[10] Após a liberação das torturas, exilou-se ao Chile, onde possuía um cunhado. [4] Lá, buscou ajuda de um professor da UFRGS, Professor Ernani Maria Fiori da área de Filosofia que tinha sido expulso e cassado da faculdade por conta de suas posição políticas. [11] Fiori, dava aula na Pontifícia Universidade Católica do Chile, e conseguiu uma vaga para Carrion, no curso de química.[4]

Em 1970, com o golpe de Augusto Pinochet no Chile, que destituiu o então presidente do partido socialista, Salvador Allende, Carrion teve de ir para a Argentina em busca de asilo político.[12] Após ter-se casado no Chile, ficou na clandestinidade na Argentina, organizando o partido de lá. Com o golpe em 1976 de Jorge Rafael Videla no país, Carrion volta ao Brasil, na clandestinidade para Goiânia. Sua esposa não conseguiu voltar e permaneceu na Argentina. [13] Somente, em 1979, veio a Lei da Anistia e sua esposa conseguiu voltar para o Brasil em segurança em juntos o casal voltaram a Porto Alegre.[1]

Durante, os anos de 1980, Carrion ingressou no trabalho de metalurgia, onde organizou-se sindicalmente onde passou por diversas imprensas do ramo da eletrônica e da metalurgia e também participou da campanha das Diretas Já.[14] Após a ditadura chegar ao seu fim, nas eleições de 1986, Carrion foi lançado candidato do PCdoB ao Senado. Porém, seu suplente José Loguércio ainda não havia completado 35 anos e a chapa indeferida.[4]

Em 1988, candidatou-se pelo PCdoB a prefeitura de Porto Alegre, em chapa composta com José Loguércio, porém obtiveram apenas 2 671 votos, sendo o candidato menos votado daquela ocasião.[15] Em 1989, percorreu o Rio Grande do Sul, fazendo campanha para Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se presidente contra Fernando Collor de Mello.[16]

Em 1992, concorreu ao cargo de vereador de Porto Alegre, mas foi 1º suplente e exerceu a vereança em algumas oportunidades.[17] Em 1996, voltou aos estudos e prestou o vestibular da UFRGS para o curso de História. Formou-se em 1998, e por sua sugestão sua turma recebeu como paraninfo o economista e líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. [4] Sua tese de conclusão de curso, foi "O Partido Comunista do Brasil no Rio Grande do Sul - 1922-1929".[18]

Em 2000, foi candidato a vereador de Porto Alegre, sendo eleito com 8.405 votos.[19] A sua coligação organizava os partidos Partido dos Trabalhadores (PT), PCdoB,Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), que elegeu Tarso Genro para prefeito da cidade.[20]

Em 2004, foi candidato a reeleição ao cargo de vereador, recebendo 11.651 votos, o quarto candidato mais bem votado daquele pleito.[21] O PCdoB, elegeu mais quatro vereadores nesse pleito, Pedro Dias, Arthur Bloise e Manuela d'Ávila.[21] Nesse eleição, o PCdoB coligou-se com o PT pelo candidato Raul Pont que foi derrotado por José Fogaça do Partido Popular Socialista (PPS).[22]

Em 2006, por decisão do partido, foi candidato ao cargo de Deputado Estadual no qual foi eleito com 41.549 votos.[23][24] Em 2010, foi candidato a reeleição para o cargo de deputado estadual e foi novamente eleito com 34.791 votos.[25][26]

Em 2010, foi um dos Deputados Estaduais do Rio Grande do Sul que votou a favor do aumento de 73% nos próprios salários em dezembro, fato esse que gerou uma música crítica chamada "Gangue da Matriz" composta e interpretada pelo músico Tonho Crocco, que fala em sua letra os nomes dos 36 deputados (inclusive o de Raul Carrion) que foram favoráveis a esse autoconcedimento salarial;[27] Giovani Cherini como presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul na ocasião entrou com uma representação contra o músico, Cherini falou que era um crime contra honra e o título era extremamente agressivo e fazia referência a criminosos que mataram o jovem Alex Thomas, na época Adão Villaverde que se tornou o sucessor na presidência da Assembleia Legislativa, expressou descontentamento discordando da decisão de Cherini,[28] mas em agosto do mesmo ano o próprio Giovani Cherini ingressou com petição pedindo o arquivamento contra o músico com a alegação que não era vítima no processo (seu nome não aparecia na letra, pois como presidente do parlamento gaúcho na ocasião não podia votar) e que defendia a liberdade de expressão,[29] na época Tonho recebeu apoio de uma loja que espalhou 20 outdoors pela capital Porto Alegre e também imenso apoio por redes sociais.[30]

Já em 2013, fez um balanço de sua carreira política e decidiu por não concorrer novamente a reeleição e disputar novos pleitos.[31] Porém, afirmou que não ia abandonar sua militância política. [31]

Em 2019, lançou sua autobiografia "Raul Carrion – A Luta Vale a Pena!" publicado pela editora Anita Garibaldi.[32][33]

Livros publicados[editar | editar código-fonte]

  • A Construção Do Socialismo na China e as Reformas Econômicas Pós-Revolução Cultural – Independente (2004)
  • Histórico de luta pela moradia do Parque dos Mayas - Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2010)
  • Relatório missão oficial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul à República Popular da China – Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2013)
  • Os lanceiros negros na revolução farroupilha – Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2013)
  • 1964 - 2004: 50 anos do golpe militar no Brasil – Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2014)
  • Coluna prestes 90 anos – Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2014)
  • Revolução Farroupilha – Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (2014)
  • Raul Carrion – A Luta Vale a Pena! – Editora Anita Garibaldi (2019)

Referências

  1. a b c «Raul Carrion: militante histórico do PCdoB lança autobiografia». PCdoB. 14 de novembro de 2019. Consultado em 5 de maio de 2020 
  2. Paz, Walmaro (12 de novembro de 2019). «Autobiografia 'Raul Carrion, A luta vale a Pena' será lançada em Porto Alegre». Brasil de Fato. Consultado em 5 de maio de 2020 
  3. «FRANCISCO MACHADO CARRION JUNIOR». CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do Brasil. Consultado em 5 de maio de 2020 
  4. a b c d e f g h «Raul Carrion - Historiador». Consultado em 5 de maio de 2020 
  5. «Walmaro Paz: Raul Carrion, a luta vale a pena». Vermelho. 14 de novembro de 2019. Consultado em 5 de maio de 2020 
  6. Oliveira, Geórgia (2018). «Jango (Silvio Tendler, 1984): um documentário que fez história» (PDF). Universidade Federal de Minas Gerais. Consultado em 26 de abril de 2021 
  7. Lima, Haroldo (1973). História da ação popular - da juc ao pc do b. São Paulo: Alpha and Omega. pp. 19–43 
  8. «Acervo da Luta Contra a Ditadura». Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Consultado em 5 de maio de 2020 
  9. Leboutte, Alexandre (30 de agosto de 2013). «Comunista Raul Carrion depõe à Comissão da Verdade». Jornal do Commércio. Consultado em 5 de maio de 2020 
  10. Paulitsch, Claudia (2 de setembro de 2011). «Pesquisadores e ex-deputado discutem contexto da resistência legalista no Memorial do Legislativo». Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Consultado em 5 de maio de 2020 
  11. «UFRGS pretende republicar obras do professor Ernani Maria Fiori». Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 17 de setembro de 2013. Consultado em 5 de maio de 2020 
  12. Paniago, Flávia (2016). «A instauração da ditadura militar no Chile: os documentos do Centro de Informações Exteriores – CIEX (1970 - 1973) e o posicionamento brasileiro» (PDF). Universidade Nacional de Brasília. Consultado em 5 de maio de 2020 
  13. «Morre aos 87 anos o ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla». G1. 17 de maio de 2013. Consultado em 6 de maio de 2020 
  14. «Raul Carrion depõe em comissão da Memória, Verdade e Justiça da Alergs». Associação Brasileira de Anistiados Políticos. 16 de julho de 2015. Consultado em 6 de maio de 2020 
  15. «Ata geral das eleições municipais de 15/11/88». Tribunal Superior Eleitoral de RS. Consultado em 7 de maio de 2020 
  16. «Raul Carrion homenageia os 75 anos da Fecosul». Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. 2013. Consultado em 6 de maio de 2020 
  17. «ROSÁRIO, Maria do». CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do Brasil (FGV). Consultado em 6 de maio de 2020 
  18. Konrad, Diorge (5 de setembro de 2006). «História do PCdoB no Rio Grande do Sul». Vermelho. Consultado em 6 de maio de 2020 
  19. «Eleições online». Folha de S. Paulo. 2000. Consultado em 6 de maio de 2020 
  20. «Eleições 2000: Genro atribui escolha à aproximação de facções». Folha de S.Paulo. 11 de abril de 2000. Consultado em 6 de maio de 2020 
  21. a b «UOL Eleições 2004». UOL. 2004. Consultado em 6 de maio de 2020 
  22. GERCHMANN, Léo (31 de outubro de 2004). «Eleições 2004 - Porto Alegre: Hegemonia de 16 anos do PT está em jogo na capital gaúcha». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de maio de 2020 
  23. «UOL Eleições - Placar». UOL. 2006. Consultado em 6 de maio de 2020 
  24. «GALERIA DE IMAGENS». Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado em 6 de maio de 2020 
  25. «Apuração de votos e candidatos eleitos (1º turno) - UOL Eleições 2010». UOL. 2010. Consultado em 6 de maio de 2020 
  26. «Vou a centros comerciais e uso telefone inteligente, diz autor de projeto contra estrangeirismos». Zero Hora. 20 de abril de 2011. Consultado em 6 de maio de 2020 
  27. «Política - 03/08/2011 - Tonho Crocco responde a ação criminal por música contra deputados». Consultado em 3 de setembro de 2022 
  28. «Para Cherini, título de música de Tonho Crocco "é extremamente agressivo"». Consultado em 3 de setembro de 2022 
  29. «Cherini diz em nota que processo contra Tonho Crocco deve terminar». Consultado em 3 de setembro de 2022 
  30. «Justiça arquiva processo contra Tonho Crocco». Consultado em 3 de setembro de 2022 
  31. a b «Em seu último mandato, Raul Carrion defende alianças e papel do PCdoB nos 12 anos de governo do PT». Sul 21. 8 de setembro de 2014. Consultado em 6 de maio de 2020 
  32. Paz, Wálmaro (15 de novembro de 2019). «Pré-lançamento da autobiografia de Raul Carrion lota Salão da ARI». Vermelho. Consultado em 6 de maio de 2020 
  33. Franco, Esther (16 de abril de 2019). «Raul Carrion: "Jango nunca foi comunista. Era um nacionalista com grande sensibilidade social"». Partido Democrático Trabalhista (PDT). Consultado em 6 de maio de 2020