Renato Consorte

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Renato Consorte
Renato Consorte
Nascimento 27 de outubro de 1924
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileiro
Morte 26 de janeiro de 2009 (84 anos)
São Paulo, SP
Ocupação Ator

Renato Consorte (São Paulo, 27 de outubro de 1924 — São Paulo, 26 de janeiro de 2009) foi um ator e comediante brasileiro.

Entre seus trabalhos mais marcantes estão A Família Trapo, com Ronald Golias, assim como sua participação na I Feira Paulista de Opinião, dirigido por Augusto Boal, e Gota d'Água de Chico Buarque de Holanda em São Paulo, no papel de Creonte, alguns dos espetáculos marcantes em que participou na sua luta contra a ditadura militar.

Renato, como ator de Gota d'Água participou ativamente da jornada de teatro pela anistia, em São Paulo em 5 de maio de 1977, quando todos os teatros abriram gratuitamente pela anistia e fim da tortura no Brasil, face a prisão de Celso Brambilla, Márcia Bassetto Paes, José Maria de Almeida e outros operários presos no primeiro de maio no ABC.

Foi ativista político e sindical, atuando no Sindicato dos Artistas de São Paulo, entre 1977 e 1981 junto com Lelia Abramo, Robson Correia de Camargo, Dulce Muniz e Cláudio Mamberti, trabalhando também em importantes filmes do cinema brasileiro, como o O Coronel e o Lobisomem e Eles Não Usam Black-Tie.

A Primeira Feira Feira Paulista de Opinião (5 de junho de 1968, Teatro Ruth Escobar (SP), foi escrita com quadros de Plínio Marcos, Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso, Gianfrancesco Guarnieri, Jorge Andrade. Um dos episódios Verde Que Te Quero Verde, de Plínio Marcos, tinha como personagem um general. Consorte, que representava este general, era muito parecido com o presidente militar da ocasião, Costa e Silva, numa evidente paródia ao regime militar de então.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Seus pais eram os imigrantes italianos Luigi Consorte e Addolorata D'Amelio, ambos originários da região dos Abruzos. Renato sonhava formar-se em Medicina, mas acabou cursando a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Fez parte da "Caravana Artística XI de Agosto", da Faculdade, viajando por todo o interior, cantando e representando.

Através de Inezita Barroso e Maurício Barroso é indicado para um teste no TBC e estreia em 1949, na peça "A Noite de 16 de Janeiro". Em 1949 participa da formação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz onde começa como gerente de produção e se torna depois um de seus principais atores.

A estreia no cinema é em 1950 na produção "Caiçara" ao lado de Eliane Lage, Mário Sérgio e Abílio Pereira de Almeida. Já participou de cerca de 40 filmes, sendo 18 deles na Vera Cruz. Alberto Guzik destaca a participação de Consorte em O Grande Momento de Roberto Santos.

Na televisão fez programas humorísticos como "Família Trapo" e algumas novelas como "Papai Coração" na TV Tupi; "A História de Ana Raio e Zé Trovão" na TV Manchete e "O Primo Basílio", "Tieta" e "Bang bang" na Rede Globo. Participou de um quadro humorístico duradouro com Walter D'Ávila na TV Rio.

No teatro participou ainda de Roda Viva de Francisco Buarque de Hollanda peça que marcou o teatro brasileiro por sua inovação estética e também pela invasão do Comando de Caça aos Comunistas. Segundo o crítico Alberto Guzik, Renato tinha um grande tempo para a interpretação da comédia.

Foi casado com a antropóloga Josildeth Gomes Consorte, com quem teve dois filhos.[1]

Desastre de avião[editar | editar código-fonte]

Renato Consorte participou inesperadamente de um fato inusitado. Em 1963 um avião cai na avenida Piaçanguaba, perto da avenida Indianópolis, nas cercanias do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo matando 37 dos seus 50 tripulantes e passageiros. Renato Consorte foi um dos poucos sobreviventes, estando por vários dias com a vida por um fio. Teve o corpo quase todo queimado, e depois diversas cirurgias, enxertos, e um longo tratamento, voltou a atuar fazendo diversos trabalhos no teatro, cinema e TV. Coincidência ou não, seu nome "Re-nato", que quer dizer "renascido", e o sobrenome de família "Consorte" devem ter colaborado: "renascido com sorte"!

Atuação política[editar | editar código-fonte]

Sempre fiz política, lutei pela liberdade de expressão, pela abertura do campo de trabalho para os atores, pela anistia, pelo direito de voto. Combati a ditadura, o regime militar. (…) Na época da repressão, eu aproveitava o teatro para fazer política. Quando o coronel Erasmo Dias invadiu a PUC, eu fazia os Saltimbancos no Tuca - aliás, fui o único ator do mundo que fez duas peças do mesmo autor, o Chico Buarque, no mesmo dia, porque eu entrava em Gota DÁgua à noite. Meu papel era de um jumento, então eu disse em cena: - Eu sou um jumento. (…) Era o governo do João Figueiredo, eu dizia: - Com os equinos, agora, nós não subimos escada, subimos rampa. A censura me chamou no ato.
Pela parte que me toca: Fui preso na rua, no dia do meu aniversário de casamento (31 de janeiro de 1969), por três tenentes do exército, sendo que, um deles, reconheci como participante das nossas assembleias. Este, depois de me dar voz de prisão, me levou, dentro de um jipão com mais 10 soldados fortemente armados, para o quartel do REC-MEC no Ibirapuera. Chegando lá, fui entregue a dois majores: um muito boçal que disse ter-me visto no teatro "fazendo papel de gorila". Isso tinha sido na peça de Plínio Marcos, "Verde que te quero verde", em que eu fazia um gorila com uniforme do exército e censurava tudo quanto era texto, rasgando e riscando, isto sem falar em muitos outros detalhes incluídos com intuito de desmoralizar os censores da época. Esse major me martirizou muito, mentalmente, tentando me atemorizar.
O outro major, de nome Beltrão, me tratou delicadamente, se dizendo meu admirador desde o tempo em que eu trabalhava no Rio, e fazia questão de me tratar por SENHOR e acrescentava sempre: "o senhor vê que eu o trato com educação". Eu soube, depois, que esse major matava os nosso companheiros, dando-lhes um tiro na nuca. Naturalmente, antes de atirar ele devia pedir "licença" ao sacrificado. Ele me perguntou, entre tantas coisas, o que eu achava do CCC. Me fazendo de ingênuo, eu disse que "se tratava de um grupo de estrangeiros com o intuito de lançar brasileiros contra brasileiros". Ao que ele observou, espantado: "Não, senhor Roberto! Eles são daqui do nosso quartel mesmo!". Aquele major boçal chegou a me dizer: "O exército brasileiro, senhor Renato Consorte, está com o senhor por aqui". E fez aquele gesto tocando na testa. Pensei comigo: "quanta honra". E basta, porque o meu sistema nervoso se descontrolou.

Morte[editar | editar código-fonte]

Renato Consorte morreu, por volta das 14 horas do dia 26 de janeiro de 2009, aos 84 anos, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, em decorrência de câncer de próstata.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Teatro[editar | editar código-fonte]

Televisão[editar | editar código-fonte]

Ano Título Personagem Notas
1955 Teledrama Episódio: "Ressurreição"
1960 Gabriela, Cravo e Canela Nacib
1964 Prisioneiro de um Sonho Barros
1966 Eu Compro Esta Mulher João
1967 O Tempo e o Vento Padre Lara
1970 O Meu Pé de Laranja Lima Padre Juca
1971 Meu Pedacinho de Chão Giacomo Brunetto
1973 A Volta de Beto Rockfeller José Rubens
O Conde Zebra Honorário
1976 Papai Coração Padre Bernardo
1979 Dinheiro Vivo
1985 O Tempo e o Vento Padre Romano
1988 O Primo Basílio Vicente Azurara
1989 Tieta Chalita
1998 Fascinação Cordélio
1990 A História de Ana Raio e Zé Trovão Comendador
1996 Brava Gente Nino (participação especial)
1998 Pérola Negra ...
1999 Você Decide Bóris Episódio: "Numa Sexta-Feira 13: Parte 1"
2004 Sob Nova Direção Agenor Episódio: "Mendigas com quem tu andas que te direi quem és"
2005 Qual é, bicho? Lobato
Bang Bang Padre Jeremy Hacker

Cinema[editar | editar código-fonte]

Ano Título Personagem
1950 Caiçara
1951 Ângela Jogador
Terra É sempre Terra Boaventura
1952 Apassionata Investigador
Sai da Frente Funcionário da Repartição
Tico-Tico no Fubá Barbeiro
Veneno
1953 Esquina da Ilusão Atílio
A Família Lero-Lero Atendente do hotel
Sinhá Moça Professor
1954 É Proibido Beijar Funcionário no aeroporto
Floradas na Serra
Na Senda do Crime Chico , o barbeiro
1955 Rio 40 Graus Homem na praia
1957 A Baronesa Transviada Advogado
Osso, Amor e Papagaios Salim , o lojista
1959 Garota Enxuta
Um Caso de Polícia
1961 Ladrão em Noite de Chuva Médico
1962 Os Mendigos
Pluft, o Fantasminha Pirata antigo
1968 Cristo de Lama Mesquita
O Bandido da Luz Vermelha Apresentador de televisão
1974 Gente que Transa Gigi
1976 Sabendo Usar Não Vai Faltar Laerte
1978 O Coronel e o Lobisomem Juju Bezerra
1980 Ato de Violência Manuel
O Menino Arco-Íris Devedor de impostos
Curumim Sebastião
1981 Eles Não Usam Black-Tie Alípio
1984 O Cavalinho Azul João de Deus
O Baiano Fantasma Comerciante italiano
1986 Sonho Sem Fim Lázaro
1987 Os Trapalhões no Auto da Compadecida Bispo
1991 Sua Excelência, o Candidato Ezequiel
1993 Zuleika Mensageiro [2]
Papo de Bar Homem no bar
1994 Sábado Residente
1996 Correspondência Repórter [3]
1997 A Manchete Editor
2002 Morte Amigo no velório [4]
2005 Cafundó Ministro
O Casamento de Romeu e Julieta Imparato
2006 Boleiros 2 Major Perez
2007 O Homem que Desafiou o Diabo Turco
2009 Bom Dia, Eternidade Capilé
A Guerra de Arturo Senhor

Referências

  1. Consorte, Renato (2005). Renato Consorte : contestador por índole. Eliana Pace. São Paulo: Cultura, Fundação Padre Anchieta. OCLC 64022613 
  2. «Zuleika». Porta Curtas. Consultado em 10 de fevereiro de 2021 
  3. «Correspondência». Porta Curtas. Consultado em 10 de fevereiro de 2021 
  4. «Morte.». Porta Curtas. Consultado em 22 de maio de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Renato Consorte: Contestador por Índole de Eliana Pace.