Usuário(a):Extremophile/Criacionismo

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--Extremophile 19:19, 21 Fevereiro 2006


C r i a c i o n i s m o


Definção geral

Criacionismos são posições que se propõem a sustentar de diversas maneiras o fundamentalismo de alguma narrativa religiosa quanto a questões sobre a origem da vida, do universo, e coisas relacionadas.

Criacionistas geralmente rotulam como "ciências da criação" ou simplesmente "criacionismo" os argumentos de intenção mais ou menos científica por eles utilizados para defender o literalismo em maior ou menor grau de alguma crença específica, enquanto "ciências da evolução" ou "evolucionismo" são quaisquer conhecimentos científicos, de qualquer área da ciência (mais comumente, áreas da biologia e física ou cosmologia), que conflitem com o grau de interpretação literal adotado por dada vertente criacionista.

Visão artística sobre o criacionismo

História do conceito de criacionismo[editar | editar código-fonte]

A histõria do criacionismo estã atrelada à história das religiões. O criacionismo no ocidente primeiramente suas raízes no judaísmo. Por exemplo, o comentário do criacionista Abraham ibn Ezra (c. 1089–1164) sobre o gênesis é grandemente estimado nos círculos rabínicos tradicionais.

Nos séculos XVII e XIX, a história natural desafiou o relato bíblico de criação, colocando-o em conflito com as observações empíricas da história natural a partir de uma investigação científica. Ainda que o termo "criacionismo" não fosse comum antes do século XIX, eles vêem a si mesmos como a prole religiosa e filosófica das tradições que sustentam os textos sagrados. Os relatos bíblicos da história, de cosmologia, e história natural eram acreditados pelos judeus, cristãos e muçulmanos e sua exatidão não foi questionada durante o período medieval. A maioria das pessoas na Europa, Oriente Médio e outras áreas do mundo islâmico criam que um ser supremo tinha existido e existiria eternamente, e que a existência de tudo mais se devia a esse ser, conhecido tipicamente como Deus, Javé, ou Alá. Essa crença era baseada na autoridade do gênesis, do corão e outras histórias antigas, que eram tidas como historicamente corretas e não eram sistematicamente ou cientificamente investigadas quanto a sua validade nesse aspecto.

Estudiosos do Islã preservaram textos gregos antigos e desenvolveram essas ideias, levando ao Renascimento, que trouxe um questionamento da cosmologia bíblica. Com o iluminismo, uma variedade de movimentos científicos e filosóficos desfiaram os pontos de vista tradicionais na Europa e nas Américas. A história natural desenvolveu o objetivo de compreender o plano de Deus, mas encontrou contradições, que na França revolucionária foram interpretadas como um suporte científico para a evolução. Em outros lugares, particularmente na Inglaterra, clérigos naturalistas buscaram explicações compatíveis com interpretações dos textos bíblicos, antecipando muitos argumentos criacionistas que viriam mais tarde.

Ao mesmo tempo em que o conceito de uma Terra antiga tornou-se largamente aceito, a teoria de seleção natural de Charles Darwin diretamente desafiava a crença no involvimento direto de Deus ao criar as espécies, e em resposta o criacionismo surgiu como um movimento distinto buscando justificar e reafirmar a exatidão dos textos bíblicos mesmo que tomados literalmente, particularmente o Gênesis.

A história do criacionismo tem relevância para a polêmica sobre criacionismo-evolução. Proponentes do criacionismo afirmam que há uma rica herança sólida de histórias antigas e consistentes com a observação científica, enquanto os oponentes, particularmente quanto ao que consideram pseudociência das "ciências da criação" e "projeto inteligente", afirmam que eles são um movimento reacionário moderno contra a ciência.


Dedução de planejamento[editar | editar código-fonte]

Praticamente todos os criacionismos têm como ponto em comum a idéia de que os seres vivos foram projetados por algum outro ser, geralmente alguma espécie de deus, muito embora as religiões de base não necessariamente explicitem isso, ou mesmo digam coisas que podem ser interpretadas como algo diferente disso. Por exemplo, na bíblia é dito que Jeová ordenou à terra que criasse os seres, e que cada um se reproduzisse segundo sua espécie (Gênesis 1:24-25).

Apesar das bases dos textos religiosos não explicitarem o projeto, ele é muitas vezes assumido pelos criacionistas por dedução. Geralmente ela é apresentada na forma da analogia do relógio, conhecida principalmente na versão filósofo William Paley (1743–1805) e geralmente a ele creditada. A analogia diz que se encontrássemos um relógio em um campo, complexo demais para ser produzido por fenômenos naturais, deveriamos assumir que foi criado por um relojoeiro. Politeístas diriam que a analogia mais corretamente seria que uma uma maior quantidade de pessoas contribuiram para a invenção e a fabricação do relógio durante a história. Em qualquer dos pontos de vista, assumem que fenômenos complexos do universo, ou o universo em si, precisariam ter sido projetados, tal como um relógio.

Mesmo levando em conta que esse raciocínio é anterior à teoria da seleção natural de Charles Darwin, que forneceu à ciência um mecanismo testável de como adaptações podem evoluir nos seres vivos, criacionistas ainda assim o mantém, dizendo que a seleção natural pode apenas causar modificações adaptativas menores nos seres, e não desenvolver adaptações mais complexas; ou em alguns casos, simplesmente negando qualquer ocorrência de seleção natural, mesmo casos consideravelmente simples como o melanismo industrial[1].

Além disso, a seleção natural não explica a origem da vida e outras características do universo, sendo então aceita a analogia do relojoeiro nesses casos, e indevidamente também extrapolada para parte do que poderia ser explicado por mecanismos naturais comprovados. Dessa forma, a seleção natural e outras teorias naturalistas, são rejeitadas de acordo com como essas explicações diferirem de alguma narrativas religiosa, ou conforme forem tradicionalmente postas em dúvida por alguma vertente criacionista.

Tipos de criacionismos[editar | editar código-fonte]

Há potencialmente tantos tipos de criacionismos quantas narrativas religiosas sobre as origens existirem. No entanto obviamente por existirem certas religiões mais populares no mundo ocidental, familiarizado com a ciência, na prática acaba existindo apenas um número menor de propostas de defesa criacionistas, mais ou menos respectivamente a essas correntes religiosas.

Ainda assim, mesmo dentro de uma única religião base, podem haver diversos tipos de criacionismos discordando em pontos fundamentais sobre como teria se dado a criação.

Um tipo peculiar de criacionismo é o chamado "Projeto Inteligente", que não declara-se vinculado a qualquer religião, e de fato comumente não usa argumentos de cunho meramente religioso, como não é incomum nos demais criacionismos. Alguns de seus defensores inclusive rejeitam o rótulo de "criacionistas", dizendo que mais adequadamente os criacionismos se enquadram dentro da categoria de "projeto inteligente" do que o contrário. Outra particularidade interessante é que os maiores defensores e propositores do termo/hipótese não são contrários a ancetralidade comum universal, diferentemente da maioria dos criacionismos, que ou são fixistas clássicos ou em concepções mais modernas - por vezes rejeitando o rótulo de "fixismo", mas ainda defendendo limites para a ancestralidade, criações especiais - não de espécies, mas de grupos mais abrangentes.

Apesar dessas diferenças entre projeto inteligente e os criacionismos religiosamente explícitos, defensores dos últimos muitas vezes também os defendem sob o rótulo de "projeto inteligente".

Bíblicos[editar | editar código-fonte]

Defendem a literalidade do livro do Gênesis, em diferentes graus e interpretações. Defendem também que os seres vivos foram projetados por Jeová, em diferentes graus de minuciosidade, indo desde minuciosidade absoluta (adaptacionismo) até um planejamento consideravelmente mais vago e com maior maleabilidade de evolução, mas negando ainda assim a ancestralidade comum universal (na maioria dos casos que realmente faz sentido chamar-se de criacionismos). Dividem-se principalmente em criacionismos da Terra jovem e criacionismos da Terra antiga.

Terra jovem[editar | editar código-fonte]

Os criacionismos da Terra jovem acreditam que a idade da Terra seja de algo entre 6 000 a 10 000 anos apenas, em vez de cerca de 4,5 bilhões de anos defendidos pela ciência. Há diversas linhas de argumentação:

  • Estimativas feitas pelo bispo anglicano James Ussher com base na longevidade de personagens bíblicos;
  • Taxas de fenômenos naturais, se tomadas como constantes, resultariam em conclusões absurdas se a idade da Terra ou do universo fosse a que é defendida pela ciência convencional;


O dilúvio universal teria causado por acaso a ilusão de eras geológicas inexistentes, segundo eles devido a flutuabilidade dos seres e outras características hidrodinâmicas que de alguma forma fariam com que fossem sempre fossilizados exatamente como esperaria-se do registro fóssil de uma longa história de modificação gradual na descendência dos seres durante as eras. O diúvio universal também teria sido o mecanismo causador de diversas formações geológicas como montanhas e o posicionamento atual dos continentes, em substituição à deriva continental "evolucionista".

Alguns no entanto admitem que coisas como a fossilização em "falsas" eras geológicas criando por acaso a ilusão de história evolutiva, até a distribuição geográfica dos seres vivos, também coincidentemente de acordo com uma história de evolução, são na verdade problemas preocupantes levantados pelo dilúvio.[2]

Defendem variados graus de fixismo, desde o clássico, onde o "tipo" refere-se à espécie, em que Jeová desenvolveu cada uma dos bilhões de espécies existentes e extintas; até os mais modernos, que defendem criações especiais de um número menor de espécies, que poderiam evoluir limitadamente, de acordo com seu tipo.

Defendem também uma idade mais jovem para o universo e negam teorias com a do big bang, da relatividade, e menos comumente, heliocentrismo (geocentristas) e a esfericidade do planeta Terra ("flat-Earthers").

Terra antiga[editar | editar código-fonte]

Os criacionismos da Terra antiga ou velha - aceitam a idade da Terra defendida pela ciência, de 4,5 bilhões de anos, e não raramente também também heliocentrismo, uniformitarianismo, esfericidade da Terra, relatividade, e até mesmo a teoria do big-bang e a idade calculada do universo.

Cientistas e pesquisadores das áreas pertinentes, quando não são pessoalmente crentes na necessidade teológica da interpretação bíblica de uma idade jovem para a Terra não aceitam a validade científica dos questionamentos ou sugestões propostas pelos criacionistas da Terra jovem nesse sentido. Os críticos também argumentam que a maior parte dos esforços desses criacionistas se concentra em de alguma forma tentar implicar que a Terra e/ou o universo não sejam tão antigos como é normalmente defendido, mas sem no entanto apresentar avaliações precisas sobre qual seria a idade "verdadeira" da Terra.

Por aceitarem a idade da Terra, muitos desses criacionistas aceitam também as eras geológicas como sendo reais, mas sem no entanto necessariamente aceitar que sobreviveram descendentes biológicos de uma era na seguinte. O padrão de similaridades que ciência usa como indicativo de parentesco biológico (e parcialmente aceito por alguns criacionismos da Terra jovem) se deveria apenas a similaridade de planejamento, coincidentemente resultando numa distribuição de caracteres exatamente como se esperaria da restrição por linhagens biológicas.

Também tem diversas divisoesm como por exemplo, defensores da teoria do intervalo, que interpretam como tendo ocorrido um longo intervalo de tempo entre versículos 1:1 e 1:2 do Gênesis, dando uma idade antiga para a Terra, seguida da criação em seis dias; defensores da teoria do dia-era, para os quais o termo utilizado comumente traduzido como "dia" no Gênesis não corresponde necessariamente ao período de 24 horas dos dias atuais, mas pode ser compreendido como eras de milhões de anos.

Alcorânicos[editar | editar código-fonte]

A narração do corão quanto a criação é consideravelmente vaga, e distribuída por vários capítulos, permitindo uma maior quantidade de interpretações. Consideram o Gênesis uma versão corrompida da palavra de Deus (Alá). Apesar disso, boa parte da argumentação pretensamente científica dos criacionismos cristãos é comum aos criacionismos islâmicos, principalmente no que se refere ao planejamento dos seres vivos.

Toráicos[editar | editar código-fonte]

O judaísmo tem um continuum de visões sobre a criação, origem da vida e o papel da evolução na formação das espécies. As maiores denominações judaicas, incluindo vários grupos de judeus ortodoxos, aceitam o criacionismo evolutivo ou evolução teísta. A abordagem contemporânea do judaísmo, exceto as tradições ortodoxas, é de não se levar a torá literalmente, mas como um trabalho simbólico sem uma interpretação definitiva. Já os grupos mais ortodoxos que acreditam que tal como Deus pôde ter criado o homem e as árvores no seu estado adulto, e a luz no meio do caminho entre estrelas, pode-se então também acreditar que o mundo foi criado na sua "forma adulta", admitindo que não há e não podem haver meios físicos de verificar isso. Essa crença é defendida pelo rabino dr. David Gottlieb, ex-professor de filosofia na universidade John Hopkins. Também, fontes cabalísticas relativamente antigas de muito antes da idade aparente do universo ser cientificamente estimada, estão em acordo próximo com as modernas estimativas científicas da idade do universo, segundo o rabino Aryeh Kaplan. Outro paralelo interessante é trazido, dentre outras fontes, por Nachmanides, que declara [Exegese|exegeticamente]] que houve espécies similares a neandertais com as quais Adão teria acasalado. Isso foi defendido muito antes dos neandertais terem sido descobertos cientificamente.

Projeto inteligente[editar | editar código-fonte]

Projeto inteligente é uma vertente mais nova de criacionismo cuja característica mais peculiar é de não ser religiosamente explícito. Alguns de seus principais defensores defendem apenas que certas características adaptativas dos seres vivos não teriam evoluído por seleção natural ou qualquer outro meio ainda por ser descoberto, mas teriam sido inteligentemente projetadas, por seres que podem ou não ser os mesmos deuses de alguma religião qualquer, mas ao mesmo tempo, aceitando a ancestralidade comum universal e a idade da Terra proposta pela ciência[3][4][5].

Alguns defensores de criacionismos religiosamente explícitos criticam essa posição laica da hipótese de projeto inteligente[6]. Defendem que ao se deixar vaga a identidade do projetista inteligente, abre-se espaço para o entendimento de que ele é qualquer um dos deuses de qualquer religião, ou alguma crença de nova era, ou ainda algum ser ou conjunto de seres extraterrestres. Também não haveria como confrontar a afirmação de que o ser ou seres responsáveis pelos projetos dos seres vivos são ineptos ou mesmo malignos - como inferência de adaptações para hábitos predatórios, pestes biológicas e projetos imperfeitos - o que, do ponto de vista de criacionismos explicitamente cristãos, por exemplo, poderia se tentar explicar como tendo sido de alguma forma causados pelo pecado de Adão.

Seus argumentos principais são o da complexidade irretutível e a complexidade especificada. "Complexidade irredutível" é um termo usado para se se referir às coisas que, segundo a analogia do relógio de Paley, não seriam possíveis de evoluir por meios naturais conhecidos. Os defensores do projeto inteligente no entanto costumam aplicar a analogia para outras características que as comumente citadas pelos outros tipos de criacionistas, como por exemplo, a bioquímica. "Complexidade especificada" seria um tipo de complexidade presente nos organismos vivos (e projetos inteligentes), que seria específica demais para ter surgido apenas por mecanismos naturais conhecidos, supondo então que no mínimo deve ter tido sua evolução guiada, ou alternativamente, ter sido criada do nada. Geralmente refere-se a informação genética presente nos genomas das espécies.

Ítens defendidos pelos principais criacionismos bíblicos[editar | editar código-fonte]

Os criacionismos mais populares atualmente tem como base o livro do gênesis, o primeiro livro da bíblia. Podem ainda assim defender pontos de vista diferentes sobre diversos aspectos. Alguns desses pontos de vista são mutuamente excludentes, como por exemplo, a defesa de uma idade antiga e de uma idade jovem para a Terra. Mas ao mesmo tempo, alguns defensores de uma idade antiga podem defender pontos biológicos em comum com um defensor de uma Terra jovem, e esse da mesma forma pode disicordar de outros defensores da Terra jovem, nesse aspecto. Por exemplo, criacionistas defensores de uma Terra jovem podem tanto defender um grau de fixismo clássico - as espécies sendo fixas - enquanto outro defende a mesma idade para a Terra, mas no entanto aceita um grau maior de parentesco biológico entre os seres, um menor grau de fixismo - teriam surgido algumas novas espécies, mas não teriam todas se originado de um ancestral comum universal. Um terceiro defensor de uma idade jovem para a Terra poderia ainda defender que houveram especiações, mas discordando quanto a quantidade, mecanismos e outros aspectos pelos quais elas teriam ocorrido.

Fixismo[editar | editar código-fonte]

Artigo principal: fixismo

O fixismo clássico basicamente extrapola a observação de que os descendentes de uma espécie são indivíduos daquela mesma espécie, para toda a história dos seres vivos. Defendem que é possível haver variação dentro de uma espécie, mas toda espécie sempre permanecerá em essência a mesma, de alguma forma nunca dividindo-se em outras. A fundamentação religiosa para essa posição é quando a bíblia diz que os seres "reproduzem-se segundo sua espécie/tipo". Muitos criacionistas menos familiarizados com a biologia evolutiva errôneamente acreditam que as idéias atualmente defendidas sejam de que isso não ocorre na evolução, que na concepção deles seria ainda algo necessariamente saltacionista ou mutacionista, quando a visão proposta por Darwin e hoje defendida é de modificações gradualistas.

Esse tipo de fixismo não é muito comumente defendido atualmente pelos criacionistas que defendem também a Terra jovem e ocorrência de um dilúvio universal, pela constatação e aceitação de que o número de espécies vivas e recentemente extintas, se tivessem que ser levados em casais na arca de Noé, juntamente com, previsivelmete, provisões para todos eles durante um ano, superaria em muito a capacidade dessa embarcação. A solução é assim aceitar que o termo utilizado na bíblia não refere-se ao conceito atual de espécie biológica mas de um grupo mais abrangente de seres biologicamente aparentados. Assim sendo, poderiam ter sido levados na arca um número bem menor de indivíduos que após o desembarque teriam evoluído em seus parentes próximos, vivos ou recentemente extintos - os mesmos apontados pelos defensores da ancestralidade comum universal, tendo seu parentesco defendido pelas mesmas linhas de evidência.[7]

Há uma área desses criacionismos chamada baraminiologia ("baramin" é termo na bíblia que foi traduzido como "tipo" ou "espécie"), que pretende determinar quais seriam os limites da ancestralidade existente entre os seres vivos. É uma área confusa, pois as mesmas linhas de evidências aceitas para defender a ancestralidade até dado ponto conduziriam logicamente a uma ancestralidade anterior, eventualmente indo parar na ancestralidade comum universal. Acabam então sendo mais ou menos arbitrários os limites sugeridos para o parentesco pelas diversas correntes criacionistas.

A defesa deles quanto a esse ponto é de que Deus poderia ter criado a partir do nada (ou ex nihilo, a expressão em latim) grupos de seres que de fato teriam todas evidências de parentesco, sem que no entanto tivesse ocorrido uma história real de descendência; exatamente da mesma forma que poderia criar a partir do nada um irmão gêmeo de uma pessoa, com os mesmos genes e idade aparente, mas que na verdade nunca teria nascido, ou estado no mesmo útero de sua cópia/"irmão".

Criações especiais[editar | editar código-fonte]

A imensa maioria dos criacionistas, tanto defensores da Terra jovem quanto da idade antiga científicamente defendida, defendem que os seres todos não descendem de um ancestral comum universal, mas sim que "tipos" de seres - todas as espécies, para os fixistas clássicos - foram criados separadamente, sem serem parentes biológicos verdadeiros. Arguemntam que, apesar de se poder defender a existência de evidências de parentesco, isso não implica necessariamente uma história real de descendência, pois os seres poderiam ter sido criados do nada já com essas características, coincidentemente as esperadas pelo parentesco biológico.

Criacionistas da Terra jovem defendem que ocorreu apenas um grande episódio de criações especiais, onde todos os "tipos originais", ou todas as espécies, segundo alguns, foram contemporâneas, tendo ocorrido praticamente apenas uma grande extinção em massa, decorrente de um suposto dilúvio universal.

Criacionistas fixistas que aceitam a idade antiga da Terra defendem que houveram vários episódios de criações e extinções em massa, ao longo das eras, e assim sendo, os estratos geológicos relativos à eras e suas respectivas biotas seriam um fenômeno real, em vez de mera coincidência. Mas a biota de uma era não necessariamente teria deixado descendentes na seguinte. Alguns defendem que seres muito similares, daqueles que são apontados pelos evolucionistas e por alguns criacionistas da Terra jovem como parentes biológicos, teriam sido extintos, mas "versões" um pouco diferentes teriam sido recriadas, a partir do nada, para a era seguinte.

Críticas ao criacionismo[editar | editar código-fonte]

Crítica científica[editar | editar código-fonte]

Mesmo os criacionistas muitas vezes admitem que os criacionismos não são teorias científicas[8], ao menos não na concepcção que hoje se têm de ciência. Michael Behe, principal defensor da hipótese do projeto inteligente chegou a mencionar que por uma definição tão ampla de "teoria" científica, a astrologia também poderia ser assim considerada[9].

Alguns costumam argumentar que a visão de ciência e do método científico atuais são muito restritivas por serem necessariamente naturalistas, e afirmam ser possível se usar explicações sobrenaturais para fenômenos. Podem, de modo extremamente relativista, defender também que fé e ciência misturam-se, e que mesmo a ciência é em muitos casos uma questão de fé. Isso é incorreto ou extrememente relativista ao desconsiderar que a investigação científica trabalha com evidências e previsões teóricas, métodos para confirmar as teorias, e através desse processo pode-se estar bem mais seguro da certeza do conhecimento de forma que não tem a mesma natureza daquilo que normalmente se chama de fé. Richard Dawkins escreveu:

Mostre-me um relativista cultural a trinta mil pés de altura e eu te mostrarei um hipócrita. Aviões são construídos de acordo com princípios científicos e funcionam. Eles se mantém no ar e te levam a um destino escolhido. Aviões consturidos por especificações tribais ou mitológicas como as imagens de aviões dos cultos de Cargo em clareiras na selva ou asas de cera de Ícaro não.

O fato de existirem cientistas defendendo algum criacionismo por si só não torna esse criacionismo científico. Célebres e renomados cientistas ao longo da história já defenderam conceitos que não são científicos, ou pseudocientíficos, e isso pode ocorrer ainda hoje. Freqüentemente criacionistas citam que indivíduos como Isaac Newton (1642-1727) eram criacionistas, como forma de apelo à autoridade. No entanto é muito relevante o fato de Newton ter vivido e morrido muito antes que a teoria da evolução das espécies propriamente dita existisse, que o conceito tivesse iniciado a ser científicamente embasado por Charles Darwin (1809-1882) e os outros cientistas que o sucederam. Levando isso em conta, é muito compreensível que Newton se convencesse mais pela explicação religiosa tradicional do que por uma hipótese vaga e mal embasada, que ainda por cima, conflitava com a literalidade de suas crenças.

Além disso, outros grandes cientistas ao longo da história como Tycho Brahe, Galileo Galilei, Johannes Kepler e Pierre Gassendi, também davam grande credibilidade à astrologia[10], que é algo que mesmo muitos criacionistas não aceitam como sendo científico, e de fato, não é. A crença desses cientistas na astrologia não a torna científica, não importa o quão importantes tenham sido. Também é irrelevante mesmo quanto a cientistas mais atuais, como Kary Mullis, ganhador do prêmio Nobel, comumente creditado como inventor da tecnologia de RCP, que ao mesmo tempo acredita em astrologia e nega a relacão do HIV com a AIDS, tendo sido co-autor de um artigo sobre esse assunto juntamente com Phillip Johnson, membro do Discovery Institute[11] (instituto de defesa de um criacionismo bíblico).

Cientistas são seres humanos, falíveis, e não é apenas por defenderem algo que esse algo torna-se científico. Uma teoria para ser de fato científica deve seguir o método científico, ser passível de comprovação - e de refutação. Uma hipótese que visa explicar um fenômeno ou uma série deles também não é comprovada simplesmente ao se refutar uma hipótese alternativa. Ainda que as teorias científicas que compõem aquilo que se chama de evolucionismo fossem de fato cientificamente refutadas, ainda haveria a necessidade de se comprovar alguma teoria alternativa, que não seria necessariamente qualquer dos criacionismos existentes ou algum ainda por ser inventado. Qualquer que fosse o caso, essa teoria ou conjunto de teorias teriam que ser comprovadas por si próprias, ao mesmo tempo em que fossem passíveis de refutação.

Há uma diferença fundamental entre a abordagem científica e a criacionista para a expliação do mundo natural. As áreas da ciência defindas pelos criacionistas como "evolucionismo" contém teorias construídas a partir do método científico, como meio de descobrir informações sobre a natureza (como achados da paleontologia, observações astronômicas e físicas), e essas teorias produzem previsões que podem ser testadas experimentalmente — o que inclui não apenas a confirmação, mas também a possibildade de refutação. Sempre que novos dados refutam as teorias propostas, lançam-se novas hipóteses, ou corrige-se a teoria. Note-se contudo que é assim mesmo que a ciência evolui ela mesma - pela constante rectificação de teorias e pela constante experimentação, não com o objectivo de assegurar uma conclusão pré estabelecida arbitrariamente, mas de procurar onde estão as falhas, para que estas possam ser corrigidas e expostas de forma mais aproximada da realidade. O criacionismo trabalha na direção inversa, ao partir do pressuposto da literalidade de algum texto religioso (ou da simples ocorrência da criação de forma menos específica) e interpretar os dados científicos de forma a corroborarem essa conclusão pré-concebida. Quaisquer observações contrárias são ou ignoradas ou negadas, e essa é uma postura fundamentalmente anti-científica.

Anti-evolucionismo[editar | editar código-fonte]

Durante a maior parte do tempo, os criacionistas são mais anti-evolucionistas do que criacionistas propriamente, ou seja, concentram suas argumentações mais em tentativas de refutar o algo dentre as áreas da ciência que conflitem com sua específica interpretação de alguma escritura ou narrativa religiosa, do que em comprovar a veracidade dessa interpretação.

A argumentação da pretensa refutação de alguma afirmação ou previsão (não necessariamente correspondente ao que os cientistas realmente defendem) de algo dentro do "evolucionismo", tipicamente é exposta com uma conclusão implícita de que não apenas esse algo, mas tudo mais que possa ser rotulado como tal — todas as demais áreas da ciência conflitantes com aquele criacionismo específico — foi refutado; e que por eliminação, esse criacionismo foi comprovado, na verdade, sem nunca ter se sujeitado a teste durante a argumentação.

Essas argumentações anti-evolucionistas estão repletas de conceitos errôneos sobre as partes da ciência conflitantes com cada criacionismo, muitas vezes provenientes de desconhecimento popular, em outras vezes espantalhos cuidadosamente construidos para que possam ser facilmente refutados e criar uma falsa imagem das teorias vigentes.

Criacionistas por vezes tentam minimizar o poder explanatório ou a validade das teorias científicas às quais se opoem, em especial da teoria da evolução biológica, criticando-as por serem "apenas teorias", implicando que a palabra "teoria" seja um sinônimo de "conjectura" ou "especulação", em vez da acepção mais técnica, de um modelo para algum fenômeno a partir do qual hipóteses refutáveis podem ser geradas e verificadas através de observação empírica.

Críticas teológicas[editar | editar código-fonte]

Em "Intelligent Design as a Theological Problem" (Projeto Inteligente como um Problema Teológico), George Murphy argumenta contra a visão comum de que a vida na Terra em todas as suas formas seria uma evidência direta do ato de criação divina (Murphy cita a afirmação de Phillip Johnson sobre "um Deus que agiu livremente e deixou suas digitais em todas as evidências"). Murphy argumenta que essa visão de Deus é incompatível com a compreensão cristã de Deus como "aquele revelado na crucificação e ressurreição de Jesus." A base para essa teologia é Isaías 45:15, "Realmente tu és um Deus que esconde a ti mesmo, ó Deus de Israel, o Salvador." Esse verso inspirou Blaise Pascal a escrever, "o que chega aos nossos olhos não denota uma total ausência nem uma presença manifesta do divino, mas a presença de um Deus que oculta a si próprio". Na "Disputa de Heidelberg", Martinho Lutero se referiu ao mesmo verso bíblico para propor sua "teologia da cruz": "Uma pessoa não merece ser chamada de teólogo ao olhar para as coisas invisíveis de Deus ainda que elas sejam claramente perceptíveis nas coisas que realmente aconteceram... Ela merece ser chamado de teólogo, de qualquer forma, ao comprender as coisas visíveis e manifestas de Deus vistas através do sofrimento e da cruz."

Lutero opunha suateologia da cruz ao que ele chamava de "teologia da glória":

Um teólogo da glória não reconhece, junto com os apóstolos, o Deus oculto e crucificdo apenas [I Cor. 2.2]. elevê e fala da gloriosa manifestação de Deus em meio aos infiéis, como sua natureza invisível pode serconehcida pelas coisas que são visíveis [Cf. Rom. 1:20] e como ele está presente e poderoso em todas as coisas em todos os lugares.

Para Murphy, os criacionistas são os teólogos da glória dos dias modernos. Seguindo Lutero, Murphy argumenta que um verdadeiro cristão não pode descobrir a Deus a partir de pistas na criação, mas apenas em Jesus crucificado.

Murphy observa que a execução de um carpinteiro judeu por autoridades romanas é um evento ordinário em si mesmo e não requer ação divina. Ao contrário, para a crucificação ocorrer, Deus teve que limitar ou "esvaziar" a si mesmo. Foi por essa razão que Paulo escreveu, em Filipenses 2:3-8

Tenhais em mente entre vós, assim como teve Cristo Jesus, quem, ainda que fosse Deus, não viu nisso uma coisa para se apegar, mas esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, tendo nascido na forma humana. E ao se encontrar na forma humana ele foi humilde a si mesmo e se tornou obediente até a morte, mesmo uma morte numa cruz.

Murphy conclui que,

Assim como o filho de Deus se limitou ao tomar uma forma humana e morrer numa cruz, Deus limita as ações divinas no mundo de acordo comas leis racionais que Deus escolheu. Isso permite a nós compreendermos o mundo em seus próprios termos, mas também significa que os processos naturais ocultam deus da observação científica.

Para Murphy, a teologia dea cruz requer que os cristãos aceitem um naturalismo metodológico, significando que não se pode invocar a Deus como explicação para fenômenos naturais, mas ao mesmo tempo reconhece que essa posição não requer a aceitação de um naturalismo metafísico, que propõe que a natureza é tudo que existe.

De acordo com Emil Brunner, "Deus não deseja ocupar todo seu espaço, mas deixar espaço para outras formas de existência... ao fazê-lo, Ele limita a Si mesmo." É onde Deus é limitado por si mesmo que os humanos devem usar sua própria inteligência para compreender o mundo e — comprender as leis da gravidade bem como a evolução – sem apelar para Deus como uma explicação.

Em março de 2006, o arcebismo de Canterbury, Rowan Williams, o líder mundial dos Anglicanos, declarou que se opunha ao ensino do criacionismo nas escolas. "Minha preocupação é que o criacionismo pode acabar reduzindo a doutrina da criação em vez de favorecê-la", William explicou. Também explicou que o criacionismo é "um tipo de erro categórico, como se a bíblia fosse uma teoria como outras teorias."

Santo Agostinho[editar | editar código-fonte]

Em seu trabalho "O Significado Literal do Gênesis" (De Genesi ad litteram libri duodecim) Santo Agostinho, embaraçado por cristãos que não iriam aceitar essa implicação da Doutrina da Criação, escreveu contra eles.

Geralmente, mesmo alguém que não é cristão conhece algo sobre a Terra, [...] e esse conhecimento é tido como sendo proveniente de razão e experiência. Agora, é uma perigosa desgraça para um infiel escutar um cristão, presumivelmente dando o significado da Escritura Sagrada, falar de absurdos nesses assuntos; e nós devemos usar de todos meios para prevenir uma situação tão embaraçosa, na qual pessoas mostram vasta ignorância num cristão e riem até o escárnio. A vergonha não é tanto que um indivíduo ignorante foi ridicularizado, mas pelas pessoas de fora do lar da fé pensem que nossos escritores sgrados tinham essas opiniões, e, pela grande perda desses pela qual a salvação nós nos esforçamos, os escritoes da nossa Escritura são criticados e rejeitados como homens ignorantes. Se eles encontram um cristão enganado num campo que eles mesmos conhecem bem e escutam-no mantendo suas opiniões tolas sobre nossos livros, como eles vão acreditar nesses livros no que se refere à ressurreição dos mortos, de esperança e vida eterna, e do reino do paraíso, quando eles pensam que essas páginas estão cheias de falsidades sobre fatos que eles mesmos aprenderam através de experiência e à luz da razão?

Orígenes[editar | editar código-fonte]

Orígenes, um estudioso cristão e teólogo, um dos mais distintos pais da jovem igreja cristã do século III, escreveu, em De Principiis:

Que pessoa inteligente poderia imaginar que houve um primeiro dia, então um segundo e terceiro dia, tarde e manhã, sem o sol, a lua e as estrelas? E que o primeiro dia — se é que faz sentido se chamar assim – existia mesmo sem o céu? Quem é tolo o suficiente para acreditar que, como um jardineiro humano, Deus plantou o Éden no oriente e colocou nele uma árvore da vida, física e visível, de forma que ao moder dessa fruta alguém obtivesse vida? E que ao comer de outra árvore, alguém fosse conhecer o bem e o mal? E quando é dito que Deus andou no jardim durante a tarde e que Adão se escondeu atrás de uma árvore, eu não posso imaginar que qualquer um iria duvidar que esses detalhes apontam simbólicamente para significados espirituais fazendo uso de uma narrativa histórica que não ocorreu literalmente.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Este artigo incorpora parte do artigo "Creationism.", da Wikipedia em inglês, de 22 Apr 2006, 22:35 UTC, licenciado como GNUFDL.

  1. Alan D. Gishlick (National Center for Science Education), "Why much of what Jonathan Wells writes about evolution is wrong", icon #6, peppered moths
  2. Sociedade Criacionista Brasileira, "Dilúvio"
  3. Carl Wieland, (Answers in Genesis), "AiG’s views on the Intelligent Design Movement"
  4. Michael J. Behe, ARN, "Darwin Under the Microscope"
  5. Kenneth R. Miller, Darwin's Black Box reviewed
  6. Stephen E. Jones, "Why I (a Creationist) Accept Common Ancestry"
  7. Marcia Oliveira de Paula, Ph.D.,"Podem os criacionistas aceitar a origem de novas espécies?"
  8. Sociedade Criacionista Brasileira, "Criação e a ciência"
  9. NewScientist.com, "Astrology is scientific theory, courtroom told"
  10. Robert H. van Gent, SkepticReport.com, "Isaac Newton and Astrology - Witness for the Defence or for the Prosecution?"
  11. Kary B. Mullis, Phillip E. Johnson & Charles A. Thomas Jr.,"Dissention on AIDS - The case against HIV-causes-AIDS hypothesis"