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Batalha de Hastings: diferenças entre revisões

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A '''batalha de Hastings''' foi travada em 14 de outubro de 1066 entre o exército franco-normando do duque [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme II da Normandia]] e um exército inglês sob o rei [[Anglo-saxões|anglo-saxão]] [[Haroldo II de Inglaterra|Haroldo II]], durante a [[conquista normanda da Inglaterra]]. Decorreu cerca de 11 quilômetros a noroeste de [[Hastings]], perto da cidade atual de [[Battle (East Sussex)|Battle, East Sussex]], e teve como resultado uma vitória [[Normandos|normanda]] decisiva.
A '''batalha de Hastings''' foi travada em 14 de outubro de 1066 entre o exército franco-normando do duque [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme II da Normandia]] e um exército inglês sob o rei [[Anglo-saxões|anglo-saxão]] [[Haroldo II de Inglaterra|Haroldo II]], durante a [[conquista normanda da Inglaterra]]. Ocorreu cerca de 11 quilômetros a noroeste de [[Hastings]], perto da cidade atual de [[Battle (East Sussex)|Battle, East Sussex]], e teve como resultado uma vitória [[Normandos|normanda]] decisiva.


O antecedente da batalha foi a morte do rei sem filhos [[Eduardo, o Confessor]], em janeiro de 1066, que instituiu uma luta pela sucessão entre vários pretendentes ao trono. Haroldo foi coroado rei logo após a morte de Eduardo, mas enfrentou invasões de Guilherme, seu próprio irmão [[Tostig Godwinson|Tostig]] e o rei norueguês [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]] (Haroldo III da Noruega). Hardrada e Tostig derrotaram um exército apressadamente reunido dos ingleses na [[batalha de Fulford]] em 20 de setembro de 1066, e foram, por sua vez derrotados por Haroldo na [[batalha de Stamford Bridge]], cinco dias depois. As mortes de Tostig e Hardrada em Stamford Bridge deixaram Guilherme como único adversário sério de Haroldo da Inglaterra. Enquanto Haroldo e suas forças estavam se recuperando da batalha, Guilherme desembarcou suas forças de invasão no sul da Inglaterra, em [[Pevensey]] em 28 de setembro de 1066 e estabeleceu uma praça de armas para a conquista do reino. Haroldo foi forçado a marchar ao sul rapidamente, reunindo forças enquanto andava.
O antecedente da batalha foi a morte do rei [[Eduardo, o Confessor]], sem filhos, em janeiro de 1066, o que ocasionou uma luta pela sucessão entre vários pretendentes ao trono. Haroldo foi coroado rei logo após a morte de Eduardo, mas enfrentou invasões de Guilherme, de seu próprio irmão [[Tostig Godwinson|Tostig]] e do rei norueguês [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]] (Haroldo III da Noruega). Hardrada e Tostig derrotaram um exército apressadamente reunido pelos ingleses na [[batalha de Fulford]] em 20 de setembro de 1066, e foram, por sua vez derrotados por Haroldo na [[batalha de Stamford Bridge]], cinco dias depois. As mortes de Tostig e Hardrada em Stamford Bridge deixaram Guilherme como único adversário sério de Haroldo da Inglaterra. Enquanto Haroldo e suas forças estavam se recuperando da batalha, Guilherme desembarcou suas forças invasoras no sul da Inglaterra, em [[Pevensey]], em 28 de setembro de 1066 e estabeleceu uma praça de armas para a conquista do reino. Haroldo foi forçado a marchar rapidamente ao sul, reunindo forças enquanto andava.


Os números exatos presentes na batalha são desconhecidos; as estimativas estão em torno de {{Formatnum|10000}} soldados para Guilherme e cerca de {{Formatnum|7000}} para Haroldo. A composição das forças é mais clara; o exército inglês era composto quase inteiramente de [[infantaria]] e tinha poucos [[arqueiro]]s, enquanto que apenas cerca da metade da força invasora era de infantaria, o restante dividido igualmente entre a cavalaria e arqueiros. Haroldo parece ter tentado surpreender o duque da Normandia, mas escuteiros encontraram seu exército e relataram sua chegada a Guilherme, que marchou de Hastings ao campo de batalha para enfrentar o rei da Inglaterra. A batalha durou cerca de nove horas ao anoitecer. Os primeiros esforços dos invasores a quebrar as linhas de batalha inglesa tiveram pouco efeito; portanto, os normandos adotaram a tática de fingir que fugiam em pânico e então cruzar seus perseguidores. A morte de Haroldo, provavelmente perto do fim da batalha, levou à retirada e derrota da maioria de seu exército. Após novas marchas e algumas escaramuças, Guilherme foi coroado rei no dia do Natal de 1066.
Os números exatos presentes na batalha são desconhecidos; as estimativas estão em torno de {{Formatnum|10000}} soldados para Guilherme e cerca de {{Formatnum|7000}} para Haroldo. A composição das forças é mais clara; o exército inglês era composto quase inteiramente de [[infantaria]] e tinha poucos [[arqueiro]]s, enquanto que apenas cerca da metade da força invasora era de infantaria, o restante dividido igualmente entre a cavalaria e arqueiros. Haroldo parece ter tentado surpreender o duque da Normandia, mas escuteiros encontraram seu exército e relataram sua chegada a Guilherme, que marchou de Hastings ao campo de batalha para enfrentar o rei da Inglaterra. A batalha durou cerca de nove horas ao anoitecer. Os primeiros esforços dos invasores a quebrar as linhas de batalha inglesa tiveram pouco efeito; portanto, os normandos adotaram a tática de fingir que fugiam em pânico e então atacar seus perseguidores. A morte de Haroldo, provavelmente perto do fim da batalha, levou à retirada e derrota da maioria de seu exército. Após novas marchas e algumas escaramuças, Guilherme foi coroado rei no dia do Natal de 1066.


Embora continuasse a haver rebeliões e resistência ao regime do duque da Normandia, Hastings efetivamente marcou o culminar da conquista de Guilherme na Inglaterra. Números das vítimas são difíceis de se obter, mas alguns historiadores estimam que {{Formatnum|2000}} invasores morreram junto com um número cerca de duas vezes maior dos ingleses. Guilherme fundou um mosteiro no local da batalha, o altar-mor da igreja da abadia, supostamente colocado no local onde Haroldo morreu.
Embora continuasse a haver rebeliões e resistência ao regime do duque da Normandia, Hastings efetivamente marcou o culminar da conquista de Guilherme na Inglaterra. Números de vítimas são difíceis de se obter, mas alguns historiadores estimam que {{Formatnum|2000}} invasores morreram junto com um número cerca de duas vezes maior de ingleses. Guilherme fundou um mosteiro no local da batalha, o altar-mor da igreja da abadia, supostamente colocado no local onde Haroldo morreu.


== Prelúdio ==
== Prelúdio ==
Em 911, o governante [[Dinastia carolíngia|franco-carolíngio]] [[Carlos III de França|Carlos, o Simples]] permitiu que um grupo de vikings sob seu líder [[Rollo]] se estabelecessem na [[Normandia]].<ref name=Bates8>Bates ''Normandy Before 1066'' pp. 8–10</ref> Sua solução foi bem sucedida,<ref name=Normans15/>{{nota de rodapé|Os vikings na região ficaram conhecidas como os "homens do Norte" do qual "Normandia" e "Normandos" são derivados.<ref name=Normans15>Crouch ''Normans'' pp. 15–16</ref>}} e eles se adaptaram rapidamente à cultura nativa, renunciando o [[paganismo]], convertendo-se ao [[cristianismo]],<ref name=Bates12>Bates ''Normandy Before 1066'' p. 12</ref> e casando-se com a população local.<ref name=Bates20>Bates ''Normandy Before 1066'' pp. 20–21</ref> Com o tempo, as fronteiras do ducado se expandiram ao oeste.<ref name=Capet53>Hallam and Everard ''Capetian France'' p. 53</ref> Em 1002, o rei [[Etelredo II de Inglaterra]] casou-se com [[Ema da Normandia|Ema]], a irmã de [[Ricardo II de Normandia|Ricardo II, duque da Normandia]].<ref name=Unready54>Williams ''Æthelred the Unready'' p. 54</ref> Seu filho [[Eduardo, o Confessor]], que passou muitos anos em exílio na Normandia, sucedeu ao trono inglês em 1042.<ref name=Ruling3>Huscroft ''Ruling England'' p. 3</ref> Isto levou à criação de um poderoso interesse normando na política inglesa, como Eduardo se baseou fortemente em seus antigos anfitriões de apoio, trazendo cortesões, soldados e clérigos normandos e os nomeando a cargos de poder, particularmente na Igreja. Sem filhos e envolvido em conflito com o formidável [[Godwin, Conde de Wessex]] e seus filhos, Eduardo também pode ter incentivado as ambições do duque Guilherme da Normandia ao trono da Inglaterra.<ref name=Unification86>Stafford ''Unification and Conquest'' pp. 86–99</ref>
Em 911, o governante [[Dinastia carolíngia|franco-carolíngio]] [[Carlos III de França|Carlos, o Simples]] permitiu que um grupo de vikings sob seu líder [[Rollo]] se estabelecessem na [[Normandia]].<ref name=Bates8>Bates ''Normandy Before 1066'' pp. 8–10</ref> Sua solução foi bem sucedida,<ref name=Normans15/>{{nota de rodapé|Os vikings na região ficaram conhecidas como os "homens do Norte" do qual "Normandia" e "Normandos" são derivados.<ref name=Normans15>Crouch ''Normans'' pp. 15–16</ref>}} e eles se adaptaram rapidamente à cultura nativa, renunciando ao [[paganismo]], convertendo-se ao [[cristianismo]],<ref name=Bates12>Bates ''Normandy Before 1066'' p. 12</ref> e casando-se com a população local.<ref name=Bates20>Bates ''Normandy Before 1066'' pp. 20–21</ref> Com o tempo, as fronteiras do ducado se expandiram a oeste.<ref name=Capet53>Hallam and Everard ''Capetian France'' p. 53</ref> Em 1002, o rei [[Etelredo II de Inglaterra]] casou-se com [[Ema da Normandia|Ema]], a irmã de [[Ricardo II de Normandia|Ricardo II, duque da Normandia]].<ref name=Unready54>Williams ''Æthelred the Unready'' p. 54</ref> Seu filho [[Eduardo, o Confessor]], que passou muitos anos em exílio na Normandia, sucedeu ao trono inglês em 1042.<ref name=Ruling3>Huscroft ''Ruling England'' p. 3</ref> Isto levou à criação de um poderoso interesse normando na política inglesa, pois Eduardo apoiou-se fortemente em seus antigos anfitriões, trazendo cortesões, soldados e clérigos normandos e nomeando-os a cargos de poder, particularmente na Igreja. Sem filhos e envolvido em conflito com o formidável [[Godwin, Conde de Wessex]] e seus filhos, Eduardo também pode ter incentivado as ambições do duque Guilherme da Normandia ao trono da Inglaterra.<ref name=Unification86>Stafford ''Unification and Conquest'' pp. 86–99</ref>


=== Crise de sucessão na Inglaterra ===
=== Crise de sucessão na Inglaterra ===
Após a morte do rei Eduardo em 5 de janeiro de 1066,<ref name=Handbook29>Fryde, et al. ''Handbook of British Chronology'' p. 29</ref>{{nota de rodapé|Há uma ligeira confusão nas fontes originais sobre a data exata; era mais provável 5 de janeiro, mas algumas fontes contemporâneas pregam 4 de janeiro.<ref name=Edward250>Barlow ''Edward the Confessor'' p. 250 e a nota de rodapé 1</ref>}} a falta de um herdeiro claro levou a uma sucessão disputada em que vários candidatos colocaram sua reivindicação ao trono da Inglaterra.<ref name=Death167>Higham ''Death of Anglo-Saxon England'' pp. 167–181</ref> O sucessor imediato de Eduardo era o [[Conde de Wessex]], Haroldo Godwinson, o mais rico e mais poderoso dos aristocratas ingleses e filho de Godwin, o antigo adversário do falecido rei. Haroldo foi eleito rei pela ''[[Witenagemot]]'' da Inglaterra e coroada pelo [[Arcebispo de Iorque]], [[Ealdred]], embora propaganda normanda tenha alegado que a cerimônia foi realizada por [[Stigand]], o não-canonicamente eleito [[Arcebispo de Cantuária]].<ref name=Death167/><ref name=Walker136>Walker ''Harold'' pp. 136–138</ref> Haroldo foi imediatamente contestado pelos seus dois poderosos governantes vizinhos. O duque Guilherme alegou que tinha sido prometido ao trono pelo rei Eduardo e que Haroldo tinha jurado acordo para isso.<ref name=BatesWilliam73>Bates ''William the Conqueror'' pp. 73–77</ref> Haroldo III da Noruega, vulgarmente conhecido como [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]], também contestou a sucessão. Seu direito ao trono foi baseado em um acordo entre seu antecessor [[Magno I da Noruega]], e o rei anterior da Inglaterra [[Hardacanuto]], pelo qual se um morresse sem herdeiros o outro herdaria ambos Inglaterra e Noruega.<ref name=Death188>Higham ''Death of Anglo-Saxon England'' pp. 188–190</ref> Guilherme e Haroldo imediatamente começaram a montar tropas e navios para invasões distintas.<ref name=Ruling12>Huscroft ''Ruling England'' pp. 12–14</ref>{{nota de rodapé|Outros concorrentes mais tarde vieram à tona. O primeiro foi [[Edgar de Wessex|Edgar, o Atelingo]], sobrinho-neto de Eduardo, o Confessor, que era descendente patrilinear do rei [[Edmundo II de Inglaterra|Edmundo, o braço de ferro]]. Era o filho de Eduardo, o Exilado, filho de Edmundo, o braço de ferro, e nasceu na Hungria, onde seu pai tinha fugido após a conquista da Inglaterra por [[Canuto II da Dinamarca|Canuto]]. Após o eventual retorno de sua família à Inglaterra e morte de seu pai em 1057,<ref name=Huscroft96>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 96–97</ref> Edgar teve de longe a mais forte reivindicação hereditária ao trono, mas tinha apenas cerca de treze ou catorze anos, no momento da morte de Eduardo, o Confessor, e com uma família pequena para apoiá-lo, seu pedido foi preterido pela ''Witenagemot''.<ref name=Huscroft132>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 132–133</ref> Outro candidato foi [[Sueno II da Dinamarca]], que tinha uma reivindicação ao trono, como neto de [[Sueno I da Dinamarca|Sueno Barba-Bifurcada]] e sobrinho de [[Canuto II da Dinamarca|Canuto]],<ref name=Stafford86>Stafford ''Unification and Conquest'' pp. 86–87</ref> mas ele não fez sua candidatura ao trono até 1069.<ref name=Bates103>Bates ''William the Conqueror'' pp. 103–104</ref> Os ataques de [[Tostig Godwinson]] no início de 1066 podem ter sido o início de uma candidatura ao trono, mas depois de sua derrota nas mãos de Eduíno e Morcar e a deserção da maioria de seus seguidores, ele jogou sua sorte com Haroldo Hardrada.<ref name=Thomas33>Thomas ''Norman Conquest'' pp. 33–34</ref>}}
Após a morte do rei Eduardo em 5 de janeiro de 1066,<ref name=Handbook29>Fryde, et al. ''Handbook of British Chronology'' p. 29</ref>{{nota de rodapé|Há uma ligeira confusão nas fontes originais sobre a data exata; era mais provável 5 de janeiro, mas algumas fontes contemporâneas pregam 4 de janeiro.<ref name=Edward250>Barlow ''Edward the Confessor'' p. 250 e a nota de rodapé 1</ref>}} a falta de um herdeiro claro levou a uma sucessão disputada em que vários candidatos colocaram sua reivindicação ao trono da Inglaterra.<ref name=Death167>Higham ''Death of Anglo-Saxon England'' pp. 167–181</ref> O sucessor imediato de Eduardo era o [[Conde de Wessex]], Haroldo Godwinson, o mais rico e mais poderoso dos aristocratas ingleses e filho de Godwin, o antigo adversário do falecido rei. Haroldo foi eleito rei pela ''[[Witenagemot]]'' da Inglaterra e coroado pelo [[Arcebispo de Iorque]], [[Ealdred]], embora a propaganda normanda tenha alegado que a cerimônia fora realizada por [[Stigand]], o não-canonicamente eleito [[Arcebispo de Cantuária]].<ref name=Death167/><ref name=Walker136>Walker ''Harold'' pp. 136–138</ref> Haroldo foi imediatamente contestado pelos seus dois poderosos governantes vizinhos. O duque Guilherme alegou que o trono lhe tinha sido prometido pelo rei Eduardo e que Haroldo tinha jurado acordo para isso.<ref name=BatesWilliam73>Bates ''William the Conqueror'' pp. 73–77</ref> Haroldo III da Noruega, vulgarmente conhecido como [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]], também contestou a sucessão. Seu direito ao trono foi baseado em um acordo entre seu antecessor [[Magno I da Noruega]], e o rei anterior da Inglaterra [[Hardacanuto]], pelo qual se um morresse sem herdeiros o outro herdaria tanto a Inglaterra como a Noruega.<ref name=Death188>Higham ''Death of Anglo-Saxon England'' pp. 188–190</ref> Guilherme e Haroldo imediatamente começaram a preparar tropas e navios para invasões distintas.<ref name=Ruling12>Huscroft ''Ruling England'' pp. 12–14</ref>{{nota de rodapé|Outros concorrentes mais tarde vieram à tona. O primeiro foi [[Edgar de Wessex|Edgar, o Atelingo]], sobrinho-neto de Eduardo, o Confessor, que era descendente patrilinear do rei [[Edmundo II de Inglaterra|Edmundo, o braço de ferro]]. Era o filho de Eduardo, o Exilado, filho de Edmundo, o braço de ferro, e nasceu na Hungria, onde seu pai tinha fugido após a conquista da Inglaterra por [[Canuto II da Dinamarca|Canuto]]. Após o posterior retorno de sua família à Inglaterra e morte de seu pai em 1057,<ref name=Huscroft96>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 96–97</ref> Edgar teve de longe a mais forte reivindicação hereditária ao trono, mas tinha apenas cerca de treze ou catorze anos, no momento da morte de Eduardo, o Confessor, e com uma família pequena para apoiá-lo, seu pedido foi preterido pela ''Witenagemot''.<ref name=Huscroft132>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 132–133</ref> Outro candidato foi [[Sueno II da Dinamarca]], que tinha uma reivindicação ao trono, como neto de [[Sueno I da Dinamarca|Sueno Barba-Bifurcada]] e sobrinho de [[Canuto II da Dinamarca|Canuto]],<ref name=Stafford86>Stafford ''Unification and Conquest'' pp. 86–87</ref> mas ele não fez sua candidatura ao trono até 1069.<ref name=Bates103>Bates ''William the Conqueror'' pp. 103–104</ref> Os ataques de [[Tostig Godwinson]] no início de 1066 podem ter sido o início de uma candidatura ao trono, mas depois de sua derrota nas mãos de Eduíno e Morcar e a deserção da maioria de seus seguidores, ele jogou sua sorte com Haroldo Hardrada.<ref name=Thomas33>Thomas ''Norman Conquest'' pp. 33–34</ref>}}


=== Invasões de Tostig e Hardrada ===
=== Invasões de Tostig e Hardrada ===
{{Artigo principal|Batalha de Fulford}}
{{Artigo principal|Batalha de Fulford}}
No início de 1066, o irmão exilado de Haroldo, [[Tostig Godwinson]] invadiu o sudeste da Inglaterra com uma frota que tinha recrutado em [[Flandres]], mais tarde juntaram-se outros navios das [[Órcades]]. Ameaçado pela frota de Haroldo, Tostig moveu-se para o norte e invadiu a [[Reino da Ânglia Oriental|Ânglia Oriental]] e [[Lincolnshire]]. Foi levado de volta aos seus navios pelos irmãos Eduíno, Conde de Mércia, e Morcar, Conde de Nortúmbria. Desertado pela maioria de seus seguidores, se retirou para a Escócia, onde passou o meio do ano recrutando novas forças.<ref name=Harold144>Walker ''Harold'' pp. 144–145</ref> Haroldo III da Noruega invadiu o norte da Inglaterra no início de setembro, levando uma frota de mais de 300 navios transportando talvez {{Formatnum|15000}} homens. O exército do rei norueguês foi ampliado pelas forças de Tostig, que apoiaram a proposta do rei da Noruega ao trono. Avançando em Iorque, os noruegueses ocuparam a cidade depois de derrotarem um exército inglês do norte sob Eduíno e Morcar em 20 de setembro, na [[Batalha de Fulford]].<ref name=Harold154>Walker ''Harold'' pp. 154–158</ref>
No início de 1066, o irmão exilado de Haroldo, [[Tostig Godwinson]] invadiu o sudeste da Inglaterra com uma frota que tinha recrutado em [[Flandres]], mais tarde juntaram-se outros navios das [[Órcades]]. Ameaçado pela frota de Haroldo, Tostig moveu-se para o norte e invadiu a [[Reino da Ânglia Oriental|Ânglia Oriental]] e [[Lincolnshire]]. Foi levado de volta aos seus navios pelos irmãos Eduíno, Conde de Mércia, e Morcar, Conde de Nortúmbria. A maioria de seus seguidores desertou e ele retirou-se para a Escócia, onde passou metade do ano recrutando novas forças.<ref name=Harold144>Walker ''Harold'' pp. 144–145</ref> Haroldo III da Noruega invadiu o norte da Inglaterra no início de setembro, levando uma frota de mais de 300 navios transportando talvez {{Formatnum|15000}} homens. O exército do rei norueguês foi ampliado pelas forças de Tostig, que apoiou a proposta do rei da Noruega ao trono. Avançando em Iorque, os noruegueses ocuparam a cidade depois de derrotarem um exército inglês do norte sob Eduíno e Morcar em 20 de setembro, na [[Batalha de Fulford]].<ref name=Harold154>Walker ''Harold'' pp. 154–158</ref>


== O exército inglês e a preparação de Harold ==
== O exército inglês e a preparação de Harold ==
{{Artigo principal|Batalha de Stamford Bridge}}
{{Artigo principal|Batalha de Stamford Bridge}}
[[Ficheiro:Battle Flat - geograph.org.uk - 285158.jpg|miniaturadaimagem|O local da batalha de Stamford Bridge.]]
[[Ficheiro:Battle Flat - geograph.org.uk - 285158.jpg|miniaturadaimagem|O local da batalha de Stamford Bridge.]]
O exército inglês era organizado em linhas regionais, com a ''[[fyrd]]'' ou imposição local, servindo sob um magnata local&nbsp;– fosse um [[conde]], bispo ou [[xerife]].<ref name=Source69/> A ''fyrd'' era composta de homens que possuíam sua própria terra, e eram equipados por sua comunidade para cumprir exigências do rei para as forças militares. Para cada cinco [[Pele (Unidade)|peles]],<ref name=Marren55/> ou unidades de terra nominalmente capazes de sustentar um agregado familiar,<ref name=Dict154>Coredon ''Dictionary of Medieval Terms and Phrases'' p. 154</ref> um homem deveria servir.<ref name=Marren55>Marren ''1066'' pp. 55–57</ref> Parece que a [[Hundred|centena]] foi a principal unidade de organização para a ''fyrd''.<ref name=Gravett28>Gravett ''Hastings'' pp. 28–29</ref> Como um todo, a Inglaterra poderia fornecer cerca de 14,000 homens para o grupo, quando fosse chamado. A ''fyrd'' geralmente servia por dois meses, exceto em situações de emergência. Era raro toda a organização nacional ser chamada para combate; entre 1046 e 1065 ela foi chamada apenas três vezes, em 1051, 1052 e 1065.<ref name=Marren55/> O rei também tinha um grupo pessoal de soldados, conhecidos como ''[[Huscarl|housecarls]]'', que formavam a espinha dorsal das forças reais. Alguns condes também tinham suas próprias forças de ''housecarls''. ''[[Thegn]]s'', as elites proprietárias de terras locais, lutavam fosse com os ''housecarls'' reais ou se apegavam às forças de um conde ou outro magnata.<ref name=Source69>Nicolle ''Medieval Warfare Sourcebook'' pp. 69–71</ref> Ambos ''fyrd'' e os ''housecarls'' lutavam a pé, com a principal diferença entre eles, sendo que os ''housecarl'' possuíam armaduras superiores. O exército inglês não parecia ter tido um número significativo de arqueiros.<ref name=Gravett28>Gravett ''Hastings'' pp. 28–34</ref>
O exército inglês era organizado em linhas regionais, com a ''[[fyrd]]'' ou imposição local, servindo sob um magnata local&nbsp;– fosse um [[conde]], bispo ou [[xerife]].<ref name=Source69/> A ''fyrd'' era composta de homens que possuíam sua própria terra, e eram equipados por sua comunidade para cumprir exigências do rei para as forças militares. Para cada cinco [[Pele (Unidade)|peles]],<ref name=Marren55/> ou unidades de terra nominalmente capazes de sustentar um agregado familiar,<ref name=Dict154>Coredon ''Dictionary of Medieval Terms and Phrases'' p. 154</ref> um homem deveria servir.<ref name=Marren55>Marren ''1066'' pp. 55–57</ref> Parece que a [[Hundred|centena]] foi a principal unidade de organização para a ''fyrd''.<ref name=Gravett28>Gravett ''Hastings'' pp. 28–29</ref> Como um todo, a Inglaterra poderia fornecer cerca de {{Formatnum|14000}} homens para o grupo, quando fosse chamado. A ''fyrd'' geralmente servia por dois meses, exceto em situações de emergência. Era raro toda a organização nacional ser chamada para combate; entre 1046 e 1065 ela foi chamada apenas três vezes, em 1051, 1052 e 1065.<ref name=Marren55/> O rei também tinha um grupo pessoal de soldados, conhecidos como ''[[Huscarl|housecarls]]'', que formavam a espinha dorsal das forças reais. Alguns condes também tinham suas próprias forças de ''housecarls''. ''[[Thegn]]s'', as elites proprietárias de terras locais, lutavam fosse com os ''housecarls'' reais ou se apegavam às forças de um conde ou outro magnata.<ref name=Source69>Nicolle ''Medieval Warfare Sourcebook'' pp. 69–71</ref> Ambos ''fyrd'' e os ''housecarls'' lutavam a pé, com a principal diferença entre eles, sendo que os ''housecarl'' possuíam armaduras superiores. O exército inglês não parecia ter tido um número significativo de arqueiros.<ref name=Gravett28>Gravett ''Hastings'' pp. 28–34</ref>


Haroldo tinha passado meados de 1066, na costa sul com um grande exército e frotas à espera de Guilherme e sua invasão. A maior parte de suas forças eram milícias que precisavam fazer seus cultivos, então em 8 de setembro Haroldo descartou a milícia e a frota.<ref name=Harold145>Walker ''Harold'' pp. 144–150</ref> O conhecimento da invasão norueguesa correu no norte, reunindo forças enquanto ele subia, e pegou os noruegueses de surpresa, derrotando-os na [[batalha de Stamford Bridge]] em 25 de setembro. Haroldo da Noruega e Tostig foram mortos, e os noruegueses sofreram perdas tão grandes que apenas 24 dos 300 navios originais foram necessários para levar os sobreviventes. A vitória inglesa veio a grande custo, como o exército do rei foi deixado em um estado golpeado e enfraquecido.<ref name=Harold158>Walker ''Harold'' pp. 158–165</ref>
Haroldo tinha passado meados de 1066, na costa sul com um grande exército e frotas à espera de Guilherme e sua invasão. A maior parte de suas forças eram milícias que precisavam fazer seus cultivos, então em 8 de setembro Haroldo descartou a milícia e a frota.<ref name=Harold145>Walker ''Harold'' pp. 144–150</ref> O conhecimento da invasão norueguesa ocorreu no norte, reunindo forças enquanto ele subia, e pegou os noruegueses de surpresa, derrotando-os na [[batalha de Stamford Bridge]] em 25 de setembro. Haroldo da Noruega e Tostig foram mortos, e os noruegueses sofreram perdas tão grandes que apenas 24 dos 300 navios originais foram necessários para levar os sobreviventes. A vitória inglesa veio a grande custo, com o exército do rei foi deixado muito enfraquecido.<ref name=Harold158>Walker ''Harold'' pp. 158–165</ref>


== Preparação e desembarque de Guilherme ==
== Preparação e desembarque de Guilherme ==
[[Ficheiro:Pevensey castle.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|Ruínas do interior do [[Castelo de Pevensey]], algumas das quais remontam a logo após a Batalha de Hastings.<ref name=Castles252>Pettifer ''English Castles'' pp. 252–253</ref>]]
[[Ficheiro:Pevensey castle.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|Ruínas do interior do [[Castelo de Pevensey]], algumas das quais remontam a logo após a Batalha de Hastings.<ref name=Castles252>Pettifer ''English Castles'' pp. 252–253</ref>]]
Guilherme montou uma grande frota de invasão e um exército recolhido a partir da Normandia e no resto da França, incluindo grandes contingentes da [[Bretanha]] e de [[Flandres]].<ref name=Bates79/> Passou quase nove meses se preparando, assim como teve que construir uma frota do nada.{{nota de rodapé|A lista sobrevivente de embarcações dá 776 navios, contribuídos por 14 diferentes nobres normandos.<ref name=Gravett20/> Esta lista não inclui a capitânia de Guilherme, o ''Mora'', dado a ele por sua esposa, [[Matilde de Flandres]]. O ''Mora'' é retratado na [[tapeçaria de Bayeux]] com a figura de um leão.<ref name=Marren91/>}} De acordo com algumas crônicas normandas, também garantiu apoio diplomático, embora a precisão dos relatórios tem sido questão de debate histórico. A afirmação mais famosa é que o [[Papa Alexandre II]] deu uma bandeira papal como um sinal de apoio, que só aparece no conto de [[Guilherme de Poitiers]], e não em narrativas mais contemporâneas.<ref name=Huscroft120>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 120–122</ref> Em abril 1066, o [[cometa Halley]] apareceu no céu, e foi amplamente divulgado em toda a Europa. Relatos contemporâneos ligaram a aparição do cometa com a crise de sucessão na Inglaterra.<ref name=Douglas181>Douglas ''William the Conqueror'' p. 181 e a nota de rodapé 1</ref>{{nota de rodapé|A aparição do cometa foi retratada na tapeçaria de Bayeux, onde está conectado com a coroação de Haroldo, embora o cometa tenha aparecido mais tarde, a partir de 24 abril a 1° maio de 1066. A imagem da tapeçaria é a mais antiga representação pictórica do [[cometa Halley]] a sobreviver.<ref name=Tapestry176>Musset ''Bayeux Tapestry'' p. 176</ref>}}
Guilherme montou uma grande frota de invasão e um exército recolhido a partir da Normandia e no resto da França, incluindo grandes contingentes da [[Bretanha]] e de [[Flandres]].<ref name=Bates79/> Passou quase nove meses se preparando, assim como teve que construir uma frota do nada.{{nota de rodapé|A lista sobrevivente de embarcações dá 776 navios, com contribuições de 14 diferentes nobres normandos.<ref name=Gravett20/> Esta lista não inclui a capitânia de Guilherme, o ''Mora'', dado a ele por sua esposa, [[Matilde de Flandres]]. O ''Mora'' é retratado na [[tapeçaria de Bayeux]] com a figura de um leão.<ref name=Marren91/>}} De acordo com algumas crônicas normandas, também garantiu apoio diplomático, embora a precisão dos relatos tem sido questão de debate histórico. A afirmação mais famosa é que o [[Papa Alexandre II]] deu uma bandeira papal como um sinal de apoio, que só aparece no conto de [[Guilherme de Poitiers]], e não em narrativas mais contemporâneas.<ref name=Huscroft120>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 120–122</ref> Em abril 1066, o [[cometa Halley]] apareceu no céu, e foi amplamente divulgado em toda a Europa. Relatos da época ligaram a aparição do cometa com a crise de sucessão na Inglaterra.<ref name=Douglas181>Douglas ''William the Conqueror'' p. 181 e a nota de rodapé 1</ref>{{nota de rodapé|A aparição do cometa foi retratada na tapeçaria de Bayeux, onde está conectado com a coroação de Haroldo, embora o cometa tenha aparecido mais tarde, a partir de 24 abril a 1° maio de 1066. A imagem da tapeçaria é a mais antiga representação pictórica do [[cometa Halley]] a sobreviver.<ref name=Tapestry176>Musset ''Bayeux Tapestry'' p. 176</ref>}}


Guilherme reuniu suas forças em [[Saint-Valery-sur-Somme]], e estava pronto para cruzar o [[canal da Mancha]] por volta de 12 agosto.<ref name=Douglas192>Douglas ''William the Conqueror'' p. 192</ref> Mas a travessia foi adiada, por causa das condições climáticas desfavoráveis ou para evitar ser interceptado pela poderosa frota inglesa. Os normandos cruzaram à Inglaterra alguns dias após a vitória de Haroldo sobre os noruegueses, após a dispersão da força naval do rei da Inglaterra, e desembarcaram em [[Pevensey]], Sussex, em 28 de setembro.<ref name=Bates79/>{{nota de rodapé|A maioria dos historiadores modernos concordam com esta data,<ref name=Gravett50>Gravett ''Hastings'' p. 50</ref><ref name=Huscroft123>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 123</ref><ref name=Feudal81>Barlow ''Feudal Kingdom'' p. 81</ref><ref name=Stenton591>Stenton ''Anglo-Saxon England'' p. 591</ref><ref name=Thomas35>Thomas ''Norman Conquest'' p. 35</ref><ref name=Douglas195>Douglas ''William the Conqueror'' p. 195</ref> embora algumas fontes contemporâneas têm Guilherme desembarcando em 29 de setembro.<ref name=Lawson176>Lawson ''Battle of Hastings'' p. 176</ref>}}{{nota de rodapé|A maioria dos relatos contemporâneos têm Guilherme desembarcando em Pevensey, com apenas o [[Crônica de Peterborough|manuscrito E]] da ''[[Crônica Anglo-Saxônica]]'' dando o desembarque tendo como lugar Hastings.<ref name=Lawson176/> A maioria dos relatos modernos também afirmam que as forças de Guilherme desembarcaram em Pevensey.<ref name=Marren91>Marren ''1066'' pp. 91–92</ref><ref name=Huscroft123/><ref name=Feudal81/><ref name=Stenton591/><ref name=Thomas35/><ref name=Bennett37>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 37</ref><ref name=Gravett47>Gravett ''Hastings'' pp. 47–49</ref><ref name=Ruling15>Huscroft ''Ruling England'' p. 15</ref><ref name=Stafford100>Stafford ''Unification and Conquest'' p. 100</ref><ref name=Bates86>Bates ''William the Conqueror'' p. 86</ref><ref name=Walker166>Walker ''Harold'' p. 166</ref><ref name=Rex221>Rex ''Harold II'' p. 221</ref>}} Alguns navios tomaram o rumo certo e desembarcaram em [[Romney Marsh|Romney]], onde os normandos lutaram contra a ''fyrd'' local.<ref name=Marren91/> Após o desembarque, as forças de Guilherme construíram um castelo de madeira em Hastings, a partir do qual invadiram a área circundante.<ref name=Bates79>Bates ''William the Conqueror'' pp. 79–89</ref> Mais fortificações foram erguidas em Pevensey.<ref name=Lawson179>Lawson ''Battle of Hastings'' p. 179</ref>
Guilherme reuniu suas forças em [[Saint-Valery-sur-Somme]], e estava pronto para cruzar o [[canal da Mancha]] por volta de 12 agosto.<ref name=Douglas192>Douglas ''William the Conqueror'' p. 192</ref> Mas a travessia foi adiada, por causa das condições climáticas desfavoráveis ou para evitar ser interceptado pela poderosa frota inglesa. Os normandos cruzaram à Inglaterra alguns dias após a vitória de Haroldo sobre os noruegueses, após a dispersão da força naval do rei da Inglaterra, e desembarcaram em [[Pevensey]], Sussex, em 28 de setembro.<ref name=Bates79/>{{nota de rodapé|A maioria dos historiadores modernos concordam com esta data,<ref name=Gravett50>Gravett ''Hastings'' p. 50</ref><ref name=Huscroft123>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 123</ref><ref name=Feudal81>Barlow ''Feudal Kingdom'' p. 81</ref><ref name=Stenton591>Stenton ''Anglo-Saxon England'' p. 591</ref><ref name=Thomas35>Thomas ''Norman Conquest'' p. 35</ref><ref name=Douglas195>Douglas ''William the Conqueror'' p. 195</ref> embora algumas fontes contemporâneas têm Guilherme desembarcando em 29 de setembro.<ref name=Lawson176>Lawson ''Battle of Hastings'' p. 176</ref>}}{{nota de rodapé|A maioria dos relatos contemporâneos têm Guilherme desembarcando em Pevensey, com apenas o [[Crônica de Peterborough|manuscrito E]] da ''[[Crônica Anglo-Saxônica]]'' dando o desembarque tendo como lugar Hastings.<ref name=Lawson176/> A maioria dos relatos modernos também afirmam que as forças de Guilherme desembarcaram em Pevensey.<ref name=Marren91>Marren ''1066'' pp. 91–92</ref><ref name=Huscroft123/><ref name=Feudal81/><ref name=Stenton591/><ref name=Thomas35/><ref name=Bennett37>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 37</ref><ref name=Gravett47>Gravett ''Hastings'' pp. 47–49</ref><ref name=Ruling15>Huscroft ''Ruling England'' p. 15</ref><ref name=Stafford100>Stafford ''Unification and Conquest'' p. 100</ref><ref name=Bates86>Bates ''William the Conqueror'' p. 86</ref><ref name=Walker166>Walker ''Harold'' p. 166</ref><ref name=Rex221>Rex ''Harold II'' p. 221</ref>}} Alguns navios tomaram o rumo certo e desembarcaram em [[Romney Marsh|Romney]], onde os normandos lutaram contra a ''fyrd'' local.<ref name=Marren91/> Após o desembarque, as forças de Guilherme construíram um castelo de madeira em Hastings, a partir do qual invadiram a área circundante.<ref name=Bates79>Bates ''William the Conqueror'' pp. 79–89</ref> Mais fortificações foram erguidas em Pevensey.<ref name=Lawson179>Lawson ''Battle of Hastings'' p. 179</ref>
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=== Forças normandas em Hastings ===
=== Forças normandas em Hastings ===
[[Ficheiro:Bayeux Tapestry scene51 Battle of Hastings Norman knights and archers.jpg|miniaturadaimagem|310px|Cavaleiros e arqueiros normandos na batalha de Hastings, representados na [[tapeçaria de Bayeux]].]]
[[Ficheiro:Bayeux Tapestry scene51 Battle of Hastings Norman knights and archers.jpg|miniaturadaimagem|310px|Cavaleiros e arqueiros normandos na batalha de Hastings, representados na [[tapeçaria de Bayeux]].]]
Os números exatos e composição da força de Guilherme são desconhecidos.<ref name=Gravett20>Gravett ''Hastings'' pp. 20–21</ref> Um documento contemporâneo afirma que o duque de Normandia tinha 776 navios, mas este pode ser um número inflado.<ref name=Bennett25>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 25</ref> Números dados por escritores contemporâneos são muito exagerados, variando de {{Formatnum|14000}} a {{Formatnum|150000}} homens.<ref name=Lawson163>Lawson ''Hastings'' pp. 163–164</ref> Os historiadores modernos têm oferecido uma série de estimativas para o tamanho das forças de Guilherme: {{Formatnum|7000}}-{{Formatnum|8000}} homens, {{Formatnum|1000}}-{{Formatnum|2000}} deles na cavalaria;<ref name=Bennet26>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 26</ref> {{Formatnum|10000}}-{{Formatnum|12000}} homens;<ref name=Lawson163/> {{Formatnum|10000}} homens, {{Formatnum|3000}} deles de cavalaria;<ref name=Marren89>Marren ''1066'' pp. 89–90</ref> ou {{Formatnum|7500}} homens.<ref name="Gravett20"/> O exército consistia de cavalaria, infantaria, e os arqueiros ou besteiros, com números aproximadamente iguais de cavalaria e arqueiros e os soldados em número igual aos outros dois tipos combinados.<ref name=Gravett27>Gravett ''Hastings'' p. 27</ref> Listas posteriores dos companheiros de Guilherme, o Conquistador, são existentes, mas a maioria é preenchida com nomes extras; apenas cerca de 35 pessoas nomeadas podem ser identificadas de forma confiável como sendo com Guilherme em Hastings.<ref name="Gravett20"/><ref name=Marren108>Marren ''1066'' pp. 108–109</ref>{{nota de rodapé|Desses 35 homens, cinco são conhecidos por terem morrido na batalha: Roberto de Vitot, Engenulfo de Laigle, Roberto fitzErneis, Rogério, filho de Turoldo e Taillefer.<ref name=Marren107>Marren ''1066'' pp. 107–108</ref>}}
Os números exatos e composição da força de Guilherme são desconhecidos.<ref name=Gravett20>Gravett ''Hastings'' pp. 20–21</ref> Um documento contemporâneo afirma que o duque de Normandia tinha 776 navios, mas este pode ser um número inflado.<ref name=Bennett25>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 25</ref> Números dados por escritores da época são muito exagerados, variando de {{Formatnum|14000}} a {{Formatnum|150000}} homens.<ref name=Lawson163>Lawson ''Hastings'' pp. 163–164</ref> Os historiadores modernos têm oferecido uma série de estimativas para o tamanho das forças de Guilherme: {{Formatnum|7000}}-{{Formatnum|8000}} homens, {{Formatnum|1000}}-{{Formatnum|2000}} deles na cavalaria;<ref name=Bennet26>Bennett ''Campaigns of the Norman Conquest'' p. 26</ref> {{Formatnum|10000}}-{{Formatnum|12000}} homens;<ref name=Lawson163/> {{Formatnum|10000}} homens, {{Formatnum|3000}} deles de cavalaria;<ref name=Marren89>Marren ''1066'' pp. 89–90</ref> ou {{Formatnum|7500}} homens.<ref name="Gravett20"/> O exército consistia de cavalaria, infantaria, e os arqueiros ou besteiros, com números aproximadamente iguais de cavalaria e arqueiros e os soldados em número igual aos outros dois tipos combinados.<ref name=Gravett27>Gravett ''Hastings'' p. 27</ref> Listas posteriores dos companheiros de Guilherme, o Conquistador, são existentes, mas a maioria é preenchida com nomes extras; apenas cerca de 35 pessoas nomeadas podem ser identificadas de forma confiável como presentes junto com Guilherme em Hastings.<ref name="Gravett20"/><ref name=Marren108>Marren ''1066'' pp. 108–109</ref>{{nota de rodapé|Desses 35 homens, cinco são conhecidos por terem morrido na batalha: Roberto de Vitot, Engenulfo de Laigle, Roberto fitzErneis, Rogério, filho de Turoldo e Taillefer.<ref name=Marren107>Marren ''1066'' pp. 107–108</ref>}}


A principal armadura utilizada eram as [[Cota de malha|cotas de malha]], geralmente na altura do joelho, com fendas para permitir a equitação, alguns com mangas até os cotovelos. Algumas cotas de malha podem ter sido feitas de escamas unidas a uma túnica, com as escamas feitas de metal, chifre ou couro endurecido. Os elmos eram geralmente capacetes de metal cônico com uma faixa de metal que se estendia a baixo para proteger o nariz.<ref name=Gravett15>Gravett ''Hastings'' pp. 15–19</ref> Cavaleiros e infantarias levavam escudos. O escudo do soldado de infantaria era geralmente redondo e feito de madeira, com reforço de metal. Cavaleiros tinham mudado para um escudo em forma de asa e geralmente ficavam armados com uma lança. A lança formulada, portada dobrada contra o corpo sob o braço direito, era um requinte relativamente novo e provavelmente não foi usada em Hastings; o terreno era desfavorável para longas cargas de cavalaria. Tanto a infantaria e cavalaria geralmente lutavam com uma espada ereta, cumprida e de dois gumes. A infantaria também podia usar dardos e lanças longas.<ref name=Gravett22>Gravett ''Hastings'' p. 22</ref> Alguns homens da cavalaria podem ter usado uma maça ao invés da espada. Arqueiros teriam usado um [[auto arco]] ou uma besta, e a maioria não teria armadura.<ref name=Gravett24>Gravett ''Hastings'' pp. 24–25</ref>
A principal armadura utilizada eram as [[Cota de malha|cotas de malha]], geralmente na altura do joelho, com fendas para permitir a equitação, alguns com mangas até os cotovelos. Algumas cotas de malha podem ter sido feitas de escamas unidas a uma túnica, com as escamas feitas de metal, chifre ou couro endurecido. Os elmos eram geralmente capacetes de metal cônico com uma faixa de metal que se estendia a baixo para proteger o nariz.<ref name=Gravett15>Gravett ''Hastings'' pp. 15–19</ref> Cavaleiros e infantes levavam escudos. O escudo do soldado de infantaria era geralmente redondo e feito de madeira, com reforço de metal. Cavaleiros tinham mudado para um escudo em forma de asa e geralmente ficavam armados com uma lança. A lança formulada, portada dobrada contra o corpo sob o braço direito, era um requinte relativamente novo e provavelmente não foi usada em Hastings; o terreno era desfavorável para longas cargas de cavalaria. Tanto a infantaria e cavalaria geralmente lutavam com uma espada ereta, cumprida e de dois gumes. A infantaria também podia usar dardos e lanças longas.<ref name=Gravett22>Gravett ''Hastings'' p. 22</ref> Alguns homens da cavalaria podem ter usado uma maça em vez da espada. Arqueiros teriam usado um [[auto arco]] ou uma besta, e a maioria não teria armadura.<ref name=Gravett24>Gravett ''Hastings'' pp. 24–25</ref>


== Haroldo move-se ao sul ==
== Haroldo move-se ao sul ==
Depois de derrotar seu irmão Tostig e Haroldo Hardrada no norte, deixou muito de suas forças na região, incluindo Morcar e Eduíno, e marchou o resto de seu exército ao sul para lidar com a ameaça da invasão normanda.<ref name=Carpenter72>Carpenter ''Struggle for Mastery'' p. 72</ref> Não está claro quando Haroldo ficou sabendo do desembarque de Guilherme, mas é provável que foi enquanto estava viajando para o sul. O rei parou em Londres, e ficou lá por cerca de uma semana antes de Hastings, por isso é provável que passou cerca de uma semana em sua marcha para o sul, com uma média de cerca de 43 quilômetros por dia,<ref name=Marren93>Marren ''1066'' p. 93</ref> para cerca de 320 quilômetros.<ref name=Huscroft124>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 124</ref> Haroldo acampou em Caldbec Hill na noite de 13 de outubro, perto do que foi descrito como uma "macieira cinzenta". Esta localização estava a cerca de 13 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.<ref name=Marren94>Marren ''1066'' pp. 94–95</ref>{{nota de rodapé|A "macieira cinzenta" no original é descrita como ''hoar-apple tree'', e, provavelmente, refere-se a uma macieira de caranguejos coberta com líquen que era provavelmente uma referência local.<ref name=Marren94/>}} Alguns dos primeiros contos franceses contemporâneos mencionam um emissário ou emissários enviados pelo rei da Inglaterra ao duque da Normandia, o que é provável. Nada veio desses esforços.<ref name=Lawson180/>
Depois de derrotar seu irmão Tostig e Haroldo Hardrada no norte, deixou muito de suas forças na região, incluindo Morcar e Eduíno, e marchou com o resto de seu exército ao sul para lidar com a ameaça da invasão normanda.<ref name=Carpenter72>Carpenter ''Struggle for Mastery'' p. 72</ref> Não está claro quando Haroldo ficou sabendo do desembarque de Guilherme, mas é provável que foi enquanto estava viajando para o sul. O rei parou em Londres, e ficou lá por cerca de uma semana antes de Hastings, por isso é provável que tenha passado cerca de uma semana em sua marcha para o sul, com uma média de cerca de 43 quilômetros por dia,<ref name=Marren93>Marren ''1066'' p. 93</ref> em um total de 320 quilômetros.<ref name=Huscroft124>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 124</ref> Haroldo acampou em Caldbec Hill na noite de 13 de outubro, perto do que foi descrito como uma "macieira cinzenta". Esta localização estava a cerca de 13 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.<ref name=Marren94>Marren ''1066'' pp. 94–95</ref>{{nota de rodapé|A "macieira cinzenta" no original é descrita como ''hoar-apple tree'', e, provavelmente, refere-se a uma macieira de caranguejos coberta com líquen que era provavelmente uma referência local.<ref name=Marren94/>}} Alguns dos primeiros contos franceses contemporâneos mencionam um emissário ou emissários enviados pelo rei da Inglaterra ao duque da Normandia, o que é provável. Nada veio desses esforços.<ref name=Lawson180/>


Embora Haroldo tenha tentado surpreender os normandos, escuteiros de Guilherme relataram a chegada inglesa ao duque. Os eventos exatos que precederam a batalha são obscuros, contraditórias com os contos nas fontes, mas todos concordam que Guilherme liderou seu exército de seu castelo e avançou em direção ao inimigo.<ref name=Lawson180>Lawson ''Battle of Hastings'' pp. 180–182</ref> Haroldo tinha tomado uma posição defensiva no topo de [[Senlac Hill]] (atual [[Battle (East Sussex)|Battle, East Sussex]]), a cerca de 9,7 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.<ref name=Marren99>Marren ''1066'' pp. 99–100</ref>
Embora Haroldo tenha tentado surpreender os normandos, escuteiros de Guilherme relataram a chegada inglesa ao duque. Os eventos exatos que precederam a batalha são obscuros, contraditórias com os contos nas fontes, mas todos concordam que Guilherme liderou seu exército de seu castelo e avançou em direção ao inimigo.<ref name=Lawson180>Lawson ''Battle of Hastings'' pp. 180–182</ref> Haroldo tinha tomado uma posição defensiva no topo de [[Senlac Hill]] (atual [[Battle (East Sussex)|Battle, East Sussex]]), a cerca de 9,7 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.<ref name=Marren99>Marren ''1066'' pp. 99–100</ref>
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A batalha começou com uma chuva de setas dos besteiros e arqueiros normandos, que não foi muito eficaz. Depois de algumas escaramuças, a infantaria e cavalaria normandas avançaram, lideradas por Guilherme em pessoa, assistido pelo meio-irmão, o bispo [[Odo de Bayeux]]. Este ataque pelo centro foi repelido sem grande dificuldade pela infantaria inglesa, protegida pelos seus longos machados e muralha de escudos. Entretanto, Guilherme mandou avançar o seu flanco esquerdo. Constituído principalmente por homens inexperientes e mal armados, os bretões não estavam à altura dos saxões. Depressa o flanco esquerdo de Guilherme desapareceu à custa dos ingleses e da fuga dos seus próprios homens.
A batalha começou com uma chuva de setas dos besteiros e arqueiros normandos, que não foi muito eficaz. Depois de algumas escaramuças, a infantaria e cavalaria normandas avançaram, lideradas por Guilherme em pessoa, assistido pelo meio-irmão, o bispo [[Odo de Bayeux]]. Este ataque pelo centro foi repelido sem grande dificuldade pela infantaria inglesa, protegida pelos seus longos machados e muralha de escudos. Entretanto, Guilherme mandou avançar o seu flanco esquerdo. Constituído principalmente por homens inexperientes e mal armados, os bretões não estavam à altura dos saxões. Depressa o flanco esquerdo de Guilherme desapareceu à custa dos ingleses e da fuga dos seus próprios homens.


Nesta altura, o flanco direito dos saxões precipita-se a lançar um ataque contra os bretões em fuga. Sem o suporte do resto do exército e a protecção da muralha de escudos, os seus membros são apanhados por uma carga de cavalaria normanda e massacrados. Este episódio da batalha marcou o decurso do dia e as subsequentes acções normandas. Vendo que o inimigo era rápido a sair num contra-ataque suicida, os normandos começaram a orquestrar fugas, de forma a atrair os ingleses para a morte, numa táctica já usada em guerras no continente. A cada novo embate, fuga e emboscada, a muralha de escudos ingleses tornava-se mais frágil e ao fim do dia era já bastante permeável. Preocupado com a fraqueza da sua própria posição, Guilherme manda avançar de novo os besteiros e os arqueiros, numa última tentativa para resolver a batalha antes de a noite cair. Desta vez os arqueiros foram bastante mais eficientes e provocaram sérias baixas na linha saxã. Nesta altura, a cavalaria normanda lança o último ataque. No confronto que se seguiu, o rei Haroldo II de Inglaterra foi morto por uma flecha no olho esquerdo, lançando o caos ao seu exército. Em breve a barreira de escudos desmoronou, assim como a resistência inglesa.
Nesta altura, o flanco direito dos saxões precipita-se a lançar um ataque contra os bretões em fuga. Sem o suporte do resto do exército e a protecção da muralha de escudos, os seus membros foram apanhados por uma carga de cavalaria normanda e massacrados. Este episódio da batalha marcou o decurso do dia e as subsequentes acções normandas. Vendo que o inimigo era rápido a sair num contra-ataque suicida, os normandos começaram a orquestrar fugas, de forma a atrair os ingleses para a morte, numa táctica já usada em guerras no continente. A cada novo embate, fuga e emboscada, a muralha de escudos ingleses tornava-se mais frágil e ao fim do dia era já bastante permeável. Preocupado com a fraqueza da sua própria posição, Guilherme manda avançar de novo os besteiros e os arqueiros, numa última tentativa para resolver a batalha antes de a noite cair. Desta vez os arqueiros foram bastante mais eficientes e provocaram sérias baixas na linha saxã. Nesta altura, a cavalaria normanda lançou o último ataque. No confronto que se seguiu, o rei Haroldo II de Inglaterra foi morto por uma flecha no olho esquerdo, lançando o caos ao seu exército. Em breve a barreira de escudos desmoronou, assim como a resistência inglesa.


== Depois da batalha de Hastings ==
== Depois da batalha de Hastings ==

Revisão das 12h35min de 25 de novembro de 2014

Batalha de Hastings
Conquista Normanda

Extrato da tapeçaria de Bayeux, retratando a batalha.
Data 14 de outubro de 1066
Local Hastings, Inglaterra
Desfecho Vitória decisiva normanda
Beligerantes
Normandos Ingleses
Comandantes
Guilherme, o Conquistador Haroldo II de Inglaterra
Forças
7 000 - 12 000 homens 5000 - 13 000 homens
Baixas
Desconhecido Desconhecido

A batalha de Hastings foi travada em 14 de outubro de 1066 entre o exército franco-normando do duque Guilherme II da Normandia e um exército inglês sob o rei anglo-saxão Haroldo II, durante a conquista normanda da Inglaterra. Ocorreu cerca de 11 quilômetros a noroeste de Hastings, perto da cidade atual de Battle, East Sussex, e teve como resultado uma vitória normanda decisiva.

O antecedente da batalha foi a morte do rei Eduardo, o Confessor, sem filhos, em janeiro de 1066, o que ocasionou uma luta pela sucessão entre vários pretendentes ao trono. Haroldo foi coroado rei logo após a morte de Eduardo, mas enfrentou invasões de Guilherme, de seu próprio irmão Tostig e do rei norueguês Haroldo Hardrada (Haroldo III da Noruega). Hardrada e Tostig derrotaram um exército apressadamente reunido pelos ingleses na batalha de Fulford em 20 de setembro de 1066, e foram, por sua vez derrotados por Haroldo na batalha de Stamford Bridge, cinco dias depois. As mortes de Tostig e Hardrada em Stamford Bridge deixaram Guilherme como único adversário sério de Haroldo da Inglaterra. Enquanto Haroldo e suas forças estavam se recuperando da batalha, Guilherme desembarcou suas forças invasoras no sul da Inglaterra, em Pevensey, em 28 de setembro de 1066 e estabeleceu uma praça de armas para a conquista do reino. Haroldo foi forçado a marchar rapidamente ao sul, reunindo forças enquanto andava.

Os números exatos presentes na batalha são desconhecidos; as estimativas estão em torno de 10 000 soldados para Guilherme e cerca de 7 000 para Haroldo. A composição das forças é mais clara; o exército inglês era composto quase inteiramente de infantaria e tinha poucos arqueiros, enquanto que apenas cerca da metade da força invasora era de infantaria, o restante dividido igualmente entre a cavalaria e arqueiros. Haroldo parece ter tentado surpreender o duque da Normandia, mas escuteiros encontraram seu exército e relataram sua chegada a Guilherme, que marchou de Hastings ao campo de batalha para enfrentar o rei da Inglaterra. A batalha durou cerca de nove horas ao anoitecer. Os primeiros esforços dos invasores a quebrar as linhas de batalha inglesa tiveram pouco efeito; portanto, os normandos adotaram a tática de fingir que fugiam em pânico e então atacar seus perseguidores. A morte de Haroldo, provavelmente perto do fim da batalha, levou à retirada e derrota da maioria de seu exército. Após novas marchas e algumas escaramuças, Guilherme foi coroado rei no dia do Natal de 1066.

Embora continuasse a haver rebeliões e resistência ao regime do duque da Normandia, Hastings efetivamente marcou o culminar da conquista de Guilherme na Inglaterra. Números de vítimas são difíceis de se obter, mas alguns historiadores estimam que 2 000 invasores morreram junto com um número cerca de duas vezes maior de ingleses. Guilherme fundou um mosteiro no local da batalha, o altar-mor da igreja da abadia, supostamente colocado no local onde Haroldo morreu.

Prelúdio

Em 911, o governante franco-carolíngio Carlos, o Simples permitiu que um grupo de vikings sob seu líder Rollo se estabelecessem na Normandia.[1] Sua solução foi bem sucedida,[2][nota 1] e eles se adaptaram rapidamente à cultura nativa, renunciando ao paganismo, convertendo-se ao cristianismo,[3] e casando-se com a população local.[4] Com o tempo, as fronteiras do ducado se expandiram a oeste.[5] Em 1002, o rei Etelredo II de Inglaterra casou-se com Ema, a irmã de Ricardo II, duque da Normandia.[6] Seu filho Eduardo, o Confessor, que passou muitos anos em exílio na Normandia, sucedeu ao trono inglês em 1042.[7] Isto levou à criação de um poderoso interesse normando na política inglesa, pois Eduardo apoiou-se fortemente em seus antigos anfitriões, trazendo cortesões, soldados e clérigos normandos e nomeando-os a cargos de poder, particularmente na Igreja. Sem filhos e envolvido em conflito com o formidável Godwin, Conde de Wessex e seus filhos, Eduardo também pode ter incentivado as ambições do duque Guilherme da Normandia ao trono da Inglaterra.[8]

Crise de sucessão na Inglaterra

Após a morte do rei Eduardo em 5 de janeiro de 1066,[9][nota 2] a falta de um herdeiro claro levou a uma sucessão disputada em que vários candidatos colocaram sua reivindicação ao trono da Inglaterra.[11] O sucessor imediato de Eduardo era o Conde de Wessex, Haroldo Godwinson, o mais rico e mais poderoso dos aristocratas ingleses e filho de Godwin, o antigo adversário do falecido rei. Haroldo foi eleito rei pela Witenagemot da Inglaterra e coroado pelo Arcebispo de Iorque, Ealdred, embora a propaganda normanda tenha alegado que a cerimônia fora realizada por Stigand, o não-canonicamente eleito Arcebispo de Cantuária.[11][12] Haroldo foi imediatamente contestado pelos seus dois poderosos governantes vizinhos. O duque Guilherme alegou que o trono lhe tinha sido prometido pelo rei Eduardo e que Haroldo tinha jurado acordo para isso.[13] Haroldo III da Noruega, vulgarmente conhecido como Haroldo Hardrada, também contestou a sucessão. Seu direito ao trono foi baseado em um acordo entre seu antecessor Magno I da Noruega, e o rei anterior da Inglaterra Hardacanuto, pelo qual se um morresse sem herdeiros o outro herdaria tanto a Inglaterra como a Noruega.[14] Guilherme e Haroldo imediatamente começaram a preparar tropas e navios para invasões distintas.[15][nota 3]

Invasões de Tostig e Hardrada

Ver artigo principal: Batalha de Fulford

No início de 1066, o irmão exilado de Haroldo, Tostig Godwinson invadiu o sudeste da Inglaterra com uma frota que tinha recrutado em Flandres, mais tarde juntaram-se outros navios das Órcades. Ameaçado pela frota de Haroldo, Tostig moveu-se para o norte e invadiu a Ânglia Oriental e Lincolnshire. Foi levado de volta aos seus navios pelos irmãos Eduíno, Conde de Mércia, e Morcar, Conde de Nortúmbria. A maioria de seus seguidores desertou e ele retirou-se para a Escócia, onde passou metade do ano recrutando novas forças.[21] Haroldo III da Noruega invadiu o norte da Inglaterra no início de setembro, levando uma frota de mais de 300 navios transportando talvez 15 000 homens. O exército do rei norueguês foi ampliado pelas forças de Tostig, que apoiou a proposta do rei da Noruega ao trono. Avançando em Iorque, os noruegueses ocuparam a cidade depois de derrotarem um exército inglês do norte sob Eduíno e Morcar em 20 de setembro, na Batalha de Fulford.[22]

O exército inglês e a preparação de Harold

Ver artigo principal: Batalha de Stamford Bridge
O local da batalha de Stamford Bridge.

O exército inglês era organizado em linhas regionais, com a fyrd ou imposição local, servindo sob um magnata local – fosse um conde, bispo ou xerife.[23] A fyrd era composta de homens que possuíam sua própria terra, e eram equipados por sua comunidade para cumprir exigências do rei para as forças militares. Para cada cinco peles,[24] ou unidades de terra nominalmente capazes de sustentar um agregado familiar,[25] um homem deveria servir.[24] Parece que a centena foi a principal unidade de organização para a fyrd.[26] Como um todo, a Inglaterra poderia fornecer cerca de 14 000 homens para o grupo, quando fosse chamado. A fyrd geralmente servia por dois meses, exceto em situações de emergência. Era raro toda a organização nacional ser chamada para combate; entre 1046 e 1065 ela foi chamada apenas três vezes, em 1051, 1052 e 1065.[24] O rei também tinha um grupo pessoal de soldados, conhecidos como housecarls, que formavam a espinha dorsal das forças reais. Alguns condes também tinham suas próprias forças de housecarls. Thegns, as elites proprietárias de terras locais, lutavam fosse com os housecarls reais ou se apegavam às forças de um conde ou outro magnata.[23] Ambos fyrd e os housecarls lutavam a pé, com a principal diferença entre eles, sendo que os housecarl possuíam armaduras superiores. O exército inglês não parecia ter tido um número significativo de arqueiros.[26]

Haroldo tinha passado meados de 1066, na costa sul com um grande exército e frotas à espera de Guilherme e sua invasão. A maior parte de suas forças eram milícias que precisavam fazer seus cultivos, então em 8 de setembro Haroldo descartou a milícia e a frota.[27] O conhecimento da invasão norueguesa ocorreu no norte, reunindo forças enquanto ele subia, e pegou os noruegueses de surpresa, derrotando-os na batalha de Stamford Bridge em 25 de setembro. Haroldo da Noruega e Tostig foram mortos, e os noruegueses sofreram perdas tão grandes que apenas 24 dos 300 navios originais foram necessários para levar os sobreviventes. A vitória inglesa veio a grande custo, com o exército do rei foi deixado muito enfraquecido.[28]

Preparação e desembarque de Guilherme

Ruínas do interior do Castelo de Pevensey, algumas das quais remontam a logo após a Batalha de Hastings.[29]

Guilherme montou uma grande frota de invasão e um exército recolhido a partir da Normandia e no resto da França, incluindo grandes contingentes da Bretanha e de Flandres.[30] Passou quase nove meses se preparando, assim como teve que construir uma frota do nada.[nota 4] De acordo com algumas crônicas normandas, também garantiu apoio diplomático, embora a precisão dos relatos tem sido questão de debate histórico. A afirmação mais famosa é que o Papa Alexandre II deu uma bandeira papal como um sinal de apoio, que só aparece no conto de Guilherme de Poitiers, e não em narrativas mais contemporâneas.[33] Em abril 1066, o cometa Halley apareceu no céu, e foi amplamente divulgado em toda a Europa. Relatos da época ligaram a aparição do cometa com a crise de sucessão na Inglaterra.[34][nota 5]

Guilherme reuniu suas forças em Saint-Valery-sur-Somme, e estava pronto para cruzar o canal da Mancha por volta de 12 agosto.[36] Mas a travessia foi adiada, por causa das condições climáticas desfavoráveis ou para evitar ser interceptado pela poderosa frota inglesa. Os normandos cruzaram à Inglaterra alguns dias após a vitória de Haroldo sobre os noruegueses, após a dispersão da força naval do rei da Inglaterra, e desembarcaram em Pevensey, Sussex, em 28 de setembro.[30][nota 6][nota 7] Alguns navios tomaram o rumo certo e desembarcaram em Romney, onde os normandos lutaram contra a fyrd local.[32] Após o desembarque, as forças de Guilherme construíram um castelo de madeira em Hastings, a partir do qual invadiram a área circundante.[30] Mais fortificações foram erguidas em Pevensey.[51]

Forças normandas em Hastings

Cavaleiros e arqueiros normandos na batalha de Hastings, representados na tapeçaria de Bayeux.

Os números exatos e composição da força de Guilherme são desconhecidos.[31] Um documento contemporâneo afirma que o duque de Normandia tinha 776 navios, mas este pode ser um número inflado.[52] Números dados por escritores da época são muito exagerados, variando de 14 000 a 150 000 homens.[53] Os historiadores modernos têm oferecido uma série de estimativas para o tamanho das forças de Guilherme: 7 000-8 000 homens, 1 000-2 000 deles na cavalaria;[54] 10 000-12 000 homens;[53] 10 000 homens, 3 000 deles de cavalaria;[55] ou 7 500 homens.[31] O exército consistia de cavalaria, infantaria, e os arqueiros ou besteiros, com números aproximadamente iguais de cavalaria e arqueiros e os soldados em número igual aos outros dois tipos combinados.[56] Listas posteriores dos companheiros de Guilherme, o Conquistador, são existentes, mas a maioria é preenchida com nomes extras; apenas cerca de 35 pessoas nomeadas podem ser identificadas de forma confiável como presentes junto com Guilherme em Hastings.[31][57][nota 8]

A principal armadura utilizada eram as cotas de malha, geralmente na altura do joelho, com fendas para permitir a equitação, alguns com mangas até os cotovelos. Algumas cotas de malha podem ter sido feitas de escamas unidas a uma túnica, com as escamas feitas de metal, chifre ou couro endurecido. Os elmos eram geralmente capacetes de metal cônico com uma faixa de metal que se estendia a baixo para proteger o nariz.[59] Cavaleiros e infantes levavam escudos. O escudo do soldado de infantaria era geralmente redondo e feito de madeira, com reforço de metal. Cavaleiros tinham mudado para um escudo em forma de asa e geralmente ficavam armados com uma lança. A lança formulada, portada dobrada contra o corpo sob o braço direito, era um requinte relativamente novo e provavelmente não foi usada em Hastings; o terreno era desfavorável para longas cargas de cavalaria. Tanto a infantaria e cavalaria geralmente lutavam com uma espada ereta, cumprida e de dois gumes. A infantaria também podia usar dardos e lanças longas.[60] Alguns homens da cavalaria podem ter usado uma maça em vez da espada. Arqueiros teriam usado um auto arco ou uma besta, e a maioria não teria armadura.[61]

Haroldo move-se ao sul

Depois de derrotar seu irmão Tostig e Haroldo Hardrada no norte, deixou muito de suas forças na região, incluindo Morcar e Eduíno, e marchou com o resto de seu exército ao sul para lidar com a ameaça da invasão normanda.[62] Não está claro quando Haroldo ficou sabendo do desembarque de Guilherme, mas é provável que foi enquanto estava viajando para o sul. O rei parou em Londres, e ficou lá por cerca de uma semana antes de Hastings, por isso é provável que tenha passado cerca de uma semana em sua marcha para o sul, com uma média de cerca de 43 quilômetros por dia,[63] em um total de 320 quilômetros.[64] Haroldo acampou em Caldbec Hill na noite de 13 de outubro, perto do que foi descrito como uma "macieira cinzenta". Esta localização estava a cerca de 13 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.[65][nota 9] Alguns dos primeiros contos franceses contemporâneos mencionam um emissário ou emissários enviados pelo rei da Inglaterra ao duque da Normandia, o que é provável. Nada veio desses esforços.[66]

Embora Haroldo tenha tentado surpreender os normandos, escuteiros de Guilherme relataram a chegada inglesa ao duque. Os eventos exatos que precederam a batalha são obscuros, contraditórias com os contos nas fontes, mas todos concordam que Guilherme liderou seu exército de seu castelo e avançou em direção ao inimigo.[66] Haroldo tinha tomado uma posição defensiva no topo de Senlac Hill (atual Battle, East Sussex), a cerca de 9,7 quilômetros do castelo de Guilherme em Hastings.[67]

Forças inglesas em Hastings

Cena da tapeçaria Bayeux que descreve soldados normandos montados atacando anglo-saxões que estão lutando a pé em uma parede de escudos.

O número exato de soldados do exército de Haroldo é desconhecido. Os registros da época não dão números fiáveis; algumas fontes normandas dão 400 000 a 1 200 000 homens do lado do rei.[nota 10] Fontes inglesas geralmente dão números muito baixos ao exército de Haroldo, talvez para fazer com que a derrota inglesa pareça menos devastadora.[69] Historiadores recentes têm sugerido números entre 5 000 e 13 000 homens para o exército do rei da Inglaterra em Hastings,[70] e a maioria dos historiadores modernos defendem uma figura de 7 000 a 8 000 tropas inglesas.[26][71] Estes homens teriam sido uma mistura da fyrd e dos housecarls. Poucos indivíduos ingleses são conhecidos por terem estado na batalha;[31] cerca de 20 pessoas nomeadas podem razoavelmente ser presumidas que tenham lutaram com Haroldo em Hastings, incluindo seus irmãos Gurt e Leofivino e dois outros parentes.[58][nota 11]

O exército inglês consistia inteiramente de infantaria. É possível que alguns dos membros da classe mais altas do exército cavalgaram para a batalha, mas quando a peleja começou apearam para lutar em pé.[nota 12] O núcleo do exército era formado por housecarls, em tempo integral soldados profissionais. Sua armadura consistia em um capacete cônico, uma malha de hauberk, e um escudo, que pode ter sido em forma de asa ou redondo.[72] A maioria dos housecarls lutaram com o machado de guerra dinamarquês de duas mãos, mas também podem ter levado uma espada.[73] O resto do exército era formado por imposições da fyrd, também infantaria, porém mais levemente blindados e não profissionais. A maior parte da infantaria teria formado a parte da parede de escudos, na qual todos os homens nas fileiras da frente trancaram seus escudos juntos. Atrás deles teriam ficado homens com machados e homens com lanças, assim como arqueiros.[74]

A batalha

Na manhã de 14 de outubro, o duque Guilherme da Normandia dispôs o seu exército para a batalha. A frente foi organizada de forma tipicamente medieval em três grupos, organizados por normandos no centro, flandrinos e bretões nos flancos, que incluíam cada um unidades de infantaria, cavalaria, besteiros e arqueiros. Estes últimos foram colocados na vanguarda para o começo da batalha. As disposições de Haroldo II de Inglaterra são desconhecidas mas devem ter sido semelhantes, uma vez que a escola militar e o tamanho do exército eram os mesmos.

A batalha começou com uma chuva de setas dos besteiros e arqueiros normandos, que não foi muito eficaz. Depois de algumas escaramuças, a infantaria e cavalaria normandas avançaram, lideradas por Guilherme em pessoa, assistido pelo meio-irmão, o bispo Odo de Bayeux. Este ataque pelo centro foi repelido sem grande dificuldade pela infantaria inglesa, protegida pelos seus longos machados e muralha de escudos. Entretanto, Guilherme mandou avançar o seu flanco esquerdo. Constituído principalmente por homens inexperientes e mal armados, os bretões não estavam à altura dos saxões. Depressa o flanco esquerdo de Guilherme desapareceu à custa dos ingleses e da fuga dos seus próprios homens.

Nesta altura, o flanco direito dos saxões precipita-se a lançar um ataque contra os bretões em fuga. Sem o suporte do resto do exército e a protecção da muralha de escudos, os seus membros foram apanhados por uma carga de cavalaria normanda e massacrados. Este episódio da batalha marcou o decurso do dia e as subsequentes acções normandas. Vendo que o inimigo era rápido a sair num contra-ataque suicida, os normandos começaram a orquestrar fugas, de forma a atrair os ingleses para a morte, numa táctica já usada em guerras no continente. A cada novo embate, fuga e emboscada, a muralha de escudos ingleses tornava-se mais frágil e ao fim do dia era já bastante permeável. Preocupado com a fraqueza da sua própria posição, Guilherme manda avançar de novo os besteiros e os arqueiros, numa última tentativa para resolver a batalha antes de a noite cair. Desta vez os arqueiros foram bastante mais eficientes e provocaram sérias baixas na linha saxã. Nesta altura, a cavalaria normanda lançou o último ataque. No confronto que se seguiu, o rei Haroldo II de Inglaterra foi morto por uma flecha no olho esquerdo, lançando o caos ao seu exército. Em breve a barreira de escudos desmoronou, assim como a resistência inglesa.

Depois da batalha de Hastings

A batalha terminou com uma vitória normanda ao cair da noite de 14 de outubro. Haroldo II estava morto e com ele, todas as esperanças de resistência à invasão normanda. A assembleia de nobres ingleses nomeou Edgar, o Atelingo rei, mas este foi forçado a abdicar poucas semanas depois para o Duque da Normandia. Guilherme foi coroado rei de Inglaterra no dia de Natal de 1066, na Abadia de Westminster, iniciando a dinastia normanda.

Uma abadia foi mais tarde erigida no local da batalha de Hastings e uma lápide assinala o local da morte de Haroldo, o último rei anglo-saxão de Inglaterra. Os eventos do dia encontram-se retratados na tapeçaria de Bayeux.

Atualmente existe um museu multimédia no local da batalha, e o campo de batalha pode ser visitado mediante pagamento de ingresso no museu.

Ver também

Notas

  1. Os vikings na região ficaram conhecidas como os "homens do Norte" do qual "Normandia" e "Normandos" são derivados.[2]
  2. Há uma ligeira confusão nas fontes originais sobre a data exata; era mais provável 5 de janeiro, mas algumas fontes contemporâneas pregam 4 de janeiro.[10]
  3. Outros concorrentes mais tarde vieram à tona. O primeiro foi Edgar, o Atelingo, sobrinho-neto de Eduardo, o Confessor, que era descendente patrilinear do rei Edmundo, o braço de ferro. Era o filho de Eduardo, o Exilado, filho de Edmundo, o braço de ferro, e nasceu na Hungria, onde seu pai tinha fugido após a conquista da Inglaterra por Canuto. Após o posterior retorno de sua família à Inglaterra e morte de seu pai em 1057,[16] Edgar teve de longe a mais forte reivindicação hereditária ao trono, mas tinha apenas cerca de treze ou catorze anos, no momento da morte de Eduardo, o Confessor, e com uma família pequena para apoiá-lo, seu pedido foi preterido pela Witenagemot.[17] Outro candidato foi Sueno II da Dinamarca, que tinha uma reivindicação ao trono, como neto de Sueno Barba-Bifurcada e sobrinho de Canuto,[18] mas ele não fez sua candidatura ao trono até 1069.[19] Os ataques de Tostig Godwinson no início de 1066 podem ter sido o início de uma candidatura ao trono, mas depois de sua derrota nas mãos de Eduíno e Morcar e a deserção da maioria de seus seguidores, ele jogou sua sorte com Haroldo Hardrada.[20]
  4. A lista sobrevivente de embarcações dá 776 navios, com contribuições de 14 diferentes nobres normandos.[31] Esta lista não inclui a capitânia de Guilherme, o Mora, dado a ele por sua esposa, Matilde de Flandres. O Mora é retratado na tapeçaria de Bayeux com a figura de um leão.[32]
  5. A aparição do cometa foi retratada na tapeçaria de Bayeux, onde está conectado com a coroação de Haroldo, embora o cometa tenha aparecido mais tarde, a partir de 24 abril a 1° maio de 1066. A imagem da tapeçaria é a mais antiga representação pictórica do cometa Halley a sobreviver.[35]
  6. A maioria dos historiadores modernos concordam com esta data,[37][38][39][40][41][42] embora algumas fontes contemporâneas têm Guilherme desembarcando em 29 de setembro.[43]
  7. A maioria dos relatos contemporâneos têm Guilherme desembarcando em Pevensey, com apenas o manuscrito E da Crônica Anglo-Saxônica dando o desembarque tendo como lugar Hastings.[43] A maioria dos relatos modernos também afirmam que as forças de Guilherme desembarcaram em Pevensey.[32][38][39][40][41][44][45][46][47][48][49][50]
  8. Desses 35 homens, cinco são conhecidos por terem morrido na batalha: Roberto de Vitot, Engenulfo de Laigle, Roberto fitzErneis, Rogério, filho de Turoldo e Taillefer.[58]
  9. A "macieira cinzenta" no original é descrita como hoar-apple tree, e, provavelmente, refere-se a uma macieira de caranguejos coberta com líquen que era provavelmente uma referência local.[65]
  10. O número dos 400 000 é dado por Wace em Romance de Rou e o número de 1 200 000 homens é proveniente do Carmen de Hastingae Proelio.[68]
  11. Dessas pessoas nomeadas, oito morreram na batalha – Haroldo, Gurt, Leofivino, Godric o xerife, Thurkill de Berkshire, Breme, e alguém conhecido apenas como "filho de Helloc".[58]
  12. Alguns historiadores argumentam, com base em comentários de Snorri Sturluson feitos no século XIII, que o exército inglês ocasionalmente lutou como cavalaria. Relatos contemporâneos, como registrado na Crônica Anglo-Saxônica, são de que quando soldados ingleses foram forçados a lutar, a cavalo, eles geralmente eram encaminhados, como em 1055 perto de Hereford.[72]

Referências

  1. Bates Normandy Before 1066 pp. 8–10
  2. a b Crouch Normans pp. 15–16
  3. Bates Normandy Before 1066 p. 12
  4. Bates Normandy Before 1066 pp. 20–21
  5. Hallam and Everard Capetian France p. 53
  6. Williams Æthelred the Unready p. 54
  7. Huscroft Ruling England p. 3
  8. Stafford Unification and Conquest pp. 86–99
  9. Fryde, et al. Handbook of British Chronology p. 29
  10. Barlow Edward the Confessor p. 250 e a nota de rodapé 1
  11. a b Higham Death of Anglo-Saxon England pp. 167–181
  12. Walker Harold pp. 136–138
  13. Bates William the Conqueror pp. 73–77
  14. Higham Death of Anglo-Saxon England pp. 188–190
  15. Huscroft Ruling England pp. 12–14
  16. Huscroft Norman Conquest pp. 96–97
  17. Huscroft Norman Conquest pp. 132–133
  18. Stafford Unification and Conquest pp. 86–87
  19. Bates William the Conqueror pp. 103–104
  20. Thomas Norman Conquest pp. 33–34
  21. Walker Harold pp. 144–145
  22. Walker Harold pp. 154–158
  23. a b Nicolle Medieval Warfare Sourcebook pp. 69–71
  24. a b c Marren 1066 pp. 55–57
  25. Coredon Dictionary of Medieval Terms and Phrases p. 154
  26. a b c Gravett Hastings pp. 28–29 Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Gravett28" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  27. Walker Harold pp. 144–150
  28. Walker Harold pp. 158–165
  29. Pettifer English Castles pp. 252–253
  30. a b c Bates William the Conqueror pp. 79–89
  31. a b c d e Gravett Hastings pp. 20–21
  32. a b c Marren 1066 pp. 91–92
  33. Huscroft Norman Conquest pp. 120–122
  34. Douglas William the Conqueror p. 181 e a nota de rodapé 1
  35. Musset Bayeux Tapestry p. 176
  36. Douglas William the Conqueror p. 192
  37. Gravett Hastings p. 50
  38. a b Huscroft Norman Conquest p. 123
  39. a b Barlow Feudal Kingdom p. 81
  40. a b Stenton Anglo-Saxon England p. 591
  41. a b Thomas Norman Conquest p. 35
  42. Douglas William the Conqueror p. 195
  43. a b Lawson Battle of Hastings p. 176
  44. Bennett Campaigns of the Norman Conquest p. 37
  45. Gravett Hastings pp. 47–49
  46. Huscroft Ruling England p. 15
  47. Stafford Unification and Conquest p. 100
  48. Bates William the Conqueror p. 86
  49. Walker Harold p. 166
  50. Rex Harold II p. 221
  51. Lawson Battle of Hastings p. 179
  52. Bennett Campaigns of the Norman Conquest p. 25
  53. a b Lawson Hastings pp. 163–164
  54. Bennett Campaigns of the Norman Conquest p. 26
  55. Marren 1066 pp. 89–90
  56. Gravett Hastings p. 27
  57. Marren 1066 pp. 108–109
  58. a b c Marren 1066 pp. 107–108
  59. Gravett Hastings pp. 15–19
  60. Gravett Hastings p. 22
  61. Gravett Hastings pp. 24–25
  62. Carpenter Struggle for Mastery p. 72
  63. Marren 1066 p. 93
  64. Huscroft Norman Conquest p. 124
  65. a b Marren 1066 pp. 94–95
  66. a b Lawson Battle of Hastings pp. 180–182
  67. Marren 1066 pp. 99–100
  68. Lawson Battle of Hastings p. 128 nota 32
  69. Lawson Battle of Hastings p. 128 e a nota 32
  70. Lawson Battle of Hastings pp. 130–133
  71. Marren 1066 p. 105
  72. a b Gravett Hastings pp. 29–31
  73. Marren 1066 p. 52
  74. Bennett, et al. Fighting Techniques pp. 21–22

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