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Átila: diferenças entre revisões

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Revisão das 17h08min de 3 de maio de 2016

 Nota: Para outros significados, veja Átila (desambiguação).
Átila
Reinado 434–453
Consorte Kreka
Antecessor(a) Bleda e Ruga
Sucessor(a) Ellac
Nascimento 406
Morte 453 (47 anos)
Pai Mundíuco

Átila, o Huno (406453), também conhecido como Praga de Deus ou Flagelo de Deus,[1][2] foi o último e mais poderoso rei dos hunos. Governou o maior império europeu de seu tempo desde 434 até sua morte. Suas possessões se estendiam da Europa Central até o mar Negro, e desde o Danúbio até o Báltico. Durante seu reinado foi um dos maiores inimigos dos impérios romanos Oriental e Ocidental: invadiu duas vezes os Bálcãs, esteve a ponto de tomar a cidade de Roma e chegou a sitiar Constantinopla na segunda ocasião. Marchou através da França até chegar a Orleães, antes que o obrigassem a retroceder na batalha dos Campos Cataláunicos (Châlons-sur-Marne) e, em 452, conseguiu fazer o imperador Valentiniano III fugir de sua capital, Ravena.

Ainda que seu império tenha morrido com ele e não tenha deixado nenhuma herança notável, tornou-se uma figura lendária da história da Europa. Em grande parte da Europa Ocidental é lembrado como o paradigma da crueldade e da rapina. Alguns historiadores, por outro lado, retrataram-no como um rei grande e nobre, e três sagas escandinavas o incluem entre seus personagens principais.

Origens

Os hunos europeus parecem ter sido um ramo ocidental dos Xiongnu, grupo proto-mongol ou proto-túrquico de tribos nômades do nordeste da China e da Ásia Central. Estes povos conseguiram superar militarmente seus rivais (muitos deles de refinada cultura e civilização) por sua predisposição para a guerra, sua assombrosa mobilidade e suas armas específicas, tais como o arco huno.

Átila nasceu em torno de ano 406 [3] . Quanto a sua infância, se desconhece qualquer dado. A suposição de que a desde pouca idade já era um chefe capaz e um guerreiro é razoável, porém não existe forma de constatá-la.

O trono compartilhado

Até 432, os hunos unificaram-se sob o rei Rua, Ruga ou Rugila. Em 434 morreu, deixando a seus sobrinhos Átila e Bleda, filhos de seu irmão Mundíuco, o comando de todas as tribos hunas. Naquele momento, os hunos encontravam-se em plena negociação com os embaixadores de Teodósio II a respeito da devolução de várias tribos renegadas que se haviam refugiado no seio do Império Romano do Oriente. No ano seguinte, Átila e Bleda tiveram um encontro com a legação imperial em Margo (atualmente Požarevac, na Sérvia) e, sentados todos na garupa dos cavalos à maneira huna, negociaram um tratado. Os romanos concordaram não somente em devolver as tribos fugitivas (que haviam sido um auxílio mais que bem-vindo contra os vândalos), mas também em duplicar o tributo anteriormente pago pelo Império Romano, de 350 libras romanas de ouro (quase 160 kg),[3] abrir os mercados aos comerciantes hunos e pagar um resgate de oito soldos por cada romano prisioneiro dos hunos. Estes, satisfeitos com o tratado, levantaram seus acampamentos e partiram até o interior do continente, talvez com o propósito de consolidar e fortalecer seu império. Teodósio utilizou esta oportunidade para reforçar os muros de Constantinopla, construindo as primeiras muralhas marítimas da cidade, e para levantar linhas defensivas na fronteira ao longo do Danúbio.

O império huno se estendia desde as estepes da Ásia Central até a atual Alemanha, e desde o Danúbio até o Báltico. A estrela mostra a localização aproximada da capital do império de Átila. Não se sabe com certeza onde a capital foi realmente localizada.

Os hunos permaneceram fora da vista dos romanos durante os cinco anos seguintes. Durante este tempo levaram a cabo uma invasão ao Império Parta. Porém, uma contra-ofensiva parta na Armênia terminou com a derrota de Átila e Bleda, que renunciaram a seus planos de conquista. Em 440, reapareceram nas fronteiras do Império Romano do Oriente, atacando os mercadores da margem norte do Danúbio, aos quais protegia o tratado vigente. Átila e Bleda ameaçaram com a guerra aberta, sustentando que os romanos haviam faltado aos seus compromissos e que o bispo de Margo (próxima à atual Belgrado) havia cruzado o Danúbio para saquear e profanar as tumbas reais hunas da margem norte do Danúbio. Cruzaram então este rio e arrasaram as cidades e fortes ilírios ao longo da margem, entre eles – segundo PriscoViminácio (atual Kostolac, na Sérvia), que era uma cidade dos mésios na Ilíria. Seu avanço começou em Margo, já que quando os romanos debateram a possibilidade de entregar o bispo acusado de profanação, este fugiu em segredo para os bárbaros e lhes entregou a cidade.

Teodósio havia desguarnecido as defesas ribeirinhas como conseqüência da captura de Cartago pelo vândalo Genserico em 440 e a invasão da Armênia pelo sassânida Izdegerdes II em 441. Isto deixou a Átila e Bleda o caminho aberto através da Ilíria e dos Bálcãs, que se apressaram a invadir no mesmo ano de 441. O exército huno, tendo saqueado Margo e Viminácio, tomou Singiduno (a moderna Belgrado) e Sirmio (atual Sremska Mitrovica, na província sérvia da Voivodina), antes de parar as operações. Continuou então uma trégua ao longo de 442, momento que Teodósio aproveitou para trazer suas tropas da África e dispor de uma grande emissão de moeda para financiar a guerra contra os hunos. Feitos estes preparativos, considerou que podia permitir-se rechaçar as exigências dos reis bárbaros.

A resposta de Átila e Bleda foi retomar a campanha (443). Golpeando ao longo do Danúbio, tomaram os centros militares de Ratiara e sitiaram com êxito Naísso (atual Nis) mediante o emprego de aríetes e torres de assalto rodantes (sofisticações militares que eram novas entre os hunos). Mais tarde, pressionando ao longo do rio Nišava, tomaram Sérdica (Sófia), Filipópolis (Plovdiv) e Arcadiópolis. Enfrentaram e destruíram tropas romanas próximo a Constantinopla e somente se detiveram pela falta do material adequado de assédio capaz de abrir brecha nas ciclópicas muralhas da cidade. Teodósio admitiu a derrota e enviou o cortesão Anatólio para negociar os termos da paz, que foram mais rigorosos para os romanos que no tratado anterior: o imperador concordou em entregar mais de 6.000 libras romanas (cerca de 1.963 kg) de ouro como indenização por ter faltado aos termos do pacto; o tributo anual triplicou-se, alcançando a quantidade de 2.100 libras romanas (cerca de 687 kg) de ouro; e o resgate por cada romano prisioneiro passava a ser de 12 sólidos.

Satisfeitos, durante um tempo, os seus desejos, os reis hunos retiraram-se para o interior do seu império. De acordo com Jordanes, que segue Prisco, em algum momento do período de calma que se seguiu à retirada dos hunos de Bizâncio (provavelmente em torno de 445), Bleda morreu e Átila ficou como único rei. Existe abundante especulação histórica sobre se Átila assassinou seu irmão ou se Bleda morreu por outras causas. Em todo caso, Átila era agora o senhor indiscutível dos hunos e voltou-se novamente para o Império Romano do Oriente.

Rei único

Depois da partida dos hunos, Constantinopla sofreu graves desastres, tanto naturais como causados pelo homem: sangrentos distúrbios entre aficcionados das corridas de carros do Hipódromo; epidemias em 445 e 446, a segunda em continuação de uma fome; e toda uma série de terremotos que durou quatro meses, derrubou boa parte das muralhas e matou milhares de pessoas, ocasionando uma nova epidemia. Este último golpe teve lugar em 447, justo quando Átila, tendo consolidado seu poder, partiu de novo ao sul, entrando no império através da Mésia.

O exército romano, sob o comando do mestre dos soldados (magister militum) godo Arnegisclo, o enfrentou no rio Vid e foi vencido, embora não sem antes ocasionar graves perdas ao inimigo. Os hunos ficaram sem oposição e se dedicaram à pilhagem ao longo dos Bálcãs, chegando inclusive até as Termópilas. Constantinopla mesma se salvou graças à intervenção do prefeito Flávio Constantino, que organizou brigadas cidadãs para a reconstrução das muralhas danificadas pelos sismos (e, em alguns lugares, para construir uma nova linha de fortificação em frente à antiga).

Chegou até nós um relato da invasão:

"A nação bárbara dos hunos, que habitava na Trácia, chegou a ser tão grande que mais de cem cidades foram capturadas e Constantinopla chegou quase a estar em perigo e a maioria dos homens fugiram dela (…) E houve tantos assassinatos e derramamentos de sangue que não se podiam contar os mortos. Ai, que inclusive capturaram igrejas e monastérios e degolaram monges e donzelas em grande número!"
Calínico, "Vida de São Hipácio".

Átila reclamou, como condição para a paz, que os romanos continuassem pagando um tributo em ouro e que evacuassem uma faixa de terra cuja largura ia de trezentas milhas a leste desde Singiduno até cem milhas ao sul do Danúbio. As negociações continuaram entre romanos e hunos durante aproximadamente três anos. O historiador Prisco foi enviado como embaixador ao acampamento de Átila em 448. Os fragmentos de seus informes, conservados por Jordanes, nos oferecem uma descrição gráfica de Átila entre suas numerosas esposas, seu bufão cita e seu anão mouro, impassível e sem jóias no meio do esplendor de seus cortesões:

A Festa de Átila, do pintor húngaro Mór Than, na Galeria Nacional Húngara. Baseia-se no fragmento de Prisco de Pânio, que o representa de branco na parte direita, segurando seu livro de história.
"Havia sido preparada uma luxuosa comida, servida em vasilha de prata, para nós e nossos bárbaros hóspedes, porém Átila não comeu nada além de carne em um prato de madeira. Em todo o resto mostrou-se também equilibrado; seu copo era de madeira, enquanto que ao resto de nossos hóspedes se ofereciam cálices de ouro e prata. Sua roupa, igualmente, era muito simples, porém muito limpa. A espada que levava às costas, os laços de seus sapatos citas e os arreios de seu cavalo careciam de adornos, diferente dos outros citas, que levavam ouro ou gemas ou qualquer outra coisa preciosa."

Durante estes três anos, de acordo com uma lenda recolhida por Jordanes, Átila descobriu a "Espada de Marte":

Diz o historiador Prisco que foi descoberta nas seguintes circunstâncias: "Certo pastor descobriu que um terneiro de seu rebanho mancava e não foi capaz de encontrar a causa da ferida. Seguiu ansiosamente o rastro de sangue e encontrou ao final uma espada com que o animal havia se ferido enquanto pastava na relva. Recolheu-a e levou-a diretamente a Átila. Este deleitou-se com o presente e, sendo ambicioso, pensou que havia sido destinado a ser senhor de todo o mundo e que, por meio da Espada de Marte, tinha garantida a supremacia em todas as guerras."
Jordanes, "Origem e gestos dos godos" (XXXV)

Mais tarde, os estudiosos identificariam esta lenda como pertencente a um padrão de culto à espada, comum entre os nômades das estepes da Ásia Central.

Átila no Ocidente

Já em 450, Átila havia proclamado a sua intenção de atacar o poderoso Reino Visigodo de Tolosa em aliança com o imperador Valentiniano III. Átila havia estado anteriormente de boas relações com o império ocidental e com seu governante de facto , Flávio Aécio. Aécio havia passado um breve exílio entre os hunos em 433, e as tropas que Átila lhe havia proporcionado contra os godos e os burgúndios haviam contribuído para conseguir-lhe o título – mais que nada honorífico – de mestre dos soldados no ocidente. Os presentes e os esforços diplomáticos do vândalo Genserico, que se opunha e temia os visigodos, podem também ter influenciado os planos de Átila.

De qualquer modo, na primavera de 450, a irmã de Valentiniano III, Honória, a quem, contra sua vontade haviam prometido a um senador, enviou ao rei huno um pedido de ajuda juntamente com seu anel. Embora seja provável que Honória não tivesse a intenção de propor-lhe matrimónio, Átila decidiu interpretar assim sua mensagem. Aceitou, pedindo-lhe, como dote, a metade do império ocidental. Quando Valentiniano descobriu o ocorrido, somente a influência de sua mãe, Gala Placídia, conseguiu que enviasse Honória ao exílio em vez de matá-la. Escreveu a Átila negando categoricamente a legitimidade da suposta oferta de matrimónio. Átila, sem deixar-se convencer, enviou uma delegação a Ravena para proclamar a inocência de Honória e a legitimidade de sua proposta de núpcias, assim como que ele mesmo se encarregaria de vir reclamar o que era seu por direito.

Enquanto isso, Teodósio morreu em consequência de uma queda de cavalo, e o seu sucessor, Marciano, interrompeu o pagamento do tributo no final de 450. As sucessivas invasões dos hunos e de outras tribos haviam deixado os Bálcãs com pouco a saquear. O rei dos sálios havia morrido e a luta sucessória entre seus dois filhos conduziu a um confronto entre Átila e Aécio. Átila apoiava o filho mais velho, enquanto que Aécio apoiava o mais novo. Bury pensa que a intenção de Átila ao marchar para oeste era a de estender seu reino – já então o mais poderoso do continente – até a Gália e as costas do Atlântico. Quando reuniu todos seus vassalos (gépidas, ostrogodos, rúgios, escirianos, hérulos, turíngios, alanos e burgúndios) e iniciou sua marcha a oeste, já havia enviado ofertas de aliança tanto aos visigodos como aos romanos.

Em 451, sua chegada à Bélgica, com um exército que Jordanes estima em meio milhão de homens, deixou claro quais eram suas verdadeiras intenções. Em 7 de abril tomou Metz, obrigando Aécio a por-se em movimento para enfrentar-lhe com tropas recrutadas entre os francos, burgúndios e celtas. Uma delegação de Ávito e o constante avanço de Átila a oeste convenceram o rei visigodo, Teodorico I, de aliar-se com os romanos. O exército combinado de ambos chegou a Orleães antes de Átila, cortando assim seu avanço. Aécio perseguiu os hunos e alcançou-os perto de Châlons-en-Champagne, travando a batalha dos Campos Cataláunicos, que terminou com a vitória da aliança godo-romana, embora Teodorico tenha perdido a vida no combate. Átila retirou-se para além das suas fronteiras e os seus aliados debandaram.

Invasão da Itália e morte de Átila

Átila, o flagelo de Deus, por Ulpiano Checa

Átila apareceu de novo em 452 para exigir seu matrimônio com Honória, invadindo e saqueando a Itália na sua passagem. Seu exército submeteu a pilhagem numerosas cidades e arrasou totalmente Aquileia. O imperador Valentiniano III fugiu de Ravena a Roma. Aécio permaneceu em campanha, porém sem capacidade militar suficiente para enfrentar uma batalha.

Finalmente, Átila se deteve no rio Pó, onde recebeu uma delegação formada, entre outros, pelo prefeito Trigécio, o cônsul Avieno e o papa Leão I. Após o encontro, iniciou a retirada sem reclamar nem seu casamento com Honória nem os territórios que desejava.

Encontro de Átila com o Papa Leão I. da Chronicon Pictum, na biblioteca da Universidade de Marilândia

Ofereceram-se muitas explicações para este fato. Pode ser que as epidemias e falta de alimentos que coincidiram com sua invasão debilitaram seu exército, ou que as tropas que Marciano enviou ao outro lado do Danúbio o forçaram a regressar, ou talvez ambas coisas. Prisco conta que um temor supersticioso ao destino de Alarico I, que morreu pouco depois do saque de Roma em 410, fez os hunos pararem. Próspero de Aquitânia afirma que o papa Leão, ajudado por São Pedro e São Paulo, o convenceu a se retirar da cidade. Seguramente a personalidade forte de São Leão Magno teve mais que ver com a retirada de Átila que a entrega a este de uma grande quantidade de ouro, como supõem alguns autores, dado que tinha já ao alcance de sua mão a plena posse da fonte da qual esse ouro provinha.

Quaisquer que fossem as suas razões, Átila deixou a Itália e regressou ao seu palácio além do Danúbio. Dali, planejou atacar novamente Constantinopla e exigir o tributo que Marciano havia deixado de pagar. Mas a morte surpreendeu-o no início de 453. O relato de Prisco diz que certa noite, depois dos festejos de celebração da sua última boda (com uma goda chamada Ildico), sofreu uma grave hemorragia do baço que lhe ocasionou a morte. Os seus soldados, ao descobrir sua morte, choraram-no cortando o cabelo e ferindo-se com as espadas, pois – como assinala Jordanes – "o maior de todos os guerreiros não devia ser chorado com lamentos de mulher nem com lágrimas, mas sim com sangue de homens". Enterraram-no num sarcófago triplo – de ouro, prata e ferro – junto com o botim de suas conquistas, e os que participaram no funeral foram executados para manter secreto o local do enterro. Depois da sua morte, continuou a viver como figura lendária: as personagens de Etzel no Cantar dos Nibelungos e de Atli na Saga dos Volsung e a Edda poética inspiram-se vagamente na sua figura.

O encontro de Leão I e Átila, afresco de Rafael Sanzio, (1514), no Palácio Pontifício, Roma. Pode-se ver São Pedro e São Paulo apoiando o papa do alto em seu encontro com o rei huno.

Outra versão de sua morte é a que nos ofereceu, oitenta anos depois do evento, o cronista romano Conde Marcelino: "Átila, rei dos hunos e saqueador das províncias da Europa, foi atravessado pela mão e adaga de sua mulher". Também a "Saga dos Volsung" e a "Edda poética" sustentam que o rei Atli (Átila) morreu pelas mãos de sua mulher Gudrun, no entanto, a maioria dos estudiosos rejeitam estes relatos como puras fantasias românticas e preferem a versão dada por Prisco, contemporâneo de Átila.

Assim terminaram oito anos de invasões dos hunos. Os seus filhos Elaco (que tinha sido designado herdeiro), Dengizico e Ernac lutaram pela sucessão e, divididos, foram vencidos no ano seguinte na batalha de Nedau por uma coalizão de povos diversos (ostrogodos, hérulos, gépidas, etc). Seu império não sobreviveu a Átila.

Nome, aparência e carácter de Átila

Átila. De uma ilustração para a Edda Poética.

A principal fonte de informação sobre Átila é Prisco, um historiador que viajou com Maximino em uma delegação do imperador bizantino Teodósio II em 448. Descreve o povoado construído pelos nômades hunos, e no qual se haviam estabelecido, como do tamanho de uma cidade grande, com sólidos muros de madeira. Ao próprio Átila, Prisco o retrata assim:

"Baixo de estatura, de peito largo e cabeça grande; seus olhos eram pequenos, sua barba fina e salpicada de fios brancos; e tinha o nariz chato e a pele morena, mostrando a evidência de sua origem."

A aparência física de Átila devia ser, muito provavelmente, a de alguém do Extremo Oriente ou do tipo mongol, ou talvez uma mistura deste tipo e daquele dos povos túrquicos da Ásia Central. Em realidade, seguramente mostrava traços do oriente asiático, que os europeus não estavam acostumados a ver, e por isso o descreveram com frequência em termos pouco elogiosos.

Átila é conhecido na história e na tradição ocidentais como o inflexível "Flagelo de Deus", e seu nome passou a ser sinônimo de crueldade e barbárie. Parte dessa imagem pode ter surgido da fusão de seus traços, na imaginação popular, com os dos posteriores senhores da guerra das estepes, como Gengis Cã e Tamerlão: todos eles compartilham a mesma fama de cruéis, inteligentes, sanguinários e amantes da batalha e da pilhagem. A realidade sobre seus caráteres respectivos pode ser mais complexa. Os hunos do tempo de Átila haviam se relacionado durante algum tempo com a civilização romana, particularmente através dos aliados germanos (federados) da fronteira, de modo que quando Teodósio enviou sua delegação em 448, Prisco pôde identificar como línguas comuns na horda o huno, o gótico e o latim. Conta também Prisco seu encontro com um romano ocidental cativo, que havia assimilado tão completamente a forma de vida dos hunos que não tinha nenhum desejo de voltar a seu país de origem. E a descrição do historiador bizantino da humildade e simplicidade de Átila não oferece dúvidas sobre a admiração que lhe causa. Assim mesmo, está claro, dos relatos de Prisco, que Átila não somente falava perfeitamente o latim, mas que também sabia escrevê-lo; ademais falava o grego e outros idiomas, pelo que deduz que muito provavelmente tratou-se de um homem de grande cultura para os cânones da época.

O contexto histórico da vida de Átila teve grande transcendência na hora de configurar sua posterior imagem pública: Nos anos da decadência do Império Romano do Ocidente, tanto seus conflitos com Flávio Aécio (conhecido frequentemente como "o último romano") como o alheio de sua cultura contribuíram para cobrir-lhe com a máscara de bárbaro feroz e inimigo da civilização, como tem sido retratado em numerosos filmes e outras manifestações artísticas. Os poemas épicos germânicos em que ele aparece nos oferecem um retrato mais complexo: é tanto um aliado nobre e generoso (o Etzel do Cantar dos Nibelungos), como cruel (Atli, na Saga dos Volsung e na Edda poética). Algumas histórias nacionais, porém, o retratam sempre sob uma luz favorável. Na Hungria e Turquia os nomes de Átila e sua última mulher, Ildico, continuam sendo populares atualmente. De forma parecida, o escritor húngaro Geza Gardonyi, em sua novela A láthatatlan ember (publicada no ocidente com o título de "O escravo de Átila" ), oferece uma imagem positiva do rei huno, descrevendo-o como um chefe sábio e querido.

Tem-se classificado Átila como um "bárbaro" sem dar-se conta que os romanos chamavam assim a qualquer povo que não fosse romano ou romanizado, sem importar seu grau de cultura nem seu estado de civilização. Deve ter em conta, na hora de formar-se uma ideia correta do personagem, que os relatos que nos têm chegado são todos da caneta de seus inimigos, pelo que é imprescindível uma adequada análise dos mesmos.

Além disso, não é improvável que o chefe de uma nação guerreira (um chefe inteligente) avaliaria a vantagem propagandística de ser considerado por seus inimigos "O flagelo de Deus", e que devido a isso, fomentaria essa imagem entre eles.

O nome de Átila poderia significar "Paizinho", do gótico atta (pai), com o sufixo diminutivo "-la", já que sabemos que muitos godos serviram nos seus exércitos. Poderia ser também uma forma pré-turca, de origem altaica (compare-se com Ataturk e com Alma-Ata, a atual Almaty). É possível que provenha de atta (pai) e de il (terra, país), com o sentido de "terra paterna" ou "mãe pátria". Atil era também o nome altaico do atual Volga, rio que talvez deu seu nome a Átila.

A herança de Átila

Os hunos estão a tentar, na atualidade, conseguir o seu reconhecimento como minoria étnica na Hungria. Mais de 100.000 hunos descendentes do "Flagelo de Deus", possivelmente, vivem hoje entre a Hungria e os países vizinhos.

Notas e referências

  1. Os Bárbaros. Terry Jones. Apresentado pela TV Escola. 2009.
  2. O nome "Praga de Deus" lhe foi atribuído pela cristandade, não significando uma praga controlada por Deus, mas sim uma praga que consome e destrói Deus, uma vez que Átila era pagão e visto como uma ameaça militar e religiosa ao cristianismo.
  3. a b Twiss, Miranda (2004). Os mais perversos da história 1 ed. São Paulo: Planeta. ISBN 85-89885-40-2  Parâmetro desconhecido |volumes= ignorado (|volume=) sugerido (ajuda)

Bibliografia

Fontes primárias

  • Prisco: História Bizantina (texto grego em Ludwig Dindorf: Historici Graeci Minores, Leipzig, B.G. Teubner, 1870). Pode-se consultar uma tradução ao inglês de J.B. Bury em Priscus at the court of Attila
  • Jordanes: Origen y gestas de los godos. Há um edição espanhola de José María Sánchez Martín, Madri, Cátedra, 2001.

Fontes secundárias

Em espanhol

  • Bock, Susan: Los hunos, tradición e historia. Universidade de Múrcia, Secretariado de Publicaciones, 1992. ISBN B0000EDNA1
  • Bussagli, Mario: Atila. Madrid: Alianza Editorial, 2005. ISBN 84-206-0341-4
  • Roberts, Wess: Atila, conquistador en el siglo V, líder en el siglo XX,. Madrid: Maeva, 2001. ISBN 84-86478-23-5
  • Cebrián, Juan Antonio: Pasajes de la Historia. Madrid: Corona Borealis, 2001.
  • Raya Olivet, Hernan, "Hunos, conquista y expansión", Colegio "Trilce", versão do clássico Age of Empires II, The Conquerors, 2006.

Em inglês

  • Blockley, R.C.: The Fragmentary Classicising Historians of the Later Roman Empire, vol. II (coleção de fragmentos de Prisco, Olimpiodoro de Tebas e outros, com o texto original e tradução ao inglés). ISBN 0-905205-15-4
  • Gordon, C.D.: The Age of Attila: Fifth-century Byzantium and the Barbarians. Michigan: University of Michigan Press, 1960.
  • Maenchen-Helfen, Otto (ed. Max Knight): The World of the Huns: Studies in Their History and Culture. Berkeley: University of California Press, 1973.
  • Thompson, E.A.: A History of Attila and the Huns. Londres: Oxford University Press, 1999. ISBN 0-631-21443-7

Em francês

  • Bóna, István: Les huns: Le grand empire barbare d'Europe (IVe-Ve siècles). Paris: France, 2002.

Em húngaro

  • Kézai, Simon /Keszi, Simon: "A hunok és a magyarok cselekedetei". Em Gesta Hunnorum et Hungarorum. Editado e traduzido por László Veszprémy & Frank Schaer. Central European University, 1999.

Ligações externas

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