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==Origem do termo==
==Origem do termo==
Geralmente, credita-se a introdução do termo "intelectual", como [[substantivo]], a [[Georges Clemenceau]]<ref>[http://www.bostonreview.net/noam-chomsky-responsibility-of-intellectuals-redux The Responsibility of Intellectuals, Redux]. Por [[Noam Chomsky]]. ''Boston Review'', 1º de setembro de 2011.</ref> durante o [[caso Dreyfus]]. Clemenceau, ele próprio um proeminente ''[[dreyfusard]]'', assim como [[Émile Zola]], [[Octave Mirbeau]] e [[Anatole France]], entre outros, publicou, em 1898, no jornal ''L'Aurore'', um artigo intitulado "À la dérive", no qual aparece o termo.<ref>''"N'est-ce pas un signe, tous ces intellectuels, venus de tous les coins de l'horizon, qui se groupent sur une idée et qui s'y tiennent inébranlables ? [...]"''. Georges Clemenceau, « À la dérive », ''L'Aurore'', 23 de janeiro de 1898, republicado em Georges Clemenceau, ''L'affaire Dreyfus. L'iniquité''. Paris, Mémoire du livre, 2001, p. 217, ''apud'' Vincent Duclert, [http://ccrh.revues.org/293#ftn1 «Les intellectuels, un problème pour l’histoire culturelle »], ''Les Cahiers du Centre de Recherches Historiques'' n°, 31, 2003.</ref> Há, entretanto, indicações de que, por volta de 1890, o termo já fosse usado, como substantivo.<ref>Idt, Geneviève «L'intellectuel avant l'affaire Dreyfus», ''Cahiers de lexicologie'', 1969-2, p. 35-46. Cf. «Le devoir supérieur de l'intellectuel réside tout entier dans la manipulation du Divin » (Péladan, 1891), ''apud'' [http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/mots_0243-6450_1993_num_37_1_2146 Des mots en politique. Les intellectuels, déjà, encore, toujours. A propos des Intellectuels des années trente et des Intellectuels en France, de l' affaire Dreyfus à nos jours]. Por Maurice Tournier. In: ''Mots'', dezembro de 1993, N°37, pp. 106-110. <br /> Lamonde, Yvan
Geralmente, credita-se a introdução do termo "intelectual", como [[substantivo]], a [[Georges Clemenceau]]<ref>[http://www.bostonreview.net/noam-chomsky-responsibility-of-intellectuals-redux The Responsibility of Intellectuals, Redux]. Por [[Noam Chomsky]]. ''Boston Review'', 1º de setembro de 2011.</ref> durante o [[caso Dreyfus]]. Clemenceau, ele próprio um proeminente ''[[dreyfusard]]'', assim como [[Émile Zola]], [[Octave Mirbeau]] e [[Anatole France]], entre outros, publicou, em 1898, no jornal ''L'Aurore'', um artigo intitulado "À la dérive", no qual aparece o termo.<ref>''"N'est-ce pas un signe, tous ces intellectuels, venus de tous les coins de l'horizon, qui se groupent sur une idée et qui s'y tiennent inébranlables ? [...]"''. Georges Clemenceau, « À la dérive », ''L'Aurore'', 23 de janeiro de 1898, republicado em Georges Clemenceau, ''L'affaire Dreyfus. L'iniquité''. Paris, Mémoire du livre, 2001, p. 217, ''apud'' Vincent Duclert, [http://ccrh.revues.org/293#ftn1 «Les intellectuels, un problème pour l’histoire culturelle »], ''Les Cahiers du Centre de Recherches Historiques'' n°, 31, 2003.</ref> Há, entretanto, indicações de que, por volta de 1890, o termo já fosse usado, como substantivo.<ref>
Idt, Geneviève «L'intellectuel avant l'affaire Dreyfus», ''Cahiers de lexicologie'', 1969-2, p. 35-46. Cf. «Le devoir supérieur de l'intellectuel réside tout entier dans la manipulation du Divin » (Péladan, 1891), ''apud'' [http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/mots_0243-6450_1993_num_37_1_2146 Des mots en politique. Les intellectuels, déjà, encore, toujours. A propos des Intellectuels des années trente et des Intellectuels en France, de l' affaire Dreyfus à nos jours]. Por Maurice Tournier. In: ''Mots'', dezembro de 1993, N°37, pp. 106-110. <br /> Lamonde, Yvan
[http://nelson.cen.umontreal.ca/revue/haf/1994/v48/n2/305323ar.pdf « Les "intellectuels" francophones au Québec au XIX<sup>e</sup> siècle : questions préalables »]. ''Revue d'histoire de l'Amérique française'', vol. 48, n° 2, 1994, p. 153-185.</ref>
[http://nelson.cen.umontreal.ca/revue/haf/1994/v48/n2/305323ar.pdf « Les "intellectuels" francophones au Québec au XIX<sup>e</sup> siècle : questions préalables »] {{Wayback|url=http://nelson.cen.umontreal.ca/revue/haf/1994/v48/n2/305323ar.pdf |date=20150512100429 }}. ''Revue d'histoire de l'Amérique française'', vol. 48, n° 2, 1994, p. 153-185.
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[[File:Escultura 'El intelectual' en el Parque Jaime Duque.JPG|thumb|180px|esquerda|"O intelectual", escultura no parque Jaime Duque, em [[Bogotá]], na [[Colômbia]]]]



Revisão das 22h10min de 23 de abril de 2019

"Desenvolvimento intelectual", escultura de 1916 de Hermon MacNeil no campus da Universidade do Noroeste, em Evanston, no Illinois, nos Estados Unidos

O termo intelectual deriva do latim tardio intellectualis, adjetivo que indica aquilo que, em filosofia, diz respeito ao intelecto na sua atividade teórica, ou seja, separado da experiência sensível - esta considerada como de grau cognitivo inferior. Na concepção aristotélica, eram definidas, como intelectuais, virtudes como ciência, sapiência, inteligência e arte, as quais permitiriam, à "alma intelectiva" - distinta da "alma vegetativa" e da "alma sensitiva" e entendida como princípio vital do Homem[1][2] -, alcançar a verdade. No campo da metafísica, o termo indica a abstração, em contraposição à concretude e à materialidade.

Contemporaneamente, a definição do intelectual é geralmente construída pelos próprios intelectuais e segundo suas respectivas concepções, o que resulta em várias abordagens e definições do termo. Autores como Norberto Bobbio e Bernard-Henri Lévy[3] concordam em pelo menos um aspecto: o intelectual se define social e historicamente, segundo o papel das ideias em uma dada sociedade. Segundo Bobbio, "toda sociedade em todas as épocas teve seus intelectuais ou, mais precisamente, um grupo mais ou menos amplo de pessoas que exercem o poder espiritual ou ideológico, em oposição ao poder temporal ou político."[4]

Origem do termo

Geralmente, credita-se a introdução do termo "intelectual", como substantivo, a Georges Clemenceau[5] durante o caso Dreyfus. Clemenceau, ele próprio um proeminente dreyfusard, assim como Émile Zola, Octave Mirbeau e Anatole France, entre outros, publicou, em 1898, no jornal L'Aurore, um artigo intitulado "À la dérive", no qual aparece o termo.[6] Há, entretanto, indicações de que, por volta de 1890, o termo já fosse usado, como substantivo.[7]

"O intelectual", escultura no parque Jaime Duque, em Bogotá, na Colômbia

Clemenceau se referia então a especialistas de primeira ordem, luminares das respectivas áreas de conhecimento, os quais acreditavam ter o direito e o dever de se mobilizar em defesa de valores importantes quando estes não lhes parecessem adequadamente protegidos ou estivessem mesmo em risco em decorrência de ações das autoridades constituídas. Em conjunto, esses notáveis especialistas detêm um poder que, embora derivado de fontes diferentes, pode ladear e, eventualmente, contrapor-se ao dos políticos.

Também no século XIX, na Rússia pré-revolucionária, cunhou-se o termo intelligentsia para designar um grupo de indivíduos cultos, influenciados pelo ideário iluminista, críticos do regime tsarista e defensores de valores democráticos e reformistas. Os integrantes da intelligentsia eram, geralmente, membros da aristocracia rural ou dos setores mais ilustrados da pequena burguesia urbana. Contemporaneamente, os intelectuais representariam la haute intelligentsia ("a alta intelligentsia") a que se refere Régis Debray - "o conjunto de indivíduos socialmente legitimados para exprimir publicamente suas opiniões pessoais acerca de questões públicas, independentemente dos procedimentos regulamentares a que se devem submeter os cidadãos comuns."[8]

Universidade e intelectuais

Um dos principais espaços de atuação do intelectual é a universidade.[9] A ciência seria parte da ideologia do intelectual, assim como a dedicação à prática científica e o desejo do exercício de um cargo no ensino superior enquanto modo de distinção social.[10] No caso brasileiro, bem como em alguns outros países, o intelectual procura as instituições superiores de ensino para apoio e para organização; partindo da sociedade, a esta retorna com propostas embasadas no conhecimento técnico-científico adquirido através do estudos. Esta prática é claramente perceptível, por exemplo:

Política e intelectuais

Devido à ação reflexiva, o intelectual é portador de uma autoridade científica que se expressa em suas relações com a sociedade. Estas relações, inseridas num conjunto maior de relações de poder, colocam o intelectual em situação de comprometimento político: suas ideias não são desvinculadas da existência social e suas proposições seguem uma orientação determinada. O intelectual pode, portanto, contribuir para determinado regime político ou determinada concepção de mundo. Norberto Bobbio afirma:

Memorial dos Intelectuais Mártires, em Daca, em Bangladesh

O fim dos intelectuais?

Observando como o saber amplo e generalista, as ideologias e as humanidades vêm sofrendo uma derrota frente às especialidades, ao saber técnico e prático, à indefinição política e às ciências aplicadas, muitos estudiosos defendem estar ocorrendo o chamado "fim dos intelectuais". Os argumentos usados para defender esse fim lembram muito os argumentos de Francis Fukuyama em seu livro "O fim da história e o último homem".

Mas há também aqueles que não se alinham com Fukuyama e deploram a existência do que chamam de fast-thinker (em tradução literal, 'pensador rápido'). Segundo Pierre Bourdieu, os fast thinkers situam-se entre o campo acadêmico e o jornalístico e são propensos a valorizar o sucesso comercial e suas regras, em detrimento das regras do campo acadêmico, transformando o mercado em "instância legítima de legitimação" de suas ideias. Para o autor "esses intelectuais mediáticos acabam prejudicando - ou ao menos ocultando - o trabalho dos verdadeiros pensadores, [...] dificultando a ação pública de quem tem realmente algo interessante a dizer". Assim, esse pensamento "superficial, descartável e cheio de jargões incompreensíveis" afetaria a capacidade de reflexão das pessoas tal como o fast-food afeta a qualidade da nutrição dos indivíduos.[15][16][17][18] Os fast-thinkers assumem o tipo do "intelectual-jornalista",[19] ou seja, o profissional oriundo da universidade (em geral, psicólogo, politólogo ou jurista) que se importa mais com o discurso do que com a relevância do saber transmitido, revelando uma espécie de comprometimento com o senso comum ou até mesmo com opiniões predeterminadas pelos donos do meio de comunicação, visando a agradar, e assim fugindo ao engajamento que os definiria como autênticos intelectuais. Nas palavras de Pierre Rosanvallon, historiador e professor do Collège de France: "intelectual é quem vincula um trabalho de análise a uma preocupação cidadã. De contrário, é um especialista".

Notas e referências

  1. Echegoyen Olleta, Javier. Historia de la Filosofía. Volumen 1: Filosofía Griega. Editorial Edinumen.]
  2. Treccani. Vocabolario on line. "Intellettivo"
  3. LÉVY, Bernard-Henri. Elogio dos intelectuais. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
  4. Bobbio, Norberto. "Intellettuali". Enciclopedia del Novecento (1978)
  5. The Responsibility of Intellectuals, Redux. Por Noam Chomsky. Boston Review, 1º de setembro de 2011.
  6. "N'est-ce pas un signe, tous ces intellectuels, venus de tous les coins de l'horizon, qui se groupent sur une idée et qui s'y tiennent inébranlables ? [...]". Georges Clemenceau, « À la dérive », L'Aurore, 23 de janeiro de 1898, republicado em Georges Clemenceau, L'affaire Dreyfus. L'iniquité. Paris, Mémoire du livre, 2001, p. 217, apud Vincent Duclert, «Les intellectuels, un problème pour l’histoire culturelle », Les Cahiers du Centre de Recherches Historiques n°, 31, 2003.
  7. Idt, Geneviève «L'intellectuel avant l'affaire Dreyfus», Cahiers de lexicologie, 1969-2, p. 35-46. Cf. «Le devoir supérieur de l'intellectuel réside tout entier dans la manipulation du Divin » (Péladan, 1891), apud Des mots en politique. Les intellectuels, déjà, encore, toujours. A propos des Intellectuels des années trente et des Intellectuels en France, de l' affaire Dreyfus à nos jours. Por Maurice Tournier. In: Mots, dezembro de 1993, N°37, pp. 106-110.
    Lamonde, Yvan « Les "intellectuels" francophones au Québec au XIXe siècle  : questions préalables » Arquivado em 12 de maio de 2015, no Wayback Machine.. Revue d'histoire de l'Amérique française, vol. 48, n° 2, 1994, p. 153-185.
  8. Debray, Régis, Le pouvoir intellectuel en France. Paris: Éditions Ramsay, 1979, pp. 43-44, apud Zygmunt Bauman e Bruno Bongiovanni, "Intellettuali". Enciclopedia delle scienze sociali (1996).
  9. Pedro Demo, "A universidade como defesa organizada do intelectual". In.: DEMO, Pedro. Intelectuais e vivaldinos: da crítica acrítica. São Paulo: ALMED, 1982. p.62-68.
  10. idem, ibidem. p.62-63.
  11. ZOTTI, Solange A. Zotti. O Ensino Secundário nas Reformas Francisco Campos e Gustavo Capanema: um olhar sobre a organização do currículo escolar.
  12. Em contraponto, temos a figura de Paulo Freire como intelectual de atuação expressiva fora da Universidade.
  13. Especificamente na energia nuclear, percebe-se a relação entre a política e a Universidade através da tecnocracia.
  14. In: BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Editora UNESP, 1997. p.11
  15. Sinopse de Sobre a televisão, de Pierre Bourdieu. Por Andreia Fernandes Silva. Recensio - Revista de Recensões de Comunicação e Cultura.
  16. Entrevista com Pierre Bourdieu. Laboratório de Psicofisiologia, UFMG.
  17. BOURDIEU, Pierre. L'urgence et le fast-thinking
  18. Pierre Bourdieu e algumas lições para o Campo da Comunicação. Por Cláudia Lago. Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n. 34, p. 728-744, set. - dez. de 2015.
  19. PEREIRA, Fábio Henrique. "De Gramsci a Ianni: condições histórico-estruturais para a emergência do "intelectual jornalista".

Bibliografia

  • BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Editora UNESP, 1997.
  • BOHEMY, Helena. Os intelectuais da educação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
  • DEMO, Pedro. Intelectuais e vivaldinos: da crítica acrítica. São Paulo: ALMED, 1982.
  • GIROTTI, Carlos A. Estado Nuclear no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1984.
  • KARIMI, Kian-Harald. Der verfolgte Schriftsteller als Diskurs der portugiesischen Literatur und Literaturgeschichte am Beispiel von B. Santarenos ‚O Judeu’ und C. A. Azevedos ‚Os herdeiros do medo’. In: Lange, Wolf-Dieter (ed.): 25 Jahre nachrevolutionäre Literatur in Portugal. Nationale Mythen und kulturelle Identitätssuche. Baden-Baden: Nomos, 2001, pp. 77–138.

Ver também

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