Mark Fisher

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mark Fisher
Mark Fisher
k-punk
Nascimento 11 de julho de 1968
Reino Unido
Morte 13 de janeiro de 2017 (48 anos)
Reino Unido
Nacionalidade Britânico
Cidadania Reino Unido
Alma mater Universidade de Hull (BA)
Universidade de Warwick (PhD)
Ocupação Filósofo, teórico crítico, crítico musical, blogueiro
Principais trabalhos Capitalist Realism: Is There No Alternative? (2009)
k-punk blog (2003–2015)
Repeater Books
Empregador(a) Goldsmiths, University of London
Obras destacadas Capitalist Realism, Exiting the Vampire Castle
Ideologia política marxismo
Página oficial
k-punk.abstractdynamics.org

Mark Fisher (11 de julho 1968 – 13 de janeiro de 2017), conhecido pelo seu blog "k-punk", foi um pensador da esquerda radical que atuou como escritor, crítico, teórico cultural, filósofo marxista e professor no Departamento de Cultura Visual em Goldsmiths, Universidade de Londres. Passou a ser reconhecido por meio de seu blog k-punk no começo dos anos 2000, e ficou conhecido por seus escritos sobre política, música e cultura popular.

Fisher publicou diversos livros, incluindo o sucesso inesperado Capitalist Realism: Is There No Alternative? (2009, Zero Books, lançado em 2020 em português pela Autonomia Literária), e contribuiu para publicações como The Wire, Fact, New Statesman e Sight & Sound. Foi também co-fundador do selo editorial Zero Books, e depois da editora Repeater Books. Suicidou-se em janeiro de 2017, logo após a publicação de The Weird and the Eerie (2017).

Biografia[editar | editar código-fonte]

Educação e juventude[editar | editar código-fonte]

Durante sua juventude, Mark Fisher teve sua formação influenciada pelo jornalismo musical da era pós-punk do final dos anos 70, especialmente por publicações como NME, a qual combinava música com política, cinema, e ficção.[1] Recebeu seu bacharel em Artes em Língua Inglesa e Filosofia na Hull University (1989) e obteve um PhD na Universidade de Warwick em 1999 com a tese Flatline Constructs: Gothic Materialism and Cybernetic Theory-Fiction.[2] Nessa mesma época, Fisher foi um dos fundadores do coletivo interdisciplinar conhecido como Cybernetic Culture Research Unit (CCRU), que foi associado à teoria política do aceleracionismo e com a obra de filósofos como Sadie Plant e Nick Land.[1][3] Lá ele tornou-se amigo e influenciou Kode9, que depois veio a fundar a gravadora Hyperdub.[4] No início dos anos 90, ele também fez parte da banda techno D-Generation, publicando o EP Entropy in the UK.[4][5]

Após um período ensinando em um outra faculdade como professor de filosofia,[6] Mark deu início ao seu blog k-punk em 2003, que foi considerado como "um dos blogs de teoria cultural de maior sucesso." O período em que Fisher tornou-se conhecido pelo seu blog também é denominado como blogosfera.[7] O crítico cultural Simon Reynolds descreveu o blog como "uma 'revista de um homem só' superior a maioria das revistas britânicas"[1] e como o ponto de encontro de uma "constelação de blogs" onde cultura popular, música, cinema, política e teoria crítica abstrata eram discutidas uma após a outra por jornalistas, filósofos, amigos e colegas.[8] A revista Vice futuramente veio a descrever seus escritos como "lúcidos e reveladores, pegando a literatura, a música e o cinema com os quais somos familiares e sem esforço algum expondo seus segredos internos."[9] Fisher também foi o co-fundador junto de Matt Ingram do fórum de discussões Dissensus.[1]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Posteriormente, Fisher tornou-se professor-visitante e docente em Cultura Visual e Auditiva em Goldsmiths College, editor comissionado na Zer0 books, membro do conselho editorial da Interference: A Journal of Audio Culture e na série de realismo especulativo da Edinburgh University Press, editor adjunto temporário na revista The Wire.[10] Em 2009, Fisher editou The Resistible Demise of Michael Jackson, uma coletânea de ensaios críticos sobre a carreira e morte de Michael Jackson, e publicou Capitalist Realism: Is There No Alternative?, uma análise dos efeitos ideológicos do neoliberalismo na cultura contemporânea, em uma minuciosa análise de seus principais slogans, diminuição da distância entre o público e o privado e o controle do tempo dos indivíduos através da tecnologia. Ele foi um dos primeiros críticos da cultura de cancelamento em 2013 publicou controverso ensaio Deixando o Castelo dos Vampiros.[11] Fisher argumentou que a cultura do cancelamento criava um ambiente em que "a solidariedade era impossível, mas a culpa e a vergonha eram onipresentes". Fisher também argumentou que a cultura do cancelamento reduzia toda questão política a criticar o comportamento de indivíduos, em vez de lidar com os ditos problemas através da ação coletiva.[12][13] Em 2014, Fisher publicou Ghosts of My Life: Writings on Depression, Hauntology and Lost Futures, uma coletânea de ensaios com temas similares vistos sobre a perspectiva da música, cinema e rondologia. Ele também contribuia de vez em quando para diversas publicações incluindo Fact e The Wire. Em 2016, Fisher co-editou uma antologia crítica sobre a era pós-punk com Kodwo Eshun e Gavin Butt com o título de Post-Punk Then and Now, publicada pela Repeater Books.[14]

Morte[editar | editar código-fonte]

Mark Fisher morreu em 13 de Janeiro de 2017, aos 48 anos, logo após publicar o seu último livro The Weird and the Eerie (2017).[15] Sua esposa confirmou que Mark tirou sua própria vida.[1][16] Sua luta contra a depressão era discutida por ele mesmo em seus artigos[17] e em seu Capitalist Realism, onde ele argumenta que "a pandemia da angústia mental que aflinge nossa era não pode ser devidamente entendida, ou curada, se vista como um problema privado por indivíduos defeitosos."

Logo antes de sua morte, Fisher disse estar planejando um novo livro chamado Acid Communism,[1] e trechos da obra foram publicadas de uma antologia sobre Mark Fisher chamada k-punk: The Collected and Unpublished Writings of Mark Fisher (2004–2016), publicado pela Repeater Books em novembro de 2018.[18][19]

Obra[editar | editar código-fonte]

Capitalist Realism[editar | editar código-fonte]

No final dos anos 2000, Mark Fisher reaproveitou o termo "realismo capitalista", inspirado por um movimento artístico da Alemanha oriental dos anos 60 condudizo por Gerhard Richter e Sigmar Polke, para descrever "o sentimento generalizado de que o capitalismo não só era o único sistema político e financeiro possível, mas que também era impossível de imaginar uma alternativa coerente".[20] Ele aprofundou o conceito em seu livro de 2009 Capitalist Realism: Is There No Alternative?,[21] argumentando que o termo melhor se encaixa para descrever o contexto ideológico desde a queda da União Soviética, onde a lógica capitalista acabou delineando os limites da vida política e social, com efeitos significantes na educação, transtornos mentais, cultura pop e métodos de resistência.[21] O resultado é uma situação em que se é “mais fácil de imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”[22] Fisher escreve:

Eu entendo o realismo capitalista como algo que não pode ser à arte ou ao método quasi-propagandístico em que a publicidade funciona. É mais parecido com uma atmosfera pervasiva, condicionando não só a produção da cultura mas também a regulação do trabalho e da educação, e agindo como uma espécie de barreira invisível restringindo o pensamento e a ação.[23]

Como um conceito filosófico, o realismo capitalista foi influenciado pela concepção Althusseriana de ideologia, como também a obra de Fredric Jameson e de Slavoj Žižek.[24] Fisher propõe que dentro de um contexto capitalista não há espaço para conceber formas alternativas de estruturas sociais, dizendo ainda que gerações mais novas sequer estão preocupadas em reconhecer alternativas.[25] Ele propõe que a crise financeira de 2008 reafirmou o argumento; que em vez de catalisar o desejo por buscar alternativas ao modelo existente, a resposta para a crise reforçou a noção de que se deve fazer ajustes dentro do sistema vigente. Fisher argumenta que o realismo capitalista disseminou uma ‘ontologia dos negócios’, que conclui que tudo deve ser gerenciado como se fosse um negócio, incluindo a educação e a assistência médica.[26]

Após a publicação da obra de Fisher, o termo começou a ser usado por outros críticos literários.[27]

Rondologia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Rondologia

Fisher popularizou o uso do conceito de rondologia[nota 1] [hauntology] inspirado por Jacques Derrida para descrever o sentimento pervasivo onde a cultura contemporânea é rondada pelo espectro dos “futuros perdidos” da modernidade que não conseguiram se estabelecer ou foram cancelados pela pós-modernidade e pelo neoliberalismo.[28] Fisher, junto de outros autores, se atentaram avanço em direção às economias pós-fordistas do final dos anos 70, em que ele argumenta que “gradualmente e sistematicamente negaram à artistas os recursos necessários para produzir o novo”.[29] Diferente da nostalgia e do pastiche irônico da cultura pós-modernista, Fisher definiu a arte rondológica como uma maneira de explorar esses impasses e representar “a recusa de desistir do desejo pelo futuro”.[30] Discutindo sobre a relevância política do conceito, Fisher escreveu:

Em tempos de reação política e restauração, em que a inovação cultural se estagnou e ainda por cima retrocedeu, em que o “poder… opera de maneira tanto preditivamente quanto retrospectivamente” (Eshun 2003: 289), uma das funções da rondologia é continuar insistindo que há futuros além do tempo terminal da pós-modernidade. Quando o presente desiste do futuro, temos que ouvir as relíquias do futuro nos potenciais não ativados do passado.[28]

A rondologia foi então descrita como “ansiar por um futuro que nunca chegou”, que se manifesta proeminentemente nessas disjunções históricas e ontológicas.[31] O livro de Fisher lançado em 2014, “Ghosts of My Life” examina essas ideias atráves de fontes culturais, como a música de artistas como Burial, Joy Division, e da gravadora Ghost Box, séries de TV como Sapphire & Steel, os filmes de Stanley Kubrick e Christopher Nolan, e os romances de David Peace e John le Carré.

The Weird and the Eerie[editar | editar código-fonte]

O livro escrito por Fisher e lançado postumamente, The Weird and the Eerie[32] explora os conceitos do título de "do estranho" e "do sinistro" através de várias obras de arte, definindo os conceitos de modos de narrativa radical ou momentos de “choque transcendental” onde a obra decentraliza o sujeito humano[33] e desnaturaliza a realidade social, explorando as forças arbitrárias que lhe dá forma.[34] Resumindo as designações de Fisher, Yohann Koshy afirma que “a estranheza situa-se na beira entre os mundos; o sinistro irradia das ruínas dos mundos perdidos".[9] O livro inclui uma discussão sobre ficção científica e terror, como H.P. Lovecraft, o livro de 1967 Picnic at Hanging Rock, e Philip K. Dick; filmes como Império dos Sonhos (2006), de David Lynch, Sob a pele (2013), de Jonathan Glazer; e a música de bandas britânicas de pós-punk como The Fall e do artista de música ambiente Brian Eno.[35]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Publicações no Brasil[editar | editar código-fonte]

  • Realismo Capitalista: É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? São Paulo: Autonomia Literária, 2020.[36]
  • Fantasmas da minha vida: Escritos sobre depressão, assombrologia e futuros perdidos. São Paulo: Autonomia Literária, 2022. [37]

Notas

  1. Além desta tradução, é possível encontrar "espectrologia", "hauntologia" e "assombrologia".

Referências

  1. a b c d e f "Mark Fisher’s K-punk blogs were required reading for a generation" by Simon Reynolds, The Guardian, 18 January 2017
  2. Fisher, Mark. (1999). Flatline constructs : Gothic materialism and cybernetic theory-fiction. ethos.bl.uk (Tese de PhD). University of Warwick. OCLC 59534159. EThOS uk.bl.ethos.340547. Cópia arquivada em 24 de dezembro de 2010 
  3. Dazed (1 de junho de 2011). «Nick Land: Mind Games» 
  4. a b «Mark Fisher 1968–2017». The Wire. Consultado em 20 de novembro de 2018 
  5. Reynolds, Simon. «D-Generation». Melody Maker. Consultado em 20 de novembro de 2018 
  6. Mark Fisher and Jeremy Gilbert, 'Capitalist Realism and Neoliberal Hegemony: A Dialogue', New Formations, 80—81 (2013), 89—101 (at p. 90); doi:10.3898/NEWF.80/81.05.2013.
  7. «Mark Fisher – Zero Books – Author Profile» 
  8. frieze Arquivado em 4 março 2016 no Wayback Machine
  9. a b Koshy, Yohann (20 de fevereiro de 2017). «The Revolution Will Be Weird and Eerie». Vice Magazine. Consultado em 28 de fevereiro de 2018 
  10. «Fisher, Mark, Goldsmiths, University of London». gold.ac.uk. Consultado em 1 de agosto de 2015. Arquivado do original em 22 de junho de 2015 
  11. Fisher, Mark (22 de novembro de 2013). «Deixando o Castelo Vampiro». Cópia arquivada em 4 de fevereiro de 2018 
  12. Vansintjan, Aaron. (October 29, 2017) "Beyond Bloodsucking", openDemocracy, Retrieved November 23, 2018.
  13. Izaakson, Jen. (August 12, 2017)‘Kill All Normies’ skewers online identity politics Feminist Current. Retrieved November 23, 2018.
  14. Mankowski, Guy. "Post-Punk Then and Now: a review", 3:AM magazine, December 22, 2016.
  15. "Capitalist Realism Author Mark Fisher Dies", The Quietus, 14 January 2017
  16. "Mark Fisher, influential music writer and theorist known as K-Punk, has died ", Fact, 14 January 2017
  17. E.g. "Why mental health is a political issue" by Mark Fisher, The Guardian, 16 July 2012
  18. «The Quietus | News | Mark Fisher Anthology To Be Released». The Quietus. Consultado em 18 de outubro de 2017 
  19. «k-punk: The Collected and Unpublished Writings of Mark Fisher (2004–2016) | Repeater Books | Repeater Books». Repeater Books (em inglês). Consultado em 16 de julho de 2018 
  20. Fisher, Mark (2010). Capitalist Realism: Is There No Alternative?. Winchester, UK: Zero Books. 2 páginas 
  21. a b Mark Fisher, Capitalist Realism: Is There No Alternative? (Winchester, UK; Washington [D.C.]: Zero, 2009); ISBN 978-1-84694-317-1 (pbk.); 1846943175 (pbk.).
  22. Mark., Fisher (1 de janeiro de 2010). Capitalist realism : is there no alternative?. [S.l.]: Zero Books. ISBN 9781846943171. OCLC 699737863 
  23. Mark Fisher, Capitalist Realism: Is There No Alternative? (Winchester, UK; Washington [D.C.]: Zero, 2009).
  24. Fisher, Mark (2009). Capitalist Realism: Is There No Alternative?. [S.l.]: Zero Books. ISBN 978-1846943171 
  25. Fisher, Mark (2009). Capitalist Realism. Is There No Alternative?. [S.l.]: O Books. 8 páginas. ISBN 9781846943171 
  26. Mark Fisher, Capitalist Realism: Is There No Alternative? (Winchester, UK; Washington [D.C.]: Zero, 2009, pg15).
  27. Prominently Mark Fisher and Jeremy Gilbert, 'Capitalist Realism and Neoliberal Hegemony: A Dialogue', New Formations, 80—81 (2013), 89—101 DOI:10.3898/NEWF.80/81.05.2013; Reading Capitalist Realism, ed. by Alison Shonkwiler and Leigh Claire La Berge (Iowa City: University of Iowa Press, 2014).
  28. a b Mark Fisher – The Metaphysics of Crackle: Afrofuturism and Hauntology
  29. The Metaphysics of Crackle: Afrofuturism and Hauntology
  30. Fisher, Mark. Ghosts of My Life: Writings on Depression, Hauntology and Lost Futures. Zero Books, May 30, 2014. ISBN 978-1-78099-226-6
  31. Stone Blue Editors (11 de setembro de 2015). William Basinski: Musician Snapshots. [S.l.]: SBE Media. pp. Chapter 3 
  32. «The Weird and the Eerie | Repeater Books | Repeater Books». Repeater Books (em inglês). Consultado em 16 de julho de 2018 
  33. Daniel, James Rushing (7 de março de 2017). «The Weird and the Eerie». Hong Kong Review of Books. Consultado em 28 de março de 2018 
  34. Woodard, Benjamin Graham (2017). «The Weird and the Eerie». Textual Practice. 31 (6): 1181–1183. doi:10.1080/0950236X.2017.1358704 
  35. Eugene Thacker, "Weird, Eerie, & Monstrous: Review of The Weird and the Eerie by Mark Fisher", boundary2 (27 June 2017).
  36. «Realismo Capitalista». Autonomia Literária. 11 de julho de 2020. Consultado em 16 de setembro de 2020 
  37. FISHER, Mark (28 de fevereiro de 2022). «Fantasmas da minha vida». Consultado em 18 de março de 2022 


Ligações externas[editar | editar código-fonte]