Paula Beatriz

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Paula Beatriz de Souza Cruz
Paula Beatriz
Nome completo Paula Beatriz de Souza Cruz
Nascimento 31 de janeiro de 1971 (53 anos)
Taboão da Serra, São Paulo,  Brasil[1]
Residência São Paulo, São Paulo
Nacionalidade brasileira
Ocupação

Paula Beatriz de Souza Cruz (Taboão da Serra, 31 de janeiro de 1971) é uma educadora, diretora escolar e ativista brasileira pelos direitos da população LGBT.[2] É responsável pela administração da Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, cargo que ocupa desde 2013.[3]

Foi a primeira diretora trans de uma escola pública em São Paulo. Conduziu, de maneira pioneira, a mobilização em favor da inclusão de nome social de alunos(as) transexuais e travestis nas listas de chamada e nos diários de classe das escolas.[4]

Carreira na educação[editar | editar código-fonte]

Paula Beatriz é educadora há mais de 30 anos, formada em pedagogia e pós-graduada em gestão educacional, pela Unicamp, e em Docência no Ensino Superior, pela Universidade Estácio de Sá.

Iniciou a carreira de professora aos 18 anos.[5] Leciona na rede estadual de ensino de São Paulo desde 1989, quando ingressou na Escola Estadual Presidente Kennedy.[6] Desde 2003, é diretora da E.E. Santa Rosa de Lima,[5] com 1.000 alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental e 70 professores e funcionários.[7]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Paula tem organizado diversas atividades sobre o movimento LGBT na sua escola e na comunidade.[5] Na escola, liderou estudos e discussões sobre pessoas LGBT no sistema educacional.[8] Na comunidade, tem dado palestras em diversas conferências, como a TODXS Conecta[9] e o Congresso sobre Gestão de Pessoas do Setor Público Paulista.[10] Além do mais, é ativa e reconhecida na comunidade afrodescendente.[11]

Em 2012, filiada ao Partido Socialismo e Liberdade, candidatou-se ao cargo de vereadora, pelo município de São Paulo tornando-se suplente.[12]

Prêmios e homenagens[editar | editar código-fonte]

Tem sido reconhecida por sua trajetória e seu ativismo em diversas instâncias.

Em 2014 ganhou o 1º Prêmio Telma Lipp - categoria Educação, no IX Encontro Sudeste de Travestis e Transexuais.

Em 2016 ganhou o Prêmio Claudia Wonder, na 4ª SPTransvisão – em comemoração ao dia 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans.[13] Também em 2016 ganhou o Prêmio da Diversidade - 5ª Edição, na categoria Personalidade Transexual.[14] Em 2017 o Ministério da Educação, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, a 1ª Revista da ABRAPEE (Associação Brasileira de Profissionais e Especialistas em Educação) e a Revista UOL on line publicaram matéria reconhecendo-a como a 1ª Diretora Transexual da Rede Estadual de Ensino de São Paulo.

Em 2018 foi palestrante do Ciclo Educar Hoje - As diferentes infâncias no território, realizado pelo SESC- São Paulo. [15] e homenageada pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo pela notável participação na categoria Diversidade Sexual e de Gênero.[16]

Em 2019, recebeu o Prêmio Ruth de Souza, oferecido pelo Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo (CPDCN), da Secretaria da Justiça e Cidadania. O prêmio celebra líderes afro-brasileiros.[11] Também em 2019, foi homenageada durante o ato solene organizado pelo deputado Carlos Giannazi, na ALESP, por seu ativismo LGBTQIA+.[17]

Em 2021, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, concedido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.[18] Ainda em 2021, uma das travessas do Jardim Mitsutani, no Capão Redondo, passou a ser chamada "Professora Paula Beatriz", por iniciativa dos próprios moradores do bairro.[19]

Em 28 de junho de 2022, a Câmara Municipal de São Paulo, por iniciativa da vereadora Erika Hilton, concedeu-lhe o título de Cidadã Paulistana.[20]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

De família modesta, nasceu num município da periferia da Região Metropolitana de São Paulo, recebendo o nome de Paulo. A mãe separou-se do pai quando os seis filhos do casal ainda eram pequenos.[3]

Sua infância e adolescência foram marcadas por várias descobertas - entre elas, a de que era uma mulher trans [6]e a de que queria ser professora.[5]

Aos 9 anos, Paulo foi levado a um psiquiatra, por recomendação da escola. O diagnóstico foi "homossexualismo", condição que, na época, era tida como doença, pela Organização Mundial da Saúde, e só em 1990 deixou de constar na CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde). Começou a tomar medicamentos, o rendimento na escola caiu, o comportamento mudou, até que sua mãe, Beatriz, decidiu pôr fim ao suplício do menino e tomou uma decisão drástica: jogou todas as drogas no vaso sanitário. Ter um filho gay era OK; mas um filho louco ou infeliz... de jeito nenhum![16][21] Dona Beatriz era servente escolar. Depois virou zeladora da Escola Estadual Presidente Kennedy e a família morou lá por cerca de sete anos lá, enquanto era construída a própria casa. Paula Beatriz lembra que gostava de ir para a biblioteca. "Nas férias, também ajudava na secretaria, já que a minha caligrafia era boa. Quando decidi ser professora, muitos me desincentivaram, falando que era uma profissão que pagava muito mal. Aos 18 anos, comecei a alfabetizar crianças e adultos e, em 1989, iniciei a docência. Me formei em pedagogia, fiz pós-graduação em gestão educacional e em docência no ensino superior."[16] Sempre teve uma boa relação com sua família[7] e se refere a sua imagem anterior como a de seu "irmão gêmeo".[16] Não se livra de fotos antigas, nem tenta esquecer seu passado.[5]

Transição de gênero[editar | editar código-fonte]

Em 2007, começou o processo médico para o procedimento de readequação de sexo.[5] Anteriormente à sua transição de gênero, Paula era coordenadora, instrutora e diretora. Sua transformação foi completada quando ainda era diretora.[7] Ela sentia que estava confortável durante sua transição, em parte por causa do apoio de seus colegas e alunos. Por esse motivo, faz um esforço para apoiar outras pessoas em transição, na comunidade escolar.[8] Em 2013, retificou seus documentos para o sexo feminino e alterou seu nome civil para Paula Beatriz de Souza Cruz.[22]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Candidatura eleitoral 2012». TSE 
  2. «Diário Oficial do Estado de São Paulo - Diretoria de Ensino Região Sul 2» (PDF). IMESP. 13 de fevereiro de 2019 
  3. a b 'Revolução começa na educação', diz 1ª diretora trans da rede pública de SP. Por Mariana Toledo. UOL, 22 de fevereiro de 2022.
  4. Paula Beatriz de Souza Cruz. Tra(vestis)ns na Educação ESPALHA EDH - Informativo mensal sobre Educação em Direitos Humanos], 11ª edição, janeiro de 2021. Prefeitura da Cidade de São Paulo. Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, p. 4-7
  5. a b c d e f «1ª diretora trans em SP se diz felizarda por não ter sofrido discriminação». UOL. 14 de maio de 2017 
  6. a b «Conheça Paula Beatriz, a primeira diretora trans da rede estadual de ensino». SEDUC-SP. 8 de março de 2017 
  7. a b c «O legado de Paula Beatriz, a 1ª diretora trans de uma escola pública em São Paulo». HuffPost Brasil. 23 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 5 de dezembro de 2019 
  8. a b «Primeira diretora transexual dirige escola em São Paulo com apoio da comunidade». MEC. 24 de março de 2017. Cópia arquivada em 5 de dezembro de 2019 
  9. LGBT e a promoção da diversidade na educação - Paula Beatriz - TODXS Conecta. YouTube. TODXS Conecta. 5 de agosto de 2017. Em cena em dur: 44.03. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  10. Diversidade Sexual e Gestão de Pessoas. YouTube. EGESP. 20 de janeiro de 2015. Em cena em dur: 1.24.07. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  11. a b «Premiação - Conselho da Comunidade Negra entrega prêmio Ruth de Souza». Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo. 16 de setembro de 2019 
  12. «Pra todo mundo (entrevista com Paula Beatriz)». Revista Geni. Consultado em 3 de janeiro de 2020 
  13. 29 de janeiro: Dia da Visibilidade Trans, contrafcut.com.br, 27 de janeiro de 2022.
  14. Conheça os vencedores do Prêmio PapoMix da Diversidade – 5ª edição, acpspapomix.org.br, 6 de julho de 2016.
  15. As diferentes infâncias no território. SESC - SP, 7 de maio de 2018,
  16. a b c d PAULA CRUZ – Mais educação e menos fobia. Por Alecsandra Zapparoli. Itaú Social, 8 de setembro de 2020.
  17. «Ato solene Orgulho LGBTQIA+ homenageia professora». ALESP. 3 de julho de 2019 
  18. Prêmio Darcy Ribeiro 2021. Câmara dos Deputados. Comissão de Educação.
  19. 1ª diretora trans de escola pública em São Paulo vira nome de travessa no Capão Redondo. Folha de S.Paulo, 6 de agosto de 2021.
  20. Entrega do Título de Cidadã Paulistana à Sra. Paula Beatriz de Souza Cruz. 28 de junho de 2022.
  21. Brasil é o céu e o inferno para os transexuais. Por Tom C. Avendaño. El País, 30 de dezembro de 2017.
  22. «Diário Oficial do Estado de São Paulo». jusbrasil.com.br. Imprensa Oficial de São Paulo. 28 de agosto de 2013. p. 47. Consultado em 3 de janeiro de 2020 
  23. Mostra Ecofalante de Cinema 2023. Meu Corpo É Político, de Alice Riff. Brasil, 2017, 71'
  24. Série documental sobre transgêneros estreia na TV. Por Tony Goes. Folha de S.Paulo, 17 de junho de 2019.