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Sabão

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(Redirecionado de Sabão de Alepo)
Sabão Azul e Branco de Portugal
O sabão de Alepo, um sabonete artesanal ainda hoje e feito com azeite e óleo de folhas de louro
A preparação da pasta de sabão numa cuba
Sabão arrefecendo
Sabonetes empilhados para a secagem
Sabão de Nablus na Cisjordânia, foto tomada entre 1900–1920 pela colônia americana, em Jerusalém
Manufactura Fabre a Porto-Novo, Reino do Daomé, 1895)
Sabonetes empilhados na manufacturas Touqan, Nablus em 2008

O sabão é um produto tensoativo usado em conjunto com água para lavar e limpar. Sua apresentação é variada, desde barras sólidas até líquidos viscosos, e também pó. Difere do sabonete quanto à destinação de uso: o sabão é destinado a necessidades de limpeza mais intensas, enquanto o sabonete é um sabão nobre visando evitar danos à pele, com menor poder de limpeza.[1]

A reação química que produz o sabão é conhecida como saponificação: a gordura e as bases são hidrolisadas em água; os gliceróis livres ligam-se com grupos livres de hidroxila para formar glicerina, e os iões livres de sódio ligam-se com ácidos graxos para formar o sabão.[2] O sabão tem mais álcalis livres em sua composição do que os sabonetes, consequência de levar mais soda cáustica/barrilha/bicarbonato do que gordura no processo de fabricação.[1]

O sabão em pó foi produzido pela primeira vez em 1946, como forma de facilitar a lavagem de roupas, que até então, era feita com sabão em barra.[3] A princípio, não deu certo, devido às interações químicas entre o sabão e os íons da água dura.[3] A média anual de consumo de sabão em pó, per capita, é de: 3,65 kg no Brasil; 4,26 kg na América Latina como um todo; 5,47 kg nos Estados Unidos; e 8,4 kg na Europa como um todo.[4]

Apesar do nome, o mais correto é chamá-lo de detergente em pó, e não de sabão em pó, devido à composição química diferente: detergentes e sabões funcionam da mesma forma, mas sabões são sais de ácidos carboxílicos, enquanto detergentes não o são.[3] Isto deve-se à origem de cada um: os sabões são produzidos a partir de óleos e gorduras vegetais ou animais, enquanto os detergentes são derivados do petróleo.[5] Os detergentes têm poder de limpeza maior, mas agridem mais a pele, dado que retiram inclusive a gordura das mãos de quem o utiliza.[5]

A palavra portuguesa "sabão" provém do latim sapo ("sabão"). O termo latino, por sua vez, tem origem no germânico *saipo-.[6] O latim sapo é cognato com a forma latina sebum, "sebo".

A produção de 1 tonelada de sabão requer entre 1.500 e 1.850 kg de óleos vegetais e/ou animais, 1.000 kg de cloreto de sódio, e consome de 9 a 54 GJ, a depender do tipo de matéria-prima que se use na produção.[7] Para efeito comparativo, a produção de 1 tonelada de LAS consome: 841 kg de óleo não refinado, 100 kg de enxofre, e 99 kg de cloreto de sódio, com consumo de 61 GJ de energia.[7] Tanto a produção de LAS, quanto a de sabão, tem suas vantagens e desvantagens, um em relação ao outro.[7]

A produção de sabão é uma das reações mais antigas. Não se sabe quem a inventou mas acredita-se que esta foi descoberta por acidente quando, ao ferverem gordura animal contaminada com cinzas, uma espécie de "coalho" branco flutua sobre a mistura. Os vestígios mais antigos da produção de materiais semelhantes ao sabão datam de cerca de 2800 a.C., numa escavação na Babilônia, onde foi descoberto um cilindro de argila que trazia a descrição de um produto elaborado com gordura animal fervida com cinzas que se transformava numa pasta que era usada como creme para pentear os cabelos. Conhece-se uma tábua de argila datada de 2200 a.C. na qual foi escrita uma fórmula de sabão contendo água, álcali e óleo de canela-da-china (Cinnamomum aromaticum). O Papiro de Ebers (Egito, 1550 a.C.) indica que os antigos egípcios se banhavam regularmente e combinavam óleos animais e vegetais com sais alcalinos para criar uma substância semelhante ao sabão. Os documentos egípcios mencionam o uso de uma substância saponácea na preparação da para a tecelagem.

Ja os antigos egípcios e romanos, que em geral ignoravam as propriedades detergentes do sabão, quando queriam limpar-se espalhavam azeite de oliva na pele, depois misturado com cinzas e minerais e por fim raspados com uma lâmina de metal chamada estrígil do corpo.

A palavra "sabão" (sapo, em latim) aparece pela primeira vez na Naturalis Historia, de Plínio, o Velho (23–79 d.C.), este discute a produção de sabão duro e do mole partir de sebo e cinzas de plantas, mas o único uso que regista para o produto é numa pomada para o cabelo; em tom de desaprovação, menciona que entre os gauleses e germanos os homens costumavam utilizá-lo mais do que as mulheres.[8] O óleo (“azeite”) de oliva, como todos os óleos e gorduras, é transformado em sabão quando adicionado misturado com cinza de salicornia ou soda cáustica. Ao longo dos séculos o processo de fabricação de sabão a partir de azeite e foi sendo melhorado. A partir do século XIII. o sabão era recomendado pelos médicos, como benéfico para a pele. Desta forma, a sua utilização no banho generalizou-se.

O ancestral de todos os sabões históricos é o sabão de Alepo feito com azeite e óleo de bagas de louro. Com os mouros a sabedoria do fabrico de sabão espalha-se na Península Ibérica. Na falta do óleo de bagas de louro o sabão era feito 100% de azeite. Depois da Conquista cristã no século XIII o sabão de azeite historicamente foi chamado "sabão de Castilha", Castela, Castilla ou Castile. O sabão produzido nestes centros tinha uma qualidade superior à dos sabões produzidos exclusivamente a partir de gordura animal (principalmente sebo, mas também óleo de peixe) conferida a matéria prima o azeite. Os povos do Norte da Europa não tinham acesso a este óleo vegetal.

As primeiras saboarias na Europa criam-se a partir do século X, na Península Ibérica e Itália (Nápoles, Savona, Génova, Bolonha, Veneza), e posteriormente, em meados do século X, em Marselha. Várias grandes manufacturas de sabão foram estabelecidas em Marselha, em Génova e em Lisboa. Em Portugal durante séculos vigorou o monopólio senhorial sobre a produção de sabão. Assim impedia-se o estabelecimento de centros produtores e o senhor feudal (monopolista) recebia os rendimentos e haveria a certeza de que pagava a renda estabelecida. A prática monopolista neste sector já é adoptada no reinado de D. Fernando (1367–1383). O Infante D. Henrique vai ser titular de várias saboarias do Reino de Portugal e da Madeira. As sanções para os que fabricassem ou vendessem sabão eram várias; mas, também, as restrições a estes monopólios relacionavam-se com direitos que a Coroa mantinha. O monopólio geral das saboarias pertenceu a D. Manuel (1495–1521). Desde o século XV, pelo menos, que o povo se manifestou contra este monopólio que até impedia o fabrico caseiro para uso doméstico. A importância das saboarias na indústria dos lanifícios e por isso a existência do monopólio do fabrico e do comércio do sabão dentro da cidade da Covilhã.[9]

Em 1766, com as reformas políticas levadas a cabo no reinado de D. José I, a coroa incorpora no seu património todas as saboarias. O conde de Castelo Melhor, detentor do monopólio é compensado com o título de marquês e importantes bens fundiários. Aproveitando a abundância das matérias-primas necessárias para a produção do sabão, a zona do Alto Alentejo, [desambiguação necessária] e particularmente a zona de Castelo Branco e concelhos limítrofes, tiveram desde a segunda metade do século XVI, decisiva importância na indústria saboeira nacional, quando a Real Fábrica de Sabão, situada em Belver no concelho do Gavião, foi instituída. Criou-se, a partir daí, uma indústria saboeira com expressão nacional. O monopólio do fabrico e venda de sabões só terminou em 1858. Com o encerramento da fábrica, muitos dos saboeiros da saboaria real aproveitaram o saber-fazer adquirido e criaram as suas próprias indústrias artesanais. Eram as chamadas Casas de Sabão Mole, pequenas produções familiares, que iam passando de geração em geração, aí que a produção de sabão assumiu uma inegável importância económica e social nesta vila e em toda a região. A alcunha dos habitantes de Belver perdura até hoje — Os Saboeiros. A distribuição nacional do produto era feita por almocreves, acondicionado em sacas de sarja e serapilheira, e transportado para fora do concelho em burros até ao rio Tejo. O produto seguia depois para a capital e outras cidades do país em barcadas, uma prática que perdurou até à primeira metade do século XX.

Em 1791 o químico francês Nicolas Leblanc (1742–1806) registrou a patente do método de produção da barrilha (carbonato de sódio) a partir da salmoura, permitindo grande oferta de um alcalino de baixo custo para a fabricação de sabão. Em 1792, em Marselha a qualidade e pureza a do sabão foi estabilizada utilizando este processo químico. O governo da França emitiu o decreto savon de Marseille, ordenando que todo sabão deveria obedecer a este processo de fabricação. Só sabões feitos desta maneira obteriam uma certificação. As manufacturas de sabão de Marselha utilizavam azeite da Provença, mas devido à desastrosas colheitas de azeitona na França no final do século XVII, os comerciantes franceses chegaram a Creta, que estava ocupada pelo Império Otomano. Durante o século XVIII, a quantidade de azeite exportado a partir de Creta quase duplicou. Uma grande parte da indústria de sabão, dependia do azeite de Creta. E ao mesmo tempo a indústria de sabão se tornou important em Creta, Mitilene e Volos para a exportação.

Michel Eugène Chevreul (1786–1889) descobriu a composição química das gorduras em experiências realizadas entre 1813 e 1823 e o químico belga Ernest Solvay (1838–1922) criou o processo de obtenção da soda caustica a partir da amoníaco. Todos estes acontecimentos colaboraram com o desenvolvimento da indústria de sabão.

Na região de Marselha, apenas cinco ‘savonneries’ continuam a produzir, os famosos cubos de 600 gramas são carimbados com a referência « 72% d’huile »: a savonnerie Rampal,[10] Compagnie du savon de Marseille,[11] la savonnerie du Sérail,[12] a savonnerie Marius Fabre[13] et la savonnerie de la Licorne.[14]

Produção em massa

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Até o advento da Revolução Industrial, a produção de sabão mantinha-se em pequena escala. Andrew Pears iniciou a produção de sabão transparente em 1789, em Londres. Com seu neto, Francis Pears, abriu uma fábrica em Isleworth em 1862. William Gossage produzia sabão a partir dos anos 1850. Robert Spear Hudson passou a produzir um tipo de sabão em pó em 1837, socando o sabão com pilão. William Hesketh Lever e seu irmão James compraram uma pequena fábrica de sabão em Warrington (Inglaterra), em 1885, e com o Império Britânico para mercado de consumo, fundando o que ainda é hoje um dos maiores negócios de sabão do mundo, a Unilever. Estes produtores foram os primeiros a empregar campanhas publicitárias em larga escala (propaganda).

Museus do sabão

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Em todo o mundo só existem três museus dedicados ao sabão: um em Belver, um em Barcelona e o outro no Líbano, centrando-se a sua presença na produção local de sabão. O museu do sabão em Sidom, no Líbano, está localizado na Cidade Velha, em Khan al-Saboun, o está alojado na antiga fábrica de sabão datada do século XVII.

O Museu do Sabão em Portugal foi inaugurado em Belver em abril de 2013.

Referências

  1. a b Qual a diferença entre sabão e sabonete?
  2. Natural Soap Directory™ - Saponification Process
  3. a b c Química do sabão em pó
  4. Como fabricar sabão em pó.
  5. a b A EVOLUÇÃO DO SABÃO DE COCO 14 de junho de 2008
  6. Dicionário Houaiss, verbete "sabão".
  7. a b c ALQUILBENZENO SULFONATO LINEAR: UMA ABORDAGEM AMBIENTAL E ANALÍTICA - José Carlos P. Penteado, Omar A. El Seoud e Lilian R. F. Carvalho
  8. Plínio, o Velho, Naturalis Historia, [1]
  9. Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios XX, 20 de Junho de 2013
  10. «Site officiel de la Savonnerie Rampal». www.rampalpatou.com. Consultado em 17 de julho de 2012 
  11. «Site officiel de la Compagnie des Détergents et du Savon de Marseille». www.cdsm-info.fr. Consultado em 9 de junho de 2010. Arquivado do original em 4 de abril de 2014 
  12. «Site officiel Savon de Marseille, le Sérail». www.savon-leserail.com. Consultado em 9 de junho de 2010 
  13. «Site officiel Marseille Soap - Savon de Marseille Marius Fabre». www.marius-fabre.fr. Consultado em 9 de junho de 2010. Arquivado do original em 24 de Fevereiro de 2010 
  14. «Site officiel Savon de Marseille La Licorne». www.savon-de-marseille-licorne.com. Consultado em 9 de junho de 2010 

Ligações externas

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