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Cartaz soviético produzido em 1922, em comemoração ao quinto aniversário da Revolução de Outubro, em 1917.

A Revolução de Outubro de 1917 e a subsequente experiência socialista da União Soviética representam um dos capítulos mais marcantes e controversos da história moderna. A ascensão dos bolcheviques ao poder na Rússia, liderados por Vladimir Lenin, inaugurou uma era de transformação radical que reverberou globalmente, moldando o curso do século XX e além. Este período tumultuado foi marcado por mudanças sociais, políticas e econômicas sem precedentes, bem como por conflitos ideológicos intensos que ecoaram em todo o mundo. Nas palavras do historiador britânico Eric Hobsbawm, “a Revolução de Outubro foi o mais formidavel movimento revolucionário da história da humanidade”.

A Revolução de Outubro foi um evento de dimensões extraordinárias, desencadeando uma onda de esperança entre as massas oprimidas, mas também gerando medo e resistência entre os detentores do poder estabelecido. Para muitos, representou a promessa de uma sociedade mais justa e igualitária, baseada nos princípios do socialismo e na abolição das desigualdades econômicas e sociais. No entanto, para outros, foi encarada como uma ameaça à ordem tradicional, à propriedade privada e às instituições estabelecidas. Ela deu origem ao primeiro estado socialista constitucional do mundo e estabeleceu a União Soviética como um farol do comunismo internacional. O Partido Comunista Soviético e sua liderança, incluindo Vladimir Lenin, tornaram-se figuras proeminentes na disseminação da ideologia comunista em escala global.

A experiência socialista da União Soviética, inaugurada pela Revolução de Outubro, foi um experimento de larga escala na aplicação das teorias econômicas formuladas pelo alemão Karl Marx, em um contexto de industrialização e modernização aceleradas. Sob a liderança de líderes como Lenin e, posteriormente, Josef Stalin, a União Soviética embarcou em uma jornada tumultuada em direção a uma sociedade sem classes, com a meta de construir um sistema econômico e político baseado na propriedade estatal dos meios de produção e na planificação centralizada da economia.

A Revolução de Outubro serviu como um farol de esperança para movimentos revolucionários em todo o mundo, especialmente em países colonizados e oprimidos. O sucesso dos bolcheviques em derrubar o regime czarista e estabelecer um governo socialista estimulou a luta por independência e justiça social em outras partes do globo. No entanto, a experiência soviética não foi homogênea ou linear; foi marcada por uma série de desafios, contradições e controvérsias ao longo do tempo. A história da União Soviética é pontuada por momentos de grande realização, como a industrialização rápida, a vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial e a conquista espacial, mas também por períodos de repressão política, violência estatal e estagnação econômica. A repressão política, os expurgos e os campos de trabalho forçado (gulags) se tornaram elementos sombrios da experiência soviética, deixando cicatrizes profundas na sociedade e na consciência coletiva até os dias atuais.

A visão histórica de que a Revolução de Outubro foi um sonho que se transformou em um pesadelo totalitário enfatiza as contradições e os desdobramentos sombrios da experiência socialista na União Soviética após 1917. De acordo com essa interpretação, a revolução, inicialmente vista como uma promessa de libertação e transformação social, acabou levando a um regime autoritário, opressivo e totalitário que sufocou a liberdade individual, reprimiu dissidentes políticos e impôs um controle draconiano sobre a sociedade.

Além disso, a União Soviética enfrentou desafios geopolíticos, especialmente durante a Guerra Fria, quando se tornou um dos principais atores no conflito global entre o bloco socialista e o bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos. A competição ideológica e militar entre esses dois blocos moldou as relações internacionais e a política global por décadas, deixando um legado duradouro na geopolítica contemporânea.

O colapso da União Soviética em 1991 marcou o fim de uma era e o início de um novo capítulo na história mundial. O desmantelamento do estado soviético trouxe consigo mudanças sísmicas nas relações internacionais, na geopolítica regional e nas dinâmicas políticas e econômicas das ex-repúblicas soviéticas. Desde então, o legado da Revolução de Outubro e da experiência socialista soviética tem sido objeto de intenso escrutínio, reavaliação e debate, refletindo a complexidade e a importância desses eventos na trajetória da humanidade.

Plano de Fundo[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revolução de Outubro

A Revolução de Outubro e sua trajetória sempre foram alvo de polêmicas na história, e essas controvérsias persistem até os dias atuais. Desde o momento em que ocorreu, a Revolução de Outubro dividiu opiniões e gerou debates intensos entre historiadores, políticos, intelectuais e cidadãos comuns. Aqui estão algumas das razões pelas quais a Revolução de Outubro tem sido tão controversa:

A Revolução de Outubro, que eclodiu na Rússia em 1917, continua a ser objeto de debates intensos sobre sua natureza e origem. Enquanto alguns historiadores e observadores veem o evento como um levante genuinamente popular, um reflexo das aspirações das massas russas por mudanças sociais e políticas, outros interpretam-no como um golpe de Estado liderado por uma elite revolucionária. A controvérsia em torno dessa questão reflete não apenas a complexidade do próprio evento, mas também as diferentes perspectivas políticas e ideológicas dos analistas. Os defensores da visão de que a Revolução de Outubro foi um levante popular argumentam que ela foi impulsionada pelo descontentamento generalizado com o regime czarista, exacerbado pela participação russa na Primeira Guerra Mundial e pelas condições econômicas precárias enfrentadas pela população. Nessa narrativa, os bolcheviques foram vistos como os porta-vozes e líderes da vontade das massas, canalizando e organizando o desejo por mudança em um movimento revolucionário. Por outro lado, aqueles que veem a Revolução de Outubro como um golpe liderado por uma minoria radical destacam o papel central desempenhado pelo Partido Bolchevique e sua liderança, especialmente Vladimir Lenin. Eles argumentam que os bolcheviques utilizaram táticas agressivas e antidemocráticas para consolidar seu poder, incluindo o fechamento da Assembleia Constituinte e a supressão de outras facções políticas. Essa interpretação enfatiza a natureza autoritária e revolucionária do movimento bolchevique, em contraste com uma verdadeira expressão da vontade popular.

A questão geral da energia nuclear não é simples. Não é necessário sublinhar o quão perigoso é depois do desastre nuclear de Fukushima , que está longe de terminar. O uso continuado de combustíveis fósseis ameaça um desastre global , e não num futuro distante. O caminho sensato seria avançar o mais rapidamente possível para fontes de energia sustentáveis , como a Alemanha está a fazer agora. As alternativas são desastrosas demais para serem contempladas.

O impacto global da Revolução de Outubro foi profundo e duradouro, influenciando movimentos revolucionários em todo o mundo e desencadeando uma série de mudanças políticas, sociais e ideológicas. Em primeiro lugar, a Revolução inspirou movimentos socialistas e comunistas em diversos países, que buscavam emular o sucesso dos bolcheviques na derrubada do regime czarista e na construção de uma sociedade socialista. Em muitas partes do mundo, os trabalhadores e as classes oprimidas viram na Revolução de Outubro uma esperança de libertação do domínio capitalista e do imperialismo. No entanto, essa inspiração também gerou receios e resistência por parte das elites dominantes e das potências capitalistas. A disseminação das ideias revolucionárias russas foi vista como uma ameaça à estabilidade e à ordem estabelecida, levando a uma série de reações repressivas por parte de governos e forças conservadoras. O medo do comunismo se espalhou pelo mundo, alimentando tensões políticas e sociais e desencadeando uma série de conflitos internos e internacionais.

A trajetória da União Soviética após a Revolução de Outubro é objeto de intensa controvérsia. As controvérsias em torno do desenvolvimento da União Soviética após a Revolução de Outubro refletem visões contrastantes sobre as conquistas e os desafios desse período histórico. Por um lado, há aqueles que destacam as conquistas significativas alcançadas pela URSS, especialmente durante os primeiros anos após a revolução. A industrialização em massa, por exemplo, transformou a economia russa de uma nação agrária atrasada em uma potência industrial em rápida ascensão. Isso permitiu avanços notáveis ​​em áreas como educação, saúde e tecnologia, elevando o padrão de vida e reduzindo significativamente o analfabetismo. No entanto, essa narrativa de sucesso é contraposta por outra visão mais crítica, que enfatiza os desafios e as adversidades enfrentadas pela União Soviética. A industrialização forçada e as políticas de coletivização da agricultura resultaram em custos humanos e sociais significativos, incluindo a fome, a perda de vidas e a deslocamento de milhões de pessoas. Além disso, o regime soviético foi marcado por uma repressão política implacável, com expurgos, campos de trabalho forçado (gulags) e uma cultura de denúncia generalizada, que minou as liberdades individuais e alimentou um clima de medo e desconfiança.

Essas controvérsias refletem não apenas interpretações diferentes dos eventos históricos, mas também divergências ideológicas e políticas mais amplas sobre o socialismo, o papel do Estado e o equilíbrio entre liberdade e igualdade. Enquanto alguns veem a experiência soviética como um exemplo inspirador de transformação social e econômica, outros a enxergam como um alerta sobre os perigos do autoritarismo e do totalitarismo. Esses debates continuam a ressoar na historiografia contemporânea, moldando nossa compreensão do legado da Revolução de Outubro e da experiência socialista da União Soviética.

Interpretações e correntes historiográficas[editar | editar código-fonte]

Interpretações históricas e correntes historiográficas são conceitos fundamentais no estudo da história, mas têm significados ligeiramente diferentes. Interpretações históricas referem-se às maneiras pelas quais os eventos do passado são compreendidos, analisados e explicados por historiadores e estudiosos. Cada evento histórico pode ser interpretado de várias maneiras, dependendo das perspectivas teóricas, metodológicas e ideológicas do historiador. Essas interpretações podem mudar ao longo do tempo à medida que novas evidências são descobertas, novas abordagens teóricas são desenvolvidas e as preocupações contemporâneas influenciam a forma como os eventos passados são percebidos. Correntes historiográficas referem-se aos diferentes paradigmas, escolas de pensamento e abordagens metodológicas que dominam o campo da história em determinados períodos de tempo. Cada corrente historiográfica representa uma maneira particular de abordar e estudar o passado, geralmente influenciada por contextos intelectuais, políticos e sociais mais amplos. Algumas correntes historiográficas importantes incluem o positivismo histórico, o marxismo histórico, a história social, a história cultural, a história das mentalidades, a história pós-moderna, entre outras.

No estudo da Revolução de Outubro, tanto as interpretações históricas quanto as correntes historiográficas desempenham papéis fundamentais na compreensão desse evento histórico. As interpretações históricas da Revolução de Outubro variam amplamente, refletindo diferentes perspectivas ideológicas, teóricas e metodológicas dos historiadores. Alguns podem interpretar a revolução como um movimento genuinamente popular de emancipação, representando as aspirações das massas russas por mudanças sociais e políticas. Outros podem vê-la como um golpe de Estado liderado por uma elite revolucionária, que aproveitou as circunstâncias favoráveis para assumir o controle do poder. Além disso, as interpretações podem diferir em relação ao impacto da revolução, suas consequências a curto e longo prazo e seu legado para a história mundial. No estudo da Revolução de Outubro, diversas correntes historiográficas têm sido aplicadas ao longo do tempo. O marxismo histórico, por exemplo, fornece uma lente analítica para compreender a revolução como um produto das contradições de classe e das forças socioeconômicas em jogo na sociedade russa. A história social, por sua vez, concentra-se nas experiências e nas condições de vida das classes trabalhadoras durante o período revolucionário. A história cultural explora as representações simbólicas da revolução na arte, literatura e cultura popular, enquanto a história política se debruça sobre as dinâmicas de poder e as estratégias políticas dos principais atores envolvidos.

Ao considerar essas diferentes interpretações e correntes historiográficas, os historiadores podem oferecer uma análise mais abrangente e multifacetada da Revolução de Outubro, capturando sua complexidade e suas ramificações em várias esferas da sociedade. Essa abordagem pluralista ajuda a enriquecer nosso entendimento desse evento crucial na história moderna e a destacar sua importância duradoura para a compreensão das lutas sociais, políticas e econômicas do século XX.

Historiografia[editar | editar código-fonte]

Houve poucos eventos em que as opiniões políticas dos investigadores influenciaram a sua investigação histórica de forma tão significativa como a Revolução de Outubro. Geralmente, a historiografia da Revolução geralmente se divide em três campos: Marxista Soviético, Totalitário Ocidental e Revisionista.

Historiografia Soviética[editar | editar código-fonte]

A historiografia soviética da Revolução de Outubro está interligada com o desenvolvimento histórico soviético. Muitos dos primeiros intérpretes soviéticos da Revolução eram eles próprios revolucionários bolcheviques.[1] Após a onda inicial de narrativas revolucionárias, os historiadores soviéticos trabalharam dentro de "diretrizes estreitas" definidas pelo governo soviético. A rigidez das possibilidades interpretativas atingiu o seu auge sob Stalin.[2]

Os historiadores soviéticos da Revolução interpretaram a Revolução de Outubro como sendo uma questão de estabelecer a legitimidade da ideologia marxista e do governo bolchevique. Para estabelecer a exactidão da ideologia marxista, os historiadores soviéticos geralmente descreveram a Revolução como o produto da luta de classes e que foi o acontecimento supremo numa história mundial governada por leis históricas. O Partido Bolchevique é colocado no centro da Revolução, pois expõe os erros tanto do Governo Provisório moderado como dos falsos Mencheviques “socialistas” no Soviete de Petrogrado. Guiado pela liderança de Lenine e pelo seu firme domínio da teoria marxista científica , o Partido liderou os acontecimentos "logicamente predeterminados" da Revolução de Outubro do início ao fim. Os acontecimentos foram, segundo estes historiadores, logicamente predeterminados devido ao desenvolvimento socioeconómico da Rússia, onde o capitalismo industrial monopolista alienou as massas. Nesta visão, o partido bolchevique assumiu o papel de liderança na organização destes trabalhadores industriais alienados e, assim, estabeleceu a construção do primeiro estado socialista.[3]

Embora a historiografia soviética da Revolução de Outubro tenha permanecido relativamente constante até 1991, sofreu algumas mudanças. Após a morte de Stalin, historiadores como EN Burdzhalov e P. V. Volobuev publicaram pesquisas históricas que se desviaram significativamente da linha do partido ao refinar a doutrina de que a vitória bolchevique "foi predeterminada pelo estado de desenvolvimento socioeconômico da Rússia".[4] Estes historiadores, que constituíram o "Grupo Novos Rumos", postularam que a natureza complexa da Revolução de Outubro "só poderia ser explicada por uma análise multicausal, não pelo recurso à monocausalidade do capitalismo monopolista".[5] Para eles, o ator central ainda é o partido bolchevique, mas este partido triunfou "porque só ele poderia resolver a preponderância das tarefas 'democráticas gerais' que o país enfrentava" (como a luta pela paz e a exploração dos proprietários de terras).[6] Durante o final do período soviético, a abertura de arquivos soviéticos seleccionados durante a glasnost desencadeou pesquisas inovadoras que romperam com alguns aspectos do marxismo-leninismo, embora as principais características da visão soviética ortodoxa permanecessem intactas.[7]

Abordagens Teóricas[editar | editar código-fonte]

George M. Enteen identifica duas abordagens para o estudo da historiografia soviética. Uma abordagem totalitária associada à análise ocidental da União Soviética como uma sociedade totalitária, controlada pelo Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, esta escola "pensava que os sinais de dissidência representavam apenas uma leitura errada dos comandos vindos de cima".[7] Para Enteen, a outra escola de escrita sobre a historiografia soviética é a escola de história social que chama a atenção para "importantes iniciativas de historiadores em desacordo com as potências dominantes no campo"[7]

Na opinião de Markwick, há uma série de movimentos historiográficos importantes do pós-guerra, que têm antecedentes nas décadas de 1920 e 1930. Surpreendentemente, estes incluem história com foco cultural e psicológico. No final da década de 1920, os stalinistas começaram a limitar as abordagens individualistas da história, culminando na publicação do "Curso Curto" de História do Partido Comunista Soviético de Stalin e outros (1938).[8][9] Isto cristalizou a piatichlenka ou cinco períodos oficiais da história em termos de materialismo dialético vulgar : comunismo primitivo, escravidão, feudalismo, capitalismo e socialismo.[10] Após a publicação do "Curso de curta duração", em 14 de novembro de 1938, o Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética emitiu uma declaração especial de que o curso e seu capítulo "Sobre o materialismo dialético e histórico" foram declarados como "enciclopédia de conhecimento filosófico no campo do Marxismo-Leninismo ", nos quais foram dadas" interpretações oficiais e verificadas pelo Comitê Central de questões básicas da história do Partido Comunista de Toda a Rússia (Bolcheviques) e do Marxismo-Leninismo e sem permitir qualquer outro arbitrário interpretações".[11]

Enquanto se impunha o triunfo da história stalinista , diferentes modos de história começaram a emergir. Estes incluíam People and Morals in Ancient Rus' (1947), de BA Romanov , um estudo das mentalidades no auge da Zhdanovshchina . Contudo, foi apenas no XX Congresso do PCUS que diferentes escolas de história emergiram do congelamento estalinista. Em primeiro lugar, emergiu uma "nova direcção" dentro do materialismo leninista, como uma oposição efectivamente leal ao materialismo dialético estalinista, em segundo lugar, uma psicologia social da história emergiu através de uma leitura da psicologia leninista, em terceiro lugar, emergiu uma tendência "culturológica".[11]

A Grande Revolução Socialista de Outubro , levada a cabo pelos trabalhadores e camponeses da Rússia sob a liderança do Partido Comunista , liderado por Lenin, derrubou o poder dos capitalistas e proprietários de terras, quebrou as cadeias da opressão, estabeleceu a ditadura do proletariado , e criou o Estado Soviético – um Estado de um novo tipo, o instrumento básico para defender as conquistas revolucionárias e para construir o socialismo e o comunismo . Começou a viragem histórica mundial da humanidade, do capitalismo para o socialismo. Tendo saído vitorioso da guerra civil e tendo repelido a intervenção imperialista, o poder soviético realizou as mais profundas transformações socioeconómicas, pondo fim para sempre à exploração do homem pelo homem e aos antagonismos de classe e à hostilidade nacional. A associação das Repúblicas Soviéticas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas aumentou as forças e as possibilidades do povo do país para a construção do socialismo. A propriedade pública dos meios de produção e a democracia genuína para as massas trabalhadoras foram consolidadas. Pela primeira vez na história da humanidade, foi criada uma sociedade socialista.

— Preâmbulo da Constituição da União Soviética, 1977

Caracteristicas da Historiografia Soviética[editar | editar código-fonte]

A historiografia da era soviética foi profundamente influenciada pelo marxismo. O marxismo sustenta que as forças motrizes da história são determinadas pela produção material e pelo surgimento de diferentes formações socioeconómicas. Aplicar esta perspectiva a formações socioeconómicas como a escravatura e o feudalismo é um princípio metodológico importante da historiografia marxista. Com base neste princípio, a historiografia prevê que haverá uma abolição do capitalismo por uma revolução socialista feita pela classe trabalhadora. Os historiadores soviéticos acreditavam que a teoria marxista-leninista permitia a aplicação de categorias do materialismo dialético e histórico no estudo de eventos históricos.[12] As ideias de Marx e Engels sobre a importância da luta de classes na história, o destino da classe trabalhadora e o papel da ditadura do proletariado e do partido revolucionário são de grande importância na metodologia marxista.[12]

A historiografia marxista-leninista é uma abordagem da história que se baseia nas ideias de Karl Marx e Vladimir Lenin, adaptando-as para analisar e interpretar eventos históricos. Essa perspectiva histórica enfatiza a primazia das relações de classe na determinação do curso da história, bem como a importância da luta de classes como motor das mudanças sociais. Na historiografia marxista-leninista, a história é vista como uma história de lutas entre classes sociais, com a burguesia e o proletariado desempenhando papéis antagônicos na sociedade. A análise histórica se concentra na identificação das contradições sociais e econômicas subjacentes, bem como na compreensão das forças que impulsionam as mudanças históricas. Além disso, a historiografia marxista-leninista enfatiza o papel do Estado como um instrumento de dominação de classe. Lenin, em particular, contribuiu para essa visão ao desenvolver a teoria do Estado como uma "máquina de opressão" nas mãos da classe dominante. Portanto, a análise histórica tende a examinar as políticas estatais, as instituições e as práticas políticas em termos de sua relação com as classes sociais dominantes e dominadas. A historiografia marxista-leninista também valoriza a ação política e a mobilização das massas como forças que podem moldar o curso da história. Ela enfatiza a importância dos movimentos sociais, das revoluções e das lutas populares na transformação das estruturas sociais e na conquista de mudanças progressistas.

É importante observar que a historiografia marxista-leninista tende a ser associada aos regimes socialistas que se desenvolveram no século XX, especialmente na União Soviética e em outros países do Bloco Comunista. Como resultado, sua aplicação prática muitas vezes refletiu as ideologias e as políticas dos regimes comunistas, gerando críticas sobre sua objetividade e imparcialidade. A historiografia soviética tem sido severamente criticada por estudiosos, principalmente – mas não só – fora da União Soviética e da Rússia. O seu estatuto de "acadêmico" tem sido questionado e muitas vezes rejeitado como ideologia e pseudociência .[13] Robert Conquest (ex-militante comunista) concluiu que:

"Em suma, o terror sem precedentes deve parecer necessário para tentativas ideologicamente motivadas de transformar a sociedade de forma massiva e rápida, contra as suas possibilidades naturais. As falsificações que as acompanham ocorreram, e numa escala pouco credível, em todas as esferas. Os factos reais, as estatísticas reais, desapareceram no reino da fantasia. A história, incluindo a história do Partido Comunista , ou melhor, especialmente a história do Partido Comunista, foi reescrita. novo presente, foi imposto às mentes cativas da população soviética, como foi, naturalmente, admitido quando a verdade surgiu no final da década de 1980."[14]

Essa crítica decorre do facto de na União Soviética a ciência estar longe de ser independente. Desde o final da década de 1930, a historiografia soviética tratou a linha do partido e a realidade como uma única e mesma coisa.[15]  Como tal, se fosse uma ciência, era uma ciência ao serviço de uma agenda política e ideológica específica, geralmente empregando o revisionismo histórico[16] .  Na década de 1930, os arquivos históricos foram fechados e a pesquisa original foi severamente restringida[17]. Os historiadores foram obrigados a temperar as suas obras com referências - apropriadas ou não - a Estaline e outros "clássicos marxistas-leninistas", e a julgar - conforme prescrito pelo Partido - as figuras históricas russas pré-revolução .  Nikita Khrushchev comentou que "os historiadores são perigosos e capazes de virar tudo de cabeça para baixo. Eles devem ser vigiados."[18]

Historiografia Marxista[editar | editar código-fonte]

A historiografia marxista da Revolução de Outubro enfoca a análise das condições socioeconômicas da Rússia pré-revolucionária, bem como as contradições de classe que levaram ao levante revolucionário de 1917. Essa abordagem interpreta a revolução como uma manifestação das leis históricas do desenvolvimento capitalista, com o proletariado emergindo como força motriz da transformação social. De acordo com essa perspectiva, a Revolução de Outubro representou a ascensão da classe trabalhadora ao poder político, marcando o início de uma nova era na história russa e mundial.

Os historiadores marxistas destacam a importância das teorias de Marx sobre a luta de classes e a revolução proletária para entender o papel histórico da Revolução de Outubro. Eles argumentam que a burguesia russa, incapaz de conduzir uma revolução democrática e progressista contra o czarismo, cedeu o espaço político ao proletariado organizado sob a liderança do Partido Bolchevique. A tomada do poder pelos bolcheviques foi vista como uma expressão da vontade das massas trabalhadoras em busca de justiça social, igualdade e libertação das correntes do capitalismo.

"A Europa está grávida da revolução" é uma famosa citação atribuída a Lênin, líder revolucionário russo e principal arquiteto da Revolução de Outubro de 1917[19]. Essa frase reflete a crença de Lênin de que as condições sociais, econômicas e políticas na Rússia do início do século XX estavam maduras para uma revolta popular e para a ascensão do proletariado ao poder. Lênin e os bolcheviques aproveitaram esse sentimento de insatisfação generalizada entre as massas russas para liderar o levante revolucionário que resultou na queda do regime czarista e no estabelecimento do governo soviético.

Além disso, a historiografia marxista da Revolução de Outubro enfatiza o papel da vanguarda revolucionária, representada pelo Partido Comunista, na condução da luta revolucionária e na organização da classe trabalhadora. Segundo essa visão, os bolcheviques desempenharam um papel crucial na unificação e mobilização das massas em torno de um programa revolucionário claro, capacitando o proletariado a assumir o controle do Estado e iniciar a construção de uma sociedade socialista.

No entanto, os historiadores marxistas também reconhecem os desafios e contradições enfrentados pela Revolução de Outubro e pelo regime soviético subsequente. Eles abordam questões como a guerra civil, a intervenção estrangeira, a necessidade de consolidar o poder revolucionário e as dificuldades na construção do socialismo em um país atrasado e devastado pela guerra. Essa análise crítica busca entender não apenas os sucessos, mas também as limitações e contradições do processo revolucionário, contribuindo para uma compreensão mais completa e matizada da Revolução de Outubro sob uma perspectiva marxista.

"A Maior Revolução da História"[editar | editar código-fonte]

No auge do poder comunista no mundo, especialmente durante a Guerra Fria e nas décadas seguintes à Revolução de Outubro, as nações socialistas exerciam uma influência considerável em vários aspectos, incluindo poder econômico e militar. As nações socialistas, lideradas pela União Soviética, exerciam uma influência política significativa em uma série de países ao redor do mundo. Isso incluía países do Bloco do Leste Europeu - como Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária e Romênia -, que estavam sob influência direta da União Soviética. Além disso, movimentos comunistas e socialistas em países da Ásia, África e América Latina muitas vezes buscavam inspiração e apoio da União Soviética e de outros países socialistas. A União Soviética era uma superpotência militar durante a maior parte da Guerra Fria, rivalizando com os Estados Unidos em termos de capacidade militar. Ela mantinha um vasto exército, uma poderosa frota naval e um arsenal nuclear significativo. Além disso, os países do Bloco do Leste Europeu também contribuíam para a capacidade militar do bloco socialista como um todo.

Os países socialistas muitas vezes cooperavam economicamente entre si, por meio de acordos comerciais, assistência técnica e ajuda financeira. A União Soviética liderou esforços para promover o desenvolvimento econômico e industrial nos países socialistas, fornecendo ajuda técnica e econômica, bem como investimentos em projetos de infraestrutura. Países socialistas participavam ativamente de organizações internacionais dominadas pelo bloco comunista, como o Conselho de Ajuda Econômica Mútua (Comecon) e o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar liderada pela União Soviética. Essas organizações visavam promover a cooperação econômica e militar entre os países socialistas e contrabalancear a influência do Ocidente.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm:

A Revolução Russa, ou, mais precisamente, a Revolução Bolchevique de outubro de 1917 (...) [tornou-se] tão fundamental para a história deste século quanto a Revolução Francesa de 1789 para o século XIX. (...) Contudo, a Revolução de Outubro teve repercussões muito mais profundas e globais que sua ancestral. Pois se as idéias da Revolução Francesa, como é hoje evidente, duraram mais que o bolchevismo, as conseqüências práticas de 1917 foram muito maiores e mais duradouras que as de 1789. A Revolução de Outubro produziu de longe o mais formidável movimento revolucionário organizado na história moderna. Sua expansão global não tem paralelo desde as conquistas do islã em seu primeiro século. Apenas trinta ou quarenta anos após a chegada de Lenin à Estação Finlândia em Petrogrado, um terço da humanidade se achava vivendo sob regimes diretamente derivados dos Dez dias que abalaram o mundo” (Reed, 1919) e do modelo organizacional de Lenin, o Partido Comunista. A maioria seguiu a URSS na segunda onda de revoluções surgida da segunda fase da longa guerra mundial de 1914-45[20].

A afirmação de que a Revolução de Outubro foi "o maior movimento revolucionário da História da Humanidade" é embasada por uma série de argumentos que destacam a amplitude e a profundidade de suas consequências históricas. A Revolução de Outubro representou uma ruptura fundamental com o status quo político e social na Rússia e no mundo. Ao derrubar o regime czarista e estabelecer o primeiro Estado socialista do mundo, os bolcheviques inauguraram uma nova era na história política, desafiando as estruturas tradicionais de poder e abrindo caminho para a disseminação do socialismo como uma força política global. A Revolução de Outubro inspirou movimentos revolucionários e lutas por independência e igualdade em todo o mundo. Desde a América Latina até a África e a Ásia, os ideais socialistas e o exemplo da Revolução Russa influenciaram a formação de movimentos de libertação nacional e a luta por direitos civis e sociais.

Mapa mostrando a maior extensão territorial da União Soviética e dos estados que ela dominou política, econômica e militarmente em 1960, após a Revolução Cubana de 1959, mas antes da divisão oficial Sino-Soviética de 1961. A Revolução de Outubro e seus "subprodutos" chegou em todos os continentes e abrigou 1/3 da humanidade.[21]

A Revolução de Outubro promoveu mudanças radicais na estrutura social e econômica da Rússia, incluindo a abolição da propriedade privada dos meios de produção, a coletivização da agricultura e a nacionalização da indústria. Essas reformas tiveram um impacto duradouro na vida das pessoas e na organização da sociedade russa. A Revolução de Outubro desencadeou um realinhamento geopolítico global, dando origem à Guerra Fria e moldando as relações internacionais do século XX. O confronto entre o socialismo soviético e o capitalismo ocidental dominou a política mundial por décadas e teve repercussões em todas as regiões do mundo. A Revolução de Outubro deixou um legado duradouro na consciência política e cultural global, influenciando não apenas a história russa, mas também a política, a economia, a cultura e a filosofia em todo o mundo. Seja como um símbolo de esperança e libertação ou como um alerta sobre os perigos do autoritarismo, a Revolução de Outubro continua a inspirar reflexões e debates até os dias atuais. Segundo Hobsbawm:

Durante grande parte do Breve Século XX, o comunismo soviético proclamou-se um sistema alternativo e superior ao capitalismo, e destinado pela história a triunfar sobre ele. E durante grande parte desse período, até mesmo muitos daqueles que rejeitavam suas pretensões de superioridade estavam longe de convencidos de que ele não pudesse triunfar. E — com a significativa exceção dos anos de 1933 a 1945 — a política internacional de todo o Breve Século XX após a Revolução de Outubro pode ser mais bem entendida como uma luta secular de forças da velha ordem contra a revolução social, tida como encarnada nos destinos da União Soviética e do comunismo internacional, a eles aliada ou deles dependente. À medida que avançava o Breve Século XX, essa imagem da política mundial como um duelo entre as forças de dois sistemas sociais rivais (cada um, após 1945, mobilizado por trás de uma superpotência a brandir armas de destruição global) se tornou cada vez mais irrealista. Na década de 1980, tinha tão pouca relevância para a política internacional quanto as Cruzadas. Mas podemos entender como veio a existir. Pois, mais completa e inflexivelmente até mesmo que a Revolução Francesa em seus dias jacobinos, a Revolução de Outubro se via menos como um acontecimento nacional que ecumênico. Foi feita não para proporcionar liberdade e socialismo à Rússia, mas para trazer a revolução do proletariado mundial.[22]

Durante o auge do poder comunista no mundo, especialmente durante a Guerra Fria e nas décadas seguintes à Revolução de Outubro, cerca de um terço da população mundial vivia sob regimes socialistas. Esse número incluía não apenas a União Soviética e os países do Bloco do Leste Europeu, mas também outros países socialistas espalhados pela Ásia, África e América Latina. Na Europa, os países do Bloco do Leste Europeu, como Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia e outros, estavam sob influência direta da União Soviética e adotaram sistemas políticos e econômicos socialistas sob o controle do Partido Comunista local. Na Ásia, países como China, Vietnã, Coreia do Norte, Laos e Cuba também eram governados por regimes socialistas, embora com diferentes graus de autonomia em relação à União Soviética. Esses países muitas vezes buscavam inspiração e apoio do modelo soviético, mas também desenvolviam suas próprias interpretações do socialismo. Na África, vários países adotaram o socialismo como ideologia oficial após conquistarem a independência das potências coloniais. Exemplos incluem Angola, Moçambique, Etiópia, Tanzânia e outros. Na América Latina, regimes socialistas surgiram em países como Cuba e Nicarágua, influenciados pela Revolução Cubana de 1959 e pelos movimentos de libertação nacional.

Portanto, durante esse período, os regimes socialistas exerciam uma influência significativa em grande parte do mundo, representando uma proporção substancial da população global. No entanto, é importante observar que o socialismo adotado por esses países muitas vezes apresentava variações significativas em termos de práticas políticas, econômicas e sociais, refletindo as diferentes circunstâncias históricas e contextos nacionais de cada país.

Papel na derrota do nazifascismo[editar | editar código-fonte]
Fotografia "Erguendo a bandeira da Vitória sobre o Reichstag", tirada em 2 de maio de 1945 por Yevgeny Khaldei, durante a Batalha de Berlim, na Segunda Guerra Mundial. A imagem mostra uma tropa soviética a levantar uma bandeira soviética sobre o Palácio do Reichstag.
"O Bolchevismo desmascarado!". Propaganda anticomunista e antisemita nazista.
Cartaz de propaganda anti-semita e anti-soviética alemã, escrito em polonês. O texto diz "Morte! à pestilência judaico-bolchevique de assassinato!"

O medo do avanço do comunismo desempenhou um papel significativo na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial e contribuiu para a ascensão do nazismo. Após a derrota na guerra e o colapso do Império Alemão, o país enfrentou uma série de crises econômicas, políticas e sociais, que criaram um ambiente de instabilidade e agitação. Nesse contexto, o surgimento de movimentos revolucionários de esquerda, como os espartaquistas liderados por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, e a formação de conselhos de trabalhadores inspirados na Revolução Russa, alarmaram as elites conservadoras e a classe média alemã. O medo do comunismo se intensificou com a criação da República Soviética da Baviera em 1919 e a Revolta Espartaquista em Berlim, que foram violentamente reprimidas pelo governo. Esses eventos alimentaram o temor de uma revolução comunista na Alemanha, levando as elites alemãs a apoiarem forças antidemocráticas e autoritárias como uma resposta ao perigo vermelho. Nesse contexto de instabilidade e medo, os nazistas, liderados por Adolf Hitler, emergiram como uma alternativa radical e aparentemente forte para combater o comunismo e restaurar a ordem e a grandeza da Alemanha.

Hitler e os nazistas exploraram habilmente o medo do comunismo em sua propaganda, retratando-se como os únicos capazes de proteger a Alemanha do perigo vermelho. Eles culparam os comunistas pelos problemas econômicos e sociais do país, prometendo erradicar o comunismo e restaurar a grandeza da nação. O Partido Nazista capitalizou a insatisfação popular e o medo do comunismo, ganhando apoio entre a classe média, a burguesia e os setores conservadores da sociedade alemã. Assim, o medo do avanço do comunismo desempenhou um papel crucial na ascensão dos nazistas ao poder em 1933 e na subsequente instauração de um regime totalitário na Alemanha[23].

O anticomunismo era uma parte fundamental da ideologia nazista e uma das principais motivações de Adolf Hitler. Desde o início de sua ascensão ao poder na Alemanha, Hitler identificou o comunismo como uma ameaça ideológica e política aos seus planos de dominação na Europa. Ele via a Revolução de Outubro na Rússia como um exemplo a ser combatido e temia a propagação do comunismo para outros países europeus. Hitler considerava os comunistas como inimigos mortais do nacional-socialismo, vendo-os como uma ameaça à supremacia alemã e à sua visão de uma nova ordem mundial. Essa hostilidade em relação ao comunismo se refletiu nas políticas e ações do regime nazista. Desde o início de seu governo, Hitler reprimiu brutalmente os comunistas na Alemanha, proibindo o Partido Comunista Alemão (KPD), prendendo e executando líderes comunistas e suprimindo violentamente qualquer forma de resistência comunista. Além disso, ele estava determinado a eliminar a União Soviética como uma potência política e militar, vendo-a como o coração do comunismo mundial e um obstáculo para seus planos de expansão territorial no leste europeu.

Hitler fez juramentos públicos de destruir o "bolchevismo" como parte de sua ideologia e estratégia política.[24] Para ele, o bolchevismo representava não apenas uma ameaça ideológica, mas também uma ameaça existencial à sua visão de um mundo dominado pelo nacional-socialismo[24]. Hitler via o bolchevismo como uma ideologia antitética ao nazismo, representando tudo o que ele desprezava: igualdade social, internacionalismo proletário e o domínio do Estado sobre a propriedade privada.[24] Ele considerava os bolcheviques como inimigos mortais do nacional-socialismo, e a União Soviética como o epicentro do bolchevismo e uma ameaça para os planos expansionistas da Alemanha nazista.[24]


Assim, Hitler fez da luta contra o bolchevismo uma prioridade absoluta de seu regime. Ele considerava a invasão da União Soviética, lançada em 22 de junho de 1941, como uma cruzada ideológica para destruir o comunismo e subjugar os povos eslavos do leste europeu. Esse compromisso fanático com a destruição do bolchevismo levou a campanhas brutais de repressão, execuções em massa e ações de guerra total contra os soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. Em suma, o juramento de Hitler de destruir o bolchevismo refletia sua visão de mundo e sua determinação em eliminar qualquer ameaça percebida ao nacional-socialismo, mesmo que isso significasse a condução de uma guerra brutal e destrutiva no leste europeu.

O desejo de Hitler de destruir a Revolução na Rússia era parte integrante de sua visão de uma Europa dominada pelo nazismo e pelo fascismo, livre de qualquer influência comunista. Ele via a invasão da União Soviética, lançada em junho de 1941, como uma oportunidade para acabar com o regime soviético e subjugar o povo russo. No entanto, apesar de suas esperanças iniciais de uma rápida vitória, a resistência feroz dos soviéticos e as duras condições da guerra levaram a um impasse prolongado e, finalmente, à derrota alemã em Stalingrado e na Batalha de Kursk, marcando um ponto de virada decisivo na Segunda Guerra Mundial.

Alguns acadêmicos argumentam que a Revolução de Outubro e o papel da União Soviética na Segunda Guerra Mundial foram interligados, e que a derrota do nazismo pode ser considerada um legado indireto da Revolução de Outubro. A Revolução de Outubro de 1917, que resultou na ascensão do regime comunista na Rússia, teve um impacto indelével no curso da história mundial. Um dos legados mais significativos dessa revolução foi seu papel na derrota do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Embora a Revolução de Outubro não tenha sido diretamente responsável pela derrota do nazismo, seu legado ideológico e o papel da União Soviética foram fundamentais para a vitória dos Aliados.

A União Soviética desempenhou um papel crucial na resistência ao avanço nazista, mobilizando enormes recursos humanos e materiais para a guerra total. As batalhas travadas no front oriental, como Stalingrado e Kursk, foram cruciais para a virada da guerra a favor dos Aliados. A determinação e a resistência do povo soviético foram fundamentais para conter o avanço alemão e empurrar as forças nazistas de volta.

Além disso, a ideologia comunista, que se originou da Revolução de Outubro, desempenhou um papel na resistência à ideologia nazista. O antifascismo era um componente central da propaganda soviética e uma motivação para muitos soldados e cidadãos soviéticos que lutavam contra o nazismo. A aliança entre os Aliados, que incluía a União Soviética, os Estados Unidos, o Reino Unido e outros países, foi essencial para a derrota do nazismo e a subsequente libertação da Europa do domínio nazista. Segundo o jornalista e escritor Ernest Hemingway:

Vinte e quatro anos de disciplina e trabalho criaram uma glória eterna, cujo nome é Exército Vermelho. Qualquer pessoa que ame a liberdade tem uma dívida tão grande com o Exército Vermelho que nunca poderá ser paga. Mas podemos declarar que a União Soviética receberá as armas, o dinheiro e as provisões de que necessita. Qualquer pessoa que fulmine contra Hitler deveria considerar o Exército Vermelho um modelo heróico que deve ser imitado.[25]

Depois da Revolução Francesa, surgiu na Europa uma Revolução Russa, e isso mais uma vez ensinou ao mundo que mesmo o mais forte dos invasores pode ser repelido, assim que o destino da Pátria é realmente confiado ao povo, aos humildes, aos proletários, à gente trabalhadora.

— Do jornal mural da 19 Brigata Eusebio Giambone, dos partisans italianos, 1944 (Pavone, 1991, p. 406)

Durante a Segunda Guerra Mundial, várias legiões de resistência comunista surgiram em toda a Europa ocupada pela Alemanha nazista, desempenhando um papel crucial na luta contra o regime de Hitler. Essas legiões eram compostas por membros de diferentes camadas sociais, incluindo trabalhadores, intelectuais, camponeses e até mesmo soldados desertores, unidos pelo objetivo comum de resistir à ocupação nazista e libertar suas terras do domínio alemão.

Os partisans, como ficaram conhecidos esses grupos de resistência, operavam clandestinamente, realizando ataques a comboios nazistas, sabotando instalações militares e de infraestrutura, distribuindo propaganda antinazista e resgatando prisioneiros de guerra e judeus perseguidos. Eles geralmente contavam com o apoio da população local, que fornecia abrigo, comida e informações vitais sobre os movimentos das tropas alemãs.

Na União Soviética, os partisans desempenharam um papel especialmente significativo, organizando-se em unidades guerrilheiras que operavam atrás das linhas inimigas, causando estragos nas comunicações e nas cadeias de suprimentos alemãs. Além disso, em países como a França, Itália, Grécia, Iugoslávia e Polônia, surgiram numerosos grupos de resistência comunista, muitas vezes ligados a partidos comunistas locais ou a movimentos de libertação nacional. Embora muitos partisans tenham enfrentado uma luta árdua e muitas vezes brutal contra as forças nazistas, seu sacrifício e determinação contribuíram significativamente para a derrota do nazismo e a libertação da Europa do domínio alemão. Seu legado de coragem e resistência continua a ser lembrado como parte importante da história da Segunda Guerra Mundial e da luta contra o totalitarismo.


Papel ideológico na descolonização e libertação nacional dos povos[editar | editar código-fonte]

Para Lenin, o imperialismo era uma fase avançada do capitalismo, caracterizada pela busca de mercados externos, recursos naturais e áreas de influência por parte das potências capitalistas dominantes. Ele descreveu o imperialismo como a fase final do capitalismo, marcada pela concentração de capital, monopólios, exportação de capital e domínio de grandes corporações sobre a economia global. Na visão de Lenin, o imperialismo gerava inevitavelmente conflitos entre as potências capitalistas pelo controle de territórios e recursos, levando à exploração de nações mais fracas e à intensificação das contradições sociais. A relação ideológica entre a Revolução de Outubro e a descolonização está ligada à visão de Lenin sobre o imperialismo. Para Lenin, as nações colonizadas representavam oprimidos do sistema imperialista mundial. Ele via a luta de libertação nacional dessas nações como parte da luta global contra o imperialismo e o capitalismo. Portanto, a Revolução de Outubro inspirou movimentos de libertação em todo o mundo, fornecendo um exemplo de como um povo oprimido poderia derrubar seu opressor e alcançar a autodeterminação.

A relação entre o conceito de "revolução socialista internacional" e a luta anti-imperialista da União Soviética estava intrinsecamente ligada à ideologia comunista e aos objetivos geopolíticos da URSS durante a Guerra Fria. O conceito de "revolução socialista internacional" era central na doutrina comunista, que pregava a necessidade de uma revolução proletária global para derrubar o capitalismo e estabelecer um sistema socialista em todo o mundo. De acordo com essa visão, a União Soviética via a si mesma como o líder do movimento comunista mundial e buscava promover e apoiar ativamente movimentos de libertação nacional e revoluções socialistas em outros países como parte de sua estratégia anti-imperialista.

A bandeira de Angola, adotada após a independência em 1975, apresenta as cores vermelha, preta e amarela, com uma estrela dourada no centro. Essas cores foram inspiradas nas bandeiras dos movimentos de libertação apoiados pela União Soviética. O vermelho simboliza a luta pela independência, o preto representa o continente africano e o amarelo simboliza os recursos minerais do país. A estrela dourada representa o socialismo e a solidariedade internacionalista.
A bandeira de Moçambique, adotada após a independência em 1975, apresenta as cores verde, preto, amarelo e vermelho, com uma estrela negra no centro. Essas cores foram escolhidas para refletir os ideais do Movimento de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que recebeu apoio da União Soviética. O verde simboliza a agricultura, o preto representa o continente africano, o amarelo simboliza as riquezas minerais e o vermelho representa a luta pela independência. A estrela negra representa a solidariedade com os povos oprimidos e a luta contra o imperialismo.

Os líderes dos movimentos de descolonização muitas vezes buscaram apoio e inspiração na Revolução de Outubro e no exemplo da União Soviética. Eles viam a URSS como um aliado na luta contra o imperialismo e como um modelo de desenvolvimento independente e socialista. Além disso, a política externa soviética frequentemente apoiava ativamente os movimentos de libertação nacional, fornecendo assistência diplomática, treinamento militar e apoio financeiro. Assim, a Revolução de Outubro e a ideologia comunista tiveram um impacto significativo no movimento de descolonização, alimentando o desejo de independência e autodeterminação entre os povos colonizados e oferecendo um contraponto ideológico ao sistema imperialista dominante.

Após a Segunda Guerra Mundial, a descolonização foi um processo complexo e multifacetado que ocorreu em várias partes do mundo, especialmente na Ásia, África e Caribe. O enfraquecimento das potências coloniais europeias, os ideais de autodeterminação promovidos pela Carta das Nações Unidas e o surgimento de movimentos de libertação nacional foram alguns dos principais fatores que impulsionaram esse processo.

O papel da Guerra Fria na descolonização foi significativo e complexo. Por um lado, a competição entre Estados Unidos e União Soviética por influência global levou ambos os lados a buscar apoio em movimentos de libertação nacional. A União Soviética, em particular, viu a descolonização como uma oportunidade de expandir sua influência e ganhar aliados nos recém-formados estados independentes. Ela ofereceu apoio diplomático, militar e econômico a vários movimentos de libertação, muitas vezes retratando-se como um defensor dos oprimidos contra o imperialismo ocidental. Por outro lado, as potências coloniais europeias também foram influenciadas pela Guerra Fria em sua abordagem à descolonização. Para evitar que suas antigas colônias caíssem sob a influência comunista, algumas potências coloniais, como Grã-Bretanha e França, buscaram negociações pacíficas para conceder independência aos seus territórios. Outras potências, como Portugal, resistiram à descolonização de maneira mais violenta, levando a conflitos prolongados em lugares como Angola e Moçambique.

Além disso, a Guerra Fria influenciou a forma como as novas nações independentes se posicionavam no cenário internacional. Muitos desses países se viram obrigados a escolher entre o alinhamento com o bloco ocidental ou com o bloco comunista, e suas escolhas muitas vezes refletiam não apenas considerações ideológicas, mas também cálculos políticos e econômicos. Em resumo, a Guerra Fria desempenhou um papel complexo na descolonização, influenciando tanto os colonizadores quanto os movimentos de libertação nacional, e moldando as relações internacionais em um período de grande transformação global.

A União Soviética apoiou diretamente vários movimentos de libertação nacional ao redor do mundo como parte de sua política externa durante a Guerra Fria. A URSS via esses movimentos como aliados na luta contra o "imperialismo ocidental' e como potenciais parceiros na construção de um mundo socialista. A União Soviética forneceu apoio diplomático, militar, financeiro e ideológico a vários movimentos de libertação nacional em países colonizados da Ásia, África e América Latina. Isso incluía assistência na formação de partidos políticos, treinamento de líderes, fornecimento de armas e ajuda financeira para atividades de guerrilha e propaganda.

Na África, por exemplo, a URSS apoiou movimentos de libertação como o MPLA em Angola, o ANC na África do Sul, a FRELIMO em Moçambique e o PAIGC na Guiné-Bissau e Cabo Verde. Na Ásia, ela apoiou movimentos como o Vietcong no Vietnã, o Partido Comunista da Malásia na Malásia e o Partido Comunista das Filipinas nas Filipinas. Na América Latina, a URSS apoiou movimentos revolucionários como o Movimento 26 de Julho em Cuba e a Frente Sandinista de Libertação Nacional na Nicarágua.

A bandeira de Angola e Moçambique, adotadas após suas independências durante o processo de descolonização africana, refletiam a influência da União Soviética nesse contexto. Ambos os países receberam apoio significativo da URSS durante suas lutas de libertação nacional contra as potências coloniais europeias. A bandeira de Moçambique apresenta um fuzil AK-47 cruzado com uma enxada, conhecido como "fuzil de Kalashnikov e enxada", no centro. Este símbolo foi adicionado à bandeira em 1983 e tem um significado importante. O fuzil AK-47, desenvolvido pelo engenheiro soviético Mikhail Kalashnikov, é um símbolo da luta de libertação nacional de Moçambique contra o colonialismo português. Durante a Guerra de Independência de Moçambique, o AK-47 foi uma arma amplamente utilizada pelos guerrilheiros do Movimento de Libertação de Moçambique (FRELIMO) contra as forças coloniais portuguesas. Portanto, a inclusão do AK-47 na bandeira representa a luta armada pela independência e a resistência contra a opressão colonial. A enxada ao lado do fuzil simboliza o papel da agricultura e do campesinato na luta de libertação. Reflete a importância da reforma agrária e da redistribuição da terra como parte do processo de construção de uma sociedade mais justa e igualitária após a independência. Em conjunto, o fuzil de Kalashnikov e a enxada na bandeira de Moçambique representam a luta armada pela libertação nacional e a aspiração de construir uma nação livre e próspera após séculos de colonialismo.

Esse apoio direto da União Soviética aos movimentos de libertação nacional tinha como objetivo enfraquecer a influência das potências coloniais ocidentais e expandir a esfera de influência soviética globalmente. Ao mesmo tempo, também refletia a visão da URSS de que a luta contra o imperialismo era uma etapa importante na construção de um mundo socialista e na promoção da revolução mundial.

"A Revolução salvou o capitalismo"[editar | editar código-fonte]

A perspectiva de que a Revolução de Outubro "salvou o capitalismo" é baseada na ideia de que a ameaça representada pela ascensão do comunismo e a Revolução Bolchevique na Rússia foram os catalisadores para reformas significativas no sistema capitalista ocidental. Eric Hobsbawm e outros historiadores argumentam que o medo do comunismo e a necessidade de evitar revoltas sociais e revoluções proletárias levaram as elites capitalistas a implementar medidas reformistas, incluindo a adoção do Estado de Bem-Estar Social.[26] Essas reformas visavam, em parte, atender às demandas dos trabalhadores e conter o avanço do comunismo. Políticas como previdência social, seguro-desemprego, saúde pública e educação gratuita foram introduzidas em muitos países capitalistas como resposta às pressões sociais e à necessidade de legitimar o sistema diante do crescente apoio ao comunismo entre a classe trabalhadora[26]. Segundo Hobsbawm:

A democracia só se salvou porque, para enfrentá-lo, houve uma aliança temporária e bizarra entre capitalismo liberal e comunismo: basicamente a vitória sobre a Alemanha de Hitler foi, como só poderia ter sido, uma vitória do Exército Vermelho. (...) A vitória da União Soviética sobre Hitler foi uma realização do regime lá instalado pela Revolução de Outubro (...). Sem isso, o mundo hoje (com exceção dos EUA) provavelmente seria um conjunto de variações sobre temas autoritários e fascistas, mais que de variações sobre temas parlamentares liberais. Uma das ironias deste estranho século é que o resultado mais duradouro da Revolução de Outubro, cujo objetivo era a derrubada global do capitalismo, foi salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz, fornecendo-lhe o incentivo — o medo — para reformar-se após a Segunda Guerra Mundial e, ao estabelecer a popularidade do planejamento econômico, oferecendo-lhe alguns procedimentos para sua reforma.[27]

A Revolução de Outubro e a ascensão do comunismo na Rússia forçaram o capitalismo a se adaptar de várias maneiras, principalmente devido à ameaça que representavam para a estabilidade do sistema capitalista e à pressão das massas trabalhadoras por reformas sociais. A pressão exercida pelos movimentos operários e a ameaça do comunismo levaram muitos países capitalistas a introduzir reformas sociais e trabalhistas significativas. Por exemplo, na Inglaterra, após a Revolução Russa, o governo liberal de David Lloyd George implementou políticas de seguro-desemprego e assistência social em resposta à agitação social e à influência do Partido Trabalhista e de sindicatos[28]. A ameaça do comunismo e a necessidade de legitimação do sistema levaram à criação do Estado de Bem-Estar Social em muitos países. Na Europa Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial, o modelo de Estado de Bem-Estar foi amplamente adotado, com políticas que incluíam assistência médica universal, pensões, seguro-desemprego e educação gratuita. Para conter o avanço do comunismo, os governos capitalistas implementaram políticas de reforma trabalhista, incluindo a introdução de jornadas de trabalho mais curtas, salários mínimos e regulamentação da segurança no local de trabalho. Além disso, houve uma maior intervenção estatal na economia, com a introdução de regulações econômicas para evitar crises e depressões econômicas. A ascensão do comunismo também fortaleceu a posição dos sindicatos e dos movimentos trabalhistas, levando os empregadores a negociar e conceder direitos aos trabalhadores para evitar conflitos sociais e revoltas. Isso incluiu o reconhecimento de sindicatos, o direito à negociação coletiva e o estabelecimento de salários mínimos. Esses exemplos demonstram como a Revolução de Outubro e a ameaça comunista influenciaram as políticas e práticas do capitalismo, forçando-o a se adaptar e conceder concessões para manter a estabilidade social e política. Em 2017, o historiador Walter Scheidel argumentou que o estabelecimento de Estados-providência no Ocidente no início do século XX poderia ser, em parte, uma reacção das elites à Revolução Bolchevique e à sua violência contra a burguesia, que temia uma revolução violenta no seu próprio quintal. Eles diminuíram décadas depois, à medida que a ameaça percebida diminuía. Scheidel falou com Matt Taylor da revista Vice em uma entrevista:

É um pouco complicado porque os EUA nunca tiveram nenhum movimento esquerdista forte. Mas se olharmos para a Europa, depois de 1917 as pessoas estavam realmente assustadas com o comunismo em todos os países da Europa Ocidental. "Você tem todas essas pobres pessoas, elas podem se levantar e nos matar e levar nossas coisas". Isso não era apenas uma fantasia porque estava acontecendo na casa ao lado. E isso, podemos mostrar, desencadeou passos no sentido de termos mais programas de bem-estar e uma rede de segurança rudimentar em resposta ao medo do comunismo. Não que eles [os comunistas] invadissem, mas que haveria movimentos locais deste tipo. O populismo americano é um pouco diferente porque está mais desligado disso. Mas isso acontece aproximadamente ao mesmo tempo, e as pessoas na América também estão preocupadas com o comunismo – não necessariamente de forma muito razoável. Mas isso sempre esteve em segundo plano. E as pessoas apenas começaram a estudar sistematicamente até que ponto a ameaça, real ou imaginária, deste tipo de regime radical realmente influenciou as mudanças políticas nas democracias ocidentais. Não é necessariamente necessário sair à rua e matar pessoas ricas – se existisse alguma alternativa plausível, isso teria provavelmente um impacto na elaboração de políticas a nível interno. Isso certamente existe nos anos 20, 30, 40, 50 e 60. E há um debate, certo, porque fica claro que a União Soviética não está realmente em muito boa forma, e as pessoas não gostam realmente de estar lá, e todos estes movimentos perderam o seu apelo. É um factor que contribui, sem dúvida, para o facto de o fim da Guerra Fria coincidir aproximadamente com o momento em que a desigualdade realmente começa a aumentar novamente, porque as elites estão muito mais relaxadas quanto à possibilidade de existirem alternativas ou ameaças credíveis.[29]

A ideia de que "o comunismo é um destino inevitável" refere-se à crença, defendida por alguns teóricos marxistas, de que o capitalismo eventualmente entraria em colapso devido a suas contradições internas e seria substituído pelo socialismo e, eventualmente, pelo comunismo[30]. Essa visão é baseada na teoria marxista da história, que postula que o desenvolvimento econômico e social levará inevitavelmente à abolição do sistema de propriedade privada e à criação de uma sociedade sem classes[30]. Essa ideia teve um impacto significativo no sistema capitalista liberal, especialmente durante o século XX. A ascensão do comunismo na Rússia após a Revolução de Outubro e o estabelecimento da União Soviética como o primeiro Estado socialista do mundo trouxeram a questão da viabilidade do socialismo e do comunismo para o centro do debate político e econômico global[31]. O medo de uma revolução comunista e a influência do exemplo soviético levaram as elites capitalistas a adotar medidas para reformar o sistema capitalista e mitigar as tensões sociais. Isso incluiu a introdução de políticas de Estado de Bem-Estar Social, reformas trabalhistas, regulação econômica e concessões aos movimentos trabalhistas e sindicatos. O objetivo era conter o avanço do comunismo, oferecendo reformas que satisfizessem as demandas das massas trabalhadoras e mantivessem a estabilidade social e política.

O sucesso econômico relativo da União Soviética durante a Grande Depressão teve um impacto significativo no pensamento econômico em algumas nações capitalistas pós-crise. Enquanto muitas economias capitalistas enfrentavam uma grave recessão e desemprego em massa durante a década de 1930, a União Soviética parecia ter escapado desses efeitos devido ao seu modelo econômico planejado e centralizado. O modelo econômico soviético, baseado no planejamento centralizado do Estado e na coletivização dos meios de produção, contrastava com o sistema capitalista liberal. Durante a Grande Depressão, o sucesso da União Soviética em manter a estabilidade econômica e alcançar altas taxas de crescimento econômico despertou interesse e debate entre os economistas e políticos nas nações capitalistas. Alguns defensores do capitalismo começaram a questionar os pressupostos do livre mercado e a considerar a possibilidade de uma maior intervenção estatal na economia. Eles viram o planejamento econômico centralizado como uma alternativa viável ao sistema capitalista, especialmente em tempos de crise econômica. Essas ideias influenciaram o desenvolvimento de políticas keynesianas em muitas economias capitalistas pós-crise. As políticas keynesianas, baseadas nas teorias do economista John Maynard Keynes, defendiam uma intervenção ativa do governo na economia para estimular o crescimento econômico, manter o emprego e estabilizar os ciclos econômicos. Isso incluía medidas como gastos públicos em obras públicas, políticas monetárias expansionistas e regulação do sistema financeiro[32].

O Keynesianismo se relaciona diretamente com as reformas econômicas implementadas após a Segunda Guerra Mundial e desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do capitalismo pós-guerra. As ideias de John Maynard Keynes, um renomado economista britânico, tornaram-se fundamentais para a formulação de políticas econômicas em muitos países industrializados durante o período pós-guerra. A principal contribuição do Keynesianismo foi sua abordagem à demanda agregada na economia. Keynes argumentou que o investimento privado e o consumo individual nem sempre eram suficientes para garantir o pleno emprego e o crescimento econômico[33]. Ele defendeu a intervenção do governo na economia por meio de políticas fiscais e monetárias para estimular a demanda agregada e suavizar os ciclos econômicos. Keynes argumentava que o governo deveria aumentar os gastos públicos durante os períodos de recessão para estimular a demanda e impulsionar a atividade econômica.[34] Reduzir os impostos sobre os consumidores e empresas poderia aumentar a renda disponível e incentivar o consumo e o investimento. O Banco Central poderia reduzir as taxas de juros e aumentar a oferta de dinheiro para tornar o crédito mais acessível, estimulando assim o investimento e o consumo. Essas políticas foram implementadas em muitos países capitalistas pós-guerra, especialmente nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.[34] Segundo Arrown:

Finalmente, o desenvolvimento da economia keynesiana e, após a guerra, a sua aplicação gradualmente crescente mudaram a natureza da discussão sobre eficiência. No verdadeiro estilo hegeliano , a instabilidade capitalista e o contra-ataque socialista pareciam ser sintetizados: parecia possível ter uma economia que mantivesse grande parte do impulso e da iniciativa capitalista e ainda assim desse espaço para o governo intervir para evitar pelo menos as piores ineficiências do desemprego e a ociosidade de outros recursos. Aceitei provisoriamente o que parecia ser um consenso generalizado na euforia do crescimento económico do pós-guerra . O Estado teve um papel activo a desempenhar na manutenção da procura efectiva e no tratamento das muitas imperfeições do sistema de mercado reveladas pela teoria da economia do bem-estar — a superação das falhas de mercado e dos monopólios e a realização de economias de escala . Estas intervenções deveriam assumir a forma de medidas, impostos e despesas relativamente impessoais , em vez de controlos detalhados e regulação directa . Os impostos mais elevados significaram que o governo estava automaticamente empenhado na redistribuição , e alguns de nós sentiram que deveria ir muito mais longe.[35]

O Keynesianismo ajudou a estabelecer o Estado de Bem-Estar Social e a promover o pleno emprego, o crescimento econômico estável e a estabilidade social[36]. A importância do Keynesianismo para o capitalismo pós-guerra reside no fato de que suas políticas ajudaram a evitar crises econômicas profundas, forneceram um amortecedor contra as flutuações do ciclo econômico e contribuíram para a construção de uma classe média próspera. No entanto, as críticas ao Keynesianismo surgiram ao longo do tempo, especialmente durante os anos 1970, quando surgiram problemas como a inflação e o desemprego simultâneo, levando a um ressurgimento do pensamento econômico mais orientado para o livre mercado.

Pode-se argumentar, portanto, que o Keynesianismo foi uma resposta do mundo capitalista ao avanço do comunismo, especialmente durante o período pós-Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. A ascensão do comunismo na União Soviética e a disseminação de ideias socialistas em outros países representaram uma ameaça ideológica e política ao sistema capitalista. Nesse contexto, as ideias de Keynes foram adotadas como uma maneira de mitigar as tensões sociais e econômicas dentro dos países capitalistas, oferecendo uma alternativa ao socialismo e ao comunismo. As políticas keynesianas foram implementadas para evitar crises econômicas profundas, garantir o pleno emprego e promover a estabilidade social e política[36]. Ao reconhecer a necessidade de uma intervenção ativa do Estado na economia para evitar o colapso do sistema capitalista, o Keynesianismo representou uma abordagem pragmática e flexível em relação às políticas econômicas. Ele ofereceu uma maneira de conciliar os interesses do capitalismo com as demandas da classe trabalhadora e das massas populares, sem adotar o socialismo completo[36].

"Tragédia do Estado Soviético"[editar | editar código-fonte]
"A Revolução aconteceu no lugar errado, na hora errada"[editar | editar código-fonte]

Historiografia Ocidental[editar | editar código-fonte]

A historiografia ocidental da Revolução de Outubro, especialmente durante o século XX, tendeu a apresentar uma visão crítica e muitas vezes negativa do evento e de suas consequências. Essa abordagem reflete uma série de perspectivas teóricas, ideológicas e políticas que moldaram a interpretação da Revolução de Outubro no mundo ocidental. Muitos historiadores ocidentais enfatizam a violência e o autoritarismo associados à Revolução de Outubro e ao regime bolchevique subsequente. Eles destacam os expurgos políticos, as supressões de dissidentes, os gulags e outras formas de repressão estatal como características distintivas do governo soviético, retratando-o como um estado totalitário que violava os direitos humanos e as liberdades individuais.

A historiografia ocidental muitas vezes critica as ideologias comunistas que fundamentaram a Revolução de Outubro, incluindo o marxismo-leninismo. Esses críticos argumentam que o comunismo soviético prometia igualdade e justiça, mas acabou produzindo tirania e opressão, minando as liberdades individuais e reduzindo a qualidade de vida da população. Os historiadores ocidentais tendem a destacar os impactos negativos da Revolução de Outubro, incluindo a guerra civil russa, a fome, a instabilidade política e econômica, bem como a subsequente expansão do comunismo no século XX. Eles apontam para as consequências desastrosas da revolução não apenas para a Rússia, mas também para o mundo, argumentando que ela desencadeou uma série de conflitos e tensões geopolíticas que moldaram o curso da história do século XX. Alguns historiadores ocidentais também enfatizam os fatores externos que contribuíram para a Revolução de Outubro, como a Primeira Guerra Mundial, as pressões econômicas e políticas da guerra e as influências ideológicas externas, incluindo o papel dos exilados políticos russos e do financiamento estrangeiro.

Esses são apenas alguns dos principais temas e tendências na historiografia ocidental da Revolução de Outubro. No entanto, é importante reconhecer que a interpretação do evento variou ao longo do tempo e entre diferentes historiadores, refletindo uma gama diversificada de perspectivas e abordagens acadêmicas.

Durante a Guerra Fria, a historiografia ocidental da Revolução de Outubro desenvolveu-se em resposta direta às afirmações da visão soviética. Como resultado, os historiadores ocidentais expuseram o que acreditavam serem falhas na visão soviética, minando assim a legitimidade original dos bolcheviques, bem como os preceitos do marxismo. Estes historiadores ocidentais descreveram a revolução como o resultado de uma cadeia de acidentes contingentes. Exemplos destes factores acidentais e contingentes que, segundo eles, precipitaram a Revolução incluíram o momento da Primeira Guerra Mundial , o acaso e a fraca liderança do czar Nicolau II, bem como a dos socialistas liberais e moderados.  De acordo com os historiadores ocidentais, não foi o apoio popular, mas sim a manipulação das massas, a crueldade e a disciplina partidária dos bolcheviques que permitiram o seu triunfo. Para estes historiadores, a derrota dos bolcheviques nas eleições para a Assembleia Constituinte de Novembro-Dezembro de 1917 demonstrou a oposição popular à revolução dos bolcheviques, tal como a escala e a amplitude da Guerra Civil.

Os historiadores ocidentais viam a organização do partido bolchevique como totalitária. A sua interpretação da Revolução de Outubro como um golpe violento organizado por um partido totalitário que abortou a experiência democrática da Rússia.  Assim, o totalitarismo stalinista desenvolveu-se como uma progressão natural do leninismo e das táticas e organização do partido bolchevique.[37]

Liberais interpretam a Revolução de Outubro[editar | editar código-fonte]

Vários intelectuais e historiadores profissionais liberais e conservadores também analisaram a Revolução Russa, produzindo interpretações distintas e, muitas vezes, opostas a de pensadores marxistas, como Hobsbawm. Entre eles, o historiador francês François Furet (1927-1997) se destaca pela repercussão do seu livro "O passado de uma ilusão: ensaio sobre a ideia comunista no século XX", publicado em 1995. A obra consiste em “reconstituir a mitologia da URSS e do comunismo na opinião geral[38]. No prefácio, Furet, que foi militante do Partido Comunista Francês entre 1949 e 1959  (no final do período stalinista), considera que também ele fez parte dos “ilusionistas-ilusionistas que construíram a miragem do comunismo”. No prefácio, ele explica: “Experimentei por dentro a ilusão que procuro remontar a uma das épocas em que estava mais difundida [...]. Saí com o início de um questionário sobre paixão revolucionária e vacinado contra o investimento pseudo-religioso na ação política”[39].

"Um sonho que se tornou um pesadelo"[editar | editar código-fonte]

François Furet interpreta o que chama de “a ideia do comunismo  ”, partindo de um panorama histórico do regime bolchevique na Rússia , depois na URSS . Na verdade, a obra centra-se principalmente no período 1917-1953 (da “revolução leninista” até à morte de Stalin).François Furet acredita que o ponto de partida é a Primeira Guerra Mundial , que “abre a era das catástrofes europeias” [40]. Tendo em conta o massacre e o trauma que provoca, os adversários desta guerra, incluindo os bolcheviques, sairão fortalecidos desta posição.

O autor acredita que “a Rússia de Lenin […] canaliza ainda mais as paixões do que as ideias” . É por isso que certos intelectuais da época tiveram grande dificuldade em compreender as particularidades de uma revolução que afirmava ter pretensões universais, embora continuasse a sua própria tradição:

“A Revolução de Outubro apresenta a pretensão de se oferecer como exemplo à humanidade, e antes de mais nada. tudo para a Europa. Uma afirmação que, tomada em si, não é nova na história russa, mas num sentido completamente diferente: a do messianismo eslavófilo. Assim, a partir da década de 1920, à mitologia comunista emergente opõe-se uma mitologia anticomunista que a reforça combatendo-a. A Terceira Internacional afirma encarnar a revolução mundial do proletariado, e os governos burgueses cumprem imediatamente esta reivindicação".[41]

É comum entre historiadores ocidentais a interpretação de que "a Revolução de Outubro foi um sonho que se tornou um pesadelo totálitario" Essa afirmação reflete uma visão bastante comum entre alguns historiadores ocidentais, que interpretam a Revolução de Outubro como um sonho inicial de liberdade, justiça e igualdade que acabou se transformando em um pesadelo totalitário. Para muitos, a revolução começou com promessas de emancipação e transformação social, mas acabou resultando em um regime autoritário e repressivo, especialmente sob a liderança de Josef Stalin e seus sucessores.

Os críticos apontam para uma série de desenvolvimentos que contribuíram para essa transformação, incluindo a concentração de poder nas mãos do Partido Comunista, a supressão da oposição política e intelectual, a violação dos direitos humanos e a instauração de um estado de vigilância generalizado. Além disso, os expurgos políticos, os campos de trabalho forçado (gulags) e o culto à personalidade em torno de líderes como Stalin são frequentemente citados como exemplos dos excessos totalitários do regime soviético.

O historiador François Furet viu a ascensão do regime comunista como a história de um desejo (uma ideia ilusória) que se transformou num pesadelo totalitário tão devastador quanto o nazifascismo. Ele interpretou a experiência soviética e suas tentativas de expansão comunista como uma curta desventura diante da vitória final do liberalismo, a partir de 1989, visto por ele como um mundo pautado nos direitos humanos e nas leis de mercado. Ao analisar a Revolução Russa, François Furet fez ainda um balanço da sua própria geração de intelectuais que se formou sob a presença marcante da URSS, entre as décadas de 1940 e 1950. Enquanto Hobsbawm se envolveu com as potencialidades surgidas da experiência soviética, Furet optou pelo silêncio prudente, como revela o trecho abaixo de uma entrevista:

Havia o mito da Rússia, do Exército Vermelho, um mito que aliás nos cegou, porque efetivamente ficamos cegos diante de todas as evidências. Aceitamos ingenuamente uma série de mentiras sobre o mundo soviético. Os mais prudentes de nós – foi o meu caso – felizmente não escreveram nesse período. Se eu o tivesse feito, teria escrito um monte de bobagens. Não sei realmente se não escrevi porque era jovem ou porque tinha uma espécie de bloqueio inconsciente.[42]

No entanto, é importante ressaltar que essa interpretação não é unânime e tem sido objeto de debate dentro da comunidade acadêmica. Alguns historiadores contestam a narrativa de que a Revolução de Outubro foi simplesmente um sonho transformado em pesadelo, argumentando que ela trouxe conquistas significativas, como a industrialização rápida, a melhoria dos padrões de vida e o avanço da educação e da saúde em partes da União Soviética. Esses estudiosos também observam que a revolução inspirou movimentos de libertação nacional e lutas por direitos civis em todo o mundo, destacando seu impacto global e suas complexidades históricas.

Portanto, enquanto alguns historiadores ocidentais podem concordar com a afirmação de que a Revolução de Outubro representou um sonho transformado em pesadelo totalitário, outros adotam uma visão mais matizada e contextualizada do evento, reconhecendo tanto suas realizações quanto seus desafios e contradições.

"O Comunismo matou 100 milhões de pessoas"[editar | editar código-fonte]
"A Revolução de Outubro não existiu"[editar | editar código-fonte]
"Pogrom no Palácio de Inverno", de Ivan Vladimirov. O assalto ao Palácio de Inverno, em Petrogrado, foi um dos eventos mais emblemáticos da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia. O palácio, que servia como sede do governo provisório, representava o centro do poder político na capital russa na época. O ataque foi liderado pelos bolcheviques, que planejaram cuidadosamente a ação para capturar o Palácio de Inverno e assumir o controle do Estado.

A tomada do poder pelos bolcheviques em outubro de 1917 foi um evento crucial na história russa e mundial, marcando o início de uma nova era política e social. Os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, aproveitaram as tensões e insatisfações crescentes na Rússia, especialmente entre os trabalhadores urbanos e os soldados, para consolidar sua posição e lançar um golpe decisivo contra o governo provisório. A invasão do Palácio de Inverno, em Petrogrado, foi o clímax desse golpe de Estado. No dia 25 de outubro de 1917 (pelo calendário juliano então em vigor na Rússia, que corresponde ao 7 de novembro pelo calendário gregoriano), os bolcheviques organizaram uma ação coordenada para capturar o Palácio, que servia como sede do governo provisório. Utilizando-se de forças militares leais aos seus ideais e com o apoio de um amplo contingente de trabalhadores e soldados, os bolcheviques conseguiram tomar o controle do Palácio, enfrentando resistência limitada por parte das tropas leais ao governo provisório. Essa ação simbólica não apenas garantiu o controle físico do centro do poder político em Petrogrado, mas também representou a afirmação da autoridade dos bolcheviques sobre o governo russo. Em seguida, os bolcheviques estabeleceram o Conselho dos Comissários do Povo (Sovnarkom), liderado por Lenin, como o novo governo revolucionário da Rússia, consolidando assim seu domínio sobre o país. A invasão do Palácio de Inverno marcou o triunfo dos bolcheviques na Revolução de Outubro e inaugurou uma nova fase na história russa, caracterizada pela ascensão do comunismo e pela fundação da União Soviética.

Há historiadores que discordam da caracterização da Revolução de Outubro como uma revolução genuína e a veem como um golpe de Estado liderado por uma minoria revolucionária. Essa perspectiva destaca o papel central do Partido Bolchevique e de sua liderança, especialmente Vladimir Lenin, na tomada do poder em outubro de 1917. Esses historiadores argumentam que a revolução não foi o resultado de um movimento amplo e espontâneo das massas, mas sim o produto de uma estratégia deliberada e planejada pelos bolcheviques para assumir o controle do Estado. Eles apontam para a natureza antidemocrática do regime bolchevique, incluindo o fechamento da Assembleia Constituinte em janeiro de 1918, como evidência de que o Partido Bolchevique estava mais interessado em consolidar seu próprio poder do que em promover uma verdadeira transformação social.

Richard Pipes, historiador e especialista em história russa, é conhecido por sua interpretação crítica da Revolução de Outubro. Em suas obras, como "A Revolução Russa" (1990), ele argumenta que os bolcheviques realizaram um golpe de Estado para assumir o poder e que o regime soviético subsequente foi caracterizado por sua natureza autoritária e repressiva:

Nas eleições para os sovietes realizadas no mês seguinte, os bolcheviques obtiveram ganhos impressionantes, o que sinalizou a Lenin que tinha chegado o momento de outro golpe decisivo. A resolução para tomar o poder foi tomada numa reunião clandestina dos líderes bolcheviques realizada na noite de 23 para 24 de Outubro de 1917. Lenin teve de superar uma grande relutância dos seus tenentes, que temiam uma repetição do fiasco de Julho. O golpe ocorreu em 7 de novembro, quando unidades pró-bolcheviques tomaram todos os pontos estratégicos da capital sem disparar um tiro. Houve alguns combates em Moscovo, mas no resto do país a transição decorreu de forma bastante tranquila. Lenin disse mais tarde que tomar o poder na Rússia era tão fácil como “levantar uma pena”. A razão foi que ele tinha habilmente camuflado a tomada do poder por ele próprio e pelo seu partido como a transferência de “todo o poder para os sovietes”, cujo slogan prometia democracia de base em vez de ditadura. Mesmo os rivais socialistas de Lenin, que suspeitavam das suas intenções, não ficaram terrivelmente perturbados, convencidos de que uma ditadura bolchevique de partido único não poderia durar e que em breve cederia a uma coligação socialista. Preferiram deixá-lo exercer o poder por um tempo, em vez de desencadear uma guerra civil que só beneficiaria a “contra-revolução”. No final das contas, os bolcheviques permaneceriam no poder durante setenta e quatro anos. O comunismo, portanto, não chegou à Rússia como resultado de uma revolta popular: foi-lhe imposto de cima por uma pequena minoria que se escondeu atrás de slogans democráticos. Este fato saliente determinaria seu curso.[43]

Orlando Figes, historiador britânico, também oferece uma visão crítica da Revolução de Outubro em suas obras, como "A Tragédia de um Povo" (1996). Ele argumenta que os bolcheviques não representavam verdadeiramente a vontade do povo russo e que a revolução foi mais um golpe de Estado do que uma revolta popular genuína. Figes começa com um esboço detalhado do regime czarista e os seus pontos fracos, no final do século XIX, e conclui com a morte de Lenin, em 1924, quando "os elementos básicos do regime stalinista - o partido unico, o sistema do terror e o culto da personalidade - estavam todos implementados "[44]. O livro apresenta uma síntese dos vários pontos de vista sobre a revolução, intercaladas com documentos pessoais de testemunhas e participantes, e uma análise clara das forças pessoais e momentos históricos do período. Ele traça retratos penetrantes dos principais personagens, como czar Nicolau II, o primeiro-ministro Aleksandr Kerenski e os líderes revolucionários Lênin e Trotsky. Contando o sofrimento indescritível do povo russo, pela fome, e pela brutal guerra civil[45]. Em 2008, o Times Literary Supplement listou-o como um dos "cem livros mais influentes desde a Segunda Guerra Mundial". Eric Hobsbawm, revisando o livro, chamou-o de uma "obra muito impressionante de escrita histórica".[46]

Robert Service, historiador britânico especializado em história russa e soviética, escreveu extensivamente sobre a Revolução de Outubro em obras como "Lenin" (2000) e "A History of Modern Russia: From Nicholas II to Putin" (2009). Ele adota uma visão crítica dos bolcheviques e argumenta que eles realizaram um golpe de Estado para assumir o controle do Estado russo, estabelecendo assim um regime totalitário que reprimiu a oposição e minou as liberdades individuais.

Esses são apenas alguns exemplos de historiadores que seguem a linha de pensamento de que a Revolução de Outubro foi um golpe de Estado em vez de uma revolução genuína. Suas interpretações críticas contribuem para o debate em curso sobre a natureza e o significado desse evento histórico crucial. Além disso, esses historiadores questionam a legitimidade do governo soviético, argumentando que ele não representava verdadeiramente a vontade do povo russo e que sua ascensão ao poder foi marcada por coerção e violência. Eles destacam a repressão de dissidentes políticos, a supressão de outras facções revolucionárias e a imposição de um regime de partido único como exemplos das táticas autoritárias dos bolcheviques. Embora essa visão seja menos comum do que a interpretação de que a Revolução de Outubro foi uma revolução genuína, ela continua a ser defendida por alguns historiadores e é parte do debate em curso sobre a natureza e o legado do evento de 1917.

"O Fim da História"[editar | editar código-fonte]
Alemães na Berlim Oriental escalam o Muro de Berlim, as vésperas de sua demolição, durante a Primavera de 1989. O Muro de Berlim foi o maior simbolo da Guerra Fria e se tornou sinônimo da divisão leste-oeste que polarizou o mundo até o colapso do comunismo e a posterior dissolução da União Soviética. A queda do Muro de Berlim foi o evento simbólico do fim da Guerra Fria.

Há interpretações que afirmam que o "fracasso socialista" da Revolução de Outubro e o subsequente colapso da União Soviética são vistos como uma prova da superioridade do liberalismo, dos direitos individuais e das forças do livre mercado. Essa linha de pensamento argumenta que a experiência socialista da União Soviética, marcada pela repressão política, estagnação econômica e violações dos direitos humanos, representa uma falha fundamental do modelo político e econômico socialista em comparação com o liberalismo democrático e que violou a natureza fundamental humana.

Os defensores dessa interpretação apontam para a prosperidade econômica, as liberdades individuais e os direitos civis garantidos em democracias liberais como evidências da superioridade desse sistema político e econômico. Eles argumentam que a queda da União Soviética e a transição de muitos países do socialismo para o capitalismo representam uma validação da eficácia do liberalismo como um modelo de organização social que promove o desenvolvimento humano, a liberdade e a prosperidade.

A teoria do "fim da história", popularizada por Francis Fukuyama em seu influente ensaio "O Fim da História e o Último Homem" (1989), argumenta que a queda do comunismo e o colapso da União Soviética representam o triunfo final e definitivo do liberalismo democrático como o sistema político e econômico dominante. Fukuyama sugere que, com o fim da Guerra Fria e a vitória do Ocidente sobre o comunismo, as ideias de democracia liberal, mercado livre e estado de direito provaram ser as mais viáveis e atraentes, estabelecendo assim o "fim da história" no sentido de que não haveria mais conflito ideológico fundamental ou alternativas viáveis ao liberalismo.[47][48]

Fukuyama argumenta que o liberalismo democrático atende às aspirações universais dos indivíduos por liberdade, igualdade e justiça, representando o "fim" da evolução ideológica e política da humanidade. Ele prevê que, com o avanço do liberalismo, as sociedades modernas tenderão a se tornar mais prósperas, estáveis e pacíficas, à medida que adotam os princípios fundamentais do governo democrático, dos direitos humanos e da economia de mercado.[49]

No entanto, Fukuyama também reconhece os desafios e contradições que o liberalismo enfrenta, como desigualdade econômica, nacionalismo, fundamentalismo religioso e problemas ambientais. Ele sugere que, embora o liberalismo tenha triunfado como modelo político dominante, o "último homem" - um indivíduo hedonista e sem aspirações ideais - representaria um novo desafio para a humanidade em uma sociedade pós-histórica. Um argumento a favor da tese de Fukuyama é a teoria da paz democrática , que argumenta que as democracias maduras raramente ou nunca entram em guerra umas com as outras. Esta teoria tem enfrentado críticas , com argumentos baseados em grande parte em definições conflitantes de "guerra" e "democracia madura". Parte da dificuldade em avaliar a teoria é que a democracia, enquanto fenómeno global generalizado, surgiu apenas muito recentemente na história da humanidade, o que torna difícil generalizar sobre ela.[50]

O que podemos estar a testemunhar não é apenas o fim da Guerra Fria, ou a passagem de um período específico da história do pós-guerra, mas o fim da história como tal: isto é, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da ideologia liberal ocidental. democracia como forma final de governo humano.

— Francis Fukuyama, "The End of History?", The National Interest, No.16 (verão de 1989)

Outra evidência empírica importante inclui a eliminação da guerra interestatal na América do Sul, no Sudeste Asiático e na Europa Oriental entre países que passaram de ditaduras militares para democracias liberais.

De acordo com vários estudos, o fim da Guerra Fria e o subsequente aumento no número de estados democráticos liberais foram acompanhados por um declínio repentino e dramático na guerra total , nas guerras interestatais, nas guerras étnicas , nas guerras revolucionárias e no número de refugiados e deslocados. pessoas .

Embora a teoria do "fim da história" tenha sido objeto de críticas e contestações desde sua formulação, ela influenciou significativamente o debate político e intelectual nas décadas seguintes, moldando percepções sobre o futuro da política mundial e o papel do liberalismo democrático na ordem global.

No entanto, é importante notar que essa interpretação não é universalmente aceita e tem sido objeto de debate entre acadêmicos e comentaristas. Alguns críticos contestam a ideia de que o colapso da União Soviética prova a superioridade do liberalismo, argumentando que o fracasso do socialismo soviético pode ser atribuído a uma série de fatores específicos, incluindo má gestão econômica, corrupção, pressões externas e erros de liderança, em vez de uma falha inerente do socialismo como sistema político e econômico. Além disso, eles destacam que há uma variedade de modelos de socialismo e que o colapso da União Soviética não invalida necessariamente outras formas de socialismo que podem ser mais democráticas, igualitárias e sustentáveis.

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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Geral[editar | editar código-fonte]