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Ostracodos: diferenças entre revisões

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== Registro Fóssil ==
== Registro Fóssil ==
Os primeiros fósseis dos Ostracoda foram reconhecidos em rochas do Período [[Ordoviciano]], cerca de 485 a 443 milhões de anos atrás. Com sua carapaça de calcita, estes animais apresentam um alto potencial de conservação, e combinado com a sua grande diversidade e ampla distribuição nos habitats aquáticos, se tornaram os artrópodes mais preservados no registro fóssil. Esta abundância faz com que os ostrocodas sejam uma ferramenta útil aos paleontólogos, tanto na [[estratigrafia]] como na reconstituição de paleoambiantes (indicadores de profundidade, temperatura e salinidade).<ref>{{Citar web|titulo=Amazing Facts About Ostracods|url=https://www.biwahaku.jp/smith/facts.html#3|obra=www.biwahaku.jp|acessodata=2019-04-29|ultimo=Robin James Smith}}</ref>
Os primeiros fósseis dos Ostracoda foram reconhecidos em rochas do Período [[Ordoviciano]], cerca de 485 a 443 milhões de anos atrás. Com sua carapaça de calcita, estes animais apresentam um alto potencial de conservação, e combinado com a sua grande diversidade e ampla distribuição nos habitats aquáticos, se tornaram os artrópodes mais preservados no registro fóssil. Esta abundância faz com que os ostracodos sejam uma ferramenta útil aos paleontólogos, tanto na [[estratigrafia]] como na reconstituição de paleoambientes (indicadores de profundidade, temperatura e salinidade).<ref>{{Citar web|titulo=Amazing Facts About Ostracods|url=https://www.biwahaku.jp/smith/facts.html#3|obra=www.biwahaku.jp|acessodata=2019-04-29|ultimo=Robin James Smith}}</ref>


A descoberta de um fóssil da espécie ''Colymbosathon ecplecticos,'' em uma rocha de 425 milhões de anos na Grã-Bretanha, anunciou o órgão reprodutor masculino mais antigo já descrito. A morte do crustáceo bivalve foi provocada por cinzas provenientes de uma erupção vulcânica, que preservou o animal e suas partes moles. A reconstituição 3-D do fóssil revelou detalhes das brânquias, cerdas nos membros articulados e dos órgãos reprodutores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Siveter|primeiro=D. J.|data=2003-12-05|titulo=An Ostracode Crustacean with Soft Parts from the Lower Silurian|url=http://dx.doi.org/10.1126/science.1091376|jornal=Science|volume=302|numero=5651|paginas=1749–1751|doi=10.1126/science.1091376|issn=0036-8075}}</ref>
A descoberta de um fóssil da espécie ''Colymbosathon ecplecticos,'' em uma rocha de 425 milhões de anos na Grã-Bretanha, anunciou o órgão reprodutor masculino mais antigo já descrito. A morte do crustáceo bivalve foi provocada por cinzas provenientes de uma erupção vulcânica, que preservou o animal e suas partes moles. A reconstituição 3-D do fóssil revelou detalhes das brânquias, cerdas nos membros articulados e dos órgãos reprodutores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Siveter|primeiro=D. J.|data=2003-12-05|titulo=An Ostracode Crustacean with Soft Parts from the Lower Silurian|url=http://dx.doi.org/10.1126/science.1091376|jornal=Science|volume=302|numero=5651|paginas=1749–1751|doi=10.1126/science.1091376|issn=0036-8075}}</ref>
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* A carapaça é bivalve (semelhante a alguns moluscos), são variáveis: na ornamentação e na forma.
* A carapaça é bivalve (semelhante a alguns moluscos), são variáveis: na ornamentação e na forma.
* Presença de olho naupliar simples mediano na maioria de seus representantes e em alguns casos ocorre a presença de olhos compostos sutilmente pedunculados.<ref>{{citar livro|titulo=Invertebrados Segunda edição|ultimo=G.J. BRUSCA|primeiro=BRUSCA, R.C. &|editora=Guanabara-Koogan|ano=2007|local=Rio de Janeiro|paginas=|acessodata=2016}}</ref>
* Presença de olho naupliar simples mediano na maioria de seus representantes e em alguns casos ocorre a presença de olhos compostos sutilmente pedunculados.<ref>{{citar livro|titulo=Invertebrados Segunda edição|ultimo=G.J. BRUSCA|primeiro=BRUSCA, R.C. &|editora=Guanabara-Koogan|ano=2007|local=Rio de Janeiro|paginas=|acessodata=2016}}</ref>

== Aspectos ecológicos dos Ostracodos ==

Os ostracodos possuem distribuição diversa, podendo habitar ecossistemas aquáticos, ambientes dulcícolas e marinhos onde possuem grande abundância em bentos, apesar de algumas espécies serem excelentes nadadores, e habitam o interior de plantas emersas e submersas, mas podem habitar até mesmo ambientes semi-terrestres ou terrestres, em que comumente são associados a musgos; vale lembrar que esses crustáceos possuem adaptações morfofisiológicas a ambientes hostis, como aqueles que têm falta de água. Possuem diferentes hábitos alimentares, podendo ser carnívoros, herbívoros, filtradores, se alimentando de outros pequenos crustáceos, peixes, anelídeos, representantes vegetais, partículas orgânicas suspensas e detritos. Todavia, esses animais são predados por peixes, invertebrados planctônicos ou bentônicos e por algumas aves aquáticas.
[[Ficheiro:Vargula hilgendorfii glowing.jpg|alt=Bioluminescência de um Ostracodo.|esquerda|miniaturadaimagem|231x231px|Bioluminescência da Vargula sp.]]

==== Bioluminescência ====
Algumas espécies de ostracodos também contribuem para a luminescência dos mares emitindo uma brilhante luz azul.[1]O mecanismo químico para esse fenômeno se baseia na proteína luciferina. Na presença de oxigênio e da enzima luciferinase, essa molécula sofre oxidação e acaba por emitir luz. Este processo ocorre em glândulas e pode tanto culminar no acúmulo destes fatores na carapaça como na secreção para a água.[2] Ocorre majoritariamente nos períodos noturnos e está muitas vezes relacionado a uma corte sexual entre os indivíduos, que pode envolver outros comportamentos, como movimentos ascendentes em espiral e uma pulsação sincronizada entre grupos de animais próximos.[3] A bioluminescência também pode ser útil para evitar a predação. No caso da Vargula sp., quando atacada por um peixe planctívoro, produz uma luminosa nuvem com cerca de alguns centímetros. Mantida por alguns instantes, que duram de segundos a minutos, essa coluna de luz pode incomodar o predador a ponto de ele evadir o local, ou até mesmo atrair um peixe maior que acaba por espantá-lo.[4]


== Paleoecologia ==
[[Ficheiro:Leperditia baltica 453.jpg|alt=Exemplar de um Fóssil de ostracoda|miniaturadaimagem|Fóssil de Leperditia]]
Além de serem muito abundantes e apresentarem uma concha mineralizada, ostracodas apresentam alta sensibilidade a variações do meio, o que os torna marcadores muito úteis, no registro paleontológico, para indicar variações ambientais ao longo do tempo. Estas variações podem ser tanto de natureza abiótica (como salinidade, temperatura, turbidez, turbulência, profundidade, entre outros) como de natureza biótica (interações intra e interespecíficas ou características intrínsecas aos indivíduos, como a capacidade de mobilidade e a taxa reprodutiva) e se expressam na forma de variações na abundância das espécies, nas distribuições espaciais destas e na morfologia de suas conchas<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Ballent|primeiro=Sara|ultimo2=Carignano|primeiro2=Ana Paula|data=10/06/2009|titulo=Microfósiles (Foraminifera, Ostracoda) y su respuesta a las variaciones paleoambientales: Un ejemplo en la Formación Allen (Cretácico Superior), Cuenca Neuquina, Argentina|url=http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0002-70142009000200009&lng=es&nrm=iso&tlng=es|jornal=Ameghiniana|volume=46|numero=2|paginas=307–320|issn=0002-7014|acessodata=23/06/2019}}</ref>. A formação de nódulos e o grau de reticulação das conchas são exemplos de modificações morfológicas das conchas. Estas modificações podem ter causas genotípicas (sendo utilizadas como critérios taxonômicos)<ref name=":1">{{Citar periódico|ultimo=Bergue|primeiro=Cristianini Trescastro|data=2015-06-30|titulo=Agulhas e pincéis: as relações entre a paleontologia e a neontologia no estudo dos ostracodo<big>Texto grande</big>s (Crustacea: Ostracoda)|url=http://dx.doi.org/10.20396/td.v6i1.8637479|jornal=Terrae Didatica|volume=6|numero=1|paginas=9|doi=10.20396/td.v6i1.8637479|issn=1980-4407}}</ref> ou fenotípicas (com formação induzida pelas condições do meio).<ref name=":0" /> As modificações de causa genotípica constituem um elemento confiável para fins sistemáticos e filogenéticos<ref name=":1" />, enquanto as fenotípicas constituem potenciais indicadores paleombientais. Em ostracoda, os nódulos fenotípicos se devem à incapacidade dos indivíduos de regular a pressão osmótica eficientemente durante a ecdise em ambientes com salinidade variável. No processo de muda, os indivíduos deixam de apresentar a epicutícula como barreira entre o organismo e o meio. Dependendo da espécie em questão, os nódulos serão formados devido a altas ou baixas concentrações de sais no ambiente. Em Cyprideis torosa, a formação de nódulos é interpretada como resposta a um ambiente que se apresenta hiposmótico em relação ao organismo.<ref>{{Citar periódico|ultimo=van Harten|primeiro=Dick|data=2000|titulo=Variable noding in Cyprideis torosa (Ostracoda, Crustacea): an overview, experimental results and a model from Catastrophe Theory|url=http://dx.doi.org/10.1007/978-94-017-1508-9_10|local=Dordrecht|publicado=Springer Netherlands|paginas=131–139|isbn=9789048154999}}</ref> Durante a ecdise, há entrada de água no corpo hiperosmótico do ostracoda, aumentando sua pressão interna e criando protuberâncias na carapaça que, ao enrijecer após a muda, tornarão-se nódulos. Assim, para Cypideis torosa, um aumento no número de nódulos da concha se dá por diminuição da concentração de sais no ambiente. Já em ''Theriosynoecum kirtlingtonense'', a origem do nódulo é uma resposta ao aumento da salinidade, sendo consequência da maior atividade do sistema excretor do organismo<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=do Carmo|primeiro=Dermeval Aparecido|ultimo2=Whatley|primeiro2=Robin C.|ultimo3=Timberlake|primeiro3=Simon|data=1999-04-01|titulo=Variable noding and palaeoecology of a Middle Jurassic limnocytherid ostracod: implications for modern brackish water taxa|url=http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031018298001734|jornal=Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology|volume=148|numero=1|paginas=23–35|doi=10.1016/S0031-0182(98)00173-4|issn=0031-0182}}</ref>. Assim, indivíduos de valvas lisas seriam oriundos de corpos de água doce enquanto os de valvas com nódulos demonstrariam incrementos na salinidade do meio Há, ainda, autores que relatam a formação de nódulos como processo resultante de deficiência nutricional. Conhecendo-se a origem das características de origem fenotípica, é possível a reconstrução das condições ambientais de épocas passadas a partir de registros fósseis.<ref name=":2" />

== Taxonomia ==
A classe Ostracoda, dentre as diversas propostas taxonômicas e filogenéticas do grupo, pode ser divida em quatro grandes ordens <ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2002-09|titulo=An Updated Classification of the Recent Crustacea. Science Series, Volume 39. By Joel W  Martin and , George E  Davis. Los Angeles (California): Natural History Museum of Los Angeles County. $20.00 (paper). ix + 124 p; no index. ISSN: 1–891276–27–1. 2001.|url=http://dx.doi.org/10.1086/345208|jornal=The Quarterly Review of Biology|volume=77|numero=3|paginas=333–333|doi=10.1086/345208|issn=0033-5770|acessodata=23/06/2019}}</ref>que apresentarão diferenças tanto morfológicas como de hábitos de vida e ambientes ocupados. Além das espécies viventes, estão presentes nestes grupos numerosas espécies fósseis, aproximadamente 50% do número total descrito.<ref>{{Citar web|titulo=World Ostracoda Database|url=http://www.marinespecies.org/ostracoda/aphia.php?p=stats|obra=www.marinespecies.org|acessodata=2019-06-24}}</ref>
[[Ficheiro:Árvore dos ostracoda.png|miniaturadaimagem|433x433px|Membros da classe Ostracoda|alt=]]



<big>'''Halocyprida Dana, 1853''':</big> A ordem Halocyprida agrega a maioria dos ostracodos planctônicos. São característicos pela ausência de olhos evidentes e por apresentarem a antena 2 como membro mais desenvolvido, a qual o musculoso protopodito ocupa metade da carapaça e prove a força para a natação via o exopodito.<ref>{{Citar web|titulo=An Atlas of Southern Ocean Planktonic Ostracods by Kasia Blachowiak-Samolyk and Martin Angel - What is an Ostracod?|url=http://deep.iopan.gda.pl/ostracoda/what_is_an_ostracod.php|obra=deep.iopan.gda.pl|acessodata=2019-06-24}}</ref> O sétimo par de apêndices é vestigial e ocupa apenas dois segmentos. O último destes pares apresenta duas setas, uma longa e outra curta, que permanecem em um movimento constante e provavelmente funcionam para manter a superfície interna da carapaça limpa.

<big>'''Myodocopida Sars, 1866:'''</big> A ordem Myodocopida também apresenta seres planctônicos, porém não é a maioria <ref>idem [10]</ref>. Possuem um olho lateral composto bem desenvolvido ou, em algumas espécies famosas como do gênero ''Gigantocypris'', o olho é naupliar e central. Os apêndices corpóreos e ornamentações da carapaça são simétricos e, diferentemente dos Halocyprida, o sétimo par de membros é multi segmentado e carrega um conjunto de cerdas.
<big>'''Platycopida Sars, 1866:'''</big> A ordem Platycopida é constituída majoritariamente por ostracodos diminutos, com menos de 1 mm. As valvas destes são assimétricas, sendo a direita maior e que acaba por circundar a esquerda ao longo de toda a sua margem. Seus apêndices (6 pares) mostram adaptação a uma vida bentônica e escavadora, não sendo capazes de nadar. Uma característica muito utilizada pelos taxonomistas para diferenciar os integrantes deste grupo dos Podocópideos é a presença de feixes de cerdas na maxila 1 e mandíbula.<ref>{{citar web|url=http://sea-entomologia.org/IDE@/revista_75.pdf|titulo=00 RvtaIDE@_Platycopida|data=30/06/2015|acessodata=24/06/2019|publicado=Revista IDE@-SEA|ultimo=Baltanás, Ángel|primeiro=Mesquita-Joanes, Francesc}}</ref>

<big>'''Podocopida Sars, 1866:'''</big> Grupo dos ostracodos que apresenta maior número de espécies, incluindo todas as que habitam ambientes de águas interiores, tanto salgadas como doces, e outras tantas que são encontradas no mar e zonas estuarinas. Assim como nos Myodocopida, a antena 2 auxilia na locomoção e é frequente a presença de seis grandes cerdas no endopodito, comumente chamadas de cerdas nadadoras. Elas são reduzidas nos grupos bentônicos e intersticiais, visto a pouca capacidade de natação no ambiente. As espécies continentais que vivem em áreas de água temporária possuem uma estratégia interessante para contornar este problema: produzem ovos de resistência que podem ficar meses e anos sem água até que ela fique novamente disponível.<ref>{{citar web|url=http://sea-entomologia.org/IDE@/revista_74.pdf|titulo=00 RvtaIDE@_Podocopida|data=30/06/2015|acessodata=24/06/2019|publicado=Revista IDE@ - SEA|ultimo=Baltanás, Ángel|primeiro=Mesquita-Joanes, Francesc}}</ref>


[[Categoria:Crustáceos]]
[[Categoria:Crustáceos]]


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[[Categoria:Invertebrados]]
[[Categoria:Zoologia]]

Revisão das 05h15min de 24 de junho de 2019

Como ler uma infocaixa de taxonomiaOstracodos

Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Subfilo: Crustacea
Classe: Ostracoda
Ordens
Entomostraca

Archaeocopida (extinta)

Leperditicopida (extinta)

Palaeocopida (extinta)

Podocopida

Platycopida

Myodocopida

Wikispecies
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O Wikispecies tem informações sobre: Ostracodos

Ostracoda é uma classe de pequenos crustáceos, cerca de 1 a 2 mm de comprimento, que possuem como característica marcante uma concha bivalve feita, na maioria dos casos, de carbonato de cálcio. Permite, assim, a proteção ao ambiente externo.[1] Devido a sua diminuta dimensão, são animais cujo o registro fóssil é abundante(maior dentre os artrópodes), que remete a cerca de 485 milhões de anos atrás, passando por momentos difíceis da vida na Terra, como as cinco grandes extinções em massa do Fanerozoico.[2] São bem adaptados ao ambiente aquático no qual cada espécie vive. Podem ser encontrados em águas marinhas, como nas regiões profundas do oceano, e também em águas doces, habitando o tanque úmido de bromélias tropicais por exemplo[3]. Os ostracodos são componentes fundamentais para os ecossistemas, habitam tanto a epifauna, infauna e coluna d'água. Se alimentam de detritos orgânicos, plantas, algas e alguns outros animais, como jovens anelídeos.[4]Existem aproximadamente 33000 espécies fósseis e vivas nesta classe, porém certamente existem mais a serem descritas. Estima-se que as espécies vivas sejam em torno de 10000 a 15000.[5]

Registro Fóssil

Os primeiros fósseis dos Ostracoda foram reconhecidos em rochas do Período Ordoviciano, cerca de 485 a 443 milhões de anos atrás. Com sua carapaça de calcita, estes animais apresentam um alto potencial de conservação, e combinado com a sua grande diversidade e ampla distribuição nos habitats aquáticos, se tornaram os artrópodes mais preservados no registro fóssil. Esta abundância faz com que os ostracodos sejam uma ferramenta útil aos paleontólogos, tanto na estratigrafia como na reconstituição de paleoambientes (indicadores de profundidade, temperatura e salinidade).[6]

A descoberta de um fóssil da espécie Colymbosathon ecplecticos, em uma rocha de 425 milhões de anos na Grã-Bretanha, anunciou o órgão reprodutor masculino mais antigo já descrito. A morte do crustáceo bivalve foi provocada por cinzas provenientes de uma erupção vulcânica, que preservou o animal e suas partes moles. A reconstituição 3-D do fóssil revelou detalhes das brânquias, cerdas nos membros articulados e dos órgãos reprodutores.[7]

Características

  • O corpo tem segmentação reduzida e com 6 a 8 pares de apêndices, isso incluindo um apêndice existente no macho com função de copulador. Seu tronco não tem divisão nítida e divide-se em tórax e abdômen que contém 1 a 3 pares de apêndices com estruturas varáveis, os ramos caudais estão presentes.
  • A carapaça é bivalve (semelhante a alguns moluscos), são variáveis: na ornamentação e na forma.
  • Presença de olho naupliar simples mediano na maioria de seus representantes e em alguns casos ocorre a presença de olhos compostos sutilmente pedunculados.[8]

Aspectos ecológicos dos Ostracodos

Os ostracodos possuem distribuição diversa, podendo habitar ecossistemas aquáticos, ambientes dulcícolas e marinhos onde possuem grande abundância em bentos, apesar de algumas espécies serem excelentes nadadores, e habitam o interior de plantas emersas e submersas, mas podem habitar até mesmo ambientes semi-terrestres ou terrestres, em que comumente são associados a musgos; vale lembrar que esses crustáceos possuem adaptações morfofisiológicas a ambientes hostis, como aqueles que têm falta de água. Possuem diferentes hábitos alimentares, podendo ser carnívoros, herbívoros, filtradores, se alimentando de outros pequenos crustáceos, peixes, anelídeos, representantes vegetais, partículas orgânicas suspensas e detritos. Todavia, esses animais são predados por peixes, invertebrados planctônicos ou bentônicos e por algumas aves aquáticas.

Bioluminescência de um Ostracodo.
Bioluminescência da Vargula sp.

Bioluminescência

Algumas espécies de ostracodos também contribuem para a luminescência dos mares emitindo uma brilhante luz azul.[1]O mecanismo químico para esse fenômeno se baseia na proteína luciferina. Na presença de oxigênio e da enzima luciferinase, essa molécula sofre oxidação e acaba por emitir luz. Este processo ocorre em glândulas e pode tanto culminar no acúmulo destes fatores na carapaça como na secreção para a água.[2] Ocorre majoritariamente nos períodos noturnos e está muitas vezes relacionado a uma corte sexual entre os indivíduos, que pode envolver outros comportamentos, como movimentos ascendentes em espiral e uma pulsação sincronizada entre grupos de animais próximos.[3] A bioluminescência também pode ser útil para evitar a predação. No caso da Vargula sp., quando atacada por um peixe planctívoro, produz uma luminosa nuvem com cerca de alguns centímetros. Mantida por alguns instantes, que duram de segundos a minutos, essa coluna de luz pode incomodar o predador a ponto de ele evadir o local, ou até mesmo atrair um peixe maior que acaba por espantá-lo.[4]


Paleoecologia

Exemplar de um Fóssil de ostracoda
Fóssil de Leperditia

Além de serem muito abundantes e apresentarem uma concha mineralizada, ostracodas apresentam alta sensibilidade a variações do meio, o que os torna marcadores muito úteis, no registro paleontológico, para indicar variações ambientais ao longo do tempo. Estas variações podem ser tanto de natureza abiótica (como salinidade, temperatura, turbidez, turbulência, profundidade, entre outros) como de natureza biótica (interações intra e interespecíficas ou características intrínsecas aos indivíduos, como a capacidade de mobilidade e a taxa reprodutiva) e se expressam na forma de variações na abundância das espécies, nas distribuições espaciais destas e na morfologia de suas conchas[9]. A formação de nódulos e o grau de reticulação das conchas são exemplos de modificações morfológicas das conchas. Estas modificações podem ter causas genotípicas (sendo utilizadas como critérios taxonômicos)[10] ou fenotípicas (com formação induzida pelas condições do meio).[9] As modificações de causa genotípica constituem um elemento confiável para fins sistemáticos e filogenéticos[10], enquanto as fenotípicas constituem potenciais indicadores paleombientais. Em ostracoda, os nódulos fenotípicos se devem à incapacidade dos indivíduos de regular a pressão osmótica eficientemente durante a ecdise em ambientes com salinidade variável. No processo de muda, os indivíduos deixam de apresentar a epicutícula como barreira entre o organismo e o meio. Dependendo da espécie em questão, os nódulos serão formados devido a altas ou baixas concentrações de sais no ambiente. Em Cyprideis torosa, a formação de nódulos é interpretada como resposta a um ambiente que se apresenta hiposmótico em relação ao organismo.[11] Durante a ecdise, há entrada de água no corpo hiperosmótico do ostracoda, aumentando sua pressão interna e criando protuberâncias na carapaça que, ao enrijecer após a muda, tornarão-se nódulos. Assim, para Cypideis torosa, um aumento no número de nódulos da concha se dá por diminuição da concentração de sais no ambiente. Já em Theriosynoecum kirtlingtonense, a origem do nódulo é uma resposta ao aumento da salinidade, sendo consequência da maior atividade do sistema excretor do organismo[12]. Assim, indivíduos de valvas lisas seriam oriundos de corpos de água doce enquanto os de valvas com nódulos demonstrariam incrementos na salinidade do meio Há, ainda, autores que relatam a formação de nódulos como processo resultante de deficiência nutricional. Conhecendo-se a origem das características de origem fenotípica, é possível a reconstrução das condições ambientais de épocas passadas a partir de registros fósseis.[12]

Taxonomia

A classe Ostracoda, dentre as diversas propostas taxonômicas e filogenéticas do grupo, pode ser divida em quatro grandes ordens [13]que apresentarão diferenças tanto morfológicas como de hábitos de vida e ambientes ocupados. Além das espécies viventes, estão presentes nestes grupos numerosas espécies fósseis, aproximadamente 50% do número total descrito.[14]

Membros da classe Ostracoda


Halocyprida Dana, 1853: A ordem Halocyprida agrega a maioria dos ostracodos planctônicos. São característicos pela ausência de olhos evidentes e por apresentarem a antena 2 como membro mais desenvolvido, a qual o musculoso protopodito ocupa metade da carapaça e prove a força para a natação via o exopodito.[15] O sétimo par de apêndices é vestigial e ocupa apenas dois segmentos. O último destes pares apresenta duas setas, uma longa e outra curta, que permanecem em um movimento constante e provavelmente funcionam para manter a superfície interna da carapaça limpa.

Myodocopida Sars, 1866: A ordem Myodocopida também apresenta seres planctônicos, porém não é a maioria [16]. Possuem um olho lateral composto bem desenvolvido ou, em algumas espécies famosas como do gênero Gigantocypris, o olho é naupliar e central. Os apêndices corpóreos e ornamentações da carapaça são simétricos e, diferentemente dos Halocyprida, o sétimo par de membros é multi segmentado e carrega um conjunto de cerdas.

Platycopida Sars, 1866: A ordem Platycopida é constituída majoritariamente por ostracodos diminutos, com menos de 1 mm. As valvas destes são assimétricas, sendo a direita maior e que acaba por circundar a esquerda ao longo de toda a sua margem. Seus apêndices (6 pares) mostram adaptação a uma vida bentônica e escavadora, não sendo capazes de nadar. Uma característica muito utilizada pelos taxonomistas para diferenciar os integrantes deste grupo dos Podocópideos é a presença de feixes de cerdas na maxila 1 e mandíbula.[17]

Podocopida Sars, 1866: Grupo dos ostracodos que apresenta maior número de espécies, incluindo todas as que habitam ambientes de águas interiores, tanto salgadas como doces, e outras tantas que são encontradas no mar e zonas estuarinas. Assim como nos Myodocopida, a antena 2 auxilia na locomoção e é frequente a presença de seis grandes cerdas no endopodito, comumente chamadas de cerdas nadadoras. Elas são reduzidas nos grupos bentônicos e intersticiais, visto a pouca capacidade de natação no ambiente. As espécies continentais que vivem em áreas de água temporária possuem uma estratégia interessante para contornar este problema: produzem ovos de resistência que podem ficar meses e anos sem água até que ela fique novamente disponível.[18]

Referências

  1. Brandão, S. N.; Angel, M.V.; Karanovic, I.; Perrier, V.; Meidla, T. «World Ostracoda Database». www.marinespecies.org. Consultado em 17 de abril de 2019 
  2. Idem [1]
  3. Pereira, Elise Vargas (15 de agosto de 2013). «Taxonomia e ocorrência das espécies do gênero bromelícola Elpidium (Crustacea: Ostracoda) em áreas de mata atlântica no estado de Santa Catarina, Brasil» 
  4. «Ostracod Research at the Lake Biwa Museum, Robin J. Smith». www.biwahaku.jp. Consultado em 18 de abril de 2019 
  5. «Catalogue of Life - 2019 Annual Checklist : Árvore Taxonômica». www.catalogueoflife.org. Consultado em 18 de abril de 2019 
  6. Robin James Smith. «Amazing Facts About Ostracods». www.biwahaku.jp. Consultado em 29 de abril de 2019 
  7. Siveter, D. J. (5 de dezembro de 2003). «An Ostracode Crustacean with Soft Parts from the Lower Silurian». Science. 302 (5651): 1749–1751. ISSN 0036-8075. doi:10.1126/science.1091376 
  8. G.J. BRUSCA, BRUSCA, R.C. & (2007). Invertebrados Segunda edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan  Verifique data em: |acessodata= (ajuda);
  9. a b Ballent, Sara; Carignano, Ana Paula (10 de junho de 2009). «Microfósiles (Foraminifera, Ostracoda) y su respuesta a las variaciones paleoambientales: Un ejemplo en la Formación Allen (Cretácico Superior), Cuenca Neuquina, Argentina». Ameghiniana. 46 (2): 307–320. ISSN 0002-7014. Consultado em 23 de junho de 2019 
  10. a b Bergue, Cristianini Trescastro (30 de junho de 2015). «Agulhas e pincéis: as relações entre a paleontologia e a neontologia no estudo dos ostracodoTexto grandes (Crustacea: Ostracoda)». Terrae Didatica. 6 (1). 9 páginas. ISSN 1980-4407. doi:10.20396/td.v6i1.8637479 
  11. van Harten, Dick (2000). «Variable noding in Cyprideis torosa (Ostracoda, Crustacea): an overview, experimental results and a model from Catastrophe Theory». Dordrecht: Springer Netherlands: 131–139. ISBN 9789048154999 
  12. a b do Carmo, Dermeval Aparecido; Whatley, Robin C.; Timberlake, Simon (1 de abril de 1999). «Variable noding and palaeoecology of a Middle Jurassic limnocytherid ostracod: implications for modern brackish water taxa». Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. 148 (1): 23–35. ISSN 0031-0182. doi:10.1016/S0031-0182(98)00173-4 
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