Aedes aegypti

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Um exemplar de Aedes aegypti adulto
Um exemplar de Aedes aegypti adulto
Larva de Aedes aegypti
Larva de Aedes aegypti
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Diptera
Família: Culicidae
Género: Aedes
Espécie: Ae. aegypti
Nome binomial
Aedes (Stegomyia) aegypti
(Linnaeus, 1762)
Distribuição geográfica

Sinónimos
Culex aegypti Linnaeus, 1762
Culex excitans Walker, 1848
Culex taeniatus Wiedemann, 1828

Aedes (Stegomyia) aegypti (aēdēs do grego "odioso" e ægypti do latim "do Egipto") é a nomenclatura taxonômica para o mosquito que é popularmente conhecido como mosquito-da-dengue ou pernilongo-rajado,[1] uma espécie de mosquito da família Culicidae proveniente de África, atualmente distribuído por quase todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, sendo dependente da concentração humana no local para se estabelecer.

O mosquito está bem adaptado a zonas urbanas, mais precisamente ao domicílio humano, onde consegue reproduzir-se e pôr os seus ovos em pequenas quantidades de água limpa e parada, isto é, pobres em matéria orgânica em decomposição e sais (que confeririam características ácidas à água), que preferivelmente estejam sombreados e no peridomicílio.

As fêmeas, para realizar a hematofagia, podem percorrer até 2 500 m.[2] É considerado vector de doenças graves, como dengue, febre amarela, febre zica e chikungunya. O controle das suas populações é considerado assunto da saúde pública.

Descrição

O Aedes aegypti é um mosquito que se encontra ativo e pica durante o dia, ao contrário do Anopheles, vector da malária, que tem atividade crepuscular. O Aedes aegypti tem como vítima preferencial o homem e faz praticamente nenhum som audível antes de picar. Mede menos de 1 centímetro, é preto com manchas brancas no corpo e nas pernas.[3]

O seu controle é difícil, por ser muito versátil na escolha dos criadouros onde deposita seus ovos, que são extremamente resistentes, podendo sobreviver vários meses até que a chegada de água propicie a incubação. Uma vez imersos, os ovos desenvolvem-se rapidamente em larvas, que dão origem às pupas, das quais surge o adulto. Como em quase todos os outros mosquitos, somente as fêmeas se alimentam de sangue para a maturação de seus ovos. Os machos se alimentam apenas de substâncias vegetais e açucaradas.[carece de fontes?]

Por se adaptar bem a vários recipientes, a expansão deste mosquito a partir do seu habitat original foi rápida. O Aedes aegypti foi introduzido na América do Sul através de barcos provenientes de África. Nas Américas, admite-se que sua primeira colonização sobre o Novo Mundo ocorreu através dos navios negreiros no período colonial junto com os escravos. No Brasil, o Aedes aegypti havia sido erradicado na década de 1950; entretanto, nas décadas de 1960 e 1970, ele voltou a colonizar esse país, vindo dos países vizinhos que não haviam conseguido promover a sua total erradicação.[carece de fontes?]

O Aedes aegypti está presente nas regiões tropicais de África e da América do Sul, chegando à Ilha da Madeira, em Portugal e ao estado da Flórida, nos Estados Unidos. Nessa zona, o Aedes aegypti tem vindo a declinar, graças à competição com outra espécie do mesmo gênero, o Aedes albopictus. Este fato, porém, não trouxe boas notícias, uma vez que o A. albopictus é também um vetor da dengue, bem como de vários tipos de encefalite equina. Mas, no Brasil, o único que transmite a Dengue é o A.aegypti. E a competição entre as duas espécies ocorre devido ao fato de a fêmea do A. aegypti se acasalar tanto com o macho de sua espécie, quanto com o macho do A. albopictus que é mais agressivo e, sendo de outra espécie, gera ovos inférteis, reduzindo assim a população de A. aegypti.[carece de fontes?]

Repelentes baseados no composto DEET (N,N-dietilmetatoluamida) são recomendados contra o Aedes aegypti.[4][5]

Genoma

Macho (à esquerda) e fêmea (centro e direita) de A. aegypti

O genoma desta espécie de mosquito foi sequenciado e analisado por um consórcio que inclui cientistas do Instituto J. Craig Venter, do Instituto Europeu de Bioinformática, do Instituto Broad e da Universidade de Notre Dame, e foi publicado em 2007. O esforço de sequenciamento seu DNA foi destinado a fornecer novos caminhos para pesquisas em inseticidas e possível alterações genéticas para impedir a propagação dos vírus levados pelo inseto.[6]

Esta foi a segunda espécie de mosquito para ter seu genoma sequenciado integralmente (o primeiro foi o Anopheles gambiae'). Os dados publicados incluem 1,38 bilhões de pares de bases contendo cerca de 15.419 genes que codificam proteínas do mosquito. A sequência indica que a espécie divergiu da Drosophila melanogaster (mosca comum da fruta) cerca de 250 milhões de anos atrás, enquanto o Anopheles gambiae e esta espécie divergiram há cerca de 150 milhões de anos.[7]

Modificação genética

A aegypti geneticamente modificados foram criados para suprimir a sua própria espécie, em uma abordagem semelhante à técnica do inseto estéril, reduzindo assim o risco de propagação de doenças. Os mosquitos, conhecidos como OX513A, foram desenvolvidos pela empresa Oxitec, Universidade de Oxford e subsidiária da Intrexon (NYSE: XON). Os testes de campo nas Ilhas Cayman, Brasil e Panamá têm mostrado que os mosquitos OX513A reduziram as populações de mosquitos alvo em mais de 90%.[8][9]

A. aegypti se alimentando de sangue humano

O efeito de supressão da população do inseto é conseguido através um gene auto-limitador que impede que a prole sobreviva. Mosquitos geneticamente modificados do sexo masculino, que não picam ou transmitem doenças, são liberados para acasalar com as fêmeas selvagens. Sua prole então herda o gene auto-limitador e morre antes de atingir a idade adulta, antes que possam se reproduzir ou espalhar doenças. Os mosquitos OX513A e seus descendentes também carregam um marcador fluorescente para monitoramento. Para produzir mais mosquitos OX513A para projetos de controle, o gene auto-limitador é desligado na instalação de produção de mosquito usando um antídoto (o antibiótico tetraciclina), o que permite que os mosquitos voltem a se reproduzir naturalmente. No meio ambiente, este antídoto não está disponível e assim a população da praga é suprimida.[10]

Os efeitos desta técnica não são tóxicos e os espécimes geneticamente modificados cruzam com outros Ae. aegypti. Os insetos libertados e seus descendentes morrem e não persistem no ambiente.[11][12]

No Brasil, os mosquitos geneticamente modificados foram aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para lançamentos em todo o país. O município de Piracicaba, no interior de São Paulo, lidera primeira parceria do mundo para a liberação de mosquitos OX513A.[13][14] Com os resultados, a Câmara dos Lordes, do Parlamento do Reino Unido, apelou para que o governo britânico apoie mais pesquisas sobre insetos geneticamente modificados para a saúde global.[15]

Esta abordagem também pode ser aplicada para controlar o Aedes albopictus e os mosquitos Anopheles, que propagam o paludismo.[16]

Ver também

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 314
  2. NEVES.David Pereira. et. al'.' Parasitologia Humana. 10.ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
  3. «Aprenda a reconhecer o mosquito Aedes aegypti». Prefeitura da cidade de São Paulo. Consultado em 19 de outubro de 2012 
  4. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Rio Contra Dengue, Tire suas dúvidas [em linha]
  5. Prefeitura de Santos, SP, Dengue, Transmissão [em linha]
  6. Heather Kowalski (May 17, 2007). «Scientists at J. Craig Venter Institute publish draft genome sequence from Aedes aegypti, mosquito responsible for yellow fever, dengue fever». J. Craig Venter Institute  Verifique data em: |data= (ajuda)
  7. Vishvanath Nene, Jennifer R. Wortman, Daniel Lawson, Brian Haas, Chinnappa Kodira; et al. (Junho de 2007). «Genome sequence of Aedes aegypti, a major arbovirus vector». Science. 316 (5832): 1718–1723. Bibcode:2007Sci...316.1718N. PMC 2868357Acessível livremente. PMID 17510324. doi:10.1126/science.1138878 
  8. Danilo O. Carvalho, Andrew R. McKemey, Luiza Garziera, Renaud Lacroix, Christl A. Donnelly, Luke Alphey, Aldo Malavasi, Margareth L. Capurro (July 2015). «Suppression of a Field Population of Ae. aegypti in Brazil by Sustained Release of Transgenic Male Mosquitoes». PLOS Neglected Tropical Diseases: 1–15. doi:10.1371/journal.pntd.0003864  Verifique data em: |data= (ajuda)
  9. Kate Kelland (16 de dezembro de 2015). «Lawmakers call for British trials of genetically modified insects». Reuters. Consultado em 16 de dezembro de 2015 
  10. Zoe Curtis, Kelly Matzen, Marco Neira Oviedo, Derric Nimmo, Pamela Gray, Peter Winskill, Marco A. F. Locatelli, Wilson F. Jardim, Simon Warner, Luke Alphey, Camilla Beech (August 2015). «Assessment of the Impact of Potential Tetracycline Exposure on the Phenotype of Aedes aegypti OX513A: Implications for Field Use». PLOS Neglected Tropical Diseases: 1–15. doi:10.1371/journal.pntd.0003999  Verifique data em: |data= (ajuda)
  11. Kevin Gorman, Josué Young, Lleysa Pineda, Ricardo Márquez, Nestor Sosa, Damaris Bernal, Rolando Torres, Yamilitzel Soto, Renaud Lacroix, Neil Naish, Paul Kaiser, Karla Tepedino, Gwilym Philips, Cecilia Kosmann, Lorenzo Cáceres (September 2015). «Short-term suppression of Aedes aegypti using genetic control does not facilitate Aedes albopictus». Pest Management Science. doi:10.1002/ps.4151  Verifique data em: |data= (ajuda)
  12. Oreenaiza Nordin, Wesley Donald, Wong Hong Ming, Teoh Guat Ney, Khairul Asuad Mohamed, Nor Azlina Abdul Halim, Peter Winskill, Azahari Abdul Hadi, Zulkamal Safi'in Muhammad, Renaud Lacroix, Sarah Scaife, Andrew Robert McKemey, Camilla Beech, Murad Shahnaz, Luke Alphey, Derric David Nimmo , Wasi Ahmed Nazni, Han Lim Lee (March 2013). «Oral Ingestion of Transgenic RIDL Ae. aegypti Larvae Has No Negative Effect on Two Predator Toxorhynchites Species». PLOS One. 8 (3): 1–7. doi:10.1371/journal.pone.0058805  Verifique data em: |data= (ajuda)
  13. Justine Alford via IFLScience (25 de julho de 2014). «Brazil To Unleash Genetically Modified Mosquitoes». Huffington Post. Consultado em 25 de julho de 2014 
  14. no by-line (30 de abril de 2015). «Modified mosquitoes enter the war against dengue in São Paulo». G1. Consultado em 30 de abril de 2015 
  15. «Release potential of GM insects to fight disease and pests». Parliament UK. House of Lords Science and Technology Select Committee. 17 de dezmebro de 2015. Consultado em 17 de dezembro de 2015  Verifique data em: |data= (ajuda)
  16. «Release potential of GM insects to fight disease and pests». Parliament UK. House of Lords Science and Technology Select Committee. 17 de dezembro de 2015. Consultado em 17 de dezembro de 2015 

Bibliografia

  • Consoli RAGB, Lourenço-de-Oliveira R. Principais mosquitos de importância sanitária no Brasil. Editora Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil, 1994.
  • Forattini OP. Culicidologia médica: identificação, biologia, epidemiologia v.2. EDUSP São Paulo, 2002.

Ligações externas