Guerra Gótica (535–554)
Guerra Gótica (535–554) | |||
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guerras de reconquista de Justiniano | |||
Data | 535 – 554 | ||
Local | Itália e Dalmácia | ||
Desfecho | Vitória Bizantina | ||
Mudanças territoriais | Sicília, a península itálica e a Dalmácia são anexadas ao Império Bizantino | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Guerra Gótica foi uma série de combates travados entre o Império Romano do Oriente e o Reino Ostrogótico na península Itálica, Dalmácia, Sicília e Sardenha no período entre 535 e 553. Foi resultado da decisão do imperador bizantino Justiniano (r. 527–565) de reverter os eventos do século anterior no ocidente e devolver ao Império Romano a província da Itália que havia sido perdida, primeiro para Odoacro e depois para Teodorico, o Grande.[1]
O estopim da guerra teria sido a prisão e subsequente assassinato da herdeira legítima ao trono Amalasunta e a usurpação do primo desta Teodato (r. 534–536), que embora parente dela foi considerado por Justiniano como ilegítimo. Após 20 anos de guerra, os bizantinos derrotaram os ostrogodos que dominavam a península, porém a campanha acabou enfraquecendo o Império Bizantino que se voltou para o Oriente devido ao recomeçar da guerra contra o Império Sassânida, deixando a península abandonada e pobre. Com a derrota de seu último rei, Teia, os ostrogodos desaparecem da história. Alguns anos depois, outros bárbaros, os lombardos, invadiram a península em 568, foi o fim do controle romano para sempre.
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]Em 476, Odoacro, o general dos efetivos mercenários bárbaros do exército romano do Ocidente na Itália, depôs o último imperador ocidental, Rómulo Augusto (r. 475–476), assumindo nominalmente o governo da Itália sob a autoridade do imperador oriental Zenão, mas também governando autonomamente; durante o seu reinado, Odoacro defendeu com sucesso a Itália dos Visigodos e Vândalos, recuperando a Sicília. Embora contrário a Zenão, convenceu, contudo, este último a pressionar o rei dos Ostrogodos, Teodorico, o Grande (r. 474–526), que devastava as províncias balcânicas do império, para invadir a Itália e pôr fim ao regime de Odoacro.
Em 489, Teodorico invadiu a Itália com cerca de 100 000–125 000 godos dos quais 25 000 guerreiros e, após uma guerra de cinco anos, conquistou por completo a península, derrubando Odoacro. O Reino Ostrogótico na península era caracterizado pelos vários resultados positivos, como o restabelecimento parcial da antiga prosperidade local e da conquista de vários territórios do ex-império romano do Ocidente, como a Gália Narbonense, Nórica e Panónia. O sistema estatal tardo-romano não foi abolido: os cargos públicos (como os administradores civis das províncias, os vigários da diocese e o prefeito do pretório) continuaram a ser exercidos pelos cidadãos romanos, embora a sua autonomia fosse limitada a um funcionário godo chamado "conte". Teodorico, apesar da sua fé ariana, tal como o seu povo, demonstrou-se tolerante com os seus súbditos católicos romanos e judeus.
Após a morte de Teodorico (526), o poder foi herdado pelo seu sobrinho Atalarico sob a regência da mãe, Amalasunta; Atalarico mostrou-se também ele um entendido ainda em tenra idade, e Amalasunta foi forçada a partilhar o trono com Teodato (534).[2] Nesse ínterim (527), tinha subido ao trono do Império Romano do Oriente um novo e ambicioso imperador, Justiniano I (r. 527–565), que tencionava reconquistar os territórios pertencentes ao antigo Império Romano do Ocidente. Firmada a Paz Eterna com o Império Sassânida, Justiniano decidiu reconquistar o norte da África, que acabara nas mãos dos Vândalos: a expedição, chefiada pelo general Belisário, foi concluída com êxito e ele anexaria a África vândala.[3]
Enquanto isso, Justiniano manteve relações amistosas com Amalasunta, com quem parece ter iniciado negociações sobre a cessão da península ao império. As tendências pró-bizantinas de Amalasunta foram, contudo, alvo de contestações por parte da aristocracia gótica, e em 535, Teodato, depois de concordar com a franja antibizantina dos Godos, organizou um golpe de Estado com o qual derrubou Amalasunta e a exilou numa ilha do lago Bolsena; que mais tarde viria a ser estrangulada por ordem de Teodato nesse mesmo ano.[3] Justiniano, aliado de Amalasunta, aproveitar-se-ia do pretexto para declarar guerra aos godos.
Império Romano do Oriente
[editar | editar código-fonte]A força que invadiu o reino ostrogótico em 535 era constituída por apenas 10 000 homens (4 000 comitatenses e federados, 3 000 isáurios, 200 búlgaros, 300 mauros e bucelários ao serviço de Belisário). Durante o cerco de Roma, entre 537 e 538, novos reforços chegaram a Itália, aumentando o número de soldados disponíveis de Belisário para cerca de 24 000 homens, que terá diminuído com a deserção dos 2 000 hérulos que se recusaram a servir os bizantinos depois da recolha em Constantinopla o seu líder Narses.[4]
Na segunda fase do conflito, desde a chegada de Belisário, o número de soldados bizantinos na Itália tornou-se cada vez mais fraco devido às perdas sofridas às mãos do rei godo Tótila e pelas deserções em massa.[5] Por outro lado, o exército godo tinha-se tornado bastante numeroso, com um significativo aumento de tão somente 1 000 soldados, em 540, para 15 000, em 552.[6] Em 552, Justiniano, constatando que a situação na Itália estava muito crítica, destituiu Belisário e transferiu o comando para Narses, confiando-lhe um exército de cerca de 20 000-30 000 homens, com o qual o general pôde derrotar o primeiro exército de Tótila (uma força de 15 000 godos contra os 25 000 soldados bizantinos) na batalha de Tagina, na qual o rei ostrogodo foi morto. Em outubro de 553, Teia, o novo rei ostrogodo, caiu numa emboscada de Narses naquela que ficou conhecida a batalha do Vesúvio, pondo fim ao reinado dos godos.
No atinente à tática adotada sob o comando de Belisário, os bizantinos evitaram ao máximo o confronto com o inimigo em campo aberto, ao fazer uso essencialmente de guerrilhas; também cercavam e conquistavam sistematicamente todas as cidades fortificadas que encontravam no seu caminho, evitando assim o risco de deixar para trás exércitos inimigos armados.[7] A conquista das cidades costeiras (como Ancona e Hidrunto) foi essencial para garantir o aprovisionamento (através de frotas) do exército imperial, enquanto que as regiões do centro poderiam ser utilizadas para desgastar o exercito inimigo sitiado por pequenas investidas fora das muralhas.[8]
Entretanto, a estratégia do general Narses (utilizada entre 552 e 553) era diferente, e privilegiava as grandes batalhas campais de guerrilha e sítio dos centros fortificados.[9] Chegado a Itália, em 552, Narses provocou de imediato um conflito com Tótila em campo aberto sem sequer ter antes sitiado qualquer cidade; mais tarde, depois de ter capturado Roma, envolveu-se numa outra grande batalha campal com Teia, derrotando o exército godo. Só depois de aniquilar o exército dos Godos nestas duas batalhas campais, Narses procedeu ao assédio das cidades que se encontravam ainda em mãos inimigas por negarem rendição.
Referências
- ↑ Gaeta 1986, p. 323.
- ↑ Ravegnani 2004, p. 11.
- ↑ a b Ravegnani 2004, p. 12.
- ↑ Ravegnani 2009, p. 84-85
- ↑ Ravegnani 2009, p. 85
- ↑ Ravegnani 2009, p. 85-86
- ↑ Ravegnani 2009, p. 125
- ↑ Ravegnani 2009, p. 126-128
- ↑ Ravegnani 2009, p. 126
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Gaeta, Franco; Villani, Pasquale (1986). Corso di Storia. per le scuole medie superiori. 1 1 ed. Milão: Principato
- Ravegnani, Giorgio (2004). I Bizantini in Italia. Bolonha: Il Mulino
- Ravegnani, Giorgio (2009). Soldati e guerre a Bisanzio. Il secolo di Giustiniano. Bolonha: Il Mulino