Talking Heads: 77

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Talking Heads: 77
Talking Heads: 77
Álbum de estúdio de Talking Heads
Lançamento 16 de setembro de 1977 (1977-09-16)
Gravação Final de 1976
Abril–junho de 1977
Estúdio(s) Sundragon, Nova Iorque
Gênero(s)
Duração 38:37
Idioma(s) Inglês
Formato(s)
Gravadora(s) Sire
Produção Tony Bongiovi, Lance Quinn
Cronologia de Talking Heads
More Songs About Buildings and Food
(1978)
Singles de Talking Heads: 77
  1. "Uh-Oh, Love Comes to Town"
    Lançamento: 1977
  2. "Psycho Killer"
    Lançamento: Dezembro de 1977
  3. "Pulled Up"
    Lançamento: 1978

Talking Heads: 77 é o álbum de estreia da banda norte-americana de rock Talking Heads. Foi gravado em abril de 1977 no estúdio Sundragon em Nova Iorque e lançado em 16 de setembro daquele mesmo ano pela gravadora Sire. O single "Psycho Killer" alcançou o número 92 na Billboard Hot 100. O grupo queria que o álbum "transmitisse uma mensagem moderna sobre a importância de assumir o controle de sua própria vida", enquanto ainda fosse divertido de ouvir.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Disputa entre gravadoras[editar | editar código-fonte]

Desde os primeiros dias do grupo, o Talking Heads foi abordado por várias gravadoras para um possível contrato. A primeira pessoa a se aproximar da banda foi Mark Spector, da gravadora Columbia, que viu a banda se apresentar no clube CBGB e os convidou para gravar uma demo. Em seguida viria Mathew Kaufman, da gravadora Beserkley, Kaufman trouxe o trio para os estúdios K&K em Long Island para gravar outra demo de três canções: "Artists Only", "Psycho Killer" e "First Week, Last Week". Kaufman ficou satisfeito com os resultados, mas a banda sentiu que precisaria melhorar drasticamente antes de entrar novamente em um estúdio de gravação. O grupo também enviou a demo da Columbia para a Arista.

Em novembro de 1975, Seymour Stein, um representante da gravadora Sire, assistiu o Talking Heads abrindo um show dos Ramones. Ele gostou da música "Love → Building on Fire", e no dia seguinte, ofereceu um contrato de gravação, mas o grupo ainda não tinha certeza sobre suas habilidades de estúdio e queria um segundo guitarrista e um tecladista para ajudar a melhorar seu som. Eles concordaram em avisá-lo quando se sentissem mais confiantes.[5]

Um mês depois, Lou Reed, que tinha visto alguns shows da banda no CBGB, convidou o trio para seu apartamento, onde começou a apontar certos desvios nas apresentações do grupo, inclusive dizendo-lhes para desacelerar a canção "Tentative Decisions",[6] que originalmente era mais rápida.[7] Durante o café da manhã em um restaurante local, Reed expressou o desejo de produzir o primeiro álbum do grupo e queria apresentá-los ao seu empresário, Jonny Podell. Naquele mesmo dia, Podell chamou o trio para se encontrar em seu escritório, onde imediatamente lhes ofereceu um contrato de gravação.

Para auxiliar na contratação, o grupo procurou o advogado Peter Parcher, amigo do pai do baterista Chris Frantz. No dia seguinte, o trio visitou o escritório de Parcher, onde Parcher pediu a seu parceiro Alan Shulman para examinar o contrato. Shulman disse ao grupo para não assinar o acordo, ou então Reed e Podell teriam todos os direitos do álbum e receberiam todo o lucro. Talking Heads recusou o contrato, mas manteve um relacionamento respeitoso com Reed.[6]

Entrada de Jerry Harrison e contrato com a Sire[editar | editar código-fonte]

Por volta de agosto de 1976, Chris Frantz recebeu o número de Jerry Harrison, dado pelo ex-baixista do Modern Lovers, Ernie Brooks. Brooks assegurou a Frantz que Harrison não era apenas um ótimo tecladista, mas também um ótimo guitarrista, duas coisas que a banda estava procurando. Quando Frantz ligou para Harrison, ele ainda estava deprimido com o fim da formação original do Modern Lovers e havia acabado de se matricular em Harvard, sem certeza de se juntar a uma nova banda. Mas depois de descobrir que várias gravadoras estavam interessadas em assinar com o grupo, ele concordou em ouvi-los tocar ao vivo. Frantz reservou um show local para Harrison em Cambridge, Massachusetts. Quando o grupo começou a se apresentar, eles não encontraram Harrison à vista, mas eventualmente o viram no meio da plateia, observando seriamente a banda e parecendo descontente. Após o show, Frantz perguntou a Harrison o que ele havia pensado. Harrison não respondeu até o dia seguinte, dizendo que não ficou impressionado com o show, mas ficou intrigado. Ele disse que gostaria de fazer uma jam em Nova Iorque, mas avisou que não se juntaria oficialmente até que eles tivessem um contrato de gravação.[8]

No final de setembro, o grupo começou a considerar a Sire novamente e pediu conselhos a Danny Fields, empresário dos Ramones. Fields elogiou a gravadora apesar de dizer "ter suas falhas". Em 1º de novembro, o trio se encontrou com Seymour Stein novamente no escritório de Shulman e assinou um contrato com a Sire, com um adiantamento permitindo que o trio fizesse da música sua carreira em tempo integral.[9]

Produção[editar | editar código-fonte]

Gravação[editar | editar código-fonte]

As sessões de gravação começaram no estúdio Sundragon, em Nova Iorque no final de 1976, onde o grupo gravou a faixa "New Feeling" e o single "Love → Building on Fire". Jerry Harrison não estava presente nessas sessões, pois ainda não havia sido informado de que o grupo havia recebido um contrato de gravação. Estas sessões foram produzidas por Tony Bongiovi e Tom Erdelyi.[10] Após ouvir sobre a gravação, Harrison disse estar ansioso para participar e, em janeiro de 1977, o trio foi para seu apartamento em Ipswich para ensaiarem as músicas e fazer algumas apresentações na área.[11]

Em abril, as gravações para o álbum começaram com o grupo finalmente como um quarteto. Tony Bongiovi e Lance Quinn atuaram nessas sessões, com Ed Stasium como engenheiro de som. Frantz afirma que Stasium fez a maior parte do trabalho no álbum, "enquanto Bongiovi atendia telefonemas, lia revistas ou falava sobre aviões". Bongiovi estava insatisfeito com as performances do grupo, muitas vezes pedindo sete ou oito takes de uma música, mesmo depois do melhor deles já ter sido gravado. O grupo sentiu que Bongiovi era condescendente, e que ele estava tentando fazê-los soar como uma banda diferente. Ele também foi rude com a baixista Tina Weymouth. Stasium e Quinn estavam cheios de entusiasmo com o grupo.

A primeira música a ter os vocais gravados foi "Psycho Killer". Alegadamente, durante a gravação desta faixa, Bongiovi entrou na cozinha do estúdio e deu uma faca a Byrne, dizendo-lhe para entrar no personagem ao cantar. Byrne simplesmente respondeu com "Não, isso não vai funcionar" e a banda fez uma pausa. Durante o intervalo, Byrne confessou que se sentiu desconfortável cantando com Bongiovi assistindo e pediu a Stasium que o retirasse dali. Stasium sugeriu que ele gravasse enquanto Bongiovi não estivesse por perto, antes dele chegar ou depois dele sair.

Em duas semanas, as gravações estavam feitas, porém ainda precisariam de overdubs. As sessões foram interrompidas quando Ken Kushnick, um dos representantes da gravadora, chegou oferecendo a eles a chance de fazer uma turnê pela Europa com os Ramones como forma de promover o single de "Love → Building on Fire".[12] Durante a turnê, o grupo continuou a desenvolver seu som e, em 14 de maio, se apresentou no Rock Garden em Covent Garden, Londres, onde John Cale, Brian Eno e Chris Thomas assistiam.[13] Linda Stein, co-empresária dos Ramones, trouxe Cale, Eno e Thomas para os bastidores após o show, onde todos se cumprimentaram. Thomas supostamente ouviu Cale dizer a Eno "Eles são meus, seu desgraçado!". Todos os membros do Talking Heads já conheciam Cale, pois ele havia produzido o álbum de estreia dos Modern Lovers, e assistia regularmente os shows do trio original no CBGB.

Após a reunião, todos foram ao Speak Club para beber e conversar. Thomas recusou a oportunidade de substituir Bongiovi como produtor para as sessões restantes do álbum.[14] Quando o grupo retornou aos Estados Unidos em 7 de junho, eles marcaram uma sessão de gravação de quatro dias no estúdio ODO para gravar outros vocais e overdubs, e também mixar o álbum. Assim, o álbum estaria finalizado.[15]

Recepção[editar | editar código-fonte]

Críticas profissionais
Avaliações da crítica
Fonte Avaliação
AllMusic 5 de 5 estrelas.[16]
Chicago Tribune 3.5 de 4 estrelas.[17]
Christgau's Record Guide A−[18]
Encyclopedia of Popular Music 4 de 5 estrelas.[19]
The Irish Times 5 de 5 estrelas.[20]
Mojo 3 de 5 estrelas.[21]
Pitchfork 8.6/10[22]
The Rolling Stone Album Guide 3.5 de 5 estrelas.[23]
Spin Alternative Record Guide 9/10[24]
Uncut 5 de 5 estrelas.[25]

O crítico Robert Christgau do Village Voice disse, em 1977, que enquanto "um disco de estreia muitas vezes parecerá excessivamente refinado [...] para uma banda", quanto mais ele ouvia o álbum, mais ele acreditava que os 'Heads' se propunham a superar tais limitações", e conseguiram com 77.

Como Sparks, são crianças mimadas, mas sem a insensibilidade ou a misoginia adolescente; como o Yes, eles são fracos, mas sem imprecisão ou romantismo barato. Cada harmonia tilintante é corrigida com um grito, cada homilia de autoajuda contextualizada dramaticamente, de modo que no final o disco prova não apenas que o desapego do ofício pode coexistir com uma intensidade assustadora de sentimento – algo que a maioria dos artistas sabe – mas que a mais raiva inarticulada pode ser racionalizada. O que significa que eles são punks, afinal.[26]
— Robert Christgau

Em 2003, o álbum ficou em 290º lugar na lista da revista Rolling Stone dos "500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos",[27] e desceu para 291º em uma revisão da lista em 2012.[28] O álbum também foi incluído no livro 1001 Albums You Must Hear Before You Die.[29]

Faixas[editar | editar código-fonte]

Todas as letras escritas por David Byrne, exceto a indicada: [30]

Lado A
N.º Título Duração
1. "Uh-Oh, Love Comes to Town"   2:48
2. "New Feeling"   3:09
3. "Tentative Decisions"   3:04
4. "Happy Day"   3:55
5. "Who Is It?"   1:41
6. "No Compassion"   4:47
Lado B
N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "The Book I Read"    4:06
2. "Don't Worry About the Government"    3:00
3. "First Week/Last Week… Carefree"    3:19
4. "Psycho Killer"  Byrne, Frantz, Weymouth 4:19
5. "Pulled Up"    4:29
Faixas Bônus – Relançamento de 2005
N.º Título Duração
1. "Love → Building on Fire"   3:00
2. "I Wish You Wouldn't Say That"   2:39
3. "Psycho Killer" (Acústico) 4:20
4. "I Feel It in My Heart"   3:15
5. "Sugar on My Tongue"   2:36

Relançamento[editar | editar código-fonte]

Em 2005, o álbum foi remasterizado e relançado pela Warner Music Group em formato DualDisc com cinco faixas bônus. O DVD-Audio incluia mixagens estéreo e surround 5.1 de alta resolução, bem como uma versão Dolby Digital e vídeos da banda tocando "Pulled Up" e "I Feel It in My Heart". A reedição foi produzida por Andy Zax com a participação do Talking Heads. O álbum foi relançado em vinil em 18 de abril de 2009, para o Record Store Day.[31]

Ficha técnica[editar | editar código-fonte]

Talking Heads

Músicos adicionais

  • Arthur Russell – violoncelo (em "Psycho Killer – Acústico")

Produção

  • Tony Bongiovi – produtor
  • Lance Quinn – produtor
  • Joe Gastwirt – masterização
  • Ed Stasium – engenheiro
  • Mick Rock – contracapa

Paradas[editar | editar código-fonte]

Talking Heads: 77

Paradas (1978) Melhor posição
Reino Unido Reino Unido (OCC)[34] 60
Estados Unidos Estados Unidos (Billboard 200)[35] 97

"Psycho Killer"

Parada (1978) Melhor posição
Estados Unidos Estados Unidos (Billboard Hot 100)[36] 92

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Aaron, Charles (Agosto de 2004). «New Wave». Spin. 20 (8). p. 104 
  2. Whatley, Jack. «'Talking Heads 77', the album that made punk look silly». Far Out Magazine 
  3. Staff. «Talking Heads». Ultimate Classic Rock 
  4. Gittins, Ian (1 de Setembro de 2004). Talking Heads: Once in a Lifetime, The Stories Behind Every Song. [S.l.]: Hal Leonard Corporation. p. 39. ISBN 0-634-08033-4 
  5. Frantz, Chris (2002). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 94–96. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  6. a b Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 106–109. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  7. Void, The (15 de setembro de 2011). «Talking Heads - Tentative Decisions (1975 CBS Demos)». YouTube 
  8. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 116–118. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  9. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 125–126. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  10. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 127–128. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  11. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. 130 páginas. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  12. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 133–135. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  13. «Brian Eno and Talking Heads | More Dark Than Shark» 
  14. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. pp. 158–161. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  15. Frantz, Chris (2020). Remain In Love. Great Britain: White Rabbit. 1981 páginas. ISBN 978-1-4746-1999-8 
  16. Ruhlmann, William. «Talking Heads 77 – Talking Heads». AllMusic 
  17. Kot, Greg (6 de maio de 1990). «Talking Heads On The Record». Chicago Tribune 
  18. Christgau, Robert (1981). «T». Christgau's Record Guide: Rock Albums of the Seventies. [S.l.]: Ticknor and Fields. ISBN 0-89919-026-X – via robertchristgau.com 
  19. Larkin, Colin (2011). «Talking Heads». The Encyclopedia of Popular Music 5th concise ed. [S.l.]: Omnibus Press. ISBN 978-0-85712-595-8 
  20. Courtney, Kevin (13 de janeiro de 2006). «Talking Heads: 77/More Songs About Buildings and Food/Fear of Music/Remain in Light (WEA)». The Irish Times 
  21. Uhelszki, Jaan (Março de 2006). «Talking Heads: Talking Heads: 77». Mojo (148). p. 116 
  22. Cush, Andy (23 de abril de 2020). «Talking Heads: Talking Heads 77». Pitchfork 
  23. Sheffield, Rob (2004). «Talking Heads». In: Brackett, Nathan; Hoard, Christian. The New Rolling Stone Album Guide 4th ed. [S.l.]: Simon & Schuster. pp. 802–03. ISBN 0-7432-0169-8 
  24. Salamon, Jeff (1995). «Talking Heads». In: Weisbard, Eric; Marks, Craig. Spin Alternative Record Guide. [S.l.]: Vintage Books. pp. 394–95. ISBN 0-679-75574-8 
  25. Shapiro, Peter (Fevereiro de 2006). «The Geeks Shall Inherit the Earth». Uncut (105). p. 82 
  26. Christgau, Robert (31 de outubro de 1977). «Christgau's Consumer Guide». The Village Voice. New York 
  27. «500 Greatest Albums of All Time: Talking Heads: 77 – Talking Heads». Rolling Stone. 18 de novembro de 2003. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2010 
  28. «500 Greatest Albums of All Time». Rolling Stone. 31 de maio de 2012 
  29. Shade, Chris (2006). «Talking Heads: Talking Heads: 77». In: Dimery, Robert. 1001 Albums You Must Hear Before You Die. [S.l.]: Universe Publishing. p. 382. ISBN 978-0-7893-1371-3 
  30. Talking Heads: 77 liner notes
  31. «Record Store Day releases». Recordstoreday.com 
  32. Hermes, W, 2011. Love Goes to Buildings on Fire: Five Years in New York That Changed Music Forever. 1st ed. U.S.A: Faber & Faber Ltd.
  33. Diver, Mike. «BBC - Music - Review of Talking Heads - Remain in Light». www.bbc.co.uk (em inglês). Consultado em 3 de novembro de 2022 
  34. British Hit Singles & Albums, Edition 17, 2004 Guinness World Records Limited, p.548
  35. «Talking Heads Chart History: Billboard 200». Billboard.com. 2019. Cópia arquivada em 6 de outubro de 2019 
  36. «Talking Heads». Billboard (em inglês). Consultado em 3 de novembro de 2022