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Complicações[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Complicações da gravidez

Ao contrário dos incómodos e desconfortos, que são normais e não apresentam um risco para a saúde da mãe e do bebé, as complicações da gravidez são problemas de saúde causados pela gravidez. No entanto, a maioria destas complicações pode ser tratada e, mesmo após um aborto, uma mulher pode voltar a ter uma gravidez perfeitamente normal.[1] Os fatores de risco mais comuns numa gravidez são uma idade superior a 35 anos, o consumo frequente de álcool, tabaco e drogas; historial familiar de malformações, síndroma de Down, atraso mental ou doenças congénitas; hipertensão arterial, diabetes, epilepsia, artrite reumatoide, problemas do coração, dos rins ou da tiroide; infecções como a rubéola ou a toxoplasmose, incluindo infeções de transmissão sexual como sífilis ou sida; e má nutrição ou excesso de peso.[2]

A grávida apresenta um risco acrescido de contrair determinadas infeções como, por exemplo, gripe, hepatite E, herpes e malária. Isto deve-se ao aumento da tolerância imunológica na gravidez, que impede a reação imunitária contra o feto, e a algumas das alterações fisiológicas maternas, entre as quais a diminuição do volume respiratório e a retenção urinária.[3] A mastite, ou inflamação das mamas, ocorre em 20% das lactantes.[4]

Complicações maternas[editar | editar código-fonte]

Anemia[editar | editar código-fonte]

A anemia por deficiência de ferro é uma complicação da gravidez bastante comum. No entanto, pode ser facilmente tratada ou prevenida através de suplementação com comprimidos de ferro e ácido fólico.

Anemias são doenças em que a quantidade de glóbulos vermelhos ou de hemoglobina é inferior aos valores normais. Durante a gravidez, o tipo de anemia mais comum é a anemia por deficiência de ferro, causada pela insuficiência de ferro ou ácido fólico na dieta. A maioria das gestantes são aconselhadas a tomar suplementos de ferro e ácido fólico para tratar ou prevenir eventuais anemias.[5] Cerca de metade das gravidezes à escala mundial são acompanhadas de anemia. A prevalência varia entre 18% nos países desenvolvidos e 75% no sul da Ásia.[6]

Hiperémese gravídica[editar | editar código-fonte]

A hiperémese gravídica é a presença de vómitos severos e persistentes, ao ponto de causarem desidratação e perda de peso, o que pode provocar alterações perigosas nos valores de eletrólitos no sangue, lesões no fígado e hemorragias na retina. São mais graves do que os comuns enjoos matinais e estima-se que afetem entre 0,5 e 2% das grávidas. A causa é desconhecida, mas podem-se agravar ou desencadear por fatores psicológicos. O tratamento requer hospitalização.[7][8][9]

Doenças hipertensivas da gravidez[editar | editar código-fonte]

Cerca de 10% das gravidezes são complicadas por doenças hipertensivas, nas quais se inclui pré-eclampsia, eclampsia, hipertensão gestacional e hipertensão crónica.[10] A pré-eclampsia é uma doença caracterizada por tensão arterial elevada (>140/90 mmHg ou subida considerável da tensão) acompanhada por valores anormalmente elevados de proteínas na urina (>300 mg) e retenção de líquidos na cara e nas mãos. Afeta entre 5 e 8% das gravidezes e geralmente ocorre entre a 20.ª semana de gestação e uma semana após o parto. O risco mais significativo é o desprendimento prematuro da placenta. Geralmente recomenda-se a ingestão de líquidos e o repouso na cama virada sobre o lado esquerdo mas, se a condição não melhorar com rapidez, exige hospitalização. A eclampsia é uma forma mais grave da doença que surge em 0,5% das mulheres com pré-eclampsia, podendo provocar convulsões, coma e morte se não for tratada com rapidez. Um quarto dos casos de eclampsia ocorre após o parto. Ao contrário da hipertensão normal, ambas as doenças não respondem aos diuréticos nem à dieta sem sal. Uma das complicações da pré-eclampsia e eclampsia graves (>160/110 mmHg) é a síndrome HELLP, que é a combinação anemia hemolítica (destruição de glóbulos vermelhos), aumento das enzimas hepáticas (que indica lesões no fígado) e diminuição na contagem de plaquetas (que indica deficiência na coagulação do sangue). Este síndrome ocorre entre 0,5 e 0,9% de todas as gravidezes.[11][12][13]

Doença de Rhesus[editar | editar código-fonte]

A doença de Rhesus ocorre quando existe incompatibilidade do grupo Rh entre o sangue da mãe e do feto; ou seja, quando o sangue da mãe é Rh-negativo e o sangue do feto é Rh-positivo, herdado de um pai Rh-positivo. Se o sangue do feto entrar em contacto com o sangue da mãe através da placenta, o que acontece sobretudo durante o parto, o organismo da mãe pode considerar os glóbulos vermelhos do feto elementos estranhos e produzir anticorpos que os vão destruir (anticorpos anti-Rh). Se estes anticorpos atravessarem a placenta, podem destruir parte dos glóbulos vermelhos do feto (eritroblastose fetal) ou do recém-nascido (eriotroblastose neonatal). A destruição dos glóbulos vermelhos pode provocar anemia e aumentar a quantidade de bilirrubina no sangue. Se a bilirrubina for demasiado elevada, pode afetar o cérebro do feto. Nos países ocidentais, em 13% dos casais o homem é Rh-positivo e a mulher Rh-negativa. Um em cada 27 recém-nascidos destes casais desenvolve doença de Rhesus. Na primeira consulta fazem-se análises ao sangue da mãe; se for Rh-negativo confirma-se o sangue do pai e, se este for positivo, mede-se a quantidade de anticorpos anti-Rh na mãe. Ao longo da gravidez são monitorizados os valores de anticorpos. Se subirem demasiado, faz-se uma amniocentese para medir os valores de bilirrubina. Se ambos os valores forem altos, geralmente são feitas transfusões de sangue intra-uterinas, sendo o parto provocado entre a 32ª e 34ª semana de gravidez.[14]

Erupções cutâneas[editar | editar código-fonte]

O herpes gravídico e a urticária da gravidez ocorrem apenas durante a gravidez. O herpes gravídico é um exantema caracterizado por bolhas irregulares cheias de líquido que provocam prurido intenso. Geralmente começa no abdómen e é tratado com corticosteroides. Ao contrário do que o nome sugere, não é causado por herpesvírus nem por qualquer tipo de vírus. Acredita-se que tenha causa auto-imune, em que anticorpos anormais atacam os tecidos do próprio corpo e pode surgir após a 12ª semana de gestação ou após o parto, embora desapareça ao fim de poucas semanas sem tratamento. A urticária da gravidez é também um exantema caracterizado pelo aparecimento de manchas no abdómen intensamente pruriginosas, vermelhas, irregulares, planas ou ligeiramente salientes, que se espalham para as coxas, nádegas e braços. Geralmente também desaparece pouco depois do parto e desaparecem 2 a 4 dias após a aplicação de corticosteroides.[5]

Complicações fetais[editar | editar código-fonte]

Gravidez ectópica[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Gravidez ectópica
Ao contrário da nidação normal (N) no útero, numa gravidez ectópica o feto desenvolve-se fora deste órgão, geralmente numa das trompas de Falópio (b, c, d).

Uma gravidez ectópica é uma gravidez em que o feto se desenvolve fora do útero. Geralmente, desenvolve-se numa das trompas de Falópio, embora em casos raros se possa desenvolver no canal cervical, na cavidade pélvica ou na cavidade abdominal. Durante o desenvolvimento fetal, ao deslocar-se em direção ao útero o óvulo fecundado pode ficar preso na trompa de Falópio e aí se implantar e desenvolver. Esta complicação afeta entre 0,5 e 1% de todas as gravidezes, tendo como fatores de risco uma gravidez ectópica anterior, uma laqueação de trompas mal sucedida ou exposição fetal ao dietilestilbestrol. O risco é elevado no caso da mulher ficar grávida com um dispositivo intra-uterino colocado. Uma gravidez ectópica coloca em risco a vida da mulher e deve ser removida cirurgicamente o mais cedo possível. Os sintomas de uma gravidez ectópica são pequenas perdas de sangue pela vagina e cãibras abdominais, juntamente com o atraso da menstruação. Quando o feto morre numa fase inicial, o organismo tenta expulsá-lo da mesma forma que o produto da menstruação e não se verificam lesões. Mas no caso de continuar a crescer é possível romper as paredes da trompa, causando uma hemorragia interna que provoca dores e sensação de pressão na parte inferior do abdómen. Entre as 6 e as 8 semanas é possível que ocorra uma dor aguda e intensa no baixo abdómen seguida por desmaio.[15]

Placenta[editar | editar código-fonte]

O desprendimento prematuro da placenta ocorre quando o revestimento da placenta se separa do útero entre as 20 semanas de gestação e o parto. Verifica-se entre 0,5 e 1 em cada 200 nascimentos, sendo uma urgência hospitalar e uma das complicações que mais contribui para a mortalidade materna no mundo.[16] A placenta prévia é a inserção parcial ou total da placenta no colo do útero. É uma das principais causas de hemorragias pré-natais e afeta 1 em cada 200 partos. O sintoma inicial é uma hemorragia vaginal súbita e indolor no fim da gravidez, com sangue de cor vermelho vivo e necessita de cuidados hospitalares.[17]

Aborto e feto morto[editar | editar código-fonte]

Aborto espontâneo é a perda de um feto por causas naturais e involuntárias antes das vinte semanas de gestação; a partir das vinte semanas passa a ser denominado feto morto. Aproximadamente 85% dos abortos espontâneos ocorrem durante as doze primeiras semanas de gestação e os restantes entre a 13.ª e 20.ª semanas. Durante as primeiras vinte semanas, 20 a 30% das grávidas manifestam hemorragias ou contrações, das quais metade resulta em abortos espontâneos. Geralmente, os abortos espontâneos devem-se a anomalias no feto. O primeiro sintoma é a perda de sangue pouco abundante o uma hemorragia juntamente com a secreção vaginal. Se o processo de aborto continuar, aumentam as dores, a hemorragia e a secreção, podendo no fim ser expulsa a totalidade ou parte do conteúdo do útero. Quando é expulso na totalidade, geralmente não há necessidade de tratamento; em caso de expulsão parcial geralmente realiza-se uma dilatação e sucção para remover o restante conteúdo. No entanto, quando apenas se verifica uma ameaça de aborto, geralmente aconselha-se repouso absoluto, uma vez que os sintomas costumam melhorar. A ameaça de aborto pode ser causada pela dilatação prematura do colo do útero devido à debilidade do tecido fibroso.[18]

Complicações do parto e puerpério[editar | editar código-fonte]

Trauma perineal[editar | editar código-fonte]

A laceração perineal é a laceração não intencional da pele ou dos tecidos moles que se separam a vagina do ânus que geralmente ocorre durante o parto. São classificadas em primeiro grau (afetam a pele e mucosa), segundo grau (músculos perineais) ou terceiro grau (afetam o músculo esfíncter). Se for uma intervenção cirúrgica provocada por necessidade médica denomina-se episiotomia.[19] Num período de seis meses após qualquer tipo de parto, ocorre incontinência urinária em 3-7% das mulheres e incontinência fecal em 1-3%.[20]

Depressão pós-parto[editar | editar código-fonte]

A depressão pós-parto é um episódio depressivo que pode ter início em qualquer momento da gravidez até quatro semanas após o parto. Ocorre em 4-20% das gravidezes, dependendo da definição.[20] Em 28% dos casos de depressão pós-parto, a mulher ainda se encontra deprimida passado três anos.[21] Em 0,2 % das gravidezes, a depressão pós parto leva a psicose.[22] Nos mesmo período de seis meses, 13,6 % das mulheres sofre de stresse pós-traumático.[23]

  1. Manual Merck - Biblioteca Médica Online. «Complicações da Gravidez». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  2. Portal da Saúde. «Viver a gravidez em saúde». Ministério da Saúde. Consultado em 12 de agosto de 2015 
  3. Kourtis, Athena P.; Read, Jennifer; Jamieson, Denise J. (2014). «Pregnancy and Infection». New England Journal of Medicine. 370 (23): 2211–2218. ISSN 0028-4793. doi:10.1056/NEJMra1213566 
  4. Kaufmann, R.; Foxman, B (1991). «Mastitis among lactating women: occurrence and risk factors». Social science & medicine. 33 (6): 701-705 
  5. a b Manual Merck - Biblioteca Médica Online. «Complicações da gravidez: Anemias». Consultado em 12 de agosto de 2015  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "merck2711979" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  6. Wang S; An L, Cochran SD (2002). «Women». In: Detels R, McEwen J, Beaglehole R, Tanaka H. Oxford textbook of public health 4.ª ed. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 1587–601 
  7. Manual Merck - Biblioteca Médica Online. «Complicações da Gravidez: Vómitos excessivos». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  8. Summers, A (2012). «Emergency management of hyperemesis gravidarum.». Emergency nurse. 20 (4): 24–28. PMID 22876404. doi:10.7748/en2012.07.20.4.24.c9206 
  9. Goodwin, TM (2008). «Hyperemesis gravidarum.». Obstetrics and gynecology clinics of North America. 35 (3): 401–17, viii. PMID 18760227. doi:10.1016/j.ogc.2008.04.002 
  10. WHO recommendations for prevention and treatment of pre-eclampsia and eclampsia. (PDF). [S.l.: s.n.] 2011. ISBN 978-92-4-154833-5 
  11. Manual Merck - Biblioteca Médica Online. «Complicações da gravidez: Pré-eclampsia e eclampsia». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  12. Villar, J; Say L, Gulmezoglu AM, Meraldi M, Lindheimer MD, Betran AP, Piaggio G; (2003). «Eclampsia and pre-eclampsia: a health problem for 2000 years». Pre-eclampsia. Londres: RCOG Press. pp. 189–207 
  13. Haram, K; Svendsen E, Abildgaard U (2009). «The HELLP syndrome: clinical issues and management. A review» (PDF). BMC Pregnancy Childbirth. 9. 8 páginas. PMC 2654858Acessível livremente. PMID 19245695. doi:10.1186/1471-2393-9-8 
  14. Manual Merck - Biblioteca Online de Saúde. «Complicações da gravidez». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  15. Manual Merck - Biblioteca Médica Online. «Complicações da gravidez: Gravidez ectópica». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  16. Sheffield, F. Gary; Cunningham, Kenneth J. Leveno, Steven L. Bloom, Catherine Y. Spong, Jodi S. Dashe, Barbara L. Hoffman, Brian M. Casey, Jeanne S. (2014). Williams obstetrics 24.ª ed. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0071798938 
  17. Manual Merck - Biblioteca de Saúde Online. «Complicações da gravidez: Placenta prévia». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  18. Manual Merck - Biblioteca de Saúde Online. «Complicações da Gravidez: Aborto e feto morto». Consultado em 12 de agosto de 2015 
  19. ScarabottoI, Leila Barreto; Riesco, Maria Luiza Gonzalez (2006). «Fatores relacionados ao trauma perineal no parto normal em nulíparas». Revista da Escola de Enfermagem da USP. 40 (3). doi:10.1590/S0080-62342006000300011 
  20. a b Borders, N. (2006). «After the afterbirth: a critical review of postpartum health relative to method of delivery.». Journal of Midwifery & Women’s health. 51 (4): 242-248 
  21. Vliegen, N; Casalin, S., & Luyten, P. (2014). «The course of postpartum depression: a review of longitudinal studies.». Harvard review of psychiatry. 22 (1): 1-22 
  22. Sit, D.; Rothschild, A. J., & Wisner, K. L. (2006). «A review of postpartum psychosis». Journal of women's health. 15 (4): 352-368 
  23. Montmasson, H.; Bertrand, P., Perrotin, F., & El-Hage, W. (2012). «Predictors of postpartum post-traumatic stress disorder in primiparous mothers». Journal de gynecologie, obstetrique et biologie de la reproduction. 41 (6): 553-560