Voo Lufthansa 181

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Voo Lufthansa 181
Acidente aéreo
Voo Lufthansa 181
A aeronave envolvida no incidente
Sumário
Data Entre 13 e 18 de outubro de 1977
Causa Sequestro da aeronave
Local Inicialmente sobre o mar Mediterrâneo, a sul da costa francesa; depois o Aeroporto Internacional de Mogadíscio, Somália
Origem Aeroporto de Palma de Maiorca-Son Sant Joan, Palma de Maiorca
Destino Aeroporto Internacional de Frankfurt, Frankfurt
Passageiros 86, mais 4 sequestradores
Tripulantes 5
Mortos 4 (1 tripulante, 3 terroristas)
Feridos 5 (1 tripulante, 3 passageiros, 1 terrorista)
Sobreviventes 91 (86 passageiros, 4 tripulantes, 1 terrorista)
Aeronave
Modelo Boeing 737-200
Operador Alemanha Lufthansa
Prefixo D-ABCE

O voo Lufthansa 181 foi um voo do Boeing 737-200 da empresa aérea alemã Lufthansa entre Palma de Maiorca na Espanha e Frankfurt na Alemanha, sequestrado em 13 de outubro de 1977 por quatro membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP). A aeronave, conhecida como Landshut[1], transportava 86 passageiros e cinco tripulantes, e durante cinco dias vagou entre a Europa, o Oriente Médio e a África, enquanto se desenrolavam as negociações, até ser invadida por um comando antiterrorista alemão em Mogadíscio, na Somália, na noite de 17 de outubro, os passageiros libertados ilesos e três dos quatro sequestradores mortos. O sequestro foi feito em apoio às ações do grupo extremista alemão Fração do Exército Vermelho, também conhecido como Grupo Baader-Meinhof e foi o ponto culminante da crise conhecida como Outono Alemão.

O sequestro

As 11:00 de quinta-feira, 13 de outubro de 1977, o voo LH181 da Lufthansa, Boeing 737-200 Landshut, levantou voo do aeroporto de Palma de Maiorca, na Espanha, em direção a Frankfurt, na Alemanha, pilotado pelo comandante Jürgen Schumann, o co-piloto Jürgen Vietor e com as comissárias Gabriele Dillmann, Anna-Maria Staringer, Hannelore Piegler e 86 passageiros a bordo. Trinta minutos depois, quando sobrevoavam Marselha, na França, o avião foi sequestrado por um comando da PFLP, liderado pelo palestino Zohair Youssif Akache, de 23 anos, que chamava a si próprio de "Capitão Martyr Mahmud". Os outros sequestradores eram a também palestina Souhaila Andrawes (22), Wabil Harb (23) e Hind Alameh (22), os dois últimos libaneses. "Mahmud" ordenou a Schumann que voasse para Chipre, mas pela pouca autonomia do avião, foram obrigados a fazer uma primeira parada em Roma, na Itália.

Roma

A aeronave mudou de rota e dirigiu-se à Roma para reabastecimento. O comando palestino, agindo em conjunto com o Comando Siegrified Hausner, do Grupo Baader-Meinhof, que havia sequestrado semanas antes na Alemanha o empresário Hanns-Martin Schleyer, tornou pública a exigência de libertação de 11 integrantes do Baader-Meinhof, incluindo os líderes presos na prisão de segurança máxima de Stammheim, em Stuttgart, de mais dois palestinos presos e US$15 milhões de dólares em resgate.[2] O governo alemão tentou persuadir o governo italiano a agir furando os pneus da aeronave e impedindo o prosseguimento do voo, mas o primeiro-ministro italiano, Francesco Cossiga, preferiu se livrar do problema em seu território, permitindo o reabastecimento do avião, que levantou voo em direção à Chipre sem nem esperar permissão de decolagem da torre do aeroporto.

Chipre

O Landshut aterrissou no aeroporto de Larnaca, em Chipre, às 20:28 hora local. Depois de uma hora, um contato foi feito com os sequestradores por um emissário da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que pelo rádio tentou persuadir 'Mahmud' a libertar os passageiros, recebendo apenas impropérios de volta. A aeronave foi reabastecida e o comandante Schumann pediu ao controle de voo uma rota para Beirute. Informado de que os libaneses haviam fechado o aeroporto para eles, a aeronave levantou voo dirigindo-se a Damasco, na Síria, de onde também, recebeu, durante o voo, a negativa para permissão de aterrissagem. Após terem negados os pedidos de aterrissagem também no Kuwait e em Bagdá, o voo 181 dirigu-se para o Bahrain.

Bahrain

A caminho de Bahrain, Schumann foi avisado por um piloto da Qantas em sua rota, que as autoridades do país haviam fechado o aeroporto. Pelo rádio, o comandante avisou à torre que não tinha mais combustível e precisava pousar de qualquer maneira. O avião acabou tendo permissão de pouso e aterrissou à 01:52 da manhã, sendo imediatamente cercado por tropas do exército. Mahmud avisou à torre pelo rádio da cabine de comando que a menos que as tropas se retirassem ela iria fuzilar o co-piloto. Com o prazo dado de cinco minutos se esgotando, as tropas foram retiradas, o avião reabastecido e o Landshut levantou voo para Dubai.

Dubai

Aproximando-se de Dubai, eles mais uma vez tiveram negada a permissão de aterrissagem. Sobrevoando o aeroporto nas primeiras horas da manhã, eles puderam ver a pista bloqueada com caminhões e carros de bombeiro. Schumann avisou a torre que pousariam de qualquer maneira devido à falta de combustível e num último voo baixo viram os obstáculos sendo removidos. As 05:40, o co-piloto Vietor fez uma aterrissagem normal na pista principal do aeroporto.

Em Dubai, os sequestradores pediram à torre comida, água, jornais e a retirada do lixo do avião. O comandante Schumann conseguiu enviar uma mensagem dentro do lixo comunicando o número de sequestradores às autoridades. Entretanto, o ministro da Defesa, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, passou essa informação em entrevista à mídia, o que foi ouvido por 'Mahmud' possivelmente por rádio no avião, causando uma ameaça de morte a Schumann.[3] A aeronave permaneceu no solo em Dubai durante todo o dia e a noite seguintes, e pela manhã os sequestradores ameaçaram começar a matar reféns se o avião não fosse reabastecido, com o que as autoridades finalmente concordaram.

Neste meio tempo, Hans-Jürgen Wischnewski, o ministro designado pelo governo alemão para cuidar do sequestro e o coronel Ulrich Wegener, comandante do GSG 9,[4] grupo antiterror federal alemão, haviam chegado a Dubai e tentavam permissão junto ao governo para que a equipe de comandos pudesse invadir o avião. O pedido foi recusado pelo sheik Mohammed, que só admitia que essa ação fosse realizada por suas próprias tropas. Enquanto a negociação continuava entre alemães e árabes, o Landshut, reabastecido, levantou voo para Omã. Com a permissão de aterrissagem novamente negada, o voo 181 dirigiu-se para Aden no Yemen, no alcance máximo de seu combustível.

Aden

Em Aden, mais uma vez o avião teve sua permissão de pouso negada, e as duas pistas principais do aeroporto foram bloqueadas por veículos. Sem outro lugar para ir pela falta de combustível, o plano dos tripulantes era gastar o restante de combustível sobre a cidade e tentar um pouso de emergência na longa pista de areia paralela às pistas principais, o que foi conseguido.[5] Instados a partir pelas autoridades, a tripulação estava temerosa de voar novamente com o avião nas condições em que estava após o pouso de emergência e Schumann teve permissão para deixar a aeronave e inspecionar os possíveis danos causados nos trens de pouso e nas turbinas pela aterrissagem na areia. Entretanto, o comandante demorou a voltar a bordo, mesmo após as ameaças de 'Mahmoud' de explodir o avião. Essa demora, possivelmente se deveu a um contato pessoal feito em terra entre Schumann e as autoridades de Aden, para que impedissem o voo de continuar e atendessem às exigências dos sequestradores.[6]

Após o retorno voluntário de Schumann ao avião, 'Mahmud', irado, forçou-o a se ajoelhar no corredor entre as poltronas do avião e, na frente dos passageiros, matou-o com um tiro na cabeça, sem lhe dar a chance de qualquer explicação.[6] O avião foi reabastecido pela madrugada e o co-piloto Vietor, cuidadosamente o retirou da pista de areia e no comando da nave levantou voo para Mogadíscio, capital da Somália, com o corpo de Schumann a bordo.

Mogadíscio e a 'Operação Fogo Mágico'

Os integrantes do grupo antiterrorista alemão GSG 9 chegam à Alemanha após libertarem os reféns do voo 181 em Mogadíscio.

As 06:22 hora local, o voo 181 da Lufthansa, pilotado pelo co-piloto Vietor, fez uma aterrissagem não anunciada na pista do aeroporto de Mogadíscio, na capital somali. O líder dos sequestradores, Akashe, disse a Vietor que ele havia feito um trabalho sobre-humano até ali e estava livre para deixar o avião, já que não pretendiam viajar para mais nenhum lugar. O co-piloto recusou-se a deixar os passageiros e as aeromoças e permaneceu a bordo.

O corpo de Schumann foi jogado na pista[7] e os sequestradores deram um ultimato ao governo alemão, estabelecendo um prazo até as 16:00 para que os líderes do Baader-Meinhof e demais presos palestinos fossem libertados e trazidos a Mogadíscio, depois do qual explodiriam o avião com todos dentro. O governo comunicou que atenderia à exigência, mas que o transporte dos prisioneiros até a Somália demoraria ainda várias horas e com isso, o prazo limite foi estendido até as 02:30 da manhã seguinte.[5]

Enquanto o chanceler Helmut Schmidt negociava com o presidente Siad Barre a entrada no país do GSG 9,[5] os comandos voavam entre a Etiópia e o Djibouti aguardando a permissão de desembarque. Com o acordo conseguido, as 20:00 locais um Boeing 707 transportando trinta homens do grupo antiterrorista pousava em Mogadíscio com as luzes apagadas para não chamar atenção no aeroporto fechado para tráfego aéreo civil, e dava inicío à Operação Fogo Mágico.[4]

Trinta minutos antes do prazo final, enquanto 'Mahmud' era comunicado que os prisioneiros exigidos em resgate tinham chegado ao Cairo e o avião deles estava sendo reabastecido para a viagem até a Somália - nenhum deles jamais deixou suas celas - o grupo de comandos alemães, dividido em pequenos esquadrões, avançou para o Landshut pelo ângulo morto da traseira do mesmo, carregando pequenas escadas. Usando-as para atingir e abrir as portas de emergência do avião, enquanto soldados somalis acendiam uma grande fogueira a 200 metros do avião para atrair a atenção dos árabes, os comandos invadiram o interior da nave pela porta da cabine e pela portas por cima das asas,[4] pegando de surpresa os sequestradores, matando três deles e ferindo a única mulher, Souhaila Andrawes. Um dos passageiros do avião, assim descreveu o início do ataque: "Eu vi uma porta sendo aberta e um homem com o rosto pintado de preto aparecendo e gritando em alemão que estavam ali para nos salvar e mandando todo mundo se abaixar. E então começaram os tiros."[8]

Os escorregadores de emergência foram ativados e todos os 86 passageiros e tripulantes retirados rapidamente à salvo do avião.[8] Cinco minutos depois do início do ataque, uma mensagem codificada de rádio era enviada diretamente pelo coronel Ulrich Wegener, líder do ataque, para o gabinete de Helmut Schmidt em Bonn: "Quatro oponentes derrubados, reféns regatados, quatro passageiros levemente feridos, um comando levemente ferido, Springfield, Springfield".[5]

Após o sequestro da Lufthansa, Helmut Schmidt, em nome da República Federal da Alemanha, anunciou que o país nunca mais negociaria com terroristas.[1]

RAF

Após as notícias do resgate em Mogadíscio serem transmitidas para o mundo, os corpos de Andreas Baader, Gudrun Ensslin e Jan-Carl Raspe, os líderes presos do Baader-Meinhof na Alemanha, foram encontrados mortos em suas celas. Outra integrante da organização, Irmgard Möller, foi encontrada ferida com quatro facadas.[9] O laudo oficial das mortes foi o de suicídio coletivo. No dia seguinte, o corpo de Hanns-Martin Schleyer, sequestrado semanas antes pela RAF e em troca de quem também havia sido pedida a libertação dos presos, foi encontrado no porta-malas de um carro na França.[10]

Em 2008, Christian Klar, um dos líderes da segunda geração da RAF e um dos planejadores do sequestro do voo 181, preso em 1982 acusado de vários assassinatos e atentados, recebeu o perdão do governo alemão e foi libertado depois de cumprir 26 anos de sua pena de prisão perpétua. Em protesto contra esta decisão, Jürgen Vietor, o co-piloto do voo, escreveu uma carta ao Chefe-de-estado da Alemanha, presidente Horst Köhler, dizendo que a libertação de Klar era "um insulto a todas as vítimas da RAF"[1] e devolveu a Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha que havia recebido por sua bravura durante o sequestro, em 1977.[11]

O ex-Landshut em serviço no Brasil com as cores da TAF.

O Landshut

O Boeing 737-200 Landshut serviu à Lufthansa até 1985, quando foi vendido e passou a operar para várias outras companhias aéreas ao redor do mundo. Até janeiro de 2008, ele voou para a companhia brasileira TAF Linhas Aéreas com o número de registro PT-MTB no Brasil. A partir deste ano, após 30 anos da data de fabricação e mais de 30 mil viagens, foi aposentado e se encontra estacionado no Aeroporto Internacional de Fortaleza, no Ceará. O nome Landshut, que homenageia uma cidade da Baviera, ainda hoje é usado por uma aeronave Airbus A330 da Lufthansa.[1]

Referências

Ligações externas