Cimérios: diferenças entre revisões

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== Língua ==
== Língua ==
Da língua dos cimérios, apenas alguns poucos nomes pessoais sobreviveram, encontrados em inscrições assírias:
Apenas alguns poucos [[Nome pessoal|nomes pessoais]] da língua cimércia sobreviveram, em [[Inscrição|inscrições]] [[Língua assíria|assírias]]:
* ''Te-ush-pa'', mencionado nos anais de [[Assarhaddon]], foi comparado à entidade [[Hurritas|hurrita]] de guerra ''[[Teshub]]''; outros o consideram [[línguas iranianas|iraniano]], comparando-o com o nome [[Aquemênidas|aquemênida]] ''Teispes'' ([[Heródoto]] 7.11.2)
*''Te-ush-pa-a''; de acordo com o [[linguista]] [[Hungria|húngaro]] [[János Harmatta]], o nome remontaria ao [[antigo iraniano]] ''Tavis-paya'', "inchado de força".<ref name="UNESCO"/> Mencionado nos anais de [[Assaradão]] (''Esarhaddon''), ele foi comparado a [[Teshub]], divindade da [[guerra]] [[Hurritas|hurrita]];{{carece de fontes|data=outubro de 2007}} outros, no entanto, o interpretaram como sendo um nome iraniano, comparando-o ao nome [[aquemênida]] ''Teispes'' ([[Heródoto]], 7.11.2).
* ''Dug-dam-me'' (''Dugdammê''), rei dos ''Ummân-Manda'' ([[nômade]]s), aparece numa oração proferida por [[Assurbanípal]] a [[Marduque]], encontrada num fragmento hoje guardado no [[Museu Britânico]]. Seu nome também pode ser grafado como ''Dugdammi'' e ''Tugdammê''. Yamauchi (1982) considera o nome como sendo iraniano, citando o termo [[osseto]] "tux-domaeg", que significa "governando com força". O nome aparenta ser uma corruptela no ''[[Lygdamis]]'' de [[Estrabão]] (I.3.21).
* ''Sandaksatru'', filho de Dugdamme. Essa é uma interpretação iraniana do nome, e [[Manfred Mayrhofer|Mayrhofer]] (1981) indica que o nome também pode ser lido como ''Sandakurru''. Mayrhofer rejeita a interpretação do nome como "com pura regência", uma mistura de iraniano e [[indo-ariano]]. Ivancik sugere uma associação com a divindade [[Sanda]] da [[Anatólia]].


*''Dug-dam-mei'' (''Dugdammê''), rei dos ''Ummân-Manda'' ([[nômade]]s), aparece numa [[oração]] de [[Assurbanipal]] a [[Marduk]], num fragmento exposto no [[Museu Britânico]]. De acordo com Harmatta, ele remontaria ao iraniano ''Duγda-maya'', "que dá felicidade".<ref name="UNESCO"/> Também é grafado como ''Dugdammi'' e ''Tugdammê''. O arqueólogo [[Estados Unidos|americano]] [[Edwin M. Yamauchi]] também interpretou o nome como sendo iraniano, citando o [[Língua osseta|osseta]] ''Tux-domæg'', "que governa com força".<ref>{{citar livro | autor = Yamauchi, Edwin M.| título = Foes from the Northern Frontier: Invading Hordes from the Russian Steppes|ano = 1982|editora = Baker Book House|local = [[Grand Rapids]] }}</ref> O nome aparece como ''[[Tugdamme|Lygdamis]]'' em [[Estrabão]] (1.3.21).
Alguns investigadores tentaram traçar vários [[topônimo]]s a origens cimérias. Sugeriu-se que a [[Crimeia]] recebeu seu nome em prol dos cimérios. Contudo, essa parece ser uma falsa premissa. O nome [[Crimeia]] relaciona-se ao [[língua turca|turco]] ''qyrym'', que significa "fortaleza", e a península, na Antiguidade, era na verdade conhecida como [[Quersoneso Táurico]] ("península dos [[Tauri]]") - cf. Estrabão 7.4.1; Heródoto 4.99.3, Amm. Marc. 22.8.32).


*''Sandaksatru'', filho de Dugdamme. Esta seria uma leitura iraniana do nome, e, segundo o [[Indo-europeísmo|indo-europeísta]] [[Áustria|austríaco]] [[Manfred Mayrhofer]]<ref>Mayrhofer, Manfred. ''Sitzungsberichte der Heidelberger Akademie der Wissenschaften'', Philosophisch-Historische Klasse (1981). ISBN 3533030261 978-3533030263.</ref> o nome também poderia ser lido como ''Sandakurru''. Mayrhofer também rejeita a interpretação de "com regência pura", alegando que ela seria uma mistura de iraniano e [[Línguas indo-arianas|indo-ariano]]. [[Askol'd Igorevich Ivanchik]] sugere uma associação com a divindade [[Povos anatólicos|anatólica]] [[Sandas|Sanda]]. Já para Harmatta, o nome remontaria ao antigo iraniano ''Sanda-Kuru'', "Filho Esplêndido".<ref name="UNESCO"/> ''Kur''/''Kuru'' ainda é usado no sentido de "filho" no [[Língua curda|idioma curdo]], e, no [[Língua persa|persa]], na forma modificada ''korr'', para designar o filho do sexo masculino de uma égua.
Os cimérios são atualmente classificados como um [[povos iranianos|povo iraniano]], mas com base em fontes históricas gregas da Antiguidade, uma associação [[trácia]] (e, mais raramente, [[celta]]) pode ser levada em consideração. De acordo com C. F. Lehmann-Haupt, a língua dos cimérios poderia ter sido o "elo perdido" entre os idiomas trácio e iraniano.

Alguns estudiosos tentaram associar diversos [[topônimo]]s com possíveis origens cimérias. Sugeriu-se, por exemplo, que o nome da [[Crimeia]] viria dos cimérios,<ref>{{citar livro | autor = [[Isaac Asimov|Asimov, Isaac]]| título = Asimov's Chronology of the World| ano = 1991| editora = HarperCollins|local = Nova York|página = 50}}</ref> O nome, no entanto, remonta ao termo [[Língua tártara da Crimeia|tártaro da Crimeia]] ([[Línguas turcomanas|turcomano]]) ''qırım'' ("minha [[estepe]]", "monte"), enquanto a península em si era conhecida na [[Antiguidade]] como [[Táurica]], "península dos [[tauros]]". (Estrabão 7.4.1; Heródoto 4.99.3, [[Amiano Marcelino]] 22.8.32).

Com base nas antigas fontes históricas gregas, presume-se uma associação [[Trácios|trácia]]<ref>{{citar livro|autor = Meljukova, A. I.|título = Skifija i Frakijskij Mir|ano = 1979|local = Moscou}}</ref><ref>[[Estrabão]] identifica os [[treres]] com os trácios em determinada altura de sua obra (13.1.8), e com os cimérios em outra (14.1.40)</ref> ou [[Celtas|celta]].<ref>[[Posidônio]]], em Estrabão (7.2.2).</ref> De acordo com o historiador alemão [[Carl Ferdinand Friedrich Lehmann-Haupt]], o idioma dos cimérios poderia ser um "elo perdido" entre o trácio e os idiomas iranianos.


== Possíveis ramificações ==
== Possíveis ramificações ==

Revisão das 00h33min de 18 de março de 2014

 Nota: Para outros significados, veja Ciméria.

Os cimérios (em grego: Κιμμέριοι, Kimmerioi) foram um antigo povo indo-europeu que viveu ao norte do Cáucaso e do mar de Azov por volta de 1300 a.C.,[1] até que foram expulsos para o sul, pelos citas, chegando à Anatólia por volta do século VIII a.C. Linguisticamente costumam ser classificados como iranianos, ou, possivelmente, trácios governados por uma classe dominante iraniana.

Após seu êxodo das estepes pônticas, os cimérios provavelmente saquearam Urartu, por volta de 714 a.C., porém em 705 a.C., após serem repelidos por Sargão II da Assíria, rumaram para a Anatólia, onde, entre 696 e 695, conquistaram a Frígia. Em 652 a.C., após conquistar Sárdis, capital da Lídia, onde atingiram o ápice de seu poder. Seguiu-se então um período de rápido declínio, até sua derrota final, entre 637 e 626, quando foram derrotados pelo rei lídio Aliates. Deixam então de ser mencionados pelas fontes históricas, porém provavelmente a esta altura já teriam se fixado na Capadócia.[2]

História

Origem

A origem dos cimérios é incerta. Supostamente teriam algum tipo de parentesco com povos que falavam línguas iranianas ou trácias, ou que ao menos teriam sido governados por uma elite iraniana.[3][4]

De acordo com o historiador grego Heródoto, do século V a.C., os cimérios habitavam originalmente a região ao norte do Cáucaso e do Mar Negro, durante os séculos VIII e VII a.C., na atual Ucrânia e Rússia. A arqueóloga alemã Renate Rolle argumentou, no entanto, que ninguém ainda demonstrou com evidências arqueológicas a presença dos cimériocs nas partes meridionais da Rússia.[5]

Embora o artigo de 2006 da Encyclopædia Britannica corrobore Heródoto - ainda que afirmando que "[os cimérios] provavelmente habitavam a região ao norte do Mar Negro, porém as tentativas de se definir sua terra de origem de maneira mais precisa, através de métodos arqueológicos, ou de até mesmo se fixar com precisão a data de sua expulsão daquela região pelos citas, ainda não foram totalmente bem-sucedidas"[3] - estudos acadêmicos recentes utilizaram-se de documentos que datam de séculos antes de Heródoto, tais como relatórios feitos a Sargão, para apontar que estas obras situavam os cimérios a sul, e não a norte do Mar Negro.[6][7]

Acadêmicos dos séculos XIX e XX também se basearam nos relatos de Heródoto, porém as descobertas de Sir Henry Layard nos arquivos reais de Nínive e Calá permitiram o estudo de ainda mais material anterior (em muitos séculos) à obra do historiador grego.[8] O registro arqueológico assírio aponta que os cimérios, e a terra de Gamir, localizavam-se a pouca distância de Urartu (um reino da Idade do Ferro cujo epicentro era ao redor do lago Van, no Planalto Armênio), ao sul do Cáucaso.[6][7] Relatórios de inteligência militar de Sargão II do século VIII a.C. descrevem como os cimérios ocupavam territórios ao sul do Mar Negro.[9]

Primeira aparição histórica

Invasões cimérias da Cólquida, Urartu e Assíria (715–713 a.C.).

O primeiro registro histórico dos cimérios se dá nos anais assírios, no ano de 714 a.C.; eles descrevem como um povo denominado Gimirri ajudou as tropas de Sargão II a derrotar o reino de Urartu. Sua terra de origem, chamada no texto de Gamir ou Uishdish,[carece de fontes?] parece ter se localizado dentro do "estado tampão" de Manas (Mannai ou Mannae). O geógrafo grego Ptolemeu, escrevendo nos séculos I-II d.C., situou a cidade ciméria de Gomara nesta região. Após as conquistas da Cólquida e da Ibéria, ocorridas no primeiro milênio a.C., os cimérios também passaram a ser conhecidos como Gimirri no idioma georgiano. De acordo com historiadores da Geórgia,[10] os cimérios tiveram um papel de grande influência no desenvolvimento da cultura cólquica e ibérica. O palavra georgiana para "herói", გმირი, gmiri, vem do termo Gimirri, que se referia aos cimérios que habitaram a região após as primeiras conquistas.

Alguns autores modernos afirmam que entre os cimérios estavam mercenários, chamados pelos assírios de Khumri, que haviam sido despachados para aquela região por Sargão. Relatos gregos posteriores descrevem os cimérios tendo habitado anteriormente as estepes situadas entre os rios Tiras (Tyras, atual Dniester) e Tánais (atual Don). Fontes gregas e mesopotâmicas mencionam diversos reis cimérios, entre eles Tugdamme (Lygdamis, em grego; meados do século VII a.C.) e Sandakhshatra (final do século VII a.C.).

Um povo "mítico" também chamado de cimério é descrito nos livros XI e XIV da Odisseia, de Homero; eles habitariam além do Oceano, numa terra envolta em névoa e escuridão, na beira do mundo dos vivos, próximo à entrada do Hades. Provavelmente não tinham qualquer relação com os cimérios do Mar Negro.[11]

De acordo com as Histórias, de Heródoto (c. 440 a.C.), os cimérios teriam sido expulsos das estepes pelos citas. Para se asseguraram de que seriam sepultados em sua terra ancestral, os homens da família real ciméria se dividiam em grupos e combatiam até à morte. Já os cimérios das classes populares eram enterrados ao longo do rio Tiras, enquanto fugiam do avanço cita, cruzando o Cáucaso e chegando à Anatólia.[12]

Os assírios registraram as migrações dos cimérios, já que seu antigo rei, Sargão II, havia sido morto em combate contra eles em 705 a.C. Registros posteriores indicam que os cimérios teriam conquistado a Frígia entre 696 e 695 a.C., o que fez com que o rei frígio Midas preferisse o suicídio, ingerindo veneno, do que ser capturado por eles. Em 679 a.C., durante o reinado de Assaradão da Assíria, eles atacaram a Cilícia e Tabal, então comandados por seu novo rei, Teushpa. Assaradão teria derrotado-os nos arredores de Hubushna.[carece de fontes?]

Em 654 ou 652 a.C. – a data exata não é conhecida com exatidão – os cimérios teriam atacado o reino da Lídia, assassinando o rei lídio Giges, e destruindo a capital lídia de Sárdis. Dez anos mais tarde eles realizaram uma nova incursão na mesma cidade, durante o reinado do filho de Giges, Árdis II; desta vez conseguiram conquistar a cidade, com a exceção de sua cidadela. A queda de Sárdis representou um grande choque para as potências regionais da época; os poetas gregos Calino e Arquíloco registraram o temor que os cimérios inspiravam, à época, nas colônias gregas da Jônia, muitas das quais já haviam sido atacadas por saqueadores cimérios e treros.[carece de fontes?]

A ocupação cimérica da Lídia, no entanto, teve curta duração, provavelmente devido a alguma epidemia. Entre 637 e 626 a.C. foram derrotados por Aliates II da Lídia; esta derrota marcou, na prática, o fim do poder cimério. O termo Gimirri foi usado um século depois, na Inscrição de Behistun (c. 515 a.C.) como um equivalente babilônio dos sacas (citas) mencionados pelos persas. Com a exceção desta menção, os cimérios desaparecem por completo dos relatos históricos, e seu destino se torna desconhecido; especula-se que tenham se fixado na Capadócia, conhecida em armênio como Գամիրք, Gamir-kʿ (mesmo nome dado à terra natal dos cimérios em Manas).[carece de fontes?]

Possíveis descendentes

Heródoto acreditava que os cimérios e os trácios eram parentes próximos, e que ambos habitavam originalmente a costa setentrional do Mar Negro, de onde teriam sido expulsos por volta de 700 a.C. por invasores vindos do Oriente. Enquanto os cimérios teriam então partido de sua terra natal para o oeste e o sul, cruzando o Cáucaso, os trácios teriam migrado para o sudoeste, adentrando os Bálcãs, onde estabeleceram então uma cultura duradoura e bem-sucedida. Os tauros, habitantes originais da Crimeia, por vezes são identificados como tendo parentesco com os cimérios e, posteriormente, com os tauriscos.

Alguns historiadores pré-modernos afirmam que os cimérios seriam antepassados dos celtas ou dos povos germânicos, utilizando como argumento a semelhança do termo latino Cimmerii com cimbros (cimbri, antigo povo germânico) ou Cymry (nome do País de Gales em galês). É improvável, no entanto, que tanto o proto-celta quanto o proto-germânico tenham entrado na Europa Ocidental no final do século VII a.C.; a formação de ambos costuma estar associada às culturas Urnfield, da Idade do Bronze, e à Idade do Bronze nórdica, respectivamente. Não é inconcebível, no entanto, que migração "traco-ciméria" de pequena escala (em termos populacionais) ocorrida no século VIII possa ter desencadeado mudanças culturais que contribuíram para que a cultura Urnfield se transformasse na cultura Hallstatt C, trazendo consigo o advento da Idade do Ferro europeia. Posteriormente, estes grupos cimérios restantes poderiam ter se deslocado e atingido os países nórdicos e o rio Reno. Um exemplo seria justamente a tribo dos cimbros, cuja origem estaria na região de Himmerland (em dinamarquês antigo, Himber sysæl), no norte da Dinamarca.[13]

A etimologia de Cymro "galês" (plural: Cymry), associada aos cimérios por celtistas do século XVII, é tida pelos linguistas que estudam os idiomas celtas atualmente como um derivado do termo britônico *kom-brogos,[14][15][16][17] que significa "compatriotas", (ou seja, outros britões, ao contrário de outros habitantes das ilhas Britânicas, como os anglo-saxões).

Menções na mitologia de outros povos

Nas fontes surgidas a partir dos Anais Reais Frâncicos, os reis merovíngios dos francos tradicionalmente apontavam a origem de sua linhagem a uma tribo pré-frâncica conhecida como sicambros (Sicambri ou Sugambri, em latim), mitificadas como "cimérios" cuja origem seria a foz do Danúbio, mas que na realidade teriam vindo da região de Gelderland, nos atuais Países Baixos, cujo nome tem a mesma origem do rio Sieg.[18]

Outra associação possível entre os cimérios dos rios Tiras e Tánais e os países nórdicos e, possivelmente, os sicambros do baixo Reno, estaria no fato de que a rota oriental do âmbar era uma rota comercial que ligava o Mar Báltico e o Mar Negro, e através do qual diversas culturas foram difundidas. Esta rota já estaria em plena atividade por volta de 1800 a.C., e cruzava os rios Dnieper, Pripyat, Bug Ocidental e o Vístula. Também existem evidências arqueológicas no sul da Escandinávia de que uma cultura invasora estava chegando à costa do Mar Báltico por volta de 1200 a.C., aproximadamente o mesmo período do início da Idade do Bronze nórdica. Esta cultura recém-chegada teria abrangido um território que ia do estuário do Vístula até a Escânia, Zelândia, Fiônia e Himmerland, na Jutlândia do Norte e na Helgoland, um arco que contém os depósitos mais ricos de âmbar da Europa. Graças ao cartógrafo grego Pitéas, de Massília, que escreveu por volta de 330 a.C., este arco seria habitado por um povo conhecido como Gotones. Pitéas também menciona que estes Gotones eram vizinhos dos teutões (teutones) que habitavam as regiões das atuais Jutlândia do Sul e Holstein. Também sabe-se que Plínio, o Velho, escrevendo em 79 d.C., afirmou que a faixa de terra entre o estuário do Vístula e o Mar Negro era chamada de Cítia; é possível, logo, que tenha existido uma elite de cavaleiros cimérios que se apossou deste depósito de âmbar báltico entre 1200 e 1000 a.C., e que posteriormente teriam dado origem ou influenciado os Gotones, teutões e cimbros - bem como, posteriormente, os próprios sicambros. Outros indicadores apontam para o prefixo 'Cim', que poderia ser cognato do proto-indo-europeu *khim, a provável origem dos termos home, em inglês, e heim, no nórdico antigo ("lar", "casa"). A segunda parte da palavra, 'mer', poderia significar "mar", indicando possivelmente uma terra de origem nas proximidades do Mar Negro, ou "grande" (como no gótico 'Waldamar').

O nome bíblico "Gomer" também foi associado por algumas fontes aos cimérios.

Língua

Apenas alguns poucos nomes pessoais da língua cimércia sobreviveram, em inscrições assírias:

  • Sandaksatru, filho de Dugdamme. Esta seria uma leitura iraniana do nome, e, segundo o indo-europeísta austríaco Manfred Mayrhofer[20] o nome também poderia ser lido como Sandakurru. Mayrhofer também rejeita a interpretação de "com regência pura", alegando que ela seria uma mistura de iraniano e indo-ariano. Askol'd Igorevich Ivanchik sugere uma associação com a divindade anatólica Sanda. Já para Harmatta, o nome remontaria ao antigo iraniano Sanda-Kuru, "Filho Esplêndido".[4] Kur/Kuru ainda é usado no sentido de "filho" no idioma curdo, e, no persa, na forma modificada korr, para designar o filho do sexo masculino de uma égua.

Alguns estudiosos tentaram associar diversos topônimos com possíveis origens cimérias. Sugeriu-se, por exemplo, que o nome da Crimeia viria dos cimérios,[21] O nome, no entanto, remonta ao termo tártaro da Crimeia (turcomano) qırım ("minha estepe", "monte"), enquanto a península em si era conhecida na Antiguidade como Táurica, "península dos tauros". (Estrabão 7.4.1; Heródoto 4.99.3, Amiano Marcelino 22.8.32).

Com base nas antigas fontes históricas gregas, presume-se uma associação trácia[22][23] ou celta.[24] De acordo com o historiador alemão Carl Ferdinand Friedrich Lehmann-Haupt, o idioma dos cimérios poderia ser um "elo perdido" entre o trácio e os idiomas iranianos.

Possíveis ramificações

Acredita-se que há certo número de ramificações com origem nos cimérios. Os Trácios foram identificados como um possível ramo ocidental daquele povo. Se Heródoto estiver correto, ambos os povos originalmente habitaram a costa norte do Mar Negro, e ambos foram forçados a deixar a área ao mesmo tempo devido a invasores vindos do leste. Enquanto os cimérios haveriam abandonado sua pátria ancestral rumo ao leste e ao sul, através do Cáucaso, os trácios haveriam migrado ao oeste e ao sul através dos Bálcãs, onde estabeleceram uma cultura que floresceu, obtendo vida longa. Os Tauri, habitantes da Crimeia que antecederam os cimérios, são às vezes identificados como um povo relacionado aos trácios.

Apesar de os cimérios de que se têm conhecimento via registos históricos terem seu lugar na história por um curto período de tempo (século VII a.C.), diversos povos celtas e germânicos mantêm a tradição de serem descendentes dos cimérios ou dos citas, e alguns de seus nomes étnicos parecem corroborar a crença (p.ex. Cymru, Cwmry ou Cumbria, Cimbre). É pouco provável que o proto-celta ou o proto-germânico hajam alcançado a Europa tão tardiamente como o século VII a.C., uma vez que sua formação é comumente associada, respectivamente, à cultura dos Campos de Urnas da Idade do Bronze e à Idade do Bronze Nórdica. Todavia, é concebível que uma migração "traco-ciméria" de pequena escala (em termos populacionais) do século VIII a.C. possa ter resultado em mudanças culturais que contribuíram na transformação da cultura de Campos de Urna na cultura de Hallstatt, sendo introduzida durante a Idade do Ferro europeia.[carece de fontes?]

A etimologia de Cymru (termo galês para o País de Gales) e de Cwmry (Cumbria), que, de acordo com a tradição galesa[carece de fontes?], deriva diretamente de "cimérios", é considerada, por uma outra corrente, como provinda do celta kom-broges, que significa "compatriotas"[carece de fontes?]. No que diz respeito à tribo Cimbre, não se sabe ao certo se eram celtas, germânicos ou se algum outro povo, provindo dum grupo Indo-Europeu Ocidental anterior conectado aos Lígures. Além disso, os reis Merovíngios dos francos tradicionalmente traçavam sua linhagem, passando por uma tribo pré-franca chamada Sicambre, chegando, fundamentalmente, a um grupo de "cimérios" que viviam na boca do rio Danúbio.[carece de fontes?]

Se os citas realmente mantêm parentesco com os cimérios, como foi-se frequentemente exposto, muitos outros povos que reivindicam descendência cítica poderiam ser adicionados à lista.

A associação dos cimérios a uma das Tribos Perdidas de Israel também desempenhou certo papel no Israelismo Britânico.[carece de fontes?]

Ver também

Referências

  1. Gordon, Bruce. «Regnal Chronologies». Consultado em 8 de maio de 2013 
  2. «Cimmerian (people)». Encyclopedia Britannica. Consultado em 8 de setembro de 2012 
  3. a b "The origin of the Cimmerians is obscure. Linguistically they are usually regarded as Thracian or as Iranian, or at least to have had an Iranian ruling class." "Cimmerian", in Encyclopædia Britannica, 2006. Página visitada em 30-8-2006.
  4. a b c d J. Harmatta: "Scythians" UNESCO Collection of History of Humanity: Volume III: From the Seventh Century BC to the Seventh Century AD, Routledge/UNESCO. 1996, p. 182
  5. Rolle, Renate. "Urartu und die Reiternomaden", in: Saeculum 28, 1977, S. 291–339
  6. a b Cozzoli, Umberto (1968). I Cimmeri. Roma: Arti Grafiche Citta di Castello (Roma) 
  7. a b Salvini, Mirjo (1984). Tra lo Zagros e l'Urmia: richerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian iraniano. Roma: Ed. Dell'Ateneo (Roma) 
  8. Deller, K. "Ausgewählte neuassyrische Briefe betreffend Urarṭu zur Zeit Sargons II.," in P.E. Pecorella e M. Salvini (ed.), Tra lo Zagros e l'Urmia. Ricerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian Iraniano, Incunabula Graeca 78 (Roma, 1984) 97–122.
  9. Kristensen, Anne Katrine Gade (1988). Who were the Cimmerians, and where did they come from?: Sargon II, and the Cimmerians, and Rusa I. Copenhagen: Academia Real Dinamarquesa de Ciência e Letras 
  10. Berdzenishvili, N., Dondua V., Dumbadze, M., Melikishvili G., Meskhia, Sh., Ratiani, P., History of Georgia (Vol. 1), Tbilisi, 1958, p. 34–36
  11. Liddell, Henry e Scott, Robert. "Cimmerians" (Κιμμέριοι), Project Perseus, Universidade Tufts.
  12. Heródoto, Histórias, livro IV, seções 11–12.
  13. Jones, Gwyn. A History of the Vikings, Londres: Oxford University Press, 2001
  14. Geiriadur Prifysgol Cymru, vol. I, p. 770.
  15. Jones, J. Morris. Welsh Grammar: Historical and Comparative. Oxford: Clarendon Press, 1995.
  16. Russell, Paul. Introduction to the Celtic Languages. Londres: Longman, 1995.
  17. Delamarre, Xavier. Dictionnaire de la langue gauloise. Paris: Errance, 2001.
  18. Geary, Patrick J. Before France and Germany: The Creation and Transformation of the Merovingian World. Nova York: Oxford University Press, 1988
  19. Yamauchi, Edwin M. (1982). Foes from the Northern Frontier: Invading Hordes from the Russian Steppes. Grand Rapids: Baker Book House 
  20. Mayrhofer, Manfred. Sitzungsberichte der Heidelberger Akademie der Wissenschaften, Philosophisch-Historische Klasse (1981). ISBN 3533030261 978-3533030263.
  21. Asimov, Isaac (1991). Asimov's Chronology of the World. Nova York: HarperCollins. p. 50 
  22. Meljukova, A. I. (1979). Skifija i Frakijskij Mir. Moscou: [s.n.] 
  23. Estrabão identifica os treres com os trácios em determinada altura de sua obra (13.1.8), e com os cimérios em outra (14.1.40)
  24. Posidônio], em Estrabão (7.2.2).