Ordem dinástica

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Uma ordem dinástica, ordem monárquica ou ordem de casa é uma ordem sob patronagem da realeza, sendo concedida por um soberano - como legítimo fons honorum - ou o chefe de uma família outrora soberana. Estas são muitas vezes consideradas parte do patrimônio cultural de uma dinastia específica. Ordens dinásticas eram frequentemente fundadas e mantidas como forma de recompensar serviços prestados a um monarca ou à sua subsequente dinastia.

Agraciamento pessoal pelo soberano[editar | editar código-fonte]

As ordens dinásticas estão sob o controle exclusivo de um monarca e são concedidas sem o consentimento de terceiros (chefe ministerial, primeiro-ministro ou conselho).[1] Um relatório recente do Governo britânico mencionou que há "um exercício remanescente que foi identificado da prerrogativa verdadeiramente pessoal e executiva do Monarca: ou seja, a atribuição de certas honras que permanecem dentro de seu domínio (as Ordens de Mérito, da Jarreteira, do Cardo-selvagem e a Real Ordem Vitoriana)."[2]

Geralmente, ordens dinásticas são concedidas pelo monarca por qualquer motivo que este considere apropriado,[3] enquanto outras ordens - muitas vezes chamadas de ordens de mérito - são concedidas por recomendação de membros do governo em reconhecimento de realizações individuais ou serviços relevantes prestados à nação.[4]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ordens honoríficas de Portugal

O termo ordem dinástica também é aplicado àquelas ordens que continuam a ser concedidas por antigos monarcas e seus descendentes depois de terem sido depostos do poder. Por exemplo, Duarte Pio de Bragança, pretendente ao trono de Portugal com o título de Duque de Bragança, afirma que a Ordem da Imaculada Conceição de Vila Viçosa, "sendo uma ordem dinástica da Casa de Bragança e não uma ordem do Estado, continua a ser conferida pelo último Rei Dom Manuel II, em exílio."[5][6] Como reclamante do trono de Manuel II, Duarte Pio continua a conceder as honrarias do extinto Reino de Portugal que não foram reestruturadas pela República Portuguesa.[7][8]

Entretanto, o tema é abordado de forma diferente pelo governo português que considera todas as ordens honoríficas reais como extintas desde a Implantação da República em 5 de outubro de 1910, sendo algumas delas revividas em formato republicano em 1918.[8] Para efeitos oficiais, Portugal simplesmente ignora as ordens do pretendente real, Duarte Pio.[8] Embora não seja uma violação da lei portuguesa aceitar ordens e condecorações de Dom Duarte, um indivíduo necessita de permissão do governo para aceitar qualquer agraciamento nacional ou estrangeiro; as condecorações concedidas por Dom Duarte simplesmente não constam em nenhuma das listas oficiais.[9]

Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ordens honoríficas do Brasil

O Brasil possuí a famosa ordem dinástica Imperial Ordem de São Bento de Avis, atualmente concedida pelo Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orléans e Bragança.

Itália[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ordens honoríficas da Itália

Uma situação semelhante existe na Itália, onde o Governo republicano considera que as ordens dos antigos monarcas foram abolidas, mas o herdeiro do último rei continua a concedê-las. No entanto, a situação italiana é única, pois a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro é uma das poucas ordens de cavalaria que foi explicitamente reconhecida por uma bula papal, na qual o Papa Gregório XII deu à Casa de Saboia o direito de conferir essa cavalaria em perpetuidade.[10] Assim, sob os princípios do direito internacional, o herdeiro do trono italiano em exílio afirma que o controle das ordens dinásticas de Saboia é distinto das questões formais do Reino da Itália, de modo que ele mantém o direito de conceder as ordens e os privilégios que as acompanham.[11]

Ordens dinásticas atuais[editar | editar código-fonte]

Há atualmente muitas ordens dinásticas de cavalaria, principalmente na Europa. Atualmente, as ordens dinásticas incluem aquelas que ainda são concedidas por um monarca reinante, aquelas concedidas pelo chefe de uma casa real em exílio e aquelas que foram extintas. Embora eventualmente se afirme que os chefes das antigas casas reinantes mantêm o direito sobre as ordens dinásticas já existentes, essa visão é contestada por outros que acreditam que o poder de criar ordens permanece com uma dinastia para sempre.[12][13] Um exemplo disso é a Ordem de São Miguel da Ala, que às vezes é descrita como um renascimento de uma longa ordem obsoleta concedida pela última vez no século XVIII, mas também descrita como uma nova ordem criada em 2004.[14] Outro exemplo diz respeito à Ordem Real de Francisco I do Reino das Duas Sicílias. Um ramo da família (liderado por Carlos, Duque de Castro) afirma que a Ordem de Francisco I era pertencente à coroa e não ao Estado e, assim, a concede como uma ordem dinástica. O outro ramo (liderado por Carlos, Duque de Calábria) considera a Ordem de Francisco I como uma ordem estatal que se extinguiu quando da abolição da monarquia. Há ainda o exemplo da pretendente russa Maria Vladimirovna que publicou um decreto em 20 de agosto de 2010 criando a "Ordem Imperial Santa Grande Mártir Anastácia".[13]

Concedidas pela Santa Sé[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ordens honoríficas da Santa Sé

Embora algumas antigas famílias reais e seus apoiadores afirmem que a Igreja Católica Romana reconhece formalmente seu direito de conceder várias ordens honoríficas, a Santa Sé nega todas essas afirmações.[15] Em 16 de outubro de 2012, a Secretaria de Estado da Santa Sé renovou seu anúncio formal de que reconhece apenas as ordens emitidas pelo Papa, a saber:[15]

Ordem Fundador Fundação
Ordem Suprema de Cristo Papa João XXII 1319
Ordem da Espora de Ouro Papa Inocêncio VI 1357
Ordem de Pio IX Papa Pio IX 1847
Pontifícia Ordem Equestre de São Gregório Magno Papa Gregório XVI 1831
Ordem de São Silvestre Papa Papa Gregório XVI 1841

Ordens sob custódia papal[editar | editar código-fonte]

Ordem Fundador Fundação
Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém Godofredo de Bulhão 1103
Ordem Soberana e Militar Hospitalária de Malta Beato Gerard Tum 1136
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalém Papa Clemente III 1190

Ordens reconhecidas por bula papal[editar | editar código-fonte]

A Secretaria de Estado da Santa Sé adverte que "demais ordens, sejam de origem recente ou de fundação medieval, não são reconhecidas pela Santa Sé (...) para evitar a continuação de abusos que possam causar danos às pessoas de boa-fé, a Santa Sé confirma que não atribui absolutamente nenhum valor aos certificados de filiação ou insígnias emitidos por esses grupos, e considera inadequado o uso de igrejas ou capelas para suas chamadas 'cerimônias de investidura'".[15]

Reino Ordem Outorgante Fundação
Nome Insígnia Barreta
Itália Ordem dos Santos Maurício e Lázaro
Casa de Saboia
(Vítor Emanuel)
1572

Concedidas por soberanos[editar | editar código-fonte]

Reino Ordem Outorgante Fundação
Nome Insígnia Barreta
 Dinamarca Ordem do Elefante
Monarca
(Margarida II)
1693
Ordem do Dannebrog 1671
Espanha Espanha Ordem do Tosão de Ouro
Monarca
(Felipe VI)
1430
Jordânia Ordem de Al-Hussein bin Ali
Monarca
(Abdullah II)
1949
 Noruega Ordem de Santo Olavo
Monarca
(Olavo V)
1847
 Países Baixos Ordem do Leão de Ouro
da Casa de Nassau

Monarca
(Guilherme Alexandre)
1858
Ordem da Casa de Orange 1905
Reino Unido Reino Unido Ordem da Jarreteira
Monarca
(Carlos III)
1348
Ordem do Cardo-selvagem 1687
 Suécia Ordem do Serafim
Monarca
(Carlos XVI Gustavo)
1748

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Ordem (distinção)
  2. Imperial Ordem de São Bento de Avis
  3. https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/182896
  4. https://www.infoescola.com/curiosidades/ordem-nacional-do-cruzeiro-do-sul/
  1. Duren, Peter Bander van (1987). The cross on the sword : supplement to 'Orders of Knighthood, awards and the Holy See'. [S.l.]: Gerrards Cross: Van Duren. p. 2–17. ISBN 9780905715322 
  2. «Governance of Britain: Review of the Executive Royal Prerogative Powers: Final Report». Ministério da Justiça do Reino Unido. 15 de outubro de 2009. p. 6 
  3. «Royal Honours, Other Honours». Chancelaria das Ordens da Holanda 
  4. «Royal Honours, Civil Orders and the Civil Honours Advisory Commission». Chancelaria das Ordens da Holanda 
  5. «Conservatória dos Registos Centrais». Registo fraudulento de nacionalidade 
  6. Serafin, Thomas J. «Knighthood bestowed». Saints Alive 
  7. Rodrigues Lima, Carlos (1 de setembro de 2009). «Nuno da Câmara Pereira ganha batalha judicial a D. Duarte». Diário de Notícias 
  8. a b c {{Citar web|url=https://web.archive.org/web/20110121102718/http://ordens.presidencia.pt/pdf/regulamentoloohp.pdf%7Ctítulo=REGULAMENTO DAS ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS|publicado=Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, Presidência da República
  9. «Cidadãos Portugueses com Condecorações Estrangeiras, 1926-2007» (PDF). Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, Presidência da República. 2007 
  10. «Order of Saint Lazarus: Primary sources» (PDF). Universidade de Malta 
  11. «A Brief History of the Orders of Saint Maurice and Lazarus». AICODS 
  12. Trost, Ernst & Franz Goëss (1983). Das blieb vom Doppeladler: 04-Der Orden vom Goldenen Vlies. Viena: [s.n.] 
  13. a b «The Head of the House of Romanoff has established for women the Imperial Order of St. Anastasia in Honor of the First Tsaritsa of the Romanoff Family, Anastasia Romanovna». Casa Imperial Russa. 20 de agosto de 2010 
  14. «A Summary of the Use of the Royal Prerogative, Its Use by the Heirs to Former Thrones, and by Republican or Revolutionary Regimes». www.chivalricorders.org 
  15. a b c «Note of Clarification from the Secretariat of State». Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. 16 de outubro de 2012