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Prioritarismo

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Prioritarismo, ou a visão prioritária,[1] é uma perspectiva dentro da ética e filosofia política que afirma que "as ordenações de bem-estar social devem dar prioridade explícita aos mais desfavorecidos".[2] O prioritarismo assemelha-se ao utilitarismo, e é igualmente uma forma de consequencialismo agregativo.

O termo "prioritarismo" foi cunhado pelo filósofo moral Larry Temkin. Richard Arneson, um proponente da visão,[3] oferece a seguinte formulação:

O prioritarismo sustenta que o valor moral de alcançar um benefício para um indivíduo (ou evitar uma perda) é maior, quanto maior for o tamanho do benefício conforme medido por uma escala de bem-estar, e tanto maior, quanto menor for o nível de bem-estar da pessoa ao longo de sua vida, à parte do recebimento deste benefício.[4]

O prioritarismo é uma interpretação da justiça distributiva e é frequentemente contraposto ao igualitarismo.[5]

Distinção do utilitarismo[editar | editar código-fonte]

O prioritarismo é um portmanteau de "prioridade" e "utilitarismo".

Enquanto as formas comuns de utilitarismo veem as consequências de uma ação como tendo peso moral igual, independentemente da pessoa que experimenta essas consequências,[6] o prioritarismo dita que as consequências de uma ação devem ser ponderadas diferentemente dependendo de quão relativamente favorecido é o portador da consequência, ceteris paribus.[7] Sob esta perspectiva, a moralidade de uma determinada ação não depende apenas da maximização do “bem” produzido por suas consequências, mas sim da maximização do “bem” que considera a vantagem ou desvantagem relativa do indivíduo afetado. Efetivamente, os impactos sobre os mais desfavorecidos são ponderados mais intensamente no cálculo moral do que os impactos sobre os mais favorecidos.

O Prioritarianismo também pode ser compreendido como uma subteoria do utilitarismo, sob a interpretação de que o último representa simplesmente a maximização do “bem”, com um descuido não intencional para as diferenças na utilidade, dependendo das circunstâncias dos indivíduos afetados.

Comparação com teorias relacionadas[editar | editar código-fonte]

Os defensores do prioritarianismo argumentam que a ênfase do prioritarianismo na compaixão responde às críticas feitas ao utilitarismo, que alguns interpretam como um descaso pelas circunstâncias marginais e relativas.[8]

Também se diferencia das formas radicais de igualitarismo que valorizam apenas a igualdade em detrimento da maximização geral do bem. O Prioritarianismo não atribui nenhum valor intrínseco à igualdade de bem-estar entre indivíduos e não consideraria uma mudança em direção a uma distribuição mais igual de bem-estar como melhor se os menos favorecidos não se beneficiassem.[1]

Além de abordar críticas comuns ao utilitarismo e ao igualitarismo puro, o prioritarianismo também evita críticas ao princípio maximin.[9] O princípio maximin classifica os resultados exclusivamente de acordo com o bem-estar do membro mais desfavorecido de uma sociedade, potencialmente em detrimento do bem geral ou dos outros membros da sociedade.[10]

Ver mais[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Parfit, Derek (dezembro de 1997). «Equality and priority». Ratio. 10 (3): 202–221. doi:10.1111/1467-9329.00041 
  2. Brunori, Paolo (26 de janeiro de 2021). «Prioritarianism and Equality of Opportunity» (PDF). Wellbeing and Human Development Project Preprint and Discussion Paper Series. 1 páginas 
  3. Arneson, Richard (janeiro de 2000). «Luck Egalitarianism and Prioritarianism». Ethics. 110 (2): 339–349. doi:10.1086/233272 
  4. Arneson, Richard, "Egalitarianism", in Edward N. Zalta (ed.), The Stanford Encyclopedia of Philosophy (fall 2008 edition).
  5. Hirose, Iwao (2011), Brooks, Thom, ed., «Egalitarianism and Prioritarianism», ISBN 978-0-230-30588-5, London: Palgrave Macmillan UK, New Waves in Ethics (em inglês), pp. 88–107, doi:10.1057/9780230305885_6, consultado em 20 de abril de 2022 
  6. Driver, Julia (2014), «The History of Utilitarianism», in: Zalta, Edward N., The Stanford Encyclopedia of Philosophy Winter 2014 ed. , Metaphysics Research Lab, Stanford University, consultado em 18 de abril de 2022 
  7. Holtug, Nils (25 de janeiro de 2017). «Prioritarianism» (em inglês). Oxford Research Encyclopedia of Politics. ISBN 978-0-19-022863-7. doi:10.1093/acrefore/9780190228637.013.232 
  8. Crisp, Roger (julho de 2003). «Equality, Priority, and Compassion». Ethics. 113 (4): 145–63. doi:10.1086/373954 
  9. A Theory of Justice. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press of Harvard University Press, 1971.
  10. Harsanyi, J. C. (junho de 1975). «Can the Maximin Principle Serve as a Basis for Morality? A Critique of John Rawls's Theory». American Political Science Review. 69 (2): 594–606. JSTOR 1959090. doi:10.2307/1959090