Sagu (sobremesa)
Sagu de vinho com creme e canela, uma sobremesa comum em restaurantes no sul do Brasil. | |
Categoria | Sobremesa |
Tipo | Sobremesa |
País | Brasil |
Região | Sul |
Ingrediente(s) principal(is) |
Vinho, suco ou leite; fécula de mandioca; açúcar e especiarias. |
Receitas: Sagu Multimédia: Sagu |
O sagu é uma sobremesa originária da Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, sendo bastante popular em toda a região Sul do país. Ela é feita com bolinhas de fécula de mandioca cozidas, sendo muito comum o uso do vinho tinto. Também pode ser usado leite ou diferentes sucos no cozimento. Simples no preparo e barato, o sagu é comum em restaurantes na região, geralmente acompanhado por um suave creme de baunilha (ou merengue).[1]
História
[editar | editar código-fonte]Sagu (do malaio sago ou sagu) refere-se originalmente ao amido extraído das palmeiras de sagu (saguzeiros),[2][3] que tem sido usado na produção das bolinhas (pérolas) de sagu, na culinária do Sudeste Asiático.[4][5] Depois de a mandioca (nativa da América do Sul) ter sido introduzida nessa região da Ásia durante o período colonial, seu amido tornou-se uma alternativa nesse local para a produção das bolinhas de sagu, com o nome "sagu" passando a ser usado tanto para referir-se às bolinhas extraídas do amido dos saguzeiros quanto às bolinhas produzidas com o amido da mandioca (tapioca) ou com fécula de batata, na culinária europeia.[6][7][8][9] A produção das pérolas de mandioca foi introduzida no Brasil após a chegada de imigrantes europeus (especificamente alemães e italianos do norte), ficando conhecidas como sagu, apesar de serem feitas de mandioca, e não dos saguzeiros asiáticos.[4]
As populações indígenas do Brasil já picavam e cozinhavam a mandioca para alimentação.[10]
Após a transferência da corte portuguesa para o Brasil, a farinha de mandioca começou a ser preparada com vinho do porto, formando um mingau doce, uma espécie de antepassado do sagu[11]. No início do século XX, algumas empresas no Sul do Brasil de descendentes europeus começaram a industrializar a fécula de mandioca como uma alternativa a produtos típicos da Europa, como a fécula de batata. Nas décadas de 40, 50 e 60, empresas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul se estabeleceram como produtoras da fécula em bolinhas usada no sagu.[12] Inclusive, algumas receitas tradicionais alemãs que usavam a fécula de batata como o Rote Grütze, "mingau vermelho", se assemelham em muito com o sagu por serem uma mistura de amido com frutas vermelhas.[13]
Apesar de essa receita não ter chegado ao Brasil com os imigrantes europeus, ela é um símbolo da imigração europeia, pois foi criada por esses imigrantes no sul do país, representando principalmente a imigração italiana, pelos sabores e ingredientes, e a alemã, pela tecnologia industrial. A mandioca é um ingrediente típico da cultura indígena e foi absorvido pelas tradições dos povos que vinham para o país, misturando-se bem com o vinho tradicional italiano.[12] No Paraná a sobremesa também foi difundida entre as colônias italianas e alemãs, principalmente na região de Curitiba.[14][15]
Há variações no preparo da receita de acordo com as diferenças culturais entre as diferentes ascendências. Nas famílias de origem alemã, por exemplo, o sagu pode ser feito com leite ou suco de frutas, como laranja ou abacaxi, porém sendo essas variações bastante raras. Já nas famílias de descendentes de italianos, é comum o sagu ser preparado apenas com do tradicional vinho tinto, sendo essa a variante mais comum e preparada em todo o estado do Rio Grande do Sul. A Região Sul do Brasil é o único local do país onde a receita é popular, sendo ela praticamente desconhecida em outros estados brasileiros e nos países vizinhos (como Argentina e Uruguai).[13]
Sabor e características
[editar | editar código-fonte]Essa sobremesa é menos doce e, por isso, costuma ser mais apreciada por adultos do que por crianças. Na região Sul, há uma preferência por sobremesas menos doces[16], o que pode explicar sua popularidade na região.
A pesquisadora Rosana Peccini descreve o sagu como um "caviar doce, cheio de bolinhas púrpuras, monocromático, de sabor intenso, porém delicado, com gosto firme e bem definido". Ela ressalta que a receita não possui complexidades e é fácil entender do que é feita ao ser saboreada.[12] Seu aroma também é inconfundível e costuma remeter imediatamente ao ingrediente utilizado, seja o vinho, o suco de uva, o leite ou outra variação.
Preparo
[editar | editar código-fonte]A mandioca é limpa, ralada e recebe água, formando uma goma úmida. Depois é passada em uma peneira de tecido grosso com movimento de vaivém em círculos com as mãos, transformando-se em bolinhas que são aquecidas e depois resfriadas. Tais bolinhas ficam duras e opacas, tornando-se moles e transparentes com o cozimento.
O vinho, suco ou leite é fervido e então é adicionado água e especiarias como cravo e canela. O mais comum é usar vinho tinto, mas também é possível usar variações como o vinho do porto. Ao voltar a fervura, acrescenta-se o sagu, mexendo constantemente para não grudar no fundo da panela. É adicionado o açúcar e se deve continuar mexendo até dissolver e o sagu chegar ao ponto. Ao esfriar naturalmente, o sagu continua cozinhando. Portanto, para um sagu mais al dente, pode ser adicionado mais suco de uva para cortar o cozimento.
É possível servi-lo quente ou frio, e também é comum acrescentar creme de baunilha ou creme inglês.
Informação nutricional
[editar | editar código-fonte]Por ser puramente amido, o sagu é bastante calórico, sendo um carboidrato complexo, ótima fonte de energia. Também possui bastante fibra alimentar ajudando na digestão. Possui ferro e cálcio e também proteínas em menor quantidade.[17]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Sagu de vinho: história e receita». Coisas da Léia. 12 de julho de 2017. Consultado em 2 de março de 2019
- ↑ «A Origem do Sagu». Memória Rondonense. Consultado em 30 de janeiro de 2023
- ↑ «SAGU». Empório Boa Terra. Consultado em 30 de janeiro de 2023
- ↑ a b «Curiosidades sobre o Sagu com Creme». Galeto di Paolo. Consultado em 24 de julho de 2019
- ↑ Whitney, William Dwight (1897). The Century Dictionary and Cyclopedia: Dictionary. VI. [S.l.]: Century Company
- ↑ Caballero, Benjamin; Finglas, Paul M.; Toldrá, Fidel (2015). Encyclopedia of Food and Health. [S.l.]: Academic Press. p. 690. ISBN 9780123849533
- ↑ Goldstein, Darra (2015). The Oxford Companion to Sugar and Sweets. [S.l.]: Oxford University Press. p. 728. ISBN 9780199313396
- ↑ Small, Ernest (2009). Top 100 Food Plants. [S.l.]: NRC Research. p. 142-143. ISBN 9780660198583
- ↑ Fageria, Nand Kumar (2012). The Role of Plant Roots in Crop Production. [S.l.]: CRC Press. p. 352. ISBN 9781439867389
- ↑ «História do sagu». Agência de Turismo de Gramado. 16 de fevereiro de 2017. Consultado em 26 de julho de 2019
- ↑ «História do Sagu». Consultado em 2 de março de 2019
- ↑ a b c Peccini, Rosana. «Sagu de Vinho Tinto» (PDF). História da Alimentação UFPR. Consultado em 2 de março de 2019
- ↑ a b Simon, Everton Luiz (2014). «Culinária regional : história, saberes e identidade regional no Vale do Rio Pardo/RS - Brasil.»
- ↑ «Sagu: do tradicional ao inusitado, 3 receitas imperdíveis». Bom Gourmet. 7 de setembro de 2022. Consultado em 17 de abril de 2024
- ↑ «O melhor de Curitiba: pinhão, quentão, sagu de vinho, cuque de uva e pierogue!». Divas de Curitiba. 29 de maio de 2014. Consultado em 17 de abril de 2024
- ↑ Freire, Gilberto (1997). Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras
- ↑ «Saúde: Os benefícios do delicioso sagu de mandioca». Tudo Por Email. 21 de março de 2017. Consultado em 2 de março de 2019