Usuário:Hume42/Testes/5

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Hume42/Testes/5
Filosofia contemporânea
Hume42/Testes/5
Nietzsche em 1875.
Escola/Tradição: Filosofia continental, Nietzscheanismo
Data de nascimento: 15 de outubro de 1844
Local: Röcken, Saxônia,
Reino da Prússia
Morte 25 de agosto de 1900 (55 anos)
Local: Weimar, Saxônia
Principais interesses: Epistemologia, Ética, Ontologia, Filosofia da história, Psicologia
Religião Ateísmo
Ideias notáveis Morte de Deus, Vontade de Poder, Eterno retorno, Super-Homem, Perspectivismo, Apolíneo e Dionisíaco
Trabalhos notáveis Assim Falou Zaratustra
Influências: Heráclito, Epicuro, Platão, Montaigne,Dostoiévski, Spinoza, Kant, Goethe, Schiller, Stirner, Schopenhauer, Heine, Emerson, Poe, Wagner
Influenciados:
Alma mater Universidade de Bonn
Universidade de Leipzig
Assinatura:

Friedrich Wilhelm Nietzsche (15 de outubro de 184425 de agosto de 1900) foi um filósofo alemão, crítico cultural, compositor, poeta, escritor e filólogo cujo legado do seu trabalho teve grande impacto na história intelectual moderna. Ele começou sua carreira como um filólogo clássico antes de se voltar para a filosofia. Nietzsche se tornou a pessoa mais nova a ocupar uma cadeira de professor de filologia clássica na Universidade de Basileia, em 1869, aos 24 anos. Ele abandonou a posição em 1879 por causa de problemas de saúde que o perseguiram, na maior parte de sua vida, tendo escrito os fundamentos de suas ideias na década seguinte. Em 1889, aos 45 anos, ele sofreu um colapso mental e, após este episódio, perdeu as capacidades facultativas. Ele viveu seus anos finais aos cuidados da sua mãe e, após a morte dela, aos de sua irmã Elisabeth Förster-Nietzsche. Nietzsche morreu em 1900.

A obra de Nietzsche abrange filosofias polêmicas, poesia, crítica cultural e ficção, ao mesmo tempo em que demonstra um gosto pelo aforismo e pela ironia. Elementos proeminentes da sua filosofia incluem a sua crítica radical da verdade em favor do perspectivismo; uma crítica genealógica da religião e da moral cristã e a teoria da moralidade senhor-escravo; a afirmação estética da vida em resposta tanto à "morte de Deus" como à profunda crise do niilismo; a noção de forças apolônicas e dionisíacas; e uma caracterização do sujeito humano como o além-homem ( übermensch, em alemão) e a sua doutrina do eterno retorno. No seu trabalho posterior, tornou-se cada vez mais preocupado com os poderes criativos do indivíduo para superar os costumes culturais e morais na busca de novos valores. O conjunto de seu trabalho abrange uma vasta gama de tópicos, incluindo arte, filologia, história, música, religião, tragédia, cultura e ciência, e inspirou-se na tragédia grega, assim como em figuras tais quais Zoroastro, Arthur Schopenhauer, Ralph Waldo Emerson, Richard Wagner e Johann Wolfgang von Goethe.

Após a sua morte, a sua irmã Elisabeth tornou-se a curadora e editora dos manuscritos de Nietzsche. Ela editou os seus escritos não publicados para se adequar à sua ideologia ultranacionalista alemã, ao mesmo tempo em que contradizia ou ofuscava frequentemente as opiniões declaradas de Nietzsche, que se opunham explicitamente ao antisemitismo e ao nacionalismo. Através das edições publicadas pela sua irmã, a obra de Nietzsche tornou-se associada ao fascismo e ao nazismo. Estudiosos do século XX como Walter Kaufmann, R.J. Hollingdale e Georges Bataille defenderam Nietzsche contra esta interpretação, e as edições corrigidas dos seus escritos foram rapidamente disponibilizadas. O pensamento de Nietzsche gozou de uma popularidade renovada na década de 1960 e as suas ideias tiveram, desde então, um impacto profundo nos pensadores do século XX e início do século XXI em toda a filosofia - especialmente nas escolas de filosofia continental como o existencialismo, pós-modernismo e pós-estruturalismo - bem como na arte, literatura, poesia, política e na cultura popular.

Vida[editar | editar código-fonte]

Juventude (1844–1868)[editar | editar código-fonte]

Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 e cresceu na cidade de Röcken (agora parte do município de Lützen), perto de Leipzig, na província prussiana da Saxônia. Recebeu o nome do rei Friedrich Wilhelm IV da Prússia, que fez 49 anos no dia do nascimento de Nietzsche (Nietzsche abandonou mais tarde o seu nome do meio Wilhelm).[1] O pai de Nietzsche, Carl Ludwig Nietzsche (1813-1849), era um pastor luterano e professor, e a mãe era Franziska Nietzsche (nome de solteira Oehler) (1826-1897). Eles se casaram em 1843, um ano antes do nascimento do seu filho. Tiveram outros dois filhos: uma filha, Elisabeth Förster-Nietzsche, nascida em 1846, e um segundo filho, Ludwig Joseph, nascido em 1848. O pai de Nietzsche morreu de uma doença cerebral em 1849; Ludwig Joseph morreu seis meses depois, aos dois anos de idade.[2] A família mudou-se, então, para Naumburg, onde viveram com a avó materna de Nietzsche e as duas irmãs solteiras do lado paterno. Após a morte da avó de Nietzsche, em 1856, a família mudou-se para a sua própria casa, agora chamada Nietzsche-Haus, um museu e centro de estudos sobre Nietzsche.

Nietzsche em sua juventude, 1861.

Nietzsche frequentou uma escola para rapazes e depois uma escola privada, onde se tornou amigo de dois colegas chamados Gustav Krug e Wilhelm Pinder, sendo todos os três, incluindo Nietzsche, oriundos de famílias altamente respeitadas. O histórico escolar de uma das instiuições frequentadas por Nietzsche mostram que ele se distinguia nas aulas de teologia cristã.[3]

Em 1854, começou a frequentar o Domgymnasium em Naumburg. Como o seu pai tinha trabalhado para o Estado (como pastor), foi-lhe oferecida uma bolsa de estudo para estudar no internacionalmente reconhecido Schulpforta (a alegação de que Nietzsche foi admitido na instituição graças à sua competência escolar foi descartada: as suas notas não estavam entre as melhores de sua classe).[4] Estudou lá entre 1858 e 1864, tornando-se amigo de Paul Deussen e Carl von Gersdorff. Ele também encontrou tempo para trabalhar em poemas e composições musicais. Nietzsche liderou "Germania", um clube de música e literatura, durante os seus verões em Naumburg.[2] Em Schulpforta, Nietzsche estudou e aprendeu vários idiomas - grego, latim, hebraico e francês - para assim poder ler textos originais importantes.[5] Em Schulpforta também experenciou, pela primeira vez, estar afastado da sua vida familiar, num ambiente conservador. Os seus exames de fim de semestre, em março de 1864, mostram as notas: 1 em Religião e Alemão, 2a em Grego e Latim, 2b em Francês, História e Física e um 3 "sem brilho" em Hebraico e Matemática.[6]

Nietzsche era um compositor amador.[7] Ele compôs várias obras de piano, violino e de canto, começando a partir de 1858, no Schulpforta, em Naumburg, quando iniciou a trabalhar em composições musicais. Richard Wagner desdenhava da música de Nietzsche, pois, supostamente, zombou de uma composição de piano feita por Nietzsche para o aniversário da esposa de Wagner, Cosima, em 1871. O maestro e pianista alemão Hans von Bülow também descreveu outra das peças de Nietzsche como "o rascunho mais indelicado e mais antimusical em uma composição que enfrentei por muito tempo".[8]

Jovem Nietzsche.
Arthur Schopenhauer influenciou profundamente as ideias filosóficas de Nietzsche.

Enquanto esteve em Schulpforta, Nietzsche foi atrás de assuntos que eram considerados impróprios. Conheceu o trabalho do então quase desconhecido poeta Friedrich Hölderlin, chamando-o "o meu poeta favorito" e escreveu um ensaio no qual dizia que o poeta elevava a sua consciência para "a mais sublime idealidade".[9] O professor que corrigiu o ensaio de Nietzsche sobre Hölderlin deu-lhe uma boa nota, mas comentou que Nietzsche deveria preocupar-se,no futuro, com escritores mais lúcidos e mais "alemães". Além disso, conheceu Ernst Ortlepp, um poeta excêntrico, blasfemo e, muitas vezes, embrigado, que foi encontrado morto numa vala, semanas depois de conhecer o jovem Nietzsche, mas que pode ter sido quem o introduziu à música e escrita de Richard Wagner.[10] Talvez sob a influência de Ortlepp, Nietzsche e um aluno chamado Richter voltaram à escola bêbados e encontraram um professor, o que resultou na despromoção de Nietzsche entre os alunos de sua classe.[11]

Após a graduação, em setembro de 1864, Nietzsche começou a estudar teologia e filologia clássica na Universidade de Bonn, na esperança de se tornar ministro. Durante um período curto, ele e Deussen tornaram-se membros da Burschenschaft. Após um semestre (e para ira de sua mãe), ele interrompeu os seus estudos teológicos e perdeu a sua fé.[12] Já no seu ensaio "Destino e História", de 1862, Nietzsche tinha argumentado que a investigação histórica tinha desacreditado os ensinamentos centrais do cristianismo,[13] mas a obra Vida de Jesus, de David Strauss, também parece ter tido um efeito profundo sobre o jovem Nietzsche.[12] Além disso, o livro A Essência do Cristianismo, de Ludwig Feuerbach, igualmente influenciou Nietzsche com o seu argumento de que o homem criou Deus, e não o contrário.[14]

Nietzsche concentrou-se, posteriormente, no estudo da filologia sob a direcção do professor Friedrich Wilhelm Ritschl, para, então, ingressar na Universidade de Leipzig, em 1865.[15] Lá, tornou-se amigo íntimo do seu colega Erwin Rohde. As primeiras publicações filológicas de Nietzsche apareceram pouco depois.

Em 1865, Nietzsche estudou a fundo as obras de Arthur Schopenhauer. Ele começou o despertar seu interesse filosófico ao ler O Mundo como Vontade e Representação, de Schopenhauer, e, mais tarde admitiu que ele era um dos poucos pensadores que respeitavam, dedicando-lhe o ensaio "Schopenhauer como Educador", em Considerações Extemporâneas.

Em 1866, leu a História do Materialismo, de Friedrich Albert Lange. As descrições de Lange sobre a filosofia anti-materialista de Kant, a ascensão do materialismo europeu, a crescente preocupação da Europa com a ciência, a teoria da evolução de Charles Darwin e a rebeldia geral contra a tradição e a autoridade intrigaram muito Nietzsche. Ele acabaria por argumentar a impossibilidade de uma explicação evolutiva do senso estético humano.[16]

Em 1867, Nietzsche inscreveu-se para um ano de serviço voluntário militar na divisão de artilharia prussiana, em Naumburg. Ele foi considerado como um dos melhores cavaleiros entre os seus companheiros de recruta, e os seus oficiais previram que, em breve, atingiria a patente de capitão. Contudo, em março de 1868, enquanto montava em seu cavalo, Nietzsche sofreu um acidente e lesionou dois músculos do seu lado esquerdo, deixando-o incapaz de andar durante meses.[17] Consequentemente, voltou a sua atenção para os seus estudos, completando-os em 1868. Nietzsche também conheceu Richard Wagner pela primeira vez, posteriormente, nesse ano.

Professor na Universidade de Basileia (1869–1878)[editar | editar código-fonte]

Em 1869, com o apoio de Ritschl, Nietzsche recebeu uma oferta para se tornar professor de filologia clássica na Universidade de Basileia, na Suíça. Tinha apenas 24 anos de idade e não tinha completado o seu doutorado, nem recebido um certificado de ensino ("habilitação"). Foi-lhe concedido um doutorado honoris causa pela Universidade de Leipzig, em março de 1869, mais uma vez com o apoio de Ritschl.[18]

Apesar da sua oferta ter chegado em um momento em que estava considerarando abandonar a filologia pela ciência, Nietzsche aceitou.[19] Até hoje, Nietzsche continua a figurar entre os mais jovens dos professores clássicos de que há registro.[20]

A tese de doutorado esboçada por Nietzsche, em 1870, "Contribuição para o Estudo e a Crítica das Fontes de Diógenes Laércio" ("Beiträge zur Quellenkunde und Kritik des Laertius Diogenes"), examinou as origens das ideias de Diógenes Laércio.[21] Apesar de nunca ter sido apresentada, foi posteriormente publicada como uma felicitação na Basileia.

Antes de se mudar para a Basileia, Nietzsche renunciou à sua cidadania prussiana. Para o resto da sua vida, permaneceu oficialmente apátrida.[22]

Apesar disso, Nietzsche serviu nas forças prussianas durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) como auxiliar médico. No seu curto tempo no exército, ele testemunhou os efeitos traumáticos da guerra. Também contraiu difteria e disenteria.[23] Walter Kaufmann especula que também poderia ter contraído sífilis num bordel, juntamente com outras infecções neste período.[24][25] Ao regressar à Basileia, em 1870, como apátrida, Nietzsche observou, com ceticismo, a consolidação do Império Alemão e as subsequentes políticas de Otto von Bismarck. A sua aula inaugural na universidade foi sobre "Homero e Filologia Clássica". Nietzsche também conheceu Franz Overbeck, um professor de teologia que permaneceu seu amigo durante toda a sua vida. Acabou por conhecer também Afrikan Spir, um filósofo russo pouco conhecido responsável pela obra Pensamento e Realidade ,de 1873, que foi colega de Nietzsche, além do famoso historiador Jacob Burckhardt, cujas aulas Nietzsche assistiu assiduamente e que começaram a exercer uma influência significativa sobre ele.[26]

Nietzsche já tinha conhecido Richard Wagner em Leipzig, em 1868, e, mais tarde a mulher dele, Cosima. Nietzsche os admirava muito e, durante o seu tempo na Basileia, visitou frequentemente a casa de Wagner em Tribschen, em Lucerna. Os Wagners introduziram Nietzsche ao seus amigos mais íntimos - incluindo Franz Liszt.[27] Em 1870, Nietzsche deu à Cosima Wagner o manuscrito de O Gênesis da Ideia Trágica como presente de aniversário. Em 1872, Nietzsche publicou o seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia. No entanto, os seus colegas de seu campo, incluindo Ritschl, expressaram pouco entusiasmo pelo trabalho de Nietzsche, pois ele deixou de lado o método filológico clássico em favor de uma abordagem mais especulativa. Na sua obra polêmica Filologia do Futuro, Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff criticou o trabalho de Nietzsche. Em resposta, Rohde (então professor em Quiel) e Wagner vieram em defesa de Nietzsche. Nietzsche comentou abertamente o isolamento que sentiu na comunidade filológica e tentou, sem sucesso, transferir-se para ser professor em filosofia na Basileia.

Referências

  1. Kaufmann 1974, p. 22.
  2. a b Wicks, Robert (2014). Zalta, Edward N., ed. Friedrich Nietzsche Winter 2014 ed. [S.l.: s.n.] 
  3. «Friedrich Nietzsche». Human, All Too Human. BBC Documentary. 1999. Consultado em 16 de outubro de 2019 – via Columbia College 
  4. Brobjer, Thomas H. (2008). «Why Did Nietzsche Receive a Scholarship to Study at Schulpforta?». Nietzsche-Studien. 30: 322–27 
  5. Krell, David Farrell; Bates, Donald L. (1997). The Good European: Nietzsche's work sites in word and image. [S.l.]: University of Chicago Press 
  6. Cate 2005, p. 37.
  7. Hollingdale, R. J. (2001). «Nietzsche, Friedrich». Grove Music Online. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-1-56159-263-0. doi:10.1093/gmo/9781561592630.article.19943 
  8. «Who knew? Friedrich Nietzsche was also a pretty decent classical composer». Classic FM 
  9. Hayman 1980, p. 42.
  10. Kohler, Joachim (1998). Nietzsche & Wagner: A Lesson in Subjugation. [S.l.]: Yale University Press. 17 páginas 
  11. Hollingdale 1999, p. 21.
  12. a b Schaberg, William (1996). The Nietzsche Canon. [S.l.]: University of Chicago Press. p. 32 
  13. Salaquarda, Jörg (1996). «Nietzsche and the Judaeo-Christian tradition». The Cambridge Companion to Nietzsche. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 99 
  14. Higgins, Kathleen (2000). What Nietzsche Really Said. New York: Random House. p. 86 
  15. Magnus 1999.
  16. Pence, Charles H. (2011). «Nietzsche's aesthetic critique of Darwin». History and Philosophy of the Life Sciences. 33 (2): 165–90. PMID 22288334 
  17. Hayman 1980, p. 93.
  18. Jensen & Heit 2014, p. 129.
  19. Kaufmann 1974, p. 25.
  20. Bishop, Paul (2004). Nietzsche and Antiquity. [S.l.: s.n.] p. 117 
  21. Jensen & Heit 2014, p. 115.
  22. Hecker, Hellmuth (1987). «Nietzsches Staatsangehörigkeit als Rechtsfrage.». Neue Juristische Wochenschrift (em alemão). 40 (23): 1388–1391 
  23. Deussen, Paul (1901). Erinnerungen a Friedrich Nietzsche [Memoirs of Friedrich Nietzsche] (em alemão). Leipzig: F.A. Brockhaus 
  24. Sax, Leonard (2003). «What was the cause of Nietzsche's dementia?». Journal of Medical Biography. 11 (1): 47–54. PMID 12522502. doi:10.1177/096777200301100113 
  25. Schain, Richard (2001). The Legend of Nietzsche's Syphilis. Westwood: Greenwood Press 
  26. Green, M. S. (2002). Nietzsche and the Transcendental Tradition. [S.l.]: University of Illinois Press 
  27. Hughes, Rupert. [1903] 2004. "Franz Liszt." Ch. 1 in [http://www.gutenberg.org/files/11419/11419-h/11419-h.htm#img2