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Maria Quitéria de Jesus Medeiros
Marcela Schiavon/Testes
Detalhe do retrato póstumo de Maria Quitéria (Domenico Failutti, c. 1920)
Nascimento 27 de julho de 1792
Feira de Santana, Brasil Colônia Reino do Brasil
Morte 21 de agosto de 1853 (61 anos)
Salvador, Império do Brasil Império do Brasil
Nacionalidade  Brasileira
Ocupação militar

Maria Quitéria de Jesus Medeiros (Feira de Santana, 27 de julho de 1792Salvador, 21 de agosto de 1853) foi uma militar brasileira, heroína da Guerra da Independência. Foi a primeira mulher a ser reconhecida por assentar praça numa unidade militar das Forças Armadas Brasileiras e a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil, em 1823.[1][2][3]

Foi promovida ao posto de cadete na Bahia, sendo depois condecorada, por seus atos de bravura em combate (no ano de 1823), com a Imperial Ordem do Cruzeiro, pelo Imperador D. Pedro I, e reformada com o soldo de Alferes (ou seja, 2ª tenente).[4]

Segundo a Enciclopédia Barsa, a mais antiga história da qual há registros, no Brasil, é a da brasileira Maria Quitéria de Jesus Medeiros.[4]

Em 1996 o Estado brasileiro atribuiu-lhe o título de patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro,[5] e seus feitos são recorrentemente comparados ao da mártir francesa Joana d'Arc.[6]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Infância e juventude[editar | editar código-fonte]

Estátua Maria Quitéria na Bahia.

São José das Itapororocas[editar | editar código-fonte]

O pai de Maria Quitéria tinha cerca de 25 anos quando ela nasceu. Era um homem disposto, maduro, não muito alto, forte, simpático, com um bigode tipicamente lusitano em seu rosto. Tinha vindo de Portugal muito jovem, tentar fortuna na Colônia. Quando chegou, aportou em Salvador, à procura de emprego. Não o encontrando, foi para o interior de Bahia (Feira de Santana) e começou a trabalhar em uma estalagem. Filho de camponeses, gostava de agricultura, sabendo de boas oportunidades em fazendas nos arredores de São José das Itapororocas, decidiu ficar por lá.[7]

Guardada pela arquitetura da alta serra de granito, São José das Itapororocas era, no final do século XVIII, a terceira das Freguesias que delimitavam o território da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, até então o mais importante centro comercial do Recôncavo baiano.[7] Com mais de 30 léguas, abrangendo várias capelas, como Santo Antônio do Tanquinho, Olho d'Água da Feira, Santa Bárbara, entre outras.[8]

São José das Itaporocas era habitada, principalmente, por pequenos lavradores e alguns grandes proprietários de fazendas. Agregado a uma fazenda, o pai de Maria Quitéria, Gonçalves Alves de Almeida trabalhou na terra (plantando e cuidando do gado) e, assim, conheceu o dono de uma fazenda, denominada Licorizeiro, viúvo com uma filha. A filha do dono chamava-se Quitéria Maria de Jesus. Foi então que Gonçalo se apaixonou, pedindo a sua mão em casamento.[7]

Maria Quitéria de Jesus Medeiros nasceu no Sítio do Licurizeiro (cujo nome faz referência à Syagrus coronata), uma pequena propriedade no Arraial de São José das Itapororocas, na comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, atual município de Feira de Santana no estado da Bahia. A data mais aceita pelos pesquisadores para o seu nascimento é a de 1792. Foi a filha primogênita dos portugueses Gonçalo Alves de Almeida, lavrador, e Quitéria Maria de Jesus, ambos nascidos na colônia do Brasil.[9][7]

A primogênita trouxe aos pais estrema felicidade, modificando a solidão do casal do agreste.Quitéria tinha dois irmãos, Josefa e Luiz, Junto com seus pais, eles moravam em uma casa feita de taipa de pilão. Ao lado de sua casa, haviam casebres onde ficavam os escravos de seu pai Gonçalo.[7]

Enquanto o desejado progresso material, sonhado pelo jovem lavrador e sua mulher, vem surgindo, o lar vai ficando mais próspero com o nascimento de novos filhos: Josefa, que nasceu em 1974, e Luiz, 1976. Com dez anos de idade, Maria Quitéria foi batizada. Segundo o Livro de Batizados de São José das Itapororocas, no arquivo da Secretaria do Arcebispado, na Bahia (certidão de batismo de Maria Quitéria):[7]

Aos vinte e sete dias do mês de Julho de mil setecentos e noventa e oito, na Capela de S. Vicente, filial dessa Matriz de Licença minha, o Reverendíssimo Manoel José de Jesus Maria, filha legítima do Gonçalo Alvares de Almeida e de Quitéria Maria de Jesus. Foram padrinhos, Antonio Gonçalves de Barros e sua irmã Josefa Maria de Jesus, moradores na freguesia de Agoa Fria, nada mais destra do que tudo para constar fiz este assento que por verdade assino.

O sítio do Licozeiro, onde moravam ela, seus irmãos e seus pais, nem sempre ia bem. As secas que assolavam o Nordeste não eram diferentes por lá. Ao redor do local, há brutas caatingas, de matos espessos e garranchosos, com gado em sua volta. A terra ressecada dos Chapadões espetrais, cheios de buracos, em terra avermelhada, têm alguns córregos e riachos, até rios, secos. Quando o inverno caía, havia uma promessa de fartura e bem-estar, enchiam-se os rios, transbordavam os córregos, as árvores ficam cobertas de frutos, o gado se alimentava melhor, mas no verão tudo voltada a ser como antes, doloroso.[7]

Os pais[editar | editar código-fonte]

Gonçalo, pai de Maria Quitéria, cuidava do gado. Dona Quitéria, mãe de Maria Quitéria, cuidava dos afazeres da casa. Os irmãos de Quitéria, Luiz e Josefa, costumavam a ficar ao redor da casa, enquanto a mãe cozinhava o almoço (a primeira refeição do dia era, normalmente, jerimum, abóbora, com leite, ou bolinhos de macaxeira, mandioca). Juntamente com a mãe, Maria Quitéria gostava de preparar o beiju, amassado e posto debaixo da farinha. O que Maria Quitéria mais gostava de fazer, no entanto, era ir em direção do maro, buscar flores, e correr trás de passarinhos.[7]

Em 1803, quando tinha cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe (que tinha uma doença grave). Na época, Gonçalo passou aos escravos a tarefa de lavoura e do pastoreio, para cercar a esposa com muito amor e carinho, e Maria Quitéria perdeu a alegria de viver, entrando em uma leve depressão e tomando conta dos irmãos de lá em diante. Cinco meses após ficar viúvo, o pai casou-se novamente. Sem contar aos filhos, levou a amada, Eugênia Maria dos Santos, à Capela de São José e eles se casaram.[9]

No Arquivo da Secretaria do Arcebispado, no Livro de Casamentos (1800 a 1849, Bahia), Vigário Miguel Ribeiro Lima descreve o casamento como:

Aos dezenove dias de Julho de mil oitocentos e dois, demanda nesta Mariz depois de feitas nella as denunciações na forma do Sagrado Concílio Tridentino por serem della os contraentes naturais e seus moradores, sem se descobrir impedimento algum em presença de mim vigário abaixo assinado e das testemunhas Capitão João Baptista Carneiro casado, e Joaquim Alves viúvo todos desta Freguesia, se casarão solenemente em face da Igreja por palavras Gonçalvo Alves viúvo que ficou de Quitéria Maria de Jesus com Eugênia Maria, folha legítima de Manoel Carvalho dos Santos e de Maria das Neves dos Santos, amos já falleciodos e logo lhes dei as bençãos conforme os ritos e cerimonias da Santa Madre Igreja, do que tudo para constar fiz fazer este assento que por verdade assino.

Eugênia Maria dos Santos veio a falecer pouco tempo depois sem que da união nascessem filhos. Na sequência, a família mudou-se então para a fazenda serra da Agulha, e, na nova residência, Gonçalo Alves casou-se pela terceira vez, com Maria Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta, afirma-se, nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria. Embora humilde e analfabeta,[10] uma vez que à época as escolas eram poucas e restritas aos grandes centros urbanos, Maria Quitéria aprendera a montar, a caçar e a usar armas de fogo, conhecimentos essenciais à época.[9][11]

A adolescência e o começo da vida adulta[editar | editar código-fonte]

Na época da ocupação da Guiana Francesa e da anexação da Província Cisplatina, por volta de 1808, Maria Quitéria adolescia. Os negócios de Gonçalo vão bem e o gado continua se multiplicando. Ele tinha, no momento, vinte e seis escravos (alguns trabalhavam no preparo e semeadura do terreno e outros no pastoreio do gado, enquanto alguns ainda ficavam com o transporte e o comércio dos produtos plantados na fazenda. Conforme o tempo foi passando, o patrimônio familiar foi aumentando> para unir à sua fazenda Serra da Agulha, ele comprou uma parte da terra de um homem chamado Manoel Ferreira da Silva. Depois, no lugar chamado de denominado Mamoneira, na fazenda de São Tiago., adquire ainda mais um pedaço de terra. Gonçalo está então casado com Maria Rosa. Agora, o casal (além dos filhos do primeiro casamento de Gonçalo) têm vários filhos: Francisca, Teresa, bernarda, Ana, Josefa e Manoel.[7]

Maria Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em janeiro de 1822 transferiram-se para Salvador as tropas portuguesas, sob o comando do Governador das Armas Inácio Luís Madeira de Melo, episódio em que ocorreu o martírio da freira Angélica, no Convento da Lapa.[9][11]

Em 25 de junho, a Câmara Municipal da vila de Cachoeira aclamou o príncipe-regente D. Pedro como "Regente Perpétuo" do Brasil. Por essa razão, em julho, uma canhoneira portuguesa, fundada na barra do rio Paraguaçu, alvejou Cachoeira, reduto dos independentes baianos. A 6 de setembro, instalou-se na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que defendia o movimento pró-independência da Bahia ativamente, enviando emissários a toda a Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um "Exército Libertador".[9][11]

No Journal of a voyage (Londres, 1824), a inglesa Maria Graham, que viveu alguns anos (1821, 1822 e 1822) na Corte do rio de Janeiro:[7]

"Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis.".[7]

O Soldado Medeiros[editar | editar código-fonte]

Tendo o velho Gonçalo, viúvo e sem filho varão, se recusado a colaborar, para sua surpresa, a filha Maria Quitéria pediu-lhe autorização para se alistar. Sendo o pedido negado pelo pai, Maria Quitéria fugiu, dirigindo-se à casa de sua meia-irmã, Teresa Maria, casada com José Cordeiro de Medeiros, e, com o auxílio de ambos, cortou os cabelos. Vestindo-se como um homem, com as roupas do cunhado[12], dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde alistou-se no Regimento de Artilharia sob o nome de Medeiros, ali permanecendo até ser descoberta pelo pai, duas semanas mais tarde.[4]

Maria Quitéria vestiu-se de homem tendo em vista as lutas pela independência do Brasil, em 1822. Como não obteve permissão de seu pai para alistar-se, saiu de casa como fugitiva, disfarçou-se e foi defender a pátria como homem em um Regimento de Artilharia. Após, serviu no Batalhão de Caçadores Voluntários do Príncipe D. Pedro I, sendo então conhecida como "Soldado Medeiros".[4]

Defendida pelo major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro Alves), comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe (popularmente apelidado de Batalhão dos Periquitos, devido aos punhos e gola de cor verde de seu uniforme), em virtude de sua facilidade no manejo das armas e de sua reconhecida disciplina militar, foi incorporada a esta tropa.[13] Aqui, ao seu uniforme, foi acrescentado um saiote à escocesa.[9]

A 29 de outubro seguiu com o seu Batalhão para participar da defesa da ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapuã, participando de batalhas também na foz do Rio Iguaçú, integrando a Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses (dois, segundo alguns autores), escoltando-os, sozinha, ao acampamento.[9]

Em 31 de março, no posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios. Finalmente, em 2 de julho de 1823, quando o Exército Libertador entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada, e, na condição de Cadete, envergava uniforme de cor azul, com saiote por ela elaborado, além de capacete com penacho.[9]

A heroína da Independência[editar | editar código-fonte]

Retrato póstumo de Maria Quitéria, por Domenico Failutti.

A Independência da Bahia é tratada enquanto episódio de protagonismo coletivo, ou seja, o povo baiano aparecia como grande herói. Nos raros casos nos quais o protagonismo é individual, curiosamente do que acontece na história do Brasil, duas figuras femininas que se destacam: Joana Angélica e Maria Quitéria (respectivamente, a mártir e a guerreira).[14]

Após a Queda do Forte de São Pedro, soldados de Madeira (juntamente com marinheiros portugueses desembarcados, que os ajudaram na refrega) foram comemorar a vitória nas ruas de Salvador, mas se exaltaram. Começaram a quebrar vidraças e invadir casas, perturbando famílias. Ao passarem por um convento no largo da Lapa, ouviram preces angustiadas de algumas freiras. Joana Angélica era abadessa do Convento da Lapa e, quando se deparou com a barbárie, empunhou um grande crucifixo de prata e o capelão, ostensório com a hóstia consagrada, pedindo respeito. Um dos soldados matou um capelão com uma coronhada e, logo após, esfaqueou Joana Angélica, levantando o seu corpo como um troféu. Segundo a história contada de geração em geração, o sangue da mártir, que faleceu (em fevereiro de 1822), quando tentou impedir a invasão e o saque do lar religioso por soldados portugueses, caiu sobre a cabeça do soldado, partindo-lhe o osso occipital e matando-lhe.[7][14]

Gonçalo percorreu os quartéis da Vila e no 3º Batalhão de Caçadores, o Batalhão dos Periquitos, encontrou a filha Maria Quitéria de Jesus Medeiros, conhecida como Soldado Medeiros. Para ele como bom sertanejo, parecia incrível, que a sua filha mais velha estivesse ali, em meio aos outros soldados brasileiros, envergando a farda dos patriotas, pronta para ir ao combate. Ele sabia que, em suas brincadeiras de criança, Maria Quitéria costumava a fingir que alistava-se, partindo para a guerra. No entanto, não podia crer que uma moça franzina, pequena e magra, pudesse se expor a isso. Que uma mulher tão recatada e religiosa, sua filha, fosse querer enfrentar a morte e também matar. Emocionado, Gonçalo reprova a escolha e busca dissuadi-la do que esta fazendo, afastá-la dali e reconduzi-la para a o seu lar, mas ela parece inabalável em seu propósito inicial: defender a pátria. Ele questiona várias vezes se os outros soldados sabem que ela é uma mulher em combate e que já existem homens dispostos a fazer o que ela está se propondo Ela diz que lá, pensam que ela é o "Soldado Medeiros".[7]

O pai acredita que a filha está cometendo um crime e tem receio do que possa acontecer à ela caso descubram. Maria Quitéria, por sua vez, pensa não estar cometendo crime algum, pois não está prejudicando outras pessoas, apenas defendendo sua pátria e ajudando os brasileiros a matarem quem mata inocentes.[7]

O general Pedro Labatut, enviado por D. Pedro I para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete. No dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo imperador em pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro, com o seguinte pronunciamento:[15]

Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro.[15]

Além da comenda, foi promovida a Alferes de Linha, posto em que se reformou, tendo aproveitado a ocasião para pedir ao Imperador uma carta solicitando ao pai que a perdoasse por sua desobediência.[15]

Os últimos anos[editar | editar código-fonte]

Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.[6]

Viúva, mudou-se para Feira de Santana em 1835, onde tentou receber a parte que lhe cabia na herança pelo falecimento do pai no ano anterior. Desistindo do inventário, devido à morosidade da Justiça, mudou-se com a filha para o Salvador, nas imediações de onde veio a falecer. Em 21 de agosto de 1853, Maria Quitéria de Jesus Medeiros (a primeira mulher brasileira a ingressar na carreira militar no Brasil) falece, aos 61 anos de idade, quase cega, fato totalmente mantido em anonimato.[4]

Os seus restos mortais estão sepultados na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana, no bairro de Nazaré em Salvador.[16]

Testemunhos[editar | editar código-fonte]

O pesquisador Aristides Milton, nas Efemérides Cachoeiranas, considera Maria Quitéria "tão valente quanto honesta senhora".

A escritora britânica Maria Graham, que aparentemente a conheceu em uma de suas viagens ao Brasil, deixou registrado que:

Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis. (Journal of a voyage to Brazil)

Comparação à Joana D'Arc[editar | editar código-fonte]

Joana D’Arc, filha de Jacques D’Arc e Isabelle Romée, nasceu na cidade de Domrémy (localizada na região de Lorraine, na França), provavelmente em 1912. Ela ingressou na vida militar por ter influência religiosa durante a infância, ela afirmou ter escutado vozes santificadas. Joana é atualmente conhecida como grande heroína francesa, graças à vitória sobre os invasores ingleses na cidade de Orleans (em 9 de maio de 1429), comandando um exército de 4.000 homens.[4]

Depois, D'Arc foi Acusada de heresia e assassinato, sendo então submetida a julgamento pela Santa Inquisição em um processo presidido pelo Bispo Pierre Cauchon. Foi condenda e queimada viva na fogueira (em 30 de maio de 1431). O seu processo foi revisto posteriormente. Joana foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, sendo beatificada pela Igreja Católica (1909) e santificada pelo Papa Bento XV.[4]

Tendo em vista a história das duas, afirma-se que a semelhança entre elas está no fato de que as duas são mulheres que participaram de modo ativo das lutas nacionais (Joana D'Arc na França e Maria Quitéria no Brasil). Ambas foram mulheres comprometidas com projetos sociais e políticos em seus países de origem.[17] , que surgiram à frente das batalhas, invadindo o domínio, na época masculino, com força e independência.[18]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

O Paço Municipal Maria Quitéria, em Feira de Santana.

Maria Quitéria é homenageada em uma medalha militar e em uma comenda da Câmara Municipal de Salvador, que levam o seu nome. Do mesmo modo, a Câmara Municipal de Feira de Santana instituiu a Comenda Maria Quitéria, para distinguir personalidades com reconhecida contribuição à municipalidade, e ergueu-lhe um monumento na cidade, no cruzamento da avenida Maria Quitéria com a Getúlio Vargas.

A sua iconografia mais conhecida é um retrato póstumo de corpo inteiro, pintado por Domenico Failutti c. 1920. Presenteado pela Câmara Municipal de Cachoeira, integra atualmente o acervo do Museu Paulista, em São Paulo. Essa pintura é uma cópia da gravura Edward Finden (1791-1857), por sua vez baseada no desenho de Augustus Earle. A referida gravura foi publicada como parte do livro "Journal of a voyage to Brazil" da inglesa Maria Graham.

Por Decreto da Presidência da República, datado de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.[4]

Por Decreto da Presidência da República, datado de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. No ano do centenário do falecimento de Quitéria, por determinação do Governo Federal, tornou-se obrigatória fixar o retrato da heroína em todas as Corporações Militares do Brasil. Fato este comprovado, na PMES, com a publicação retirada da BD nº. 173, de 6.08.1953.[4]

XIII – MARIA QUITÉRIA DE JESUS MEDEIROS: 41– INAUGURAÇÃO DE RETRATO:- Ocorrendo no próximo dia 21 dêste mês o 1º centenário da morte da heroína da Independência, MARIA QUITÉRIA DE JESUS MEDEIROS, que tão grandes e relevantes serviços prestou à Pátria e tendo em vista o que dispõe o R.G. e as recomendações do Exmº. Sr. Ministro dos Negócios e da Guerra, determino que seja inaugurado às 9 horas daquele dia, na Galeria de Retratos desta Corporação, a fotografia da aludida heroína.

A sua imagem encontra-se em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares da Força, por determinação ministerial.[4]

Representação nas artes e na literatura[editar | editar código-fonte]

Cinema[editar | editar código-fonte]

  • PEIXOTO, Dom. "A origem de feira". São Paulo, TV Digital Brasil, 2011.[19]

Literatura[editar | editar código-fonte]

  • LIMA, João Francisco de. "A Incrível Maria Quitéria". São Paulo, Editora Nova Época, 1977.
  • AMARAL, Braz do. "História da Independência da Bahia". Salvador, Editora Progresso, 1957.
  • JÚNIOR, Pereira Reis de. "Mária Quitéria". Rio de Janeiro, Editora Rio de Janeiro, 1953.
  • DIAS, Luiz Henrique de, "História da Bahia", São Paulo, Editora Atica, 1987.
  • AMARAL, Braz do. "Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional", Bahia, Editora Edufba, 2007.
  • BUONFIGLIO, Monica. "Maria Quitéria – A d'Arc brasileira", São Paulo, Editora Companhia dos Anjos, 2014.
  • SILVA, Joaquim Norberto de Souza. "Brasileiras Celebres". São Paulo, Editora Senado Federal, 1997.
  • MAMBRINI, Miriam. "Maria Quitéria, 32". São Paulo, Editora Bom Texto, 2008.

Televisão[editar | editar código-fonte]

  • SOBRAL, André e MENDIETA Fabrício. "Os Heróis do Brasil - Animação sobre a Independência da Bahia". Bahia, Os Heróis do Brasil, 2013.[20]
  • Documentário Distrito de Maria Quitéria (São José das Itapororocas). Trabalho desenvolvido por alunos do III semestre do Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda para as disciplinas 'Cultura Brasileira e Regional' (Prof. Evandro Rabello) e 'Realidade Brasileira e Regional' (Prof. Ricardo Pereira) Faculdade Anísio Teixeira - Feira-Ba.[21]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Quitéria lutou pelo Exército, mas só 120 anos depois mulheres foram admitidas». GGN Jornal. Consultado em 28 de janeiro de 2015 
  2. Lauciana Rodrigues dos Santos. A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRA: UM DEBATE CONTEMPORÂNEO. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ESTUDOS DE DEFESA - ABED, 3., 2009, Londrina. Anais... . Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2009. p. 1 - 14.
  3. «Historiador destaca ação de mulheres na independência do Brasil na Bahia». Portal G1. 26 de junho de 2015. Consultado em 28 de outubro de 2017 
  4. a b c d e f g h i j LOIOLA, Gelson (Abril de 2009). «As Mulheres no Quadro Combatente da PMES: 25 anos de Participação» (PDF). Revista Preleção. Consultado em 18 de outubro de 2017 
  5. Presidência da República do Brasil decreta Maria Quitéria de Jesus patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Presidência da República; Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos. Acesso em 15/02/2010.
  6. a b BUONFIGLIO,, Monica (2014). Maria Quitéria – A d'Arc brasileira. [S.l.]: Companhia dos Anjos. 5 páginas 
  7. a b c d e f g h i j k l m n LIMA, João Francisco de (1977). A incrível Maria Quitéria. Portugal: Nova Época. pp. 19 (total de páginas citadas) 
  8. REBELO, Domingos José Antônio Rebelo (1929). Coreographia ou Abreviada História Geográfica do Império do Brasil. Bahia: Biblioteca Nacional. 176 páginas 
  9. a b c d e f g h JÚNIOR, Pereira Reis de (1953). Mária Quitéria. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. p. 25 
  10. «Monica Buonfiglio resgata a trajetória da heroína Maria Quitéria em novo livro e afirma: "A grande maioria das mulheres não percebe a força que tem"». Amor, sexo e muito +. Consultado em 10 de março de 2016 
  11. a b c MAMBRINI, Miriam (2008). Maria Quitéria, 32. São Paulo: Bom Texto. p. 19. 9 páginas 
  12. «Frei Caneca, Maria Quitéria, Joana Angélica: Você conhece os principais personagens da Independência?». Huff Post Brasil. 7 de setembro de 2017. Consultado em 23 de outubro de 2017 
  13. PEREIRA, Néli (16 de março de 2017). «10 mulheres brasileiras que deveriam ser mais estudadas nas escolas». BBC Brasil. Consultado em 24 de outubro de 2017 
  14. a b LEITE 68, Rinaldo Cesar Nascimento (2011). «MEMÓRIA E IDENTIDADE NO INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA (1894-1923): ORIGENS DA CASA DA BAHIA E CELEBRAÇÃO DO 2 DE JULHO» (PDF). Revista do IGHB (NESP – FCLAs – CEDAP). Consultado em 28 de outubro de 2017 
  15. a b c SCHACTAE, Andréa Mazurok. «Mulheres Guerreiras: Gênero e ideal de feminilidade na biografia da cubana Célia Sanchez» (PDF). Consultado em 18 de outubro de 2017 
  16. Igreja de SantAna será restaurada A Tarde On Line. Consultado em 19 ago. 2009.
  17. MACEDO, Taise Teles Santana de (25 de maio de 2010). «A SAGA DE UMA HEROÍNA NO PAÍS DO CARNAVAL: por uma análise da identidade nacional em Teresa Batista cansada de guerra» (PDF). Salvador-Bahia-Brasil. VI Enecult - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Consultado em 21 de outubro de 2017 
  18. FREITAS, Norma de Siqueira (2012). «O solar e o Lunar em Luzia-Homem: a trajetória da donzela guerreira». Revista de Linguagem do Cinema e do Audiovisual - LATEC/ UFRJ. Consultado em 22 de outubro de 2017 
  19. «TRAILER: A ORIGEM DE FEIRA». Digital TV Brasil. 30 de novembro de 2011. Consultado em 25 de outubro de 2017 
  20. «Os Heróis do Brasil - Animação sobre a Independência da Bahia». Os Heróis do Brasil. 18 de abril de 2013. Consultado em 25 de outubro de 2017 
  21. marcos carvalho da silva carvalho (9 de junho de 2013), Documentário Distrito de Maria Quitéria (São José das Itapororocas), consultado em 2 de novembro de 2017 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALMEIDA, Norma Silveira Castro de; TANAJURA, A. Rodrigues Lima. José Antônio da Silva Castro - o Periquitão. Salvador: EGBA, 2004. ISBN 85-903965-1-7
  • AMARAL, Braz do. História da Independência da Bahia. Salvador: Livraria Progresso Ed., 1957.
  • MENDES, Bartolomeu de Jesus. A Festa do Dois de Julho em Caetité - do cívico ao popular. Caetité: Gráfica Castro, 2002.
  • PALHA, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército-Editora, 1962. p. 47-51.
  • SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Brasileiras Célebres (ed. fac-similar). Brasília: Senado Federal, 1997.
  • SOUZA, Bernardino José de. Heroínas baianas.
  • TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Salvador: UNESP; São Paulo: EDUFBA, 2001.
  • JÚNIOR, Pereira Reis de. Mária Quitéria. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 1953.
  • LIMA, João Francisco de. A Incrível Maria Quitéria. São Paulo: Nova Época, 1977.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Categoria:Heróis nacionais do Brasil Categoria:Independência da Bahia Maria Quiteria Categoria:Soldadas Categoria:Naturais de Feira de Santana Categoria:Mulheres na guerra