Misoginia: diferenças entre revisões

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=== Jean-Jacques Rousseau ===
=== Jean-Jacques Rousseau ===
[[Jean-Jacques Rousseau]] É bem conhecido por seus pontos de vista sobre a [[igualdade]] de direitos para as mulheres, por exemplo, em seu tratado ''[[Emílio, ou Da Educação]]'', Ele escreve: "Sempre justifique os fardos que você impõe sobre as meninas, mas imponha-os de qualquer maneira... Elas devem ser frustradas desde cedo... Elas devem ser exercitadas para o constrangimento, de modo que não lhes custa nada sufocar todas as suas fantasias para se submetê-las à vontade dos outros". Outras citações consistem de "fechadas em suas casas", "deve receber as decisões de pais e maridos assim como o da igreja".<ref>{{Cite journal|title = Rousseau and Feminist Revision|url = https://www.researchgate.net/publication/241893904_Rousseau_and_Feminist_Revision|journal = Eighteenth-Century Life|pages = 51–54|volume = 34|issue = 3|doi = 10.1215/00982601-2010-012|first = C.|last = Blum}}</ref>
[[Jean-Jacques Rousseau]] É bem conhecido por seus pontos de vista sobre a [[igualdade]] de direitos para as mulheres, por exemplo, em seu tratado ''[[Emílio, ou Da Educação]]'', Ele escreve: "Sempre justifique os fardos que você impõe sobre as meninas, mas imponha-os de qualquer maneira... Elas devem ser frustradas desde cedo... Elas devem ser exercitadas para o constrangimento, de modo que não lhes custa nada sufocar todas as suas fantasias para se submetê-las à vontade dos outros". Outras citações consistem de "fechadas em suas casas", "deve receber as decisões de pais e maridos assim como o da igreja".<ref>{{Cite journal|title = Rousseau and Feminist Revision|url = https://www.researchgate.net/publication/241893904_Rousseau_and_Feminist_Revision|journal = Eighteenth-Century Life|pages = 51–54|volume = 34|issue = 3|doi = 10.1215/00982601-2010-012|first = C.|last = Blum}}</ref>

== Teoria Evolutiva ==
Um estudo de 2015 publicado na revista [[PLOS ONE]] pelos pesquisadores Michael M. Kasomovic e Jefferey S. Kuznekoff descobriu que o status masculino medeia o comportamento sexista em relação às mulheres.<ref name=":3">{{Cite journal|title = Insights into Sexism: Male Status and Performance Moderates Female-Directed Hostile and Amicable Behaviour|url = http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0131613|journal = PLoS ONE|date = 2015-07-15|pmc = 4503401|pmid = 26176699|pages = e0131613|volume = 10|issue = 7|doi = 10.1371/journal.pone.0131613|first = Michael M.|last = Kasumovic|first2 = Jeffrey H.|last2 = Kuznekoff}}</ref> O estudo descobriu que as mulheres tendem a experimentar comportamento hostil e sexista em um campo dominado por homens de ''[[status social|status]]'' baixo.<ref name=":3" /> Uma vez que os grupos dominados pelos homens tendem a ser organizados em hierarquias, a entrada das mulheres reorganiza a hierarquia a seu favor, atraindo a atenção de homens de ''status'' mais elevado.<ref name=":3" /> Isso permite que as mulheres tenham um ''status'' superior automático sobre os homens de ''status'' inferior, o que é respondido por esses homens com hostilidade sexista a fim de controlar a perda de ''status''. Este estudo foi uma das primeiras evidências notáveis de "inter"-competição de gênero e tem implicações evolutivas para a origem do sexismo.<ref name=":3" />




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Na Idade Média a honra, o prestígio e a religião formavam a base da conduta do homem. Esta última mantinha o controle sobre o matrimónio e a reprodução. Sem o direito ao conhecimento as filosofias religiosas solidificaram a ideia de bruxaria como pretexto para controlar o conhecimento das mulheres. Mesmo no Renascimento e nos séculos XVIII e XIX, conhecida como a época da ciência e do desenvolvimento humano, não houve modificações substanciais na vida da mulher, que permaneceu como reprodutora e tendo como base a religião. <ref>DUBY, Georges; ZUBER, Christiane Klapisch. ''História das Mulheres no Ocidente: a Idade Média''. Porto: Afrontamento, 1993</ref> <ref name="Renascimento">DUBY, Georges; FARGE, Arlette; DAVIS, Natalie Zemon. ''História das Mulheres no Ocidente: do Renascimento à Idade Moderna''. Porto: Afrontamento, 1994</ref> <ref name="Século XIX">PERROT, Michele; FRAISSE, Genevieve; DUBY, Georges. ''História das Mulheres no Ocidente: o Século XIX''. Porto: Afrontamento, 1994</ref>-->
Na Idade Média a honra, o prestígio e a religião formavam a base da conduta do homem. Esta última mantinha o controle sobre o matrimónio e a reprodução. Sem o direito ao conhecimento as filosofias religiosas solidificaram a ideia de bruxaria como pretexto para controlar o conhecimento das mulheres. Mesmo no Renascimento e nos séculos XVIII e XIX, conhecida como a época da ciência e do desenvolvimento humano, não houve modificações substanciais na vida da mulher, que permaneceu como reprodutora e tendo como base a religião. <ref>DUBY, Georges; ZUBER, Christiane Klapisch. ''História das Mulheres no Ocidente: a Idade Média''. Porto: Afrontamento, 1993</ref> <ref name="Renascimento">DUBY, Georges; FARGE, Arlette; DAVIS, Natalie Zemon. ''História das Mulheres no Ocidente: do Renascimento à Idade Moderna''. Porto: Afrontamento, 1994</ref> <ref name="Século XIX">PERROT, Michele; FRAISSE, Genevieve; DUBY, Georges. ''História das Mulheres no Ocidente: o Século XIX''. Porto: Afrontamento, 1994</ref>


===Modernidade===
===Modernidade===
Na Modernidade um dos aspectos importantes da misoginia é a violência contra a mulher, aceita e em alguns casos apoiada pelo aparato jurídico e referendada pela separação entre público e privado.
Na Modernidade um dos aspectos importantes da misoginia é a violência contra a mulher, aceita e em alguns casos apoiada pelo aparato jurídico e referendada pela separação entre público e privado.
Há também a questão do [[aborto seletivo|aborto selectivo]] em razão do sexo, praticado em nações como China e Índia <ref name="Renascimento"></ref> <ref name="Século XIX"></ref>
Há também a questão do [[aborto seletivo|aborto selectivo]] em razão do sexo, praticado em nações como China e Índia <ref name="Renascimento"></ref> <ref name="Século XIX"></ref>-->


==Ver também==
==Ver também==

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"O estupro de Tamar", pintura de Eustache Le Sueur, 1640, representa a passagem da Bíblia em quem Tamar é estuprada por Amnon, seu meio-irmão

Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas. A misoginia pode se manifestar de várias maneiras, incluindo a exclusão social, a discriminação sexual, hostilidade, androcentrismo, o patriarcado, ideias de privilégio masculino, a depreciação das mulheres, violência contra as mulheres e objetificação sexual.[1][2] A misoginia pode ser encontrada ocasionalmente dentro de textos antigos relativos a várias mitologias. Além disso, vários filósofos e pensadores ocidentais influentes têm sido descritos como misóginos.[1]

Definições

De acordo com o sociólogo Allan G. Johnson, "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas." Johnson argumentou que:

"A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifestada em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao auto-desprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos."[3]

Michael Flood define a misoginia como o ódio às mulheres, e observa:

"A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. [...] Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos [...] Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século 21 pela objetificação das mesmas pela mídia com seu autodesprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, aneroxia e bulimia."[4]

Os dicionários definem a misoginia como "aversão às mulheres",[5] nos dicionário em idioma inglês é definido como "ódio às mulheres"[6][7][8] e como "o ódio, a aversão ou desconfiança das mulheres".[9]

Uso histórico

Grécia Antiga

Aristóteles acreditava que mulheres são "homens imperfeitos"

Em seu livro City of Sokrates: An Introduction to Classical Athens, J. W. Roberts argumenta que ainda mais antigo do que a tragédia e a comédia é a tradição misógina na literatura grega, que remonta, pelo menos a Hesíodo.[10]

A mais antiga, longa e completa passagem vem de um tratado moral conhecido como Sobre o casamento (c. 150 a.C.) do filósofo estoico Antípatro de Tarso.[11][12] Antípatro argumenta que o casamento é a base do Estado.[nota 1] Ele usa o termo misogunia para descrever o tipo de escritos que o trágico Eurípides evita, afirmando que ele "rejeita o ódio às mulheres na sua escrita" (ἀποθέμενος τὴν ἐν τῷ γράφειν μισογυνίαν). Antípatro então, oferece um exemplo disto, citando uma peça perdida de Eurípides em que os méritos de uma esposa obediente são elogiados.[13][12]

O outro uso sobrevivente da palavra grega original é por Crisipo de Solis, em um fragmento de Sobre afeição, citado por Galeno em Hipócrates sobre afeição.[14] Aqui, ele usa misogunia é o primeiro item de uma pequena lista de três "desafetos" -mulheres (misogunian), vinho (misoinian, μισοινίαν) e humanidade (misanthrōpian, μισανθρωπίαν). O ponto de Crisipo é mais abstrato do que Antípatro e Galeno cita a passagem como um exemplo de uma opinião contrária à sua própria. O que está claro, porém, é que ele agrupa o ódio às mulheres e ódio à humanidade em geral, e até mesmo o ódio ao vinho. "Foi a opinião médica dominante de sua época que o vinho fortalece o corpo e a alma da mesma forma." [15] Então, Crisipo, como seu companheiro estóico Antipatro, vê a misoginia negativamente, como uma doença; não gostar de algo que é bom. É esta questão de emoções conflitantes ou alternadas que era filosoficamente contenciosa para os antigos escritores. Ricardo Salles sugere que a visão estóica geral era de que "O homem pode não só alternam entre filoginia e misoginia, a filantropia e misantropia, mas será solicitado a cada um pelo outro".[16]

Aristóteles é acusado de ser um misógino ao escrever que as mulheres "homens imperfeitos",[17] diferente de Hipócrates, ele via semelhanças entre os corpos femininos e masculinos acreditando que mulheres era como homens, mas apenas com os órgãos internamente afixados em vez de externos. Aristóteles acreditava que o problema com as mulheres era que a mulher é mais fria, tem o sangue mais frio do que os homens, o que as impede de "cozinhar" o que comiam para ser transformado em sêmen, em vez disso, a mulher menstrua para se livrar do excedente consumido.[18][19] Também diferentemente de Hipócrates, ele acreditava que a menstruação era um momento difícil e não saudável para as mulheres. A falta de calor também significava que mulheres não poderiam ser tão inteligentes quanto os homens o que fazia acreditar que a estrutura social grega que mantinha as mulheres sobre o estrito controle masculino era justificada pela anatomia feminina.[20]

No Routledge philosophy guidebook to Plato and the Republic, Nicholas Pappas descreve o "problema da misoginia" e afirma:

Na Apologia de Sócrates, Sócrates chama aqueles que implorar por suas vidas no tribunal "não melhor do que as mulheres" (35b)... O Timeu adverte aos homens que se viverem moralmente, eles serão reencarnados como mulheres (42b-c; cf. 75d-e). A obra República contém uma série de observações com o mesmo espírito (387e, 395d-e, 398e, 431b-c, 469d), evidência de nada mais do que desprezo em relação às mulheres. Mesmo palavras de Sócrates para a sua nova proposta ousada sobre o casamento[...] sugerem que as mulheres devem ser "mantidas em comum" por homens. Ele nunca diz que os homens poderiam ser mantidos em comum pelas mulheres [...] Temos também de reconhecer a insistência de Sócrates em dizer que os homens superam as mulheres em qualquer tarefa que ambos os sexos tentarem (455C, 456a), e sua observação no Livro 8, que um sinal de fracasso moral da democracia é a igualdade sexual que promove (563b).[21]
Cícero relata que os filósofos gregos consideraram a misoginia como causada por medo das mulheres[22]

Misógino também é encontrado no grego - misogunēs (μισογύνης) em Deipnosophistae (acima) e em Vidas Paralelas de Plutarco onde é usado como o título de Héracles na história de Focion. Foi o título de uma peça de Menandro, que sabemos do livro sete (sobre Alexandria), do volume 17 da obra Geografia de Estrabão[23][24] e citações de Menandro por Clemente de Alexandria e Estobeu que se relacionam à casamento.[25] Menander também escreveu uma peça chamada Misoumenos (Μισούμενος) ou "O homem (por ela) odiado". Outra peça grega com um nome semelhante, Misogunos (Μισόγυνος) ou "O que odeia mulheres", é relatada por Cícero (em latim) e atribuída ao poeta Marco Atílio.

Cicero relata que os filósofos gregos consideraram a misoginia como causada pela ginofobia, um medo das mulheres.[22]

É o mesmo de outras doenças; assim como o desejo de glória, a paixão pelas mulheres, a que os gregos dão o nome de philogyneia: e assim todas as outras doenças e enfermidades são geradas. Mas esses sentimentos que são o contrário destes são supostos medos de sua fundação, como um ódio às mulheres, como é exibido no odiador de mulheres, Átilo; ou o ódio de toda a espécie humana, como Timon é relatado ter sido feito, a quem o chamam misanthrope. Do mesmo tipo é a inhospitalidade. E todas estas doenças procedem de um certo pavor das coisas a que eles odeiam e evitam.
— Cícero, Tusculanae Quaestiones, século I a.C.

A forma mais comum da palavra odiador de mulher é misogunaios (μισογύναιος). [23] Outra menções:

  • Também há pessoas facilmente saciadas com sua conexão com a mesma mulher, estando ao mesmo tempo enloquecidos por mulheres e sendo um "odiador de mulheres"Fílon, Sobre as Leis Especiais, Século I.[26]
  • Aliado a Vênus em posições honrosas, Saturno torna seus súditos "odiadores ds mulheres", amantes da antiguidade, solitários, desagradáveis de se encontrar, ambiciosos, detestadores do beloPtolomeu, "Qualidade da Alma", Tetrabiblos, Século II.[27][28]
  • Vou provar a você que este maravilhoso professor, esta "odiador de mulher", não está satisfeito com prazeres comuns durante a noite. — Alcifrão, "Tais para Eutidemo", Século II.[29]

A palavra também é encontrada em Antologia de Vettius Valens e Princípios de Damáscio.[30][31]

Em resumo, a literatura grega considerava a misoginia uma doença - uma condição anti-social - em que se opunha a sua percepção do valor das mulheres como esposas da família e fundamento da sociedade. Esses pontos são amplamente observados na literatura secundária.[12]

Religião

Grécia Antiga

Na obra Misogyny: The World's Oldest Prejudice ("Misoginia: O preconceito mais antigo do mundo"), Jack Holland argumenta que há evidências de misoginia na mitologia do mundo antigo. Na mitologia grega de acordo com Hesíodo, a raça humana já havia experimentado uma existência pacífica e autônoma acopanhada dos deuses antes da criação das mulheres. Quando Prometeu decide roubar o segredo do fogo dos deuses, Zeus fica enfurecido e decide punir a humanidade com uma "coisa má para seu deleite". Esta "coisa má" é Pandora, a primeira mulher, que carregou um frasco (geralmente descrito - incorretamente - como uma caixa) que lhe foi dita para nunca abrir. Epimeteu (o irmão de Prometeu) é dominado por sua beleza, ignora as advertências de Prometeu sobre ela e se casa com ela. Pandora não pode resistir a espreitar o frasco e ao abri-lo ela desencadeia no mundo todo o mal; o parto, a doença, a velhice e a morte.[32]

Budismo

Em seu livro The Power of Denial: Buddhism, Purity, and Gender ("O Poder da Negação: Budismo, Pureza e Gênero"), o professor Bernard Faure da Universidade de Columbia argumentou, em geral, que "o Budismo é paradoxalmente não tanto sexista e não tão igualitário como se costuma pensar". "Muitos estudiosos feministas enfatizaram a natureza misógina (ou pelo menos androcêntrica) do budismo" e declararam que o budismo exalta moralmente seus monges enquanto as mães e esposas dos monges também têm papéis importantes. Além disso, ele escreveu:[33]

Enquanto alguns estudiosos vem o budismo como parte de um movimento de emancipação, outros o vem como uma fonte de opressão. Talvez essa seja apenas uma distinção entre otimistas e pessimistas, se não entre idealistas e realistas... Quando começamos a perceber, o termo "budismo" não designa uma entidade monolítica, mas abrange uma série de doutrinas, ideologias e práticas - algumas das quais parecem convidar, tolerar e até cultivar a "alteridade" em suas margens.

Cristianismo

22. As mulheres sejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor;

23. porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele o salvador do corpo.

24. Mas como a igreja é sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam a seus maridos em tudo.

25. Maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e por ela se entregou a si mesmo,

26. para que a santificasse, tendo-a purificado pela lavagem de água com a palavra,

27, a fim de que ele a apresentasse a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas que fosse santa e sem defeito.

28. Assim também devem os maridos amar a suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo;

Tradução Brasileira da Bíblia, Efésios - Capítulo V

As diferenças na tradição e nas interpretações das escrituras fizeram com que as seitas do cristianismo diferissem em suas crenças no que diz respeito ao tratamento das mulheres. Em seu livro The Troublesome Helpmate, Katharine M. Rogers argumenta que o cristianismo é misógino e lista o que ela diz que são exemplos específicos de misoginia nas Epístolas paulinas. Ela afirma: "Os fundamentos da misoginia cristã primitiva — culpa em relação ao sexo, sua insistência na sujeição feminina, seu temor à sedução feminina — estão todos nas epístolas de São Paulo".[34]

No livro de K. K. Ruthven, Feminist Literary Studies: An Introduction, Ruthven faz referência ao livro de Rogers e argumenta que o "legado da misoginia cristã foi consolidado pelos chamados Padres da Igreja, como Tertuliano, que pensava que uma mulher não era apenas "a porta do diabo", mas também "um templo construído sobre um esgoto ".[35]

No entanto, alguns outros estudiosos têm argumentado que o Cristianismo não inclui princípios misóginos, ou pelo menos que uma interpretação adequada do cristianismo não deve incluir princípios misóginos. David M. Scholer, um estudioso bíblico no Seminário Teológico Fuller , declarou que o versículo Gálatas 3:28 ("Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Jesus Cristo.") é a base teológica fundamental paulina para a inclusão das mulheres e dos homens como parceiros iguais e mútuos em todos os ministérios da igreja".[36][37] Em seu livro Equality in Christ? Galatians 3.28 and the Gender Dispute, Richard Hove argumenta que - enquanto Gálatas 3:28 significa que o sexo de alguém não afeta a salvação - "permanece um padrão no qual a esposa deve emular a submissão da igreja ao Cristo (Efésios 5:21 a Efésios 5:33) e o marido deve imitar o amor de Cristo pela igreja."[38]

Em seu livro Christian Men Who Hate Women, a psicóloga clínica Margaret J. Rinck escreveu que a cultura social cristã muitas vezes permite um "uso indevido misógino do ideal bíblico de submissão". No entanto, ela argumenta que isso é uma distorção da "relação saudável de submissão mútua" que é realmente especificado na doutrina cristã, onde "O amor é baseado em um respeito profundo e mútuo como o princípio norteador de todas as decisões, ações e Planos".[39] Da mesma forma, o estudioso católico Christopher West argumenta que "a dominação masculina viola o plano de Deus e é o resultado específico do pecado". [40]


Filósofos e pensadores

Numerosos filósofos ocidentais influentes são acusados de serem misóginos, incluindo Aristóteles, René Descartes, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, Jean-Jacques Rousseau, G. W. F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Charles Darwin, Sigmund Freud, Otto Weininger, Oswald Spengler e John Lucas.[41]

Aristóteles

Aristóteles acreditava que as mulheres eram inferiores e as descreveu como "homens imperfeitos".[42][43] Em sua obra Política, ele afirma: "No que diz respeita aos sexos, o macho é por natureza superior e a fêmea o inferior, o macho governa e a fêmea se sujeita.(1254b13-14)".[43]

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau É bem conhecido por seus pontos de vista sobre a igualdade de direitos para as mulheres, por exemplo, em seu tratado Emílio, ou Da Educação, Ele escreve: "Sempre justifique os fardos que você impõe sobre as meninas, mas imponha-os de qualquer maneira... Elas devem ser frustradas desde cedo... Elas devem ser exercitadas para o constrangimento, de modo que não lhes custa nada sufocar todas as suas fantasias para se submetê-las à vontade dos outros". Outras citações consistem de "fechadas em suas casas", "deve receber as decisões de pais e maridos assim como o da igreja".[44]

Teoria Evolutiva

Um estudo de 2015 publicado na revista PLOS ONE pelos pesquisadores Michael M. Kasomovic e Jefferey S. Kuznekoff descobriu que o status masculino medeia o comportamento sexista em relação às mulheres.[45] O estudo descobriu que as mulheres tendem a experimentar comportamento hostil e sexista em um campo dominado por homens de status baixo.[45] Uma vez que os grupos dominados pelos homens tendem a ser organizados em hierarquias, a entrada das mulheres reorganiza a hierarquia a seu favor, atraindo a atenção de homens de status mais elevado.[45] Isso permite que as mulheres tenham um status superior automático sobre os homens de status inferior, o que é respondido por esses homens com hostilidade sexista a fim de controlar a perda de status. Este estudo foi uma das primeiras evidências notáveis de "inter"-competição de gênero e tem implicações evolutivas para a origem do sexismo.[45]


Ver também

Notas

  1. "Neste texto, Antípatro começa sua discussão com a convicção que os homens são seres políticos destinados pela natureza e pelos deuses a tomarem parte de uma ordem cósmica composta de domicílios e cidade-estados. A instituição do casamento, ele mantém, serce como a fundação dessa ordem, sendo a fonte dos domicílios e então das cidade-estados. A partir disto ele conclui que todos os jovens moralmente corretos, em um esforço para cumprir suas obrigações para com os deuses e expressar sua submissão ao plano divino, deverão considera o casamento "entre as ações primárias e mais necessárias que são adequadas"."[12]:66

Referências

  1. a b Code, Lorraine (2000). Encyclopedia of Feminist Theories 1st ed. London: Routledge. p. 346. ISBN 0-415-13274-6 
  2. Kramarae, Cheris (2000). Routledge International Encyclopedia of Women. New York: Routledge. pp. 1374–1377. ISBN 0-415-92088-4 
  3. Allan G. Johnson (22 de junho de 2000). The Blackwell Dictionary of Sociology: A User's Guide to Sociological Language. Wiley. p. 197. ISBN 978-0-631-21681-0.
  4. Flood, Michael (18 de julho de 2007). «International encyclopedia of men and masculinities». ISBN 978-0-415-33343-6 
  5. Misoginia, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
  6. The New Shorter Oxford English Dictionary on Historical Principles (Oxford: Clarendon Press (Oxford Univ. Press), [4th] ed. 1993 (ISBN 0-19-861271-0)) (SOED) ("[h]atred of women").
  7. The American Heritage Dictionary of the English Language (Boston, Mass.: Houghton Mifflin, 1992 (ISBN 0-395-44895-6)) ("[h]atred of women").
  8. Webster's Third New International Dictionary of the English Language Unabridged (G. & C. Merriam, 1966) ("a hatred of women").
  9. Random House Webster's Unabridged Dictionary (N.Y.: Random House, 2d ed. 2001 (ISBN 0-375-42566-7)).
  10. Roberts, J.W (1 de junho de 2002). «City of Sokrates: An Introduction to Classical Athens». ISBN 978-0-203-19479-9 
  11. O editio princeps está na página 255 do terceiro volume de Stoicorum Veterum Fragmenta (SVF, Fragmentos Estoicos Antigos)
  12. a b c d Will Deming (2004). Paul on Marriage and Celibacy: The Hellenistic Background of 1 Corinthians 7. Wm. B. Eerdmans Publishing. p. 221. ISBN 978-0-8028-3989-3. (em inglês)
  13. 38-43, fr. 63, in von Arnim, J. (ed.). Stoicorum Veterum Fragmenta. Vol. 3. Leipzig: Teubner, 1903.
  14. SVF 3:103. Misogyny is the first word on the page.
  15. Teun Tieleman (2003). Chrysippus' On Affections: Reconstruction and Interpretations. BRILL. p. 162. ISBN 90-04-12998-7.
  16. Ricardo Salles (2005). Metaphysics, Soul, and Ethics in Ancient Thought: Themes from the Work of Richard Sorabji. Clarendon Press. p. 485. ISBN 978-0-19-926130-7.
  17. Sandra R. Joshel; Sheila Murnaghan (2005). Women and Slaves in Greco-Roman Culture: Differential Equations. Routledge. p. 70. ISBN 978-1-134-71676-0.
  18. Suad Joseph; Afsāna Naǧmābādī (2003). Encyclopedia of Women & Islamic Cultures: Family, Body, Sexuality And Health. BRILL. p. 31. ISBN 90-04-12819-0.
  19. Bat-Ami Bar On (1994). Engendering Origins: Critical Feminist Readings in Plato and Aristotle. SUNY Press. p. 198. ISBN 978-0-7914-1643-3.
  20. Joyce E. Salisbury (2001). Encyclopedia of Women in the Ancient World. ABC-CLIO. pp. 143–144. ISBN 978-1-57607-092-5.
  21. Nickolas Pappas (2003). Routledge Philosophy Guidebook to Plato and the Republic. Routledge. p. 109. ISBN 978-0-415-29996-1.
  22. a b Marco Túlio Cícero, Tusculanae Quaestiones, Livro 4, Capítulo 11.
  23. a b Henry George Liddell e Robert Scott, A Greek–English Lexicon (LSJ), revised and augmented by Henry Stuart Jones and Roderick McKenzie, (Oxford: Clarendon Press, 1940). ISBN 0-19-864226-1
  24. Estrabão,Geografia, Livro 7 [Alexandria] Capítulo 3.
  25. Menander, The Plays and Fragments, translated by Maurice Balme, contributor Peter Brown, Oxford University Press, 2002. ISBN 0-19-283983-7
  26. γυναικομανεῖς ἐν ταὐτῷ καὶ μισογῦναιοι. Editio critica: Philo, De Specialibus Legibus, editado por Leopold Cohn, Johann Theodor Wendland e S. Reiter, Philonis Alexandrini opera quæ supersunt, 6 vols, (Berlin, 1896–1915): (vol. 5) livro 3, capítulo 14 § 79. [Misprint in LSJ has 2:312]. Translated por Charles Duke Yonge (London, 1854–1855).
  27. Ptolomeu, 'Of the Quality of the Soul', in Four Books, edited by Joachim Camerarius (Nuremberg, 1535), Latin translation by Philipp Melanchthon, reprinted (Basel, 1553): p. 159. Book 3 § 13. English translation.
  28. «Quality of the Soul». AstrologyWeekly. Consultado em 7 de novembro de 2016 
  29. τὸν διδάσκαλον τουτονὶ τὸν μισογύναιον. Alciphron, 'Thais to Euthyedmus', in Letters, editado por MA Schepers, (Leipzig, 1905): livro 4, carta 7, página 115, linha 15. ISBN 3-598-71023-2.Translated pela Athenian Society (1896): livro 1, carta 34.
  30. Vettius Valens, Anthology, editado por Wilhelm Kroll (1908): p. 17, linha 11.
  31. Damáscio, Princípios, editado por CA Ruelle (Paris, 1889): p. 388.
  32. Jack Holland (2006). Misogyny: The World's Oldest Prejudice. Carroll & Graf. pp. 12 – 13. ISBN 978-0-7867-1823-8.
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