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Luís Gama: diferenças entre revisões

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O verbete parecia mais um artigo científico do que enciclopédico. Removi algumas longas citações de fontes primárias, acrescentei informações acerca de sua atuação na imprensa e nos tribunais e a capa de Primeiras Trovas Burlescas. Organizei as seções e os links externos.
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| data_morte = {{nowrap|{{morte|lang=br|24|8|1882|21|6|1830}}}}
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Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito [[Escravidão|escravo]] aos 10 anos, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado "o maior abolicionista do Brasil".<ref name=als>{{citar livro|autor=Antônio Loureiro de Souza |título=Bahianos Ilustres: 1564 – 1925 |local=Salvador |ano=1959 |página=102 }}</ref>
Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito [[Escravidão|escravo]] aos 10 anos, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado "o maior abolicionista do Brasil".<ref name=als>{{citar livro|autor=Antônio Loureiro de Souza |título=Bahianos Ilustres: 1564 – 1925 |local=Salvador |ano=1959 |página=102 }}</ref>


Foi um dos raros intelectuais negros no [[Escravidão no Brasil|Brasil escravocrata]] do [[História do Império do Brasil|século XIX]], o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Pautou sua vida na luta pela [[Abolicionismo no Brasil|abolição da escravidão]] e pelo fim da [[Império do Brasil|monarquia no Brasil]], contudo veio a morrer seis anos antes da concretização dessas causas.<ref name="lit" />
Apesar de considerado um dos expoentes do [[romantismo no Brasil|romantismo]],<ref name=carta/> obras como a "''Apresentação da Poesia Brasileira''", de [[Manuel Bandeira]], sequer mencionam seu nome.<ref>{{citar livro|autor=Manuel Bandeira |título=Apresentação da Poesia Brasileira (seguida de uma antologia de versos) |editora=Ediouro |ano=1964 |páginas=451 }}</ref> Teve uma vida tão ímpar que é difícil encontrar, entre seus biógrafos, algum que não se torne passional ao retratá-lo — sendo ele próprio também carregado de paixão, emotivo e ainda cativante.<ref name=atarde/> A despeito disto o historiador [[Boris Fausto]] declarou que era dono de uma "''biografia de novela''".<ref>{{citar livro|autor=FAUSTO, Boris |título=História do Brasil |editora=Edusp |ano=1994 |lugar=São Paulo |página=219|isbn = 9788531402401 }}</ref>


Apesar de considerado um dos expoentes do [[romantismo no Brasil|romantismo]],<ref name="carta" /> obras como a "''Apresentação da Poesia Brasileira''", de [[Manuel Bandeira]], sequer mencionam seu nome.<ref>{{citar livro|título=Apresentação da Poesia Brasileira (seguida de uma antologia de versos)|autor=Manuel Bandeira|editora=Ediouro|ano=1964|páginas=451}}</ref>
Foi um dos raros intelectuais negros no [[Escravidão no Brasil|Brasil escravocrata]] do [[História do Império do Brasil|século XIX]], o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Pautou sua vida na luta pela [[Abolicionismo no Brasil|abolição da escravidão]] e pelo fim da [[Império do Brasil|monarquia no Brasil]], contudo veio a morrer seis anos antes da concretização dessas causas.<ref name=lit/>


==Panorama da época ==
==Infância e escravidão ==


Luís Gama nasceu em [[21 de junho]] de [[1830]], na cidade de [[Salvador]], na [[Bahia]]. Mesmo com as poucas informações existentes sobre sua infância, sabe-se que era filho de [[Luísa Mahin]], uma ex-escrava [[africana]] [[Alforria|alforriada]], e filho de um [[fidalgo]] de família portuguesa, que morava na Bahia. Aos sete anos, sua mãe viajou para o Rio de Janeiro para participar da revolta da [[Sabinada]], nunca mais reencontrando-o. Já em [[1840]], o pai acabou se endividando com [[Jogo de azar|jogos de azar]], de modo que recorreu à venda de Luís Gama como [[Escravidão|escravo]] para pagar suas dívidas.{{Sfn|Santos|2014}}[[Ficheiro:1900 Patache.png|300px|miniaturadaimagem|direita|Um [[patacho]], tipo de embarcação a velas no qual viajou Luís Gama, como escravo.]]Numa carta autobiográfica que enviou em [[1880]] a [[Lúcio de Mendonça]], descreve assim seu nascimento e primeira infância:
São Paulo, onde viveu Gama por quarenta e dois anos, era em meados do século XIX uma ainda acanhada capital de província que, com a demanda da produção cafeeira a partir da década de 1870, contudo, viu o preço dos escravos atingir um preço que tornava quase proibitiva sua posse urbana. Até este período, contudo, era bastante comum a propriedade de "escravos de aluguel", sobre cujo trabalho seus donos hauriam a fonte de sustento, ao lado dos ditos "escravos domésticos".<ref name=clima/>{{nota de rodapé|Um bom exemplo disso eram as sete irmãs solteironas do marechal José Arouche de Toledo Rendon — Caetana, Gertrudes, Joaquina, Pulquéria, Leocádia, Ana Teresa e Reduzinda — que viviam às custas das rendas obtidas com o trabalho de 39 escravos.<ref name=clima/>}}
:''Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, oito anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de [[Itaparica]].<ref name="carta" />''


Lígia Ferreira, uma das pesquisadoras que mais estudou a vida de Gama, assinala que estas informações não puderam ser comprovadas, embora realce que o sobrado em que situa seu nascimento ainda exista; o registro de seu batizado não pôde ser encontrado, e junta a isso o fato de que a omissão do nome paterno em seu relato lança dúvidas sobre sua real identidade.<ref name="carta" />{{nota de rodapé|Há, na memória histórica de Salvador, enorme lacuna derivada do [[Bombardeio de Salvador em 1912|bombardeio da cidade em 1912]] que, dentre outras destruições, incendiou a documentação de séculos daquela que fora a primeira capital do Brasil.}}
Tinha uma população dez vezes menor que a da Corte ([[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]), e uma presença da cultura jurídica bastante acentuada pois, desde 1828, ali se instalara uma das duas únicas faculdades de [[Direito]] do país, a [[Faculdade de Direito do Largo de São Francisco]], que acolhia alunos de todo o país, provindos de todas as camadas sociais — além dos filhos da [[oligarquia]] rural, membros da elite intelectual que então se formava (Gama a definiu, então, como "''Arca de Noé em ponto pequeno''").<ref name=lit/>


Posto à venda, foi rejeitado "por ser baiano". Após a [[Revolta dos Malês]], criou-se um estigma de que cativos baianos eram revoltosos e tinham mais propensão a fugir.<ref name="atarde">{{Citar periódico |url=http://mardehistorias.wordpress.com/2010/09/11/resenha-as-novas-biografias-de-luiz-gama/ |titulo=As muitas vidas de Luiz Gama na luta pela liberdade |data=7/9/2013 |acessadoem=30/11/2013 |jornal=[[A Tarde]] |numero=Caderno 2+ |autor=Andreia Santana |notas=Transcrição no blog da autora. |local=Salvador, Bahia}}</ref> Foi levado ao [[Rio de Janeiro]], onde foi vendido para o [[alferes]] Antônio Pereira Cardoso, um [[comerciante]] de escravos que o levou para ser revendido em [[São Paulo]]. Com todos os compradores resistindo a comprá-lo por ser baiano, Gama passou a trabalhar como escravo doméstico na propriedade do alferes, lavando e passando roupa, e em seguida se tornou [[Escravos de ganho|escravo de ganho]], trabalhando como costureiro e sapateiro, no [[município]] de [[Lorena (São Paulo)|Lorena]].{{Sfn|Santos|2014}}
==Filiação e primeiros anos ==
[[Ficheiro:Léon Palliere Un Mercado en Bahia (Brasil) Litografia 1865.png|miniaturadaimagem|esquerda|Quitandeira de Salvador do século XIX<br><small>Desenho de [[Jean Leon Pallière|Pallière]]</small>]]
Sobre sua mãe, cuja figura mais tarde seria [[mito|mitificada]] pelo [[Movimento negro no Brasil|movimento negro brasileiro]], Gama registrou, numa carta autobiográfica que enviou em 1880 a [[Lúcio de Mendonça]]:<ref name=mahin>{{citar web|url=http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1043.pdf |título=LUISA MAHIN: estudo sobre a construção de um mito libertário |autor=Dulcilei da Conceição Lima |publicado=ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA|local= Fortaleza|ano= 2009|acessodata=24/11/2013}}</ref>
:''Sou filho natural de uma negra, africana livre, da [[Costa da Mina|Costa Mina]] (Nagô de Nação) de nome [[Luísa Mahin]], pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. <br/>Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, insofrida e vingativa. <br/>Dava-se ao comércio – era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos, que não tiveram efeito. <br/>Era dotada de atividade. Em 1837, depois da [[Sabinada|Revolução do dr. Sabino]], na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas que conheciam-na e que deram-me sinais certos, que ela, acompanhada de [[malungo]]s desordeiros, em uma “casa de dar fortuna”, em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus informantes que esses ‘amotinados’ fossem mandados pôr fora pelo governo, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores. Nada mais pude alcançar a respeito dela''.{{nota de rodapé|A íntegra desta carta pode ser encontra em: MORAES, M. (Org.) Antologia da carta no Brasil: me escreva tão logo possa. São Paulo: Moderna, 2005.}}
A despeito deste relato, pesquisas de Lígia Fonseca Ferreira dão conta de que há contradições entre a narrativa de Gama a Lúcio de Mendonça e um seu poema intitulado ''Minha Mãe'', de 1861, no qual ressalta a fé cristã materna — concluindo que esta seria uma figura "criada" por Gama; a pessoa de [[Luísa Mahin]] é lembrada em obra posterior (1933), de [[Pedro Calmon]], que romanceou a [[Revolta dos Malês]] em ''Malês: a insurreição das senzalas'', em que este construiu a imagem de que ela teria sido a causa do fracasso do movimento.<ref name=mahin/>


==Liberdade e vida adulta ==
O próprio Calmon, e também [[Arthur Ramos]], voltaram a tratar de Mahin no contexto revoltoso, este último construindo-lhe a imagem de heroína, que é mantida pelos movimentos negros.<ref name=mahin/>
Em [[1847]], Luís Gama teve contato com um estudante de [[Direito]], que se hospedou na casa de seu senhor e o ensinou o [[alfabeto]]. Com isso, Luís Gama consegue provar sua liberdade e se alistou ao [[exército]] em [[1848]]. Permanecem obscuros, contudo, os artifícios utilizados por Luis Gama para obter sua liberdade, sendo aventada a possibilidade de que, para tal, tenha se utilizado do depoimento do pai — cuja identidade ele próprio zelava por manter obscura.<ref name="carta" /> Também há a teoria de que Gama teria fugido da propriedade e argumentou ser livre por saber ler e escrever, que eram habilidades que a maioria dos escravos não possuíam.{{Sfn|Santos|2014}}

[[Ficheiro:1900 Patache.png|300px|miniaturadaimagem|direita|Um [[patacho]], tipo de embarcação a velas no qual viajou Luís Gama, como escravo.]]
[[Ficheiro:Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - São Paulo - Brasil 1860.png|esquerda|miniaturadaimagem|301x301px|Fotografia da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em [[1860]].]]
Mesmo servindo no exército, era escolhido para trabalhar como [[Amanuense|copista]] para autoridades oficiais nas horas vagas, já que possuía boa [[caligrafia]]. Em [[1856]], foi contratado como escrivão da Secretaria de Polícia de São Paulo, no gabinete de Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, um conselheiro e professor de Direito. Com o conhecimento de Francisco Mendonça e dispondo de sua biblioteca, Luís Gama estudou mais a matéria do Direito até que tomou a decisão de graduar-se pela [[Faculdade de Direito do Largo de São Francisco]]. No entanto, os alunos da Faculdade se manifestaram contrários à sua presença, impossibilitando a matrícula de Luís Gama, que passou a estudar por conta própria e se tornou um [[rábula]], nome dado ao indivíduo que possuía conhecimento [[jurídico]] o suficiente para advogar, mesmo sem possuir o diploma de advogado.{{Sfn|Cruz|2014|pp=188-189}} Após atuar em [[Processo judicial|processos]] de escravos, Gama foi demitido do cargo na Secretária de Polícia, em [[1868]], por pressão dos [[Década Conservadora|conservadores]] que estavam insatisfeitos com as alforrias conquistadas pelo rábula. Gama definiu sua demissão "a bem do serviço público" como uma consequência do trabalho que vinha a fazer de libertar escravos que se achavam em situação ilegal, além de denunciar os desmandos do sistema, ou, em suas palavras:
Sobre o pai, Gama omitiu, na mesma carta, o nome:<ref name=carta/>
:''Meu pai não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas, neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo e pertencia a uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome. <br/>Ele foi rico; e nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me em seus braços. Foi revolucionário em 1837.{{nota de rodapé|Trata-se da mesma "Sabinada" que ele dissera que a mãe participou.}} Era apaixonado pela diversão da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e reduzido a uma pobreza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luís Cândido Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proventos de uma casa de [[tavolagem]], na cidade da Bahia, estabelecida em um sobrado de quina, ao largo da praça, vendeu-me, como seu escravo, a bordo do [[patacho]] "Saraiva".''{{nota de rodapé|Os textos de autoria de Luis Gama encontram-se em [[domínio público]].}}

Na carta, descreve assim seu nascimento e primeira infância:<ref name=carta/>
:''Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, oito anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de [[Itaparica]].''

Lígia Ferreira ainda assinala que estas informações não puderam ser comprovadas, embora realce que o sobrado em que situa seu nascimento ainda exista; o registo de seu batizado não pôde ser encontrado, e junta a isso o fato de que a omissão do nome paterno em seu relato lança dúvidas sobre sua real identidade.<ref name=carta/>{{nota de rodapé|Há, na memória histórica de Salvador, enorme lacuna derivada do [[Bombardeio de Salvador em 1912|bombardeio da cidade em 1912]] que, dentre outras destruições, incendiou a documentação de séculos daquela que fora a primeira capital do Brasil.}}

==Escravidão e liberdade ==
Uma vez vendido como escravo, foi levado para São Paulo, onde permaneceu analfabeto até os 17 anos.<ref name=als/>

Posto à venda, foi rejeitado "por ser baiano" — uma condição que dava aos cativos a fama de insubordinados e acaba sendo levado para a casa de um comerciante.<ref name=atarde/>

Em São Paulo, Gama passou por várias "metamorfoses" únicas: fora criança livre e ali feito escravo, e depois a homem livre; de analfabeto a integrante do mundo das letras; exerceu diversas profissões e posições sociais: escravo do lar, soldado, ordenança, copista, secretário, tipógrafo, jornalista, advogado, autoridade da maçonaria.<ref name=carta/>

Permanecem obscuros, contudo, os artifícios utilizados por Luis Gama para obter sua liberdade, sendo aventada a possibilidade de que, para tal, tenha se utilizado do depoimento do pai — cuja identidade ele próprio zelava por manter obscura.<ref name=carta/>

==Jornalista, maçom e funcionário público ==
[[Ficheiro:Diabo Coxo december 1864.png|miniaturadaimagem|[[Diabo Coxo]] (dez/1864), fundado por Gama e [[Angelo Agostini|Agostini]].]]
Começou a carreira jornalística, na capital paulista, junto ao caricaturista [[Angelo Agostini]]; ambos fundaram, em 1864 o primeiro jornal ilustrado humorístico daquela cidade, intitulado ''[[Diabo Coxo]]''.<ref name=ltreso/>

Dois anos mais tarde, ainda com Agostini, agora com adesão de [[Américo de Campos]], fundam o hebdomadário ''[[Cabrião]]''; os três pertenciam à mesma [[Maçonaria|loja maçônica]], e comungavam dos mesmos ideais republicanos e abolicionistas.<ref name=ltreso/>

A Loja Maçônica América foi bastante ativa na causa abolicionista; fundada por Luiz Gama e [[Ruy Barbosa]] e dela também teria feito parte [[Joaquim Nabuco]] (que omite seu passado maçônico).<ref name=lit/> Quando de sua morte era Gama o [[Venerável Mestre]] da instituição.<ref name=selonegro/>

Ocupou Luís Gama a função de amanuense da polícia paulista quando, em 1868 caiu o gabinete do [[Zacarias de Góis|Conselheiro Zacarias]], apeando do poder o [[Partido Liberal (Império do Brasil)|Partido Liberal]]; com a consequente ascensão dos [[Partido Conservador (Brasil Império)|conservadores]], foi ele demitido.<ref name=carta/>

Gama definiu sua demissão "a bem do serviço público" como uma consequência do trabalho que vinha a fazer de libertar escravos que se achavam em situação ilegal, além de denunciar os desmandos do sistema — ou, em suas palavras: ''a turbulência consistia em eu fazer parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas [Lúcio de Mendonça, a quem escreve] ideias; e promover processos de pessoas livres criminosamente escravizadas, e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, [[alforria]]s de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os reis.''<ref name=carta/>

==Advogado dos pobres, libertador dos negros ==
[[Ficheiro:Luiz Gama perfil.png|miniaturadaimagem|Gama, por volta de 1860]]
Tamanha foi a importância do trabalho de Luís Gama na causa emancipacionista dos negros em plena vigência das leis escravocratas, que recebeu o epíteto de "Apóstolo Negro da Abolição"<ref name=lit/>

Sobre sua atuação na defesa dos negros, cativos ou pobres, descreveu [[Raul Pompeia]]:<ref name=selonegro>{{citar livro|autor=Luiz Carlos Santos |título=Luiz Gama |editora=Selo Negro |ano=2010|página=78–91|isbn = 8587478680}}</ref>
::''...não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros... inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante. E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia iluminando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sobra de lucro...E, por essa filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bom...Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado.''

Em sua carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, Gama estima que já havia libertado do cativeiro mais de 500 escravos.<ref name=carta/> Durante um [[tribunal do júri|júri]] Gama proferiu uma frase que se tornou célebre: ''O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa'' — isto provocou tal reação ante os presentes que, com a confusão, o juiz se viu obrigado a suspender a sessão.<ref name=globo/>

Embora atuasse principalmente na defesa dos negros acusados de crimes, ou para buscar-lhes a [[alforria]] judicialmente, não se negava a atender graciosamente aos pobres de qualquer raça, havendo casos em que defendera imigrantes europeus lesados por brasileiros.<ref name=atarde/>

==A morte do "amigo de todos": São Paulo para, em luto ==
[[Ficheiro:Luiz Gama c 1880.png|miniaturadaimagem|Gama, na maturidade]]
Já Raul Pompeia notara que Gama não ia bem de saúde; três dias antes de sua morte observara que este já não descia sem amparo as escadas de seu escritório, socorrendo-se do apoio dos amigos Pedro, Brasil Silvado ou dele próprio, Raul.<ref name=selonegro/>

Gama tinha [[diabetes]], e esta foi a ''[[causa mortis]]'' que o vitimou a 24 de agosto de 1882, atestada pelo médico dr. Jaime Perna.<ref name=loja/>

Morto o grande abolicionista e libertador de escravos, Raul Pompeia manifesta ter ficado incrédulo e, registrando cada momento do ato fúnebre, vai de imediato à casa do amigo, onde verifica que muitos já lá estavam, em vigília: diante da casa os homens choravam "como uns covardes", e as senhoras soluçavam.<ref name=selonegro/>

Seu corpo fora colocado num esquife, na sala da frente; um escultor molda seu rosto em gesso. O féretro saiu no dia seguinte, às três horas da tarde. Pouco antes de cerrar-se o caixão a viúva protagonizou um pranto dolorido. O cemitério ficava no outro extremo da cidade, e para sua condução um coche funerário estava preparado, mas a multidão que para ali acorrera não deixa que siga ali: o "amigo de todos" — como era conhecido — teria que ser "levado por todos".<ref name=selonegro/>

O caixão surge, trazido pelos amigos do morto: o jornalista e membro do Centro Abolicionista Gaspar da Silva, Dr. Antônio Carlos, Dr. Pinto Ferraz, o [[Manuel Antônio Duarte de Azevedo|Conselheiro Duarte de Azevedo]], entre outros; adiante do féretro seguia uma enorme multidão, como aquela que se apertava ao lado, disputando a honra de carregar o caixão; atrás, uma grande quantidade de carruagens e, entre elas, o coche fúnebre vazio.<ref name=selonegro/>

Às quatro horas e cinco minutos o cortejo chegou ao [[Brás (bairro de São Paulo)|Brás]], onde uma banda o aguardava, e passou a acompanhá-lo tocando acordes tristes; na [[Convento do Carmo de São Paulo|Ladeira do Carmo]] a Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios se juntou ao enterro; chegando à "cidade", lojas cerraram suas portas e bandeiras se encontravam hasteadas a meio mastro, enquanto o povo apinhava-se nas ruas por onde o enterro passaria; nas janelas as famílias se espremem para assistir: ao longo de todo o caminho muitos são os que choram a perda.<ref name=selonegro/>

O professor Otávio Torres registrou que Luís Gama morrera "aureolado por São Paulo"; Antônio Loureiro de Sousa, em 1949, registrou: ''O seu enterro foi um espetáculo inédito: foi o maior de que há notícia naqueles tempos. A multidão que acompanhou o féretro, com todo silêncio e admiração, era obrigada a parar pelos numerosos discursos que interrompiam o cortejo fúnebre.''<ref name=als/> Mais recentemente, em 2013, o articulista Zeca Borges declarou que ''seu enterro foi o mais emocionante acontecimento da história da cidade de São Paulo''<ref name=globo>{{citar web|url=http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/zeca/posts/2012/11/16/luiz-gama-filho-de-luiza-mahin-474959.asp |título=Luis Gama - O filho de Luisa Mahin |autor=Zeca Borges |data=20/11/2013 |publicado=Globo.com |acessodata=29/11/2013 }}</ref>

Ali estavam pessoas de todas as classes, e todos disputavam a chance de poder carregar o esquife. Em dado momento levavam-no ao mesmo tempo o escravocrata [[Martinho Prado Júnior]], de um lado e, do outro, altivo, um "pobre negro esfarrapado e descalço", no registro de Pompeia. Já era noite quando o cortejo chega finalmente ao campo santo da Consolação, e a multidão mantivera-se firme.<ref name=selonegro/>

Após uma breve parada para uma preleção por um padre na capela, onde foram depositadas as centenas de coroas de flores, finalmente o caixão foi levado à sepultura, onde a multidão esperava. Antes de descerem-no, contudo, alguém — o médico [[Clímaco Barbosa]] ou [[Antônio Bento (abolicionista)|Antônio Bento]], gritou para que todos esperassem; após um breve discurso no qual lembrou a importância de Luís Gama, levando todos às lágrimas, intimou que juntos prestassem um juramento de não deixar ''morrer a ideia pela qual combatera aquele gigante'': foi respondido por um brado geral da multidão que, mãos estendidas ao caixão, jurava.<ref name=selonegro/>

Sua sepultura fora adquirida no mesmo dia do enterro em nome da esposa Claudina, segundo registrado no Livro 2, fls. 28, do Arquivo Municipal; está situado na Rua 2, sepultura 17.<ref name=loja/>

===Efeitos do discurso===
A morte de Gama e o discurso engajado junto ao seu túmulo marcaram o fim desta primeira fase do movimento abolicionista, marcadamente "legalista" (constituição de fundos para a aquisição de cativos e sua alforria, ações judiciais libertadoras) e teve início a fase de ações efetivas de combate aos escravistas: dirigida por Clímaco Barbosa, a campanha passou às "vias de fato", onde pessoas acolhiam escravos fugidos, escondendo-os em suas casas até serem encaminhados ao [[Quilombo do Jabaquara]], em [[Santos]], e estimulando a fuga em massa das fazendas.<ref name=clima>{{citar web|url=http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/SPEscrav.pdf |título=Sendo Cativo nas Ruas: a Escravidão Urbana na Cidade de São Paulo |autor=Maria Helena P. T. Machado |ano=2004 |publicado=História da Cidade de São Paulo, (Paula Porta, org.), São Paulo: Paz e Terra, p. 59–99 |acessodata=25/11/2013}}</ref>

Um marco dessa ação foi a invasão da Chácara Pari por membros do Clube Abolicionista do Brás, com gritos de ''Viva os abolicionistas, morram os escravocratas!''; pessoas como Barbosa, [[Antônio Bento (abolicionista)|Antônio Bento]], [[Feliciano Bicudo]], entre outros notáveis e anônimos, passaram a figurar no rol de suspeitos da polícia.<ref name=clima/>


{{Quote|texto=a turbulência consistia em eu fazer parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas [Lúcio de Mendonça, a quem escreve] ideias; e promover processos de pessoas livres criminosamente escravizadas, e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os reis.<ref name="carta" />}}
==Literatura==
==Literatura==
[[Ficheiro:Primeiras Trovas Burlescas.jpg|miniaturadaimagem|Capa da primeira edição de ''Primeiras Trovas Burlescas'', publicado em [[1859]].|355x355px]]
[[Ficheiro:Luiz Gama monumento 1884 by Everton Cuccato.jpg|miniaturadaimagem|Busto de Gama, inaugurado em 1931<ref>{{citar web|url=http://www.monumentos.art.br/monumento/luis_gama|título=Luís Gama|autor=Monumentos de São Paulo|acessodata=04/02/2014}}</ref> ([[Largo do Arouche]], em São Paulo)]]
Gama foi um leitor da obra ''Vida de Jesus'', do filósofo francês [[Ernest Renan]], publicada originalmente em 1863 e logo traduzida no Brasil, sendo um dos primeiros a dela referir-se no país.<ref name=lit>{{citar web|url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142007000200021&script=sci_arttext&tlng=es#nt02 |título=Luís Gama: um abolicionista leitor de Renan |autor=Ligia Fonseca Ferreira |ano=2007 |publicado=Estudos Avançados, vol.21 no.60 São Paulo |acessodata=23/11/2013 }}</ref> Sua única obra, publicada originalmente em duas edições (1859 e 1861), ''Primeiras Trovas Burlescas'', colocou-o no panteão literário do Brasil apenas doze anos depois de haver aprendido a ler.<ref name=lit/> Este livro, dedicado a [[Salvador Furtado de Mendonça]], magistrado que lecionava no Largo de S. Francisco e que ali também dirigia a sua biblioteca (o que permite inferir daí que tenha facilitado a Gama o acesso ao seu acervo), também traz poemas de autoria de seu amigo [[José Bonifácio, o Moço]], em anexo.<ref name=lit/>
Gama foi um leitor da obra ''Vida de Jesus'', do filósofo francês [[Ernest Renan]], publicada originalmente em 1863 e logo traduzida no Brasil, sendo um dos primeiros a se referir a ela no país. Sua única obra, publicada originalmente em duas edições (1859 e 1861), ''Primeiras Trovas Burlescas'', colocou-o no panteão [[Literatura|literário]] do Brasil apenas doze anos depois de haver aprendido a ler. Este livro, dedicado a Salvador Furtado de Mendonça, magistrado que lecionava no [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo|Largo de São Francisco]] e que ali também dirigia a sua biblioteca (o que permite inferir daí que tenha facilitado a Gama o acesso ao seu acervo), também traz poemas de autoria de seu amigo [[José Bonifácio, o Moço]], em anexo.<ref name="lit">{{citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142007000200021&script=sci_arttext&tlng=es#nt02 |título=Luís Gama: um abolicionista leitor de Renan |acessodata=23/11/2013 |publicado=Estudos Avançados, vol.21 no.60 São Paulo |autor=Ligia Fonseca Ferreira |ano=2007}}</ref>


===Poesia: o "Orfeu de carapinha" ===
===Poesia: o "Orfeu de carapinha" ===
Lembrando a figura do poeta grego ''Orfeu'', e aludindo ao seu cabelo crespo, Gama foi chamado de "Orfeu de carapinha", e dominava tanto a poesia lírica, quanto satírica.<ref name=atarde>{{Citar periódico |autor=Andreia Santana |data= 7/9/2013|titulo=As muitas vidas de Luiz Gama na luta pela liberdade |jornal=[[A Tarde]] |numero=Caderno 2+ |local=Salvador, Bahia |url=http://mardehistorias.wordpress.com/2010/09/11/resenha-as-novas-biografias-de-luiz-gama/|acessadoem=30/11/2013 |notas=Transcrição no blog da autora. }}</ref>
Lembrando a figura do poeta grego [[Orfeu]], e aludindo ao seu cabelo crespo, Gama foi chamado de "Orfeu de carapinha", e dominava tanto a poesia lírica quanto a satírica.<ref name="atarde" />


Sua poética transcorre na primeira pessoa, sem esconder a própria origem e sem deixar de proclamar sua negritude; ao lado disto, não deixa de usar as imagens tradicionais de seu tempo, como as evocações [[mitologia grega|mitológicas]] (tais como [[Orfeu]], [[Eros|Cupido]] etc.) ou aos poetas do passado (como [[Alphonse de Lamartine|Lamartine]], [[Luís Vaz de Camões|Camões]], por exemplo).<ref name=literafro>{{citar web |url=http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica01.1.pdf |título=A Poesia Satírica de Luís Gama |autor=Roberto de Oliveira Brandão |data= |publicado=Boletim bibliográfico - Biblioteca Mario de Andrade, vol. 49, nº 1/4 (Literafro-UFMG) |acessodata=27/11/2013 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140204012853/http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica01.1.pdf# |arquivodata=04/02/2014 |urlmorta=yes }}</ref>
Sua poética transcorre na primeira pessoa, sem esconder a própria origem e sem deixar de proclamar sua negritude; ao lado disto, não deixa de usar as imagens tradicionais de seu tempo, como as evocações [[mitologia grega|mitológicas]] (tais como [[Orfeu]], [[Eros|Cupido]] etc.) ou aos poetas do passado (como [[Alphonse de Lamartine|Lamartine]], [[Luís Vaz de Camões|Camões]], por exemplo).<ref name="literafro">{{citar web |url=http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica01.1.pdf |título=A Poesia Satírica de Luís Gama |data= |acessodata=27/11/2013 |publicado=Boletim bibliográfico - Biblioteca Mario de Andrade, vol. 49, nº 1/4 (Literafro-UFMG) |autor=Roberto de Oliveira Brandão |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140204012853/http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica01.1.pdf# |arquivodata=04/02/2014 |urlmorta=yes}}</ref>


Contudo, Gama reverte essas imagens à sua condição: a [[musa]] é da [[Guiné]], o ''Orfeu'' tem ''carapinha''. Ao retratar a sociedade branca, usa de imagens fortemente [[sátira|satíricas]]:<ref name=literafro/>
Contudo, Gama reverte essas imagens à sua condição: a [[musa]] é da [[Guiné]], o Orfeu tem carapinha. Ao retratar a sociedade branca, usa de imagens fortemente [[sátira|satíricas]]:<ref name="literafro" />
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''Com sabença profunda irei cantando''
''Com sabença profunda irei cantando''
Linha 140: Linha 73:
''Emproados juízes de trapaça,''
''Emproados juízes de trapaça,''
''E outros que de honrados têm fumaça,''
''E outros que de honrados têm fumaça,''
''Mas que são refinados agiotas.''</poem>[[Ficheiro:Luiz Gama perfil.png|miniaturadaimagem|Gama, por volta de 1860]]Ele constrói, a partir dos elementos da cultura branca, a antítese para a cultura e civilização dos negros, preenchendo-os com elementos da poesia tradicional; assim, contrapõe-se a "musa da Guiné" ás musas greco-romanas; o granito escuro ao branco mármore; a marimba e o cabaço à lira e à flauta:<ref name="literafro" />
''Mas que são refinados agiotas.''</poem>

Ele constrói, a partir dos elementos da cultura branca, a antítese para a cultura e civilização dos negros, preenchendo-os com elementos da poesia tradicional; assim, contrapõe-se a "musa da Guiné" ás musas greco-romanas; o granito escuro ao branco mármore; a marimba e o cabaço à lira e à flauta:<ref name=literafro/>
<poem>''Ó Musa da Guiné, cor de azeviche,''
<poem>''Ó Musa da Guiné, cor de azeviche,''
''Estátua de granito denegrido,''
''Estátua de granito denegrido,''
Linha 149: Linha 80:
''Ensina-me a brandir tua marimba ''(...)</poem>
''Ensina-me a brandir tua marimba ''(...)</poem>


Sobre si mesmo traça, nos seus versos, uma imagem que longe está da figura do "pobre coitado" ou sofredor que figura nos negros pintados por poetas brancos contemporâneos como [[Castro Alves]], Gama atinge-se com a mesma crítica feroz com que ataca o sistema, menosprezando seu próprio valor ante os padrões culturais vigentes, que ele implicitamente aceita:<ref name=literafro/>
Sobre si mesmo traça, nos seus versos, uma imagem que longe está da figura do "pobre coitado" ou sofredor que figura nos negros pintados por poetas brancos contemporâneos como [[Castro Alves]], Gama atinge-se com a mesma crítica feroz com que ataca o sistema, menosprezando seu próprio valor ante os padrões culturais vigentes, que ele implicitamente aceita:<ref name="literafro" />
<poem>''Se queres, meu amigo,''
<poem>''Se queres, meu amigo,''
''No teu álbum pensamento''
''No teu álbum pensamento''
Linha 159: Linha 90:
''Sou mesmo um ratão.''</poem>
''Sou mesmo um ratão.''</poem>


Gama chega, até, a ironizar a situação do negro, apartado da riqueza, das ciências e das artes:<ref name=literafro/>
Gama chega, até, a ironizar a situação do negro, apartado da riqueza, das ciências e das artes:<ref name="literafro" />
<poem>''Ciências e letras''
<poem>''Ciências e letras''
''Não são para ti:''
''Não são para ti:''
''Pretinha da Costa''
''Pretinha da Costa''
''Não é gente aqui.''</poem>
''Não é gente aqui.''</poem>
=== Bode ===
"Bode" era um termo utilizado na época de Gama para fazer referência pejorativa a [[negros]] e [[pardos]], sendo o próprio poeta alvo dessas ofensas. Com isso, em 1861, no poema ''Quem sou eu?'', também conhecido como ''Bodarrada'', Gama se utiliza do termo ironicamente para satirizar a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que afirmava a igualdade humana independente da cor:{{Sfn|Martins|1996|p=96}}{{Sfn|Oliveira|2005|pp=436-437}}<poem>''Se negro sou, ou sou bode,''
''Pouca importa. O que isto pode?''
''Bodes há de toda a casta.''
''Pois que a espécie é muita vasta...''
''Há cinzentos, há rajados,''
''Baios, pampas e malhados,''
''Bodes negros, bodes brancos,''
''Bodes ricos, bodes pobres,''
''Bodes sábios, importantes,''
''E também alguns tratantes…''
[...]
''Haja paz, haja alegria,''
''folgue e brinque a bodaria;''
''cesse, pois, a matinada,''
''porque tudo é bodarrada!''</poem>


==Ativismo abolicionista ==
Sua poesia vem, assim, a destruir, denunciar e deformar o mundo de injustiças que o cerca.<ref name=literafro/>


=== Jornalismo e maçonaria ===
==Homenagens==
[[Ficheiro:Luiz Gama by Raul Pompeia 1882.jpg|miniaturadaimagem|Desenho de Raul Pompeia, retratando Gama em [[O Mequetrefe]].]]
[[Ficheiro:Diabo Coxo december 1864.png|miniaturadaimagem|[[Diabo Coxo]] (dez/1864), fundado por Gama e [[Angelo Agostini|Agostini]].|265x265px]]
Parte do ativismo abolicionista de Luís Gama residiu na atividade na imprensa. Começou a carreira jornalística, na capital paulista, junto ao caricaturista [[Angelo Agostini]]; ambos fundaram, em [[1864]] o primeiro [[jornal]] ilustrado humorístico daquela cidade, intitulado ''[[Diabo Coxo]]''.<ref name="ltreso">{{citar web |url=http://escoladegoverno.org.br/attachments/2097_Aula%202%20-%2007-08%20-%20Luis%20Gama%20e%20a%20Escravid%C3%A3o%20no%20Brasil%20-%20Ligia%20Fonseca%20Ferreira.doc |título=2012, 130º Aniversário de falecimento Luís Gama (1830–1882):de escravo a “cidadão” |acessodata=25/11/2013 |autor=Lígia Fonseca Ferreira |ano=2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131202231442/http://escoladegoverno.org.br/attachments/2097_Aula%202%20-%2007-08%20-%20Luis%20Gama%20e%20a%20Escravid%C3%A3o%20no%20Brasil%20-%20Ligia%20Fonseca%20Ferreira.doc# |arquivodata=02/12/2013 |urlmorta=yes}}</ref>
Entre seus contemporâneos Gama foi alvo de várias homenagens. [[Raul Pompeia]], no [[Gazeta de Notícias]] de 10 de setembro de 1882 escreveu o artigo intitulado ''Última página da vida de um grande homem'', sobre ele; o mesmo autor fez-lhe uma [[caricatura]], que foi publicada naquele mesmo ano, na primeira página do jornal carioca [[O Mequetrefe]] de agosto (nº 284) e, ainda, a [[novela]] inacabada ''A Mão de Luís Gama'', publicada originalmente nas página do Jornal do Commercio, de São Paulo (1883), e o texto ''A Morte de Luíz Gama''.{{nota de rodapé|Os dois últimos textos integrais podem ser lidos in: Schmidt, Afonso. ''O Canudo''. S. Paulo, Clube do Livro, 1963 - p. 83–136.}}<ref>{{citar web|url=http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1285832.pdf |título=Exposição comemorativa do centenário de nascimento de Raul Pompeia |autor=Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro |ano=1963 |publicado=Ministério da Educação e Cultura |acessodata=25/11/2013}}</ref>


Mas Gama também escreveu artigos para outros jornais, em que discorria sobre assuntos sociorraciais do Brasil Imperial. Em artigo intitulado ''Foro de Belém de Jundiaí'', publicado no [[Radical Paulistano]], Gama denuncia a decisão de um juiz que, após a morte de um senhor de escravos, permitiu o [[leilão]] de um ex-escravizado que fora alforriado pelo filho herdeiro.{{Sfn|Santos|2014}}
Alguns anos depois de sua morte, e em seguida à Abolição, foi fundada pelo maçom paulistano Góes e colaboração de irmãos das lojas ''Trabalho'' e ''Ordem e Progresso'' a ''Loja Luís Gama'', com a iniciação de 25 negros.<ref name=loja>{{citar web |url=http://lojaluizgama.com.br/pagina.php?IdPagina=4&Site=Site |título=Loja Luís Gama |autor=Institucional |data= |publicado=Sítio oficial da entidade |acessodata=25/11/2013 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140202130300/http://lojaluizgama.com.br/pagina.php?IdPagina=4&Site=Site# |arquivodata=02/02/2014 |urlmorta=yes }}</ref>


Em 1866, ainda com Agostini, agora com adesão de [[Américo de Campos]], fundam o hebdomadário ''[[Cabrião]]''; os três pertenciam à mesma [[Maçonaria|loja maçônica]], e comungavam dos mesmos ideais [[Republicanismo|republicanos]] e abolicionistas.<ref name="ltreso" /> A Loja Maçônica América foi bastante ativa na causa abolicionista; fundada por Luiz Gama e [[Ruy Barbosa]] e dela também teria feito parte [[Joaquim Nabuco]] (que omite seu passado maçônico).<ref name=lit/> Quando de sua morte era Gama o [[Venerável Mestre]] da instituição.{{Sfn|Santos|2014}}
No [[Largo do Arouche]], em São Paulo, há um busto erguido à sua memória,<ref name=carta>{{citar web|url=http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica03.pdf|título=Luís Gama por Luís Gama: carta a Lúcio de Mendonça|data= |acessodata=24/11/2013|publicado=Teresa. Revista de Literatura Brasileira da USP [n. 8/9], São Paulo, p. 300–321.|autor=Lígia Fonseca Ferreira|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140204012849/http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/96/luizgamacritica03.pdf|arquivodata=4 de fevereiro de 2014 |urlmorta=sim}}</ref> erigido a mando da comunidade negra por ocasião do seu centenário (1930).<ref name=ltreso>{{citar web |url=http://escoladegoverno.org.br/attachments/2097_Aula%202%20-%2007-08%20-%20Luis%20Gama%20e%20a%20Escravid%C3%A3o%20no%20Brasil%20-%20Ligia%20Fonseca%20Ferreira.doc |título=2012, 130º Aniversário de falecimento Luís Gama (1830–1882):de escravo a “cidadão” |autor=Lígia Fonseca Ferreira |ano=2012 |acessodata=25/11/2013 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131202231442/http://escoladegoverno.org.br/attachments/2097_Aula%202%20-%2007-08%20-%20Luis%20Gama%20e%20a%20Escravid%C3%A3o%20no%20Brasil%20-%20Ligia%20Fonseca%20Ferreira.doc# |arquivodata=02/12/2013 |urlmorta=yes }}</ref>


===O "estilo Gama" de atuação judicial ===
Em sua homenagem, em [[1919]], a [[Estrada de Ferro Sorocabana]] (atual [[FEPASA]]) nomeou uma de suas estações, hoje praticamente em ruínas.
Em [[1831 na literatura|1831]], foi promulgada uma lei que proibia a [[importação de escravos]] no Brasil, tornando livre qualquer indivíduo traficado assim que desembarcasse. Chamada de [[Lei Feijó]], ficou mais conhecida por [[lei para inglês ver]], por ser uma lei aprovada para apaziguar as pressões inglesas de abolição da escravidão no Brasil, sem que acabasse na prática a importação de escravos. Embora não fosse uma lei cumprida por traficantes de escravos, foi o instrumento [[Legalidade|legal]] pelo qual Gama se utilizou para conseguir a [[Alforria|libertação]] de escravos. O chamado "estilo Gama" consistia em provar por meio de [[processo judicial]] que os negros escravizados defendidos por Gama foram trazidos ilegalmente para o Brasil, ou seja, após a promulgação da Lei Feijó em 1831, devendo, portanto, serem libertos.{{Sfn|Alonso|2015|p=58}} [[Ficheiro:Luiz Gama c 1880.png|miniaturadaimagem|Gama, na maturidade|esquerda|246x246px]]Com a promulgação da [[Lei do Ventre Livre]] em [[1871 na ciência|1871]], Gama conseguiu mais alforrias de escravizados. Em um dos itens da lei, ficou estabelecida a exigência de matrícula de cada escravo que um senhor possuísse. Caso o escravo não possuísse a matrícula, podia ser usado como argumento para sua alforria, como fez Gama. Também o artigo 4º da lei formalizou a compra da carta de alforria do escravo pelo próprio ou por outros, o que deu margem para [[abolicionistas]] se passarem por avaliadores de escravos e abaixar os valores de compra, permitindo a Gama e a outros abolicionistas a compra de mais alforrias por valores reduzidos.{{Sfn|Alonso|2015|p=59}}


Embora atuasse principalmente na defesa dos negros acusados de crimes, ou para buscar-lhes a [[alforria]] judicialmente, não se negava a atender aos pobres de qualquer raça, havendo casos em que defendera imigrantes europeus lesados por brasileiros.<ref name="atarde" />
Também, em 2017, a [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]], no [[Largo de São Francisco]], deu o seu nome a uma de suas salas.<ref>{{Citar web |url=https://www.oabsp.org.br/noticias/2017/12/luiz-gama-ganha-nome-em-sala-na-usp-por-sua-luta-pela-libertacao-de-escravos.12127 |titulo=Luiz Gama ganha nome em sala na USP por sua luta pela libertação de escravos |acessodata=2020-09-18 |website=OAB SP |lingua=pt-br}}</ref>


Em sua carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, Gama estima que já havia libertado do cativeiro mais de 500 escravos.<ref name="carta" /> Durante um [[tribunal do júri|júri]], Gama proferiu uma frase que se tornou célebre: "O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa". Isto provocou tal reação ante os presentes que, com a confusão, o juiz se viu obrigado a suspender a sessão.<ref name="globo" />
===Título de "advogado" ===
133 anos após sua morte, em [[3 de novembro]] de [[2015]] a [[Ordem dos Advogados do Brasil]], Seção São Paulo, concedeu-lhe o título de "advogado", uma vez que não era formado e atuava como "provisionado" ou abolicionista.<ref name=nov>{{citar web|url=http://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/edison-veiga/luiz-gama-1830-1882-enfim-advogado/|título=Luiz Gama (1830-1882): enfim, advogado |autor=Edison Veiga |data=30 de outubro de 2015|publicado=O Estado de São Paulo|acessodata=3/11/2015}}</ref>


Tamanha foi a importância do trabalho de Luís Gama na causa emancipacionista dos negros em plena vigência das leis escravocratas, que recebeu o epíteto de "Apóstolo Negro da Abolição".<ref name=lit/>
A cerimônia de homenagem, intitulada ''Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista''", contou com dois dias de eventos na [[Universidade Presbiteriana Mackenzie]], através de debates e palestras.<ref name=nov/>


==Morte e funeral ==
A homenagem é inédita na história da OAB; segundo seu Presidente nacional, [[Marcus Vinicius Furtado Coêlho]], ''Trata-se de uma justíssima homenagem a quem tanto lutou por liberdade, igualdade e respeito.''<ref name=nov/>
Gama tinha [[diabetes]], e esta foi a ''[[causa mortis]]'' que o vitimou a [[24 de agosto]] de [[1882]], atestada pelo médico Jaime Perna.<ref name="loja" />


Após uma breve parada para uma preleção por um padre na capela, onde foram depositadas coroas de flores, finalmente o caixão foi levado à sepultura, onde a multidão esperava.{{Sfn|Santos|2014}} Sua sepultura fora adquirida no mesmo dia do enterro em nome da esposa Claudina, segundo registrado no Livro 2, fls. 28, do Arquivo Municipal; está situado na Rua 2, sepultura 17.<ref name="loja" />
== Imagem no Exterior ==
A importância do legado social e cultural de Luiz Gama faz com que ele também seja conhecido fora do Brasil.


O professor Otávio Torres registrou que Luís Gama morrera "aureolado por São Paulo"; Antônio Loureiro de Sousa, em 1949, registrou: "O seu enterro foi um espetáculo inédito: foi o maior de que há notícia naqueles tempos. A multidão que acompanhou o féretro, com todo silêncio e admiração, era obrigada a parar pelos numerosos discursos que interrompiam o cortejo fúnebre"''.''<ref name="als" /> Mais recentemente, em 2013, o articulista Zeca Borges declarou que "seu enterro foi o mais emocionante acontecimento da história da cidade de São Paulo".<ref name="globo">{{citar web|url=http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/zeca/posts/2012/11/16/luiz-gama-filho-de-luiza-mahin-474959.asp |título=Luis Gama - O filho de Luisa Mahin |autor=Zeca Borges |data=20/11/2013 |publicado=Globo.com |acessodata=29/11/2013 }}</ref>
Em 1974, o jornal da [[Universidade de Chicago]] publicou o artigo [https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.2307/2716766 Luiz Gama: Pioneer of Abolition in Brazil], dedicado a história de Luiz Gama.


==Homenagens e influências==
O site [https://www.blackpast.org/ Black Past], voltado para história global africana e afro americana, tem uma página com a biografia do poeta<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www.blackpast.org/global-african-history/gama-luis-1830-1882/ |titulo= |data= |acessodata= |publicado=}}</ref>.
[[Ficheiro:Luiz Gama by Raul Pompeia 1882.jpg|miniaturadaimagem|Desenho de Raul Pompeia, retratando Gama em [[O Mequetrefe]].|204x204px]]
Entre seus contemporâneos, Gama foi alvo de várias homenagens. [[Raul Pompeia]], no [[Gazeta de Notícias]] de 10 de setembro de 1882 escreveu o artigo intitulado ''Última página da vida de um grande homem'', sobre ele; o mesmo autor fez-lhe uma [[caricatura]], que foi publicada naquele mesmo ano, na primeira página do jornal carioca [[O Mequetrefe]] de agosto (nº 284) e, ainda, a [[novela]] inacabada ''A Mão de Luís Gama'', publicada originalmente nas página do ''Jornal do Commercio'', de São Paulo (1883), e o texto ''A Morte de Luíz Gama''.{{nota de rodapé|Os dois últimos textos integrais podem ser lidos in: Schmidt, Afonso. ''O Canudo''. S. Paulo, Clube do Livro, 1963 - p. 83–136.}}<ref>{{citar web|url=http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1285832.pdf |título=Exposição comemorativa do centenário de nascimento de Raul Pompeia |autor=Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro |ano=1963 |publicado=Ministério da Educação e Cultura |acessodata=25/11/2013}}</ref>


Alguns anos depois de sua morte, e em seguida à Abolição, foi fundada pelo maçom paulistano Góes e colaboração de irmãos das lojas ''Trabalho'' e ''Ordem e Progresso'' a ''Loja Luís Gama'', com a iniciação de 25 negros.<ref name=loja>{{citar web |url=http://lojaluizgama.com.br/pagina.php?IdPagina=4&Site=Site |título=Loja Luís Gama |autor=Institucional |data= |publicado=Sítio oficial da entidade |acessodata=25/11/2013 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140202130300/http://lojaluizgama.com.br/pagina.php?IdPagina=4&Site=Site# |arquivodata=02/02/2014 |urlmorta=yes }}</ref>
Em março de 2020, ocorreu o workshop [https://history.princeton.edu/news-events/events/latin-america-caribbean-workshop-slavery-freedom-and-civil-law-brazilian-courts Slavery, Freedom and Civil Law in the Brazilian Courts (1860-1888): How the Black Lawyer Luiz Gama Developed a Legal Doctrine that Freed Five Hundred Slaves] na [[Universidade de Princeton]].


Em sua homenagem, em [[1919]], a [[Estrada de Ferro Sorocabana]] (atual [[FEPASA]]) nomeou uma de suas estações, hoje praticamente em ruínas.
==Impacto cultural e influências ==
Entre 1923–1926, naquilo que pode ser considerado como "segundo período de imprensa negra" no estado de São Paulo, surge na cidade de [[Campinas]] o jornal ''Getulino''; nesta cidade o [[racismo]] se fazia sentir mais forte do que na própria capital daquele estado, e a publicação fazia parte do movimento por maior participação do negro na sociedade; seu título era uma ''homenagem a Luís Gama que tinha como um de seus pseudônimos Getulino'' e sua influência culminaria na criação de ''[[O Clarim da Alvorada]]'', jornal da capital paulista.<ref>{{citar web|url=http://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3609 |título=A imprensa negra paulista (1915/1963) |autor=Miriam Nicolau Ferrara |ano= 1985 |publicado=Revista Brasileira de História, vol. 5, nº 10 |acessodata=23/11/2013}}</ref>


Entre 1923–1926, naquilo que pode ser considerado como "segundo período de imprensa negra" no estado de São Paulo, surge na cidade de [[Campinas]] o jornal ''Getulino.'' Nesta cidade os casos de [[racismo]] eram maiores do que na própria capital daquele estado, e a publicação fazia parte do movimento por maior participação do negro na sociedade. Seu título era ''Uma'' ''homenagem a Luís Gama que tinha como um de seus pseudônimos Getulino'' e sua influência culminaria na criação de ''[[O Clarim da Alvorada]]'', jornal da capital paulista.<ref>{{citar web |url=http://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3609 |título=A imprensa negra paulista (1915/1963) |acessodata=23/11/2013 |publicado=Revista Brasileira de História, vol. 5, nº 10 |autor=Miriam Nicolau Ferrara |ano=1985}}</ref>
Ao longo do tempo influenciou diversos movimentos negros brasileiros, como o grupo literário ''Projeto Rhumor Negro'' de São Paulo, criado em [[1988]], para quem a carta de Gama a Mendonça é ''dos mais importantes documentos históricos do povo brasileiro. (...) Face à dimensão da vida deste grande homem, esta carta, atravessando o tempo, é também endereçada a todos nós.''<ref name=carta/>


No [[Largo do Arouche]], em São Paulo, há um busto erguido à sua memória,<ref name="carta" /> erigido a mando da comunidade negra por ocasião do seu centenário (1930).<ref name="ltreso" />[[Ficheiro:Luiz Gama monumento 1884 by Everton Cuccato.jpg|miniaturadaimagem|Busto de Gama, inaugurado em 1931, no [[Largo do Arouche]]|esquerda|288x288px]]Ao longo do tempo influenciou diversos movimentos negros brasileiros, como o grupo literário ''Projeto Rhumor Negro'' de São Paulo, criado em [[1988]], para quem a carta de Gama a Mendonça é ''dos mais importantes documentos históricos do povo brasileiro. (...) Face à dimensão da vida deste grande homem, esta carta, atravessando o tempo, é também endereçada a todos nós.''<ref name="carta" />
Em 2014, no rastro do sucesso do filme ''[[12 Anos de Escravidão]]'', a escritora [[Ana Maria Gonçalves]], autora da obra romanceada sobre a vida de Gama ''Um Defeito de Cor'', preparou um roteiro para um filme e também chamando a atenção da televisão brasileira — ressaltando que bem pouco se fala sobre a escravidão, em comparação a outros fatos históricos, como o holocausto durante a [[Segunda Guerra Mundial]].<ref>{{citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/03/1422176-series-e-filme-vao-contar-a-historia-do-abolicionista-baiano-luiz-gama.shtml|título=Séries e filme vão contar a história do abolicionista baiano Luís Gama |autor=Sylvia Colombo |data=8/3/2014|publicado=Ilustrada - Folha de S. Paulo |acessodata=8/3/2014}}</ref>


Também, em 2017, a [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]], no [[Largo de São Francisco]], deu o seu nome a uma de suas salas.<ref>{{Citar web |url=https://www.oabsp.org.br/noticias/2017/12/luiz-gama-ganha-nome-em-sala-na-usp-por-sua-luta-pela-libertacao-de-escravos.12127 |titulo=Luiz Gama ganha nome em sala na USP por sua luta pela libertação de escravos |acessodata=2020-09-18 |website=OAB SP |lingua=pt-br}}</ref>
Em 2019, foi anunciado que o cineasta [[Jeferson De|Jefferson De]] filmaria a vida de Gama, com [[Fabrício Boliveira]] como o personagem na vida adulta. O filme, em fase de produção, foi intitulado temporariamente como ''Prisioneiro da Liberdade'', conta também com as participações dos atores [[Caio Blat]] e [[Zezé Motta]].<ref>{{citar web|url=http://cineweb.com.br/noticias/noticia.php?id_noticia=4660|titulo=Fabricio Boliveira interpretará Luiz Gama em novo filme de Jefferson De|data=22/11/2018|acessodata=22/11/2018|publicado=Cineweb|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.adorocinema.com/filmes/filme-269750/|titulo=Prisioneiro da Liberdade|data=2019|publicado=Adoro Cinema|acesso=27/04/2020}}</ref>


Em 2014, no rastro do sucesso do filme ''[[12 Anos de Escravidão]]'', a escritora [[Ana Maria Gonçalves]], autora da obra romanceada sobre a vida de Gama ''Um Defeito de Cor'', preparou um roteiro para um filme e também chamando a atenção da televisão brasileira, a diferença de abrangência entre os temas da escravidão e de outros fatos históricos, como o [[Holocausto]] durante a [[Segunda Guerra Mundial]].<ref>{{citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/03/1422176-series-e-filme-vao-contar-a-historia-do-abolicionista-baiano-luiz-gama.shtml |título=Séries e filme vão contar a história do abolicionista baiano Luís Gama |data=8/3/2014 |acessodata=8/3/2014 |publicado=Ilustrada - Folha de S. Paulo |autor=Sylvia Colombo}}</ref>
Também em 2019, a [[história em quadrinhos]] ''Província Negra'' foi publicada após ser vencedora do edital ''Fomento Cultural'' da cidade de São Paulo, retratando uma aventura ficcional baseada na vida de Gama, que assume o papel de protagonista na aventura. O roteiro é assinado por [[Kaled Kanbour]] e a arte é de [[Kris Zullo]].<ref>{{citar web|url=https://mundonegro.inf.br/em-provincia-negra-luiz-gama-vira-personagem-de-historia-em-quadrinhos/|titulo=Em Província Negra, Luiz Gama vira personagem de história em quadrinhos|data=14/05/2019|publicado=Mundo Negro|acesso=27/04/2020}}</ref><ref>{{citar web|url=https://midia4p.cartacapital.com.br/hq-sobre-advogado-baiano-e-abolicionista-luiz-gama-e-lancada-em-sao-paulo/|titulo=HQ sobre personagem baiano e abolicionista Luiz Gama é lançada em São Paulo|data=12/02/2020|publicado=Carta Capital|acesso=27/04/2020}}</ref>


Em 2019, foi anunciado que o cineasta [[Jeferson De|Jefferson De]] filmaria a vida de Gama, com [[Fabrício Boliveira]] como o personagem na vida adulta. O filme, em fase de produção, foi intitulado temporariamente como ''Prisioneiro da Liberdade'', conta também com as participações dos atores [[Caio Blat]] e [[Zezé Motta]].<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://cineweb.com.br/noticias/noticia.php?id_noticia=4660 |titulo=Fabricio Boliveira interpretará Luiz Gama em novo filme de Jefferson De |data=22/11/2018 |acessodata=22/11/2018 |publicado=Cineweb}}</ref><ref>{{citar web |url=http://www.adorocinema.com/filmes/filme-269750/ |titulo=Prisioneiro da Liberdade |data=2019 |publicado=Adoro Cinema |acesso=27/04/2020}}</ref>
{{Notas|col=2}}


Também em 2019, a [[história em quadrinhos]] ''Província Negra'' foi publicada após ser vencedora do edital ''Fomento Cultural'' da cidade de São Paulo, retratando uma aventura ficcional baseada na vida de Gama, que assume o papel de protagonista na aventura. O roteiro é assinado por Kaled Kanbour e a arte é de Kris Zullo.<ref>{{citar web |url=https://mundonegro.inf.br/em-provincia-negra-luiz-gama-vira-personagem-de-historia-em-quadrinhos/ |titulo=Em Província Negra, Luiz Gama vira personagem de história em quadrinhos |data=14/05/2019 |publicado=Mundo Negro |acesso=27/04/2020}}</ref><ref>{{citar web |url=https://midia4p.cartacapital.com.br/hq-sobre-advogado-baiano-e-abolicionista-luiz-gama-e-lancada-em-sao-paulo/ |titulo=HQ sobre personagem baiano e abolicionista Luiz Gama é lançada em São Paulo |data=12/02/2020 |publicado=Carta Capital |acesso=27/04/2020}}</ref>
{{Referências|col=2}}
===Título de "advogado" ===
133 anos após sua morte, em [[3 de novembro]] de [[2015]] a [[Ordem dos Advogados do Brasil]], Seção São Paulo, concedeu-lhe o título de "advogado", uma vez que não era formado e atuava como "provisionado" ou abolicionista.<ref name=nov>{{citar web|url=http://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/edison-veiga/luiz-gama-1830-1882-enfim-advogado/|título=Luiz Gama (1830-1882): enfim, advogado |autor=Edison Veiga |data=30 de outubro de 2015|publicado=O Estado de São Paulo|acessodata=3/11/2015}}</ref>

A cerimônia de homenagem, intitulada ''Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista''", contou com dois dias de eventos na [[Universidade Presbiteriana Mackenzie]], através de debates e palestras.<ref name=nov/>

A homenagem é inédita na história da OAB; segundo seu Presidente nacional, [[Marcus Vinicius Furtado Coêlho]], ''Trata-se de uma justíssima homenagem a quem tanto lutou por liberdade, igualdade e respeito.''<ref name=nov/>

=== Imagem no Exterior ===
O site Black Past, voltado para história global africana e afro-americana, tem uma página com a biografia do poeta<ref>{{citar web |ultimo=Foster |primeiro=Hannah |url=https://www.blackpast.org/global-african-history/gama-luis-1830-1882/ |titulo=Luis Gama (1830-1882) |data=2 de abril de 2014 |acessodata=2 de junho de 2021 |publicado=Black Past |lingua=en}}</ref>.

Em março de 2020, ocorreu o [[workshop]] ''Slavery, Freedom and Civil Law in the Brazilian Courts (1860-1888): How the Black Lawyer Luiz Gama Developed a Legal Doctrine that Freed Five Hundred Slaves'' na [[Universidade de Princeton]].<ref>{{citar web |url=https://history.princeton.edu/news-events/events/latin-america-caribbean-workshop-slavery-freedom-and-civil-law-brazilian-courts |titulo=Latin America & Caribbean Workshop |publicado=Princeton University |lingua=en}}</ref>

{{Notas}}

{{Referências}}


== Bibliografia ==
== Bibliografia ==
Muitas obras retratam Luís Gama, além daquelas citadas nas referências, em suas facetas literária e abolicionista. Dentre elas, as seguintes:
{{Refbegin|2}}
*GAMA, Luís. ''Primeiras Trovas Burlescas e Outros Poemas (org. Lígia Ferreira).'' São Paulo: Martins Fontes, 2000.
*AZEVEDO, Elciene, ''Orfeu da Carapinha. A Trajetória de Luís Gama na Imperial Cidade de São Paulo''. Campinas, São Paulo: Ed. da Unicamp, 1999
*BRAGA-PINTO, César,"The Honor of the Abolitionist and the Shamefulness of Slavery: Raul Pompeia, Luís Gama and Joaquim Nabuco." Luso-Brazilian Review. 51(2), Dec. 2014. 170-199.
*CÂMARA, Nelson. ''O advogado dos escravos - Luis Gama''. São Paulo: lettera
*[[Sud Mennucci|MENNUCCI, Sud]]. ''O Precursor do Abolicionismo no Brasil - Luís Gama''. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938.
*SILVA, J. Romão. ''Luís da Gama e suas Poesias Satíricas.'' Rio de Janeiro: Ed. Casa do Estudante do Brasil.
{{Refend}}


==== Artigos científicos ====

* {{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/43905328 |titulo=The Honor of the Abolitionist and the Shamefulness of Slavery: Raul Pompeia, Luís Gama and Joaquim Nabuco |jornal=Luso-Brazilian Review |publicado=University of Wisconsin Press |número=2 |ultimo=Braga-Pinto |primeiro=César |lingua=en |volume=51}}
* {{Citar periódico |url=http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/9737 |titulo=A trajetória social e educacional do abolicionista Luís Gama: notas e anotações para a História da Educação brasileira. |data=2014 |jornal=Travessias Revista |publicado=Universidade Estadual do Oeste do Paraná |número=2 |ultimo=Cruz |primeiro=Ricardo Alexandre |ref=harv |volume=8}}
* {{citar periódico |url=http://www.jstor.org/stable/2716766 |titulo=Luiz Gama: Pioneer of Abolition in Brazil |data=1974 |jornal=The Journal of Negro History |publicado=Association for the Study of African American Life and History |número=3 |ultimo=Kennedy |primeiro=James H |lingua=en |volume=59}}
* {{Citar periódico |url=https://www.scielo.br/j/ea/a/3mxdYBZSgLYVWr5HntRYm3L/?lang=pt |titulo=Luiz Gama autor, leitor, editor: revisitando as Primeiras Trovas Burlescas de 1859 e 1861 |data=2019 |jornal=Estudos Avançados |publicado=Scielo Brasil |número=96 |ultimo=Ferreira |primeiro=Lígia Fonseca |volume=33}}
* {{Citar periódico |url=https://www.scielo.br/j/ea/a/zJHRTBVXN8tqfnkJNhG5YPk/?format=html |titulo=Luiz Gama: um abolicionista leitor de Renan |data=2007 |jornal=Estudos Avançados |publicado=Scielo Brasil |número=60 |ultimo=Ferreira |primeiro=Lígia Fonseca |volume=21}}
* {{Citar periódico |url=https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20858 |titulo=Luis Gama e a consciência negra na literatura brasileira |data=1996 |acessodata=1 de junho de 2021 |jornal=Afro‑Ásia |publicado=Universidade Federal da Bahia |número=17 |ultimo=Martins |primeiro=Heitor |ref=harv}}
* {{Citar periódico |url=https://revistas.iel.unicamp.br/index.php/sinteses/article/view/6351 |titulo=Luiz Gama, o poeta invísivel |data=2005 |acessodata=1 de junho de 2021 |jornal=Sínteses |publicado=Universidade Estadual de Campinas |ultimo=Oliveira |primeiro=Sílvio Roberto dos Santos |ref=harv |volume=10}}

==== Livros ====
*{{Citar livro|título=Flores, votos e balas: O movimento abolicionista brasileiro (1868-88)|ultimo=Alonso|primeiro=Angela|editora=Companhia das Letras|ano=2015|local=Rio de Janeiro|ref=harv}}
*{{Citar livro|título=Orfeu de Carapinha: A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo|ultimo=Azevedo|primeiro=Elciene|editora=Editora da Unicamp|ano=1999|local=São Paulo}}
*{{Citar livro|título=Advogado Dos Escravos|ultimo=Câmara|primeiro=Nelson|editora=Lettera doc|ano=2010|local=São Paulo}}
*{{Citar livro|título=Primeiras trovas burlescas e outros poemas|ultimo=Gama|primeiro=Luís|ultimo2=Ferreira|primeiro2=Lígia|editora=Martins Fontes|ano=2000|local=São Paulo}}
*{{Citar livro|título=O Precursor do Abolicionismo no Brasil: Luís Gama|ultimo=Menucci|primeiro=Sud|editora=Companhia Editora Nacional|ano=1938|local=São Paulo}}
*{{Citar livro|título=Luiz Gama|ultimo=Santos|primeiro=Luiz Carlos|editora=Selo Negro Edições|ano=2014|ref=harv}}
*{{Citar livro|título=Luís da Gama e suas Poesias Satíricas|ultimo=Silva|primeiro=J. Romão|editora=Casa do Estudante do Brasil|ano=1954|local=Rio de Janeiro|ref=harv}}
== Ligações externas ==
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Revisão das 19h01min de 3 de junho de 2021

Luís Gama
Luís Gama
O Libertador de Escravos
Nome completo Luís Gonzaga Pinto da Gama
Pseudônimo(s) Afro, Getúlio e Barrabaz
Nascimento 21 de junho de 1830
Salvador
Morte 24 de agosto de 1882 (52 anos)
São Paulo
Residência São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Etnia afro-brasileiro
Progenitores Mãe: Luísa Mahin (alforriada)
Pai: Um fidalgo de família portuguesa
Cônjuge Claudina Gama
Filho(a)(s) Benedito Graco Pinto da Gama
Ocupação advogado, escritor, abolicionista
Prêmios XXXII Prêmio Franz de Castro Holzwarth de Direitos Humanos[1]
Gênero literário Poesia
Movimento literário Romantismo
Magnum opus Primeiras Trovas Burlescas do Getulino
Religião Cristã
Página oficial
institutoluizgama.org.br

Luís Gonzaga Pinto da Gama[nota 1] (Salvador, 21 de junho de 1830São Paulo, 24 de agosto de 1882) foi um abolicionista, orador, jornalista, escritor brasileiro e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.[2]

Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito escravo aos 10 anos, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado "o maior abolicionista do Brasil".[3]

Foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Pautou sua vida na luta pela abolição da escravidão e pelo fim da monarquia no Brasil, contudo veio a morrer seis anos antes da concretização dessas causas.[4]

Apesar de considerado um dos expoentes do romantismo,[5] obras como a "Apresentação da Poesia Brasileira", de Manuel Bandeira, sequer mencionam seu nome.[6]

Infância e escravidão

Luís Gama nasceu em 21 de junho de 1830, na cidade de Salvador, na Bahia. Mesmo com as poucas informações existentes sobre sua infância, sabe-se que era filho de Luísa Mahin, uma ex-escrava africana alforriada, e filho de um fidalgo de família portuguesa, que morava na Bahia. Aos sete anos, sua mãe viajou para o Rio de Janeiro para participar da revolta da Sabinada, nunca mais reencontrando-o. Já em 1840, o pai acabou se endividando com jogos de azar, de modo que recorreu à venda de Luís Gama como escravo para pagar suas dívidas.[7]

Um patacho, tipo de embarcação a velas no qual viajou Luís Gama, como escravo.

Numa carta autobiográfica que enviou em 1880 a Lúcio de Mendonça, descreve assim seu nascimento e primeira infância:

Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, oito anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.[5]

Lígia Ferreira, uma das pesquisadoras que mais estudou a vida de Gama, assinala que estas informações não puderam ser comprovadas, embora realce que o sobrado em que situa seu nascimento ainda exista; o registro de seu batizado não pôde ser encontrado, e junta a isso o fato de que a omissão do nome paterno em seu relato lança dúvidas sobre sua real identidade.[5][nota 2]

Posto à venda, foi rejeitado "por ser baiano". Após a Revolta dos Malês, criou-se um estigma de que cativos baianos eram revoltosos e tinham mais propensão a fugir.[8] Foi levado ao Rio de Janeiro, onde foi vendido para o alferes Antônio Pereira Cardoso, um comerciante de escravos que o levou para ser revendido em São Paulo. Com todos os compradores resistindo a comprá-lo por ser baiano, Gama passou a trabalhar como escravo doméstico na propriedade do alferes, lavando e passando roupa, e em seguida se tornou escravo de ganho, trabalhando como costureiro e sapateiro, no município de Lorena.[7]

Liberdade e vida adulta

Em 1847, Luís Gama teve contato com um estudante de Direito, que se hospedou na casa de seu senhor e o ensinou o alfabeto. Com isso, Luís Gama consegue provar sua liberdade e se alistou ao exército em 1848. Permanecem obscuros, contudo, os artifícios utilizados por Luis Gama para obter sua liberdade, sendo aventada a possibilidade de que, para tal, tenha se utilizado do depoimento do pai — cuja identidade ele próprio zelava por manter obscura.[5] Também há a teoria de que Gama teria fugido da propriedade e argumentou ser livre por saber ler e escrever, que eram habilidades que a maioria dos escravos não possuíam.[7]

Fotografia da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1860.

Mesmo servindo no exército, era escolhido para trabalhar como copista para autoridades oficiais nas horas vagas, já que possuía boa caligrafia. Em 1856, foi contratado como escrivão da Secretaria de Polícia de São Paulo, no gabinete de Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, um conselheiro e professor de Direito. Com o conhecimento de Francisco Mendonça e dispondo de sua biblioteca, Luís Gama estudou mais a matéria do Direito até que tomou a decisão de graduar-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. No entanto, os alunos da Faculdade se manifestaram contrários à sua presença, impossibilitando a matrícula de Luís Gama, que passou a estudar por conta própria e se tornou um rábula, nome dado ao indivíduo que possuía conhecimento jurídico o suficiente para advogar, mesmo sem possuir o diploma de advogado.[9] Após atuar em processos de escravos, Gama foi demitido do cargo na Secretária de Polícia, em 1868, por pressão dos conservadores que estavam insatisfeitos com as alforrias conquistadas pelo rábula. Gama definiu sua demissão "a bem do serviço público" como uma consequência do trabalho que vinha a fazer de libertar escravos que se achavam em situação ilegal, além de denunciar os desmandos do sistema, ou, em suas palavras:

a turbulência consistia em eu fazer parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas [Lúcio de Mendonça, a quem escreve] ideias; e promover processos de pessoas livres criminosamente escravizadas, e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os reis.[5]

Literatura

Capa da primeira edição de Primeiras Trovas Burlescas, publicado em 1859.

Gama foi um leitor da obra Vida de Jesus, do filósofo francês Ernest Renan, publicada originalmente em 1863 e logo traduzida no Brasil, sendo um dos primeiros a se referir a ela no país. Sua única obra, publicada originalmente em duas edições (1859 e 1861), Primeiras Trovas Burlescas, colocou-o no panteão literário do Brasil apenas doze anos depois de haver aprendido a ler. Este livro, dedicado a Salvador Furtado de Mendonça, magistrado que lecionava no Largo de São Francisco e que ali também dirigia a sua biblioteca (o que permite inferir daí que tenha facilitado a Gama o acesso ao seu acervo), também traz poemas de autoria de seu amigo José Bonifácio, o Moço, em anexo.[4]

Poesia: o "Orfeu de carapinha"

Lembrando a figura do poeta grego Orfeu, e aludindo ao seu cabelo crespo, Gama foi chamado de "Orfeu de carapinha", e dominava tanto a poesia lírica quanto a satírica.[8]

Sua poética transcorre na primeira pessoa, sem esconder a própria origem e sem deixar de proclamar sua negritude; ao lado disto, não deixa de usar as imagens tradicionais de seu tempo, como as evocações mitológicas (tais como Orfeu, Cupido etc.) ou aos poetas do passado (como Lamartine, Camões, por exemplo).[10]

Contudo, Gama reverte essas imagens à sua condição: a musa é da Guiné, o Orfeu tem carapinha. Ao retratar a sociedade branca, usa de imagens fortemente satíricas:[10]

Com sabença profunda irei cantando
Altos feitos da gente luminosa,
(...)
Espertos manganões de mão ligeira,
Emproados juízes de trapaça,
E outros que de honrados têm fumaça,
Mas que são refinados agiotas.

Gama, por volta de 1860

Ele constrói, a partir dos elementos da cultura branca, a antítese para a cultura e civilização dos negros, preenchendo-os com elementos da poesia tradicional; assim, contrapõe-se a "musa da Guiné" ás musas greco-romanas; o granito escuro ao branco mármore; a marimba e o cabaço à lira e à flauta:[10]

Ó Musa da Guiné, cor de azeviche,
Estátua de granito denegrido,
(...)
Empresta-me o cabaço d'urucungo,
Ensina-me a brandir tua marimba (...)

Sobre si mesmo traça, nos seus versos, uma imagem que longe está da figura do "pobre coitado" ou sofredor que figura nos negros pintados por poetas brancos contemporâneos como Castro Alves, Gama atinge-se com a mesma crítica feroz com que ataca o sistema, menosprezando seu próprio valor ante os padrões culturais vigentes, que ele implicitamente aceita:[10]

Se queres, meu amigo,
No teu álbum pensamento
Ornado de frases finas,
Ditadas pelo talento;
Não contes comigo,
Que sou pobretão:
Em coisas mimosas
Sou mesmo um ratão.

Gama chega, até, a ironizar a situação do negro, apartado da riqueza, das ciências e das artes:[10]

Ciências e letras
Não são para ti:
Pretinha da Costa
Não é gente aqui.

Bode

"Bode" era um termo utilizado na época de Gama para fazer referência pejorativa a negros e pardos, sendo o próprio poeta alvo dessas ofensas. Com isso, em 1861, no poema Quem sou eu?, também conhecido como Bodarrada, Gama se utiliza do termo ironicamente para satirizar a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que afirmava a igualdade humana independente da cor:[11][12]

Se negro sou, ou sou bode,
Pouca importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta.
Pois que a espécie é muita vasta...
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes…
[...]
Haja paz, haja alegria,
folgue e brinque a bodaria;
cesse, pois, a matinada,
porque tudo é bodarrada!

Ativismo abolicionista

Jornalismo e maçonaria

Diabo Coxo (dez/1864), fundado por Gama e Agostini.

Parte do ativismo abolicionista de Luís Gama residiu na atividade na imprensa. Começou a carreira jornalística, na capital paulista, junto ao caricaturista Angelo Agostini; ambos fundaram, em 1864 o primeiro jornal ilustrado humorístico daquela cidade, intitulado Diabo Coxo.[13]

Mas Gama também escreveu artigos para outros jornais, em que discorria sobre assuntos sociorraciais do Brasil Imperial. Em artigo intitulado Foro de Belém de Jundiaí, publicado no Radical Paulistano, Gama denuncia a decisão de um juiz que, após a morte de um senhor de escravos, permitiu o leilão de um ex-escravizado que fora alforriado pelo filho herdeiro.[7]

Em 1866, ainda com Agostini, agora com adesão de Américo de Campos, fundam o hebdomadário Cabrião; os três pertenciam à mesma loja maçônica, e comungavam dos mesmos ideais republicanos e abolicionistas.[13] A Loja Maçônica América foi bastante ativa na causa abolicionista; fundada por Luiz Gama e Ruy Barbosa e dela também teria feito parte Joaquim Nabuco (que omite seu passado maçônico).[4] Quando de sua morte era Gama o Venerável Mestre da instituição.[7]

O "estilo Gama" de atuação judicial

Em 1831, foi promulgada uma lei que proibia a importação de escravos no Brasil, tornando livre qualquer indivíduo traficado assim que desembarcasse. Chamada de Lei Feijó, ficou mais conhecida por lei para inglês ver, por ser uma lei aprovada para apaziguar as pressões inglesas de abolição da escravidão no Brasil, sem que acabasse na prática a importação de escravos. Embora não fosse uma lei cumprida por traficantes de escravos, foi o instrumento legal pelo qual Gama se utilizou para conseguir a libertação de escravos. O chamado "estilo Gama" consistia em provar por meio de processo judicial que os negros escravizados defendidos por Gama foram trazidos ilegalmente para o Brasil, ou seja, após a promulgação da Lei Feijó em 1831, devendo, portanto, serem libertos.[14]

Gama, na maturidade

Com a promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871, Gama conseguiu mais alforrias de escravizados. Em um dos itens da lei, ficou estabelecida a exigência de matrícula de cada escravo que um senhor possuísse. Caso o escravo não possuísse a matrícula, podia ser usado como argumento para sua alforria, como fez Gama. Também o artigo 4º da lei formalizou a compra da carta de alforria do escravo pelo próprio ou por outros, o que deu margem para abolicionistas se passarem por avaliadores de escravos e abaixar os valores de compra, permitindo a Gama e a outros abolicionistas a compra de mais alforrias por valores reduzidos.[15]

Embora atuasse principalmente na defesa dos negros acusados de crimes, ou para buscar-lhes a alforria judicialmente, não se negava a atender aos pobres de qualquer raça, havendo casos em que defendera imigrantes europeus lesados por brasileiros.[8]

Em sua carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, Gama estima que já havia libertado do cativeiro mais de 500 escravos.[5] Durante um júri, Gama proferiu uma frase que se tornou célebre: "O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa". Isto provocou tal reação ante os presentes que, com a confusão, o juiz se viu obrigado a suspender a sessão.[16]

Tamanha foi a importância do trabalho de Luís Gama na causa emancipacionista dos negros em plena vigência das leis escravocratas, que recebeu o epíteto de "Apóstolo Negro da Abolição".[4]

Morte e funeral

Gama tinha diabetes, e esta foi a causa mortis que o vitimou a 24 de agosto de 1882, atestada pelo médico Jaime Perna.[17]

Após uma breve parada para uma preleção por um padre na capela, onde foram depositadas coroas de flores, finalmente o caixão foi levado à sepultura, onde a multidão esperava.[7] Sua sepultura fora adquirida no mesmo dia do enterro em nome da esposa Claudina, segundo registrado no Livro 2, fls. 28, do Arquivo Municipal; está situado na Rua 2, sepultura 17.[17]

O professor Otávio Torres registrou que Luís Gama morrera "aureolado por São Paulo"; Antônio Loureiro de Sousa, em 1949, registrou: "O seu enterro foi um espetáculo inédito: foi o maior de que há notícia naqueles tempos. A multidão que acompanhou o féretro, com todo silêncio e admiração, era obrigada a parar pelos numerosos discursos que interrompiam o cortejo fúnebre".[3] Mais recentemente, em 2013, o articulista Zeca Borges declarou que "seu enterro foi o mais emocionante acontecimento da história da cidade de São Paulo".[16]

Homenagens e influências

Desenho de Raul Pompeia, retratando Gama em O Mequetrefe.

Entre seus contemporâneos, Gama foi alvo de várias homenagens. Raul Pompeia, no Gazeta de Notícias de 10 de setembro de 1882 escreveu o artigo intitulado Última página da vida de um grande homem, sobre ele; o mesmo autor fez-lhe uma caricatura, que foi publicada naquele mesmo ano, na primeira página do jornal carioca O Mequetrefe de agosto (nº 284) e, ainda, a novela inacabada A Mão de Luís Gama, publicada originalmente nas página do Jornal do Commercio, de São Paulo (1883), e o texto A Morte de Luíz Gama.[nota 3][18]

Alguns anos depois de sua morte, e em seguida à Abolição, foi fundada pelo maçom paulistano Góes e colaboração de irmãos das lojas Trabalho e Ordem e Progresso a Loja Luís Gama, com a iniciação de 25 negros.[17]

Em sua homenagem, em 1919, a Estrada de Ferro Sorocabana (atual FEPASA) nomeou uma de suas estações, hoje praticamente em ruínas.

Entre 1923–1926, naquilo que pode ser considerado como "segundo período de imprensa negra" no estado de São Paulo, surge na cidade de Campinas o jornal Getulino. Nesta cidade os casos de racismo eram maiores do que na própria capital daquele estado, e a publicação fazia parte do movimento por maior participação do negro na sociedade. Seu título era Uma homenagem a Luís Gama que tinha como um de seus pseudônimos Getulino e sua influência culminaria na criação de O Clarim da Alvorada, jornal da capital paulista.[19]

No Largo do Arouche, em São Paulo, há um busto erguido à sua memória,[5] erigido a mando da comunidade negra por ocasião do seu centenário (1930).[13]

Busto de Gama, inaugurado em 1931, no Largo do Arouche

Ao longo do tempo influenciou diversos movimentos negros brasileiros, como o grupo literário Projeto Rhumor Negro de São Paulo, criado em 1988, para quem a carta de Gama a Mendonça é dos mais importantes documentos históricos do povo brasileiro. (...) Face à dimensão da vida deste grande homem, esta carta, atravessando o tempo, é também endereçada a todos nós.[5]

Também, em 2017, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco, deu o seu nome a uma de suas salas.[20]

Em 2014, no rastro do sucesso do filme 12 Anos de Escravidão, a escritora Ana Maria Gonçalves, autora da obra romanceada sobre a vida de Gama Um Defeito de Cor, preparou um roteiro para um filme e também chamando a atenção da televisão brasileira, a diferença de abrangência entre os temas da escravidão e de outros fatos históricos, como o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.[21]

Em 2019, foi anunciado que o cineasta Jefferson De filmaria a vida de Gama, com Fabrício Boliveira como o personagem na vida adulta. O filme, em fase de produção, foi intitulado temporariamente como Prisioneiro da Liberdade, conta também com as participações dos atores Caio Blat e Zezé Motta.[22][23]

Também em 2019, a história em quadrinhos Província Negra foi publicada após ser vencedora do edital Fomento Cultural da cidade de São Paulo, retratando uma aventura ficcional baseada na vida de Gama, que assume o papel de protagonista na aventura. O roteiro é assinado por Kaled Kanbour e a arte é de Kris Zullo.[24][25]

Título de "advogado"

133 anos após sua morte, em 3 de novembro de 2015 a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo, concedeu-lhe o título de "advogado", uma vez que não era formado e atuava como "provisionado" ou abolicionista.[26]

A cerimônia de homenagem, intitulada Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista", contou com dois dias de eventos na Universidade Presbiteriana Mackenzie, através de debates e palestras.[26]

A homenagem é inédita na história da OAB; segundo seu Presidente nacional, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, Trata-se de uma justíssima homenagem a quem tanto lutou por liberdade, igualdade e respeito.[26]

Imagem no Exterior

O site Black Past, voltado para história global africana e afro-americana, tem uma página com a biografia do poeta[27].

Em março de 2020, ocorreu o workshop Slavery, Freedom and Civil Law in the Brazilian Courts (1860-1888): How the Black Lawyer Luiz Gama Developed a Legal Doctrine that Freed Five Hundred Slaves na Universidade de Princeton.[28]

Notas

  1. Segundo a ortografia da época em que viveu, seu nome era grafado Luiz Gama.
  2. Há, na memória histórica de Salvador, enorme lacuna derivada do bombardeio da cidade em 1912 que, dentre outras destruições, incendiou a documentação de séculos daquela que fora a primeira capital do Brasil.
  3. Os dois últimos textos integrais podem ser lidos in: Schmidt, Afonso. O Canudo. S. Paulo, Clube do Livro, 1963 - p. 83–136.

Referências

  1. «Luiz Gama vence XXXII Prêmio Franz de Castro Holzwarth de Direitos Humanos». OAB SP. 10 de dezembro de 2015. Consultado em 15 de setembro de 2020 
  2. «Lei 13.629 de 16/01/18». www.planalto.gov.br. Consultado em 17 de janeiro de 2018 
  3. a b Antônio Loureiro de Souza (1959). Bahianos Ilustres: 1564 – 1925. Salvador: [s.n.] p. 102 
  4. a b c d Ligia Fonseca Ferreira (2007). «Luís Gama: um abolicionista leitor de Renan». Estudos Avançados, vol.21 no.60 São Paulo. Consultado em 23 de novembro de 2013 
  5. a b c d e f g h Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome carta
  6. Manuel Bandeira (1964). Apresentação da Poesia Brasileira (seguida de uma antologia de versos). [S.l.]: Ediouro. 451 páginas 
  7. a b c d e f Santos 2014.
  8. a b c Andreia Santana (7 de setembro de 2013). Transcrição no blog da autora.. «As muitas vidas de Luiz Gama na luta pela liberdade». Salvador, Bahia. A Tarde (Caderno 2+). Consultado em 30 de novembro de 2013 
  9. Cruz 2014, pp. 188-189.
  10. a b c d e Roberto de Oliveira Brandão. «A Poesia Satírica de Luís Gama» (PDF). Boletim bibliográfico - Biblioteca Mario de Andrade, vol. 49, nº 1/4 (Literafro-UFMG). Consultado em 27 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 4 de fevereiro de 2014 
  11. Martins 1996, p. 96.
  12. Oliveira 2005, pp. 436-437.
  13. a b c Lígia Fonseca Ferreira (2012). «2012, 130º Aniversário de falecimento Luís Gama (1830–1882):de escravo a "cidadão"». Consultado em 25 de novembro de 2013. Arquivado do original em 2 de dezembro de 2013 
  14. Alonso 2015, p. 58.
  15. Alonso 2015, p. 59.
  16. a b Zeca Borges (20 de novembro de 2013). «Luis Gama - O filho de Luisa Mahin». Globo.com. Consultado em 29 de novembro de 2013 
  17. a b c Institucional. «Loja Luís Gama». Sítio oficial da entidade. Consultado em 25 de novembro de 2013. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2014 
  18. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1963). «Exposição comemorativa do centenário de nascimento de Raul Pompeia» (PDF). Ministério da Educação e Cultura. Consultado em 25 de novembro de 2013 
  19. Miriam Nicolau Ferrara (1985). «A imprensa negra paulista (1915/1963)». Revista Brasileira de História, vol. 5, nº 10. Consultado em 23 de novembro de 2013 
  20. «Luiz Gama ganha nome em sala na USP por sua luta pela libertação de escravos». OAB SP. Consultado em 18 de setembro de 2020 
  21. Sylvia Colombo (8 de março de 2014). «Séries e filme vão contar a história do abolicionista baiano Luís Gama». Ilustrada - Folha de S. Paulo. Consultado em 8 de março de 2014 
  22. «Fabricio Boliveira interpretará Luiz Gama em novo filme de Jefferson De». Cineweb. 22 de novembro de 2018. Consultado em 22 de novembro de 2018 
  23. «Prisioneiro da Liberdade». Adoro Cinema. 2019. Consultado em 27 de abril de 2020 
  24. «Em Província Negra, Luiz Gama vira personagem de história em quadrinhos». Mundo Negro. 14 de maio de 2019. Consultado em 27 de abril de 2020 
  25. «HQ sobre personagem baiano e abolicionista Luiz Gama é lançada em São Paulo». Carta Capital. 12 de fevereiro de 2020. Consultado em 27 de abril de 2020 
  26. a b c Edison Veiga (30 de outubro de 2015). «Luiz Gama (1830-1882): enfim, advogado». O Estado de São Paulo. Consultado em 3 de novembro de 2015 
  27. Foster, Hannah (2 de abril de 2014). «Luis Gama (1830-1882)» (em inglês). Black Past. Consultado em 2 de junho de 2021 
  28. «Latin America & Caribbean Workshop» (em inglês). Princeton University 

Bibliografia

Artigos científicos

Livros

  • Alonso, Angela (2015). Flores, votos e balas: O movimento abolicionista brasileiro (1868-88). Rio de Janeiro: Companhia das Letras 
  • Azevedo, Elciene (1999). Orfeu de Carapinha: A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. São Paulo: Editora da Unicamp 
  • Câmara, Nelson (2010). Advogado Dos Escravos. São Paulo: Lettera doc 
  • Gama, Luís; Ferreira, Lígia (2000). Primeiras trovas burlescas e outros poemas. São Paulo: Martins Fontes 
  • Menucci, Sud (1938). O Precursor do Abolicionismo no Brasil: Luís Gama. São Paulo: Companhia Editora Nacional 
  • Santos, Luiz Carlos (2014). Luiz Gama. [S.l.]: Selo Negro Edições 
  • Silva, J. Romão (1954). Luís da Gama e suas Poesias Satíricas. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil 

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