Ramón Mercader: diferenças entre revisões

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'''Jaime Ramón Mercader del Río Hernández''', também conhecido como '''Ramón Mercader''', '''Jacques Monard''' ou ainda '''Frank Jacson''' ([[Barcelona]], [[7 de fevereiro]] de [[1913]]<ref>Outras fontes datam o nascimento de Mercander em 7 de fevereiro de 1914</ref> – [[Havana]], [[18 de outubro]] de [[1978]])<ref name="grave">Photograph of [http://upload.wikimedia.org/wikipedia/de/d/d3/Friedhof_Kunzewo_Grab_Mercader_-_Grabstein.jpg Mercader's Gravestone]</ref> foi um [[Espionagem|agente]] no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos [[NKVD]] da [[URSS]], na época que [[Josef Stalin]] era o secretário geral do [[Partido Comunista]] da [[União Soviética]].<ref>[https://www.nytimes.com/1989/01/16/world/the-new-trotsky-no-longer-a-devil.html?pagewanted=all "The New Trotsky: No Longer a Devil"] by Craig R. Whitney, ''[[The New York Times]]'', 16 de janeiro de 1989</ref> Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de [[Leon Trotsky]], em seu exílio no [[México]] e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin.
'''Jaime Ramón Mercader del Río Hernández''', também conhecido como '''Ramón Mercader''', '''Jacques Monard''' ou ainda '''Frank Jacson''' ([[Barcelona]], [[7 de fevereiro]] de [[1913]]<ref>Outras fontes datam o nascimento de Mercander em 7 de fevereiro de 1914</ref> – [[Havana]], [[18 de outubro]] de [[1978]])<ref name="grave">Photograph of [http://upload.wikimedia.org/wikipedia/de/d/d3/Friedhof_Kunzewo_Grab_Mercader_-_Grabstein.jpg Mercader's Gravestone]</ref> foi um [[Espionagem|agente]] no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos [[NKVD]] da [[URSS]], na época que [[Josef Stalin]] era o secretário geral do [[Partido Comunista]] da [[União Soviética]].<ref>[https://www.nytimes.com/1989/01/16/world/the-new-trotsky-no-longer-a-devil.html?pagewanted=all "The New Trotsky: No Longer a Devil"] by Craig R. Whitney, ''[[The New York Times]]'', 16 de janeiro de 1989</ref> Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de [[Leon Trótsky]], em seu exílio no [[México]] e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de [[Stalin]].


Como um suposto rico comerciante ele se tornara amante da trotskista americana Sylvia Agelot, e se infiltrara na casa onde Trotski morava <ref>(Volkogonov, Trotski, pg 465)</ref>, cometendo o atentado ao final da tarde de 20 de agosto de [[1940]]. Em 1961 foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país.
Como um suposto rico comerciante ele se tornara amante da trotskista americana Sylvia Agelot, e se infiltrara na casa onde Trótski morava <ref>(Volkogonov, Trotski, pg 465)</ref>, cometendo o atentado ao final da tarde de 20 de agosto de [[1940]]. Em 1961 foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país.


== Vida ==
== Vida ==
[[Imagem:Mercader post arrest.jpeg|thumb|320px|direita|Ramón Mercader (no centro, com a cabeça enfaixada) detido pelo assassinato de Trotsky.]]
Mercader nasceu em [[Barcelona]], mas passou grande parte de sua juventude na [[França]] com sua mãe, Eustacia Maria Caridad del Río Hernández, após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de [[Cuba]]. Ainda jovem abraçou o [[stalinismo]], ajudando organizações stalinistas na [[Espanha]] durante meados dos [[Década de 1930|anos 30]]. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a [[Frente Popular (Espanha)|Frente Popular]] venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em [[1936]].


[[Imagem:Mercader post arrest.jpeg|thumb|320px|direita|Ramón Mercader (no centro, com a cabeça enfaixada) detido pelo assassinato de Trótsky.]]
Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética. Pouco tempo antes de irromper a [[Guerra Civil Espanhola]] Ramón viaja a [[Moscou]], com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de [[guerrilha]]s e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.

Mercader nasceu em [[Barcelona]], mas passou grande parte de sua juventude na [[França]] com sua mãe, [[Caridad Mercader|Eustacia Maria Caridad del Río Hernández]], após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de [[Cuba]]. Ainda jovem abraçou o [[stalinismo]], ajudando organizações stalinistas na [[Espanha]] durante meados dos [[Década de 1930|anos 30]]. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a [[Frente Popular (Espanha)|Frente Popular]] venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em [[1936]].

Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética.<ref>{{citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=vSeODwAAQBAJ&pg=PT27&lpg=PT27&dq=africa+de+las+heras+asesinato+de+Trotsky&source=bl&ots=vobO3cWIRl&sig=ACfU3U0FwkYNzuWRQq_s-R5uDdfld-buXQ&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjWyNr81uzjAhVOH7kGHR9dA2M4ChDoATAJegQICBAB#v=onepage&q=africa%20de%20las%20heras%20asesinato%20de%20Trotsky&f=false|titulo=No sabes nada de mí: Quiénes son las espías españolas|data=24 de abril de 2019|acessodata=6 de agosto de 2019|publicado=[[Google Livros]] - ''La Esfera de los Libros'' {{es}}|ultimo=Cernuda|primeiro=Pilar}} ISBN 9788491645856</ref> <ref>{{citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=-_J0DwAAQBAJ&pg=PT312&dq=africa+de+las+heras+caridad+mercader&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiGw8mw2ezjAhWrILkGHTz2CN4Q6AEIPjAD#v=onepage&q=africa%20de%20las%20heras%20caridad%20mercader&f=false|titulo=Cenizas de plata y sangre|data=6 de novembro de 2018|acessodata=6 de agosto de 2019|publicado=Google Livros - ''La Esfera de los Libros'' {{es}}|ultimo=de Arteaga|primeiro=Almudena}} ISBN 9788491644613</ref> Pouco tempo antes de irromper a [[Guerra Civil Espanhola]] Ramón viaja a [[Moscou]], com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de [[guerrilha]]s e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.


== Assassinato de Trotsky ==
== Assassinato de Trotsky ==
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Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:
Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:


{{quote1|''A guerra está próxima. O trotskismo tornou-se um cúmplice do Fascismo. Devemos dar um profundo golpe na [[Quarta Internacional|IV internacional]]. Como? Decapitem-na! '' Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior. (Citado em Volkogonov, D. ''Trotsky''. pg. 456)|Stálin (O Assassinato de Trotsky: Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior.)}}
{{quote1|''A guerra está próxima. O ''[[trotskismo]]'' tornou-se um cúmplice do ''[[Fascismo]].'' Devemos dar um profundo golpe na [[Quarta Internacional|IV internacional]]. Como? Decapitem-na! '' Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior. (Citado em Volkogonov, D. ''Trotsky''. pg. 456)|Stálin (O Assassinato de Trotsky: Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior.)}}


Em outubro de 1939, Mercader entrara no [[México]] com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trotski custara cerca de cinco milhões de [[dólar]]es ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).
Em outubro de 1939, Mercader entrara no [[México]] com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trótski custara cerca de cinco milhões de [[dólar]]es ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).


No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da [[NKVD]] no México. Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trotsky, consegue amizade com a secretária de Trotsky, Sylvia Agelof.
No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da [[NKVD]] no México. A espiã soviética, [[África de las Heras]], que também se infiltrara na casa de Trótski trabalhando como empregada, ajudou-o no plano.<ref>{{citar web|url=https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39489992|titulo=Como espanhola criou rede de espiões para os soviéticos na América do Sul|data=8 de abril de 2017|acessodata=6 de agosto de 2019|publicado=[[BBC]]|ultimo=Esparza|primeiro=Pablo}}</ref> Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trótsky, consegue amizade com a secretária de Trótsky, Sylvia Agelof.


Encontra-se por duas vezes com Trotsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trotsky em [[Coyoacán]] (próximo da [[Cidade do México]]), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um [[piolet]] (pequena picareta de [[alpinismo]]). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trotsky iriam matá-lo, mas Trotsky impediu, gritando: "''Não o matem! Este homem tem uma história a contar.''"
Encontra-se por duas vezes com Trótsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trótsky em [[Coyoacán]] (próximo da [[Cidade do México]]), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um [[piolet]] (pequena picareta de [[alpinismo]]). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trótsky iriam matá-lo, mas Trótsky impediu, gritando: "''Não o matem! Este homem tem uma história a contar.''"


Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em [[Cela solitária|solitária]] (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de [[1953]] sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a [[dissolução da União Soviética]], quando foram abertos os arquivos da NKVD.
Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em [[Cela solitária|solitária]] (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de [[1953]] sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a [[dissolução da União Soviética]], quando foram abertos os arquivos da NKVD.
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== Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México ==
== Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México ==


{{quote1|Coloquei minha capa de chuva na mesa, de uma forma que fosse capaz de remover o [[piolet]] que estava dentro do bolso. Eu decidi aproveitar aquela maravilhosa oportunidade que se apresentava. O momento que Trotski começou a ler meu artigo foi quando decidi fazê-lo. Retirei o piolet do bolso do casaco, coloquei-o nas minhas mãos e, com meus olhos fechados, dei-lhe um forte golpe na cabeça. Trotski emitiu um grito que eu nunca esquecerei. Um longo ''aaaa'', interminavelmente longo, eu penso que ainda ecoa em meu cérebro. Trotski pulou em cima de mim como pôde e mordeu a minha mão. Olhe, você ainda pode ver as marcas dos seus dentes. Eu o empurrei e ele caiu no chão. Então ele levantou-se e cambaleou para fora do escritório. (Volkogonov, Trotski, pg 466).|Ramon Mercader (Assassinato de Trotsky)}}
{{quote1|''Coloquei minha capa de chuva na mesa, de uma forma que fosse capaz de remover o ''[[piolet]]'' que estava dentro do bolso. Eu decidi aproveitar aquela maravilhosa oportunidade que se apresentava. O momento que Trótski começou a ler meu artigo foi quando decidi fazê-lo. Retirei o piolet do bolso do casaco, coloquei-o nas minhas mãos e, com meus olhos fechados, dei-lhe um forte golpe na cabeça. Trótski emitiu um grito que eu nunca esquecerei. Um longo ''aaaa'', interminavelmente longo, eu penso que ainda ecoa em meu cérebro. Trótski pulou em cima de mim como pôde e mordeu a minha mão. Olhe, você ainda pode ver as marcas dos seus dentes. Eu o empurrei e ele caiu no chão. Então ele levantou-se e cambaleou para fora do escritório.'' (Volkogonov, Trotski, pg 466).|Ramon Mercader (Assassinato de Trotsky)}}


== Prisão, Fidelidade e Reconhecimento ==
== Prisão, Fidelidade e Reconhecimento ==
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[[Imagem:Sentencia definitiva condenando a Ramón Mercader en 1944 - 'Ramón Mercader, mi hermano' (Luis Mercader y Germán Sánchez).jpg|thumb|210px|direita|Sentença de condenação de Mercader (1944). A sentença refere-se a ele como "''Jacques Monard ou Frank Jacson''".]]
[[Imagem:Sentencia definitiva condenando a Ramón Mercader en 1944 - 'Ramón Mercader, mi hermano' (Luis Mercader y Germán Sánchez).jpg|thumb|210px|direita|Sentença de condenação de Mercader (1944). A sentença refere-se a ele como "''Jacques Monard ou Frank Jacson''".]]


Mesmo sendo frequentemente [[tortura]]do pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a [[NKVD]]. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma [[Superdotado|pessoa superdotada]], pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de raciocínio acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón.
Mesmo sendo frequentemente [[tortura]]do pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a [[NKVD]]. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma [[Superdotado|pessoa superdotada]], pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de [[raciocínio]] acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón.


A NKVD chegou a elaborar um ousado plano para resgatá-lo da prisão em Outubro de 1944.<ref>[http://agesmystery.ru/rubriki/lica-razvedki/razvedchiki-nelegaly-mixail-i-anna-filonenko/ Ages Mystery] - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). {{ru}} Acessado em 13/09/2016.</ref> Entretanto, este plano, que contaria com a participação da espiã [[Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva]], jamais foi realizado.<ref>[[Gazeta Russa]] - [http://www.gazetarussa.com.br/defesa/2016/03/08/as-espias-que-sabiam-demais_573343 As espiãs que sabiam demais. De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil.] Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 13/09/2016.</ref> Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na [[Cidade do México]], em maio de [[1960]], e mudou-se para [[Havana]], onde [[Fidel Castro]] o acolheu.
A NKVD chegou a elaborar um ousado plano para resgatá-lo da prisão em Outubro de 1944.<ref>[http://agesmystery.ru/rubriki/lica-razvedki/razvedchiki-nelegaly-mixail-i-anna-filonenko/ Ages Mystery] - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). {{ru}} Acessado em 13/09/2016.</ref> Entretanto, este plano, que contaria com a participação da espiã [[Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva]], jamais foi realizado.<ref>[[Gazeta Russa]] - [http://www.gazetarussa.com.br/defesa/2016/03/08/as-espias-que-sabiam-demais_573343 As espiãs que sabiam demais. De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil.] Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 13/09/2016.</ref> Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na [[Cidade do México]], em maio de [[1960]], e mudou-se para [[Havana]], onde [[Fidel Castro]] o acolheu.
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Em [[1961]], Mercader mudou-se para a [[URSS]] e foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela [[KGB]] (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de [[Kuntsevo (distrito)|Kuntsevo]], em [[Moscou]], possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.
Em [[1961]], Mercader mudou-se para a [[URSS]] e foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela [[KGB]] (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de [[Kuntsevo (distrito)|Kuntsevo]], em [[Moscou]], possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.


Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trotsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trotsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.
Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trótsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trótsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.


Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trotsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.
Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trótsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.


Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente [[Nikita Khrushchov]]. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de Stalin, até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um voo especial para Moscou. A sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)
Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente [[Nikita Khrushchov]]. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de [[Stalin]], até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um voo especial para Moscou. A sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)


== Filmografía sobre Ramón Mercader ==
== Filmografía sobre Ramón Mercader ==

Revisão das 14h42min de 6 de agosto de 2019

Ramón Mercader
Ramón Mercader
Nascimento 7 de fevereiro de 1913
Barcelona
Morte 18 de outubro de 1978 (65 anos)
Havana
Sepultamento Cemitério de Kuntsevo
Cidadania Espanha, União Soviética
Progenitores
  • Pablo Mercader Medina
  • Caridad Mercader
Irmão(ã)(s) Luis Mercader del Río
Ocupação espião, político, assassin
Prêmios
Empregador(a) Instituto Marx-Engels-Lenin, NKVD
Lealdade Segunda República Espanhola, União Soviética
Ideologia política marxismo-leninismo
Causa da morte câncer ósseo

Jaime Ramón Mercader del Río Hernández, também conhecido como Ramón Mercader, Jacques Monard ou ainda Frank Jacson (Barcelona, 7 de fevereiro de 1913[1]Havana, 18 de outubro de 1978)[2] foi um agente no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos NKVD da URSS, na época que Josef Stalin era o secretário geral do Partido Comunista da União Soviética.[3] Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de Leon Trótsky, em seu exílio no México e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin.

Como um suposto rico comerciante ele se tornara amante da trotskista americana Sylvia Agelot, e se infiltrara na casa onde Trótski morava [4], cometendo o atentado ao final da tarde de 20 de agosto de 1940. Em 1961 foi condecorado com a medalha de Herói da União Soviética, uma das mais altas comendas do país.

Vida

Ficheiro:Mercader post arrest.jpeg
Ramón Mercader (no centro, com a cabeça enfaixada) detido pelo assassinato de Trótsky.

Mercader nasceu em Barcelona, mas passou grande parte de sua juventude na França com sua mãe, Eustacia Maria Caridad del Río Hernández, após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de Cuba. Ainda jovem abraçou o stalinismo, ajudando organizações stalinistas na Espanha durante meados dos anos 30. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a Frente Popular venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em 1936.

Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética.[5] [6] Pouco tempo antes de irromper a Guerra Civil Espanhola Ramón viaja a Moscou, com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de guerrilhas e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.

Assassinato de Trotsky

Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.

Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:

Em outubro de 1939, Mercader entrara no México com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trótski custara cerca de cinco milhões de dólares ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).

No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da NKVD no México. A espiã soviética, África de las Heras, que também se infiltrara na casa de Trótski trabalhando como empregada, ajudou-o no plano.[7] Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trótsky, consegue amizade com a secretária de Trótsky, Sylvia Agelof.

Encontra-se por duas vezes com Trótsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trótsky em Coyoacán (próximo da Cidade do México), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um piolet (pequena picareta de alpinismo). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trótsky iriam matá-lo, mas Trótsky impediu, gritando: "Não o matem! Este homem tem uma história a contar."

Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em solitária (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de 1953 sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a dissolução da União Soviética, quando foram abertos os arquivos da NKVD.

Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México

Prisão, Fidelidade e Reconhecimento

Sentença de condenação de Mercader (1944). A sentença refere-se a ele como "Jacques Monard ou Frank Jacson".

Mesmo sendo frequentemente torturado pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a NKVD. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma pessoa superdotada, pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de raciocínio acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón.

A NKVD chegou a elaborar um ousado plano para resgatá-lo da prisão em Outubro de 1944.[8] Entretanto, este plano, que contaria com a participação da espiã Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva, jamais foi realizado.[9] Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na Cidade do México, em maio de 1960, e mudou-se para Havana, onde Fidel Castro o acolheu.

Em 1961, Mercader mudou-se para a URSS e foi condecorado com a medalha de Herói da União Soviética, uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela KGB (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de Kuntsevo, em Moscou, possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.

Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trótsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trótsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.

Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trótsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.

Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente Nikita Khrushchov. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de Stalin, até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um voo especial para Moscou. A sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)

Filmografía sobre Ramón Mercader

Ano Filme Diretor Ator Nota
1972 O Assassinato de Trotsky Joseph Losey Alain Delon Filme britânico que conta a história do assassinato de Trotsky
1996 Asaltar los cielos José Luis López-Linares e Javier Rioyo - Documentário espanhol do ponto de vista da família Mercarder
2009 El hombre que amaba a los perros Leonardo Padura - Novela histórica cubana com a narração em torno do exílio de Trotsky e sua confluência no México com Mercader.
2015 El Elegido Antonio Chavarrías Alfonso Herrera Filme mexicano/espanhol que conta a história de Ramón durante a operação do assassinato de Trotsky. Também estão no elenco Hanna Murray (Game of Thrones) e Henry Goodman.

Ver também

Referências

  1. Outras fontes datam o nascimento de Mercander em 7 de fevereiro de 1914
  2. Photograph of Mercader's Gravestone
  3. "The New Trotsky: No Longer a Devil" by Craig R. Whitney, The New York Times, 16 de janeiro de 1989
  4. (Volkogonov, Trotski, pg 465)
  5. Cernuda, Pilar (24 de abril de 2019). «No sabes nada de mí: Quiénes son las espías españolas». Google Livros - La Esfera de los Libros (em castelhano). Consultado em 6 de agosto de 2019  ISBN 9788491645856
  6. de Arteaga, Almudena (6 de novembro de 2018). «Cenizas de plata y sangre». Google Livros - La Esfera de los Libros (em castelhano). Consultado em 6 de agosto de 2019  ISBN 9788491644613
  7. Esparza, Pablo (8 de abril de 2017). «Como espanhola criou rede de espiões para os soviéticos na América do Sul». BBC. Consultado em 6 de agosto de 2019 
  8. Ages Mystery - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). (em russo) Acessado em 13/09/2016.
  9. Gazeta Russa - As espiãs que sabiam demais. De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil. Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 13/09/2016.

Fontes

Bibliografia

  • Trotsky's Diary in Exile (London 1959);
  • Victor Serge and Natalia Sedova Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky (London 1975);
  • Natalia Trotsky: How it Happened and Father and Son ('Fourth International,' May 1941 and August 1941);
  • Jean van Heijenoort: With Trotsky in Exile (London 1978);
  • Elizabeth Poretsky: Our Own People: A Memoir of Ignace Reiss (London 1969);
  • Isaac Don Levine; The Mind of an Assassin (London 1960);
  • Georges Vereeken: The GPU in the Trotskyist Movement (London 1978);
  • Alexander Orlov: The Secret History of Stalin's Crimes (London 1954);
  • Walter Krivitsky: I Was Stalin's Agent (London 1941);
  • Ronald SegaI: The Tragedy of Leon Trotsky (London 1979).