Livros deuterocanônicos

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O termo deuterocanônico (português brasileiro) ou deuterocanónico (português europeu) refere-se a um conjunto de livros que estão presentes na Septuaginta, antiga tradução em grego dos livros do Antigo Testamento, e por isso supostamente tidos como divinamente inspirados pelos primeiros cristãos. Foram posteriormente definidos como autênticos no Concílio de Roma em 382 d.C., de Hipona em 393 d.C., III Concílio de Cartago em 397, e especialmente no Concílio de Trento, iniciado em 1546.

Etimologia

O termo "deuterocanônico" é formado pela raiz grega deutero (segundo) e canônico (que faz parte do Cânon, isto é do conjunto de livros considerados inspirados por Deus e normativos por uma religião ou igreja). Assim, o termo é aplicado a livros e partes de livros bíblicos que só num segundo tempo foram considerados como canônicos.

Utilização teológica

O adjetivo "deuterocanônico" é originalmente aplicado a estes textos pelos cristãos, por considerarem que foram adicionados num segundo momento da História do Cristianismo como inspirados e fazendo parte integral somente da Bíblia Católica, mas não da dos Protestantes. Para estes, os livros são considerados patrimônios históricos, tendo portanto algum valor literário e religioso. Martinho Lutero, reconhecendo a importância de se conhecer os mesmos, incluiu-os na sua tradução da Bíblia para o alemão, em apêndice.[1]

Além da Igreja Católica (Romana, e também as demais Igrejas particulares sui iuris), outras igrejas utilizam-se dos livros Deuterocanônicos em suas Bíblias, tais como a Igreja Anglicana e as Igrejas Ortodoxas Copta, Siríaca, Grega e Russa. Algumas correntes judaicas, como o judaísmo etíope e o judaísmo egípcio, também aceitam os livros deuterocanônicos como livros inspirados e os incluem em seus cânons.

O assunto da autenticidade e do valor teológico desses livros foi tratado em vários concílios e documentos papais, sobretudo em 1545-1563 dC. - Concílio de Trento, Ecumênico, declarando definitivamente o cânon de 46 livros no Antigo Testamento e declara como anátema quem os rejeitar (vide Cânone de Trento).

Lista dos livros deuterocanônicos do Antigo testamento e Novo testamento

São deuterocanônicos (ou apócrifos pelos Protestantes) do Antigo Testamento e do Novo Testamento os seguintes livros bíblicos:

Antigo Testamento

Além destes, podemos também encontrar fragmentos deuterocanônicos dentro de livros canônicos como:

Origem dos deuterocanônicos do Antigo Testamento

Os livros deuterocanônicos foram escritos entre Malaquias e Mateus, ou seja, numa época em que segundo o historiador judeu Flávio Josefo, cessara por completo a revelação divina.

Os textos deuterocanônicos, atrás referidos, chegaram até nós apenas em grego (alguns escritos originalmente nessa língua, outros traduzidos duma versão hebraica, que se perdeu), fazendo parte da chamada Bíblia dos Setenta, ou Septuaginta, a tradução da Bíblia em grego, feita por volta do séc. III a.C, para uso dos judeus da Diáspora, e adotada pelos cristãos desde o início como seu texto bíblico de referência. Tais textos não se encontram, pois, na Bíblia Hebraica ou Tanakh.

Num famoso encontro de rabinos judeus, o chamado Concílio de Jâmnia, realizado nos finais do séc. I d.C, destinado a procurar um rumo para o judaísmo, após a destruição do Templo de Jerusalém, no ano 70 d.C, os participantes decidiram considerar como textos canônicos do judaísmo apenas os que existiam em língua hebraica e que remontassem ao tempo do profeta Esdras.

Apesar da crítica moderna afirmar que vários livros que constam no Cânon Hebraico são posteriores ao tempo de Esdras (como é o caso do Livro de Daniel), os estudiosos explicam que os Fariseus não dispunham do método científico que existe hoje para se datar uma obra, ou mesmo para se atribuir a ela um autor. De qualquer forma, os critérios por eles adotados excluíram os livros deuterocanônicos do Cânon Hebraico (ou Judaico).

Os Deuterocanônicos do Novo Testamento

Houve livros e trechos do Novo Testamento considerados deuterocanônicos pelos católicos e apócrifos por muitos grupos protestantes, os livros de Tiago, Judas, Hebreus, Apocalipse, II Pedro e II e III, assim como trechos do Novo Testamento, como a Perícope da Adúltera.

Lutero chegou até mesmo a duvidar da canonicidade das epístolas aos Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, que na sua tradução da Bíblia para o alemão deixou-os num apêndice sem numeração de páginas e considerados como apócrifos.

Em 1545, o catolicismo romano convoca o Concílio de Trento, que definitivamente reafirma o que já era aceito em caráter canônico do Cânone Alexandrino do século III a.C. (vide Cânone de Trento)

No início não houve consenso entre os protestantes sobre o Cânon do Antigo e do Novo Testamento. O Rei Jaime I da Inglaterra, responsável pela famosa Versão do Rei Jaime (King James Version), defendia que os deuterocanônicos, bem como os protestantes da Inglaterra também concordavam, deveriam continuar constando nas Bíblias Protestantes. No Brasil, na tradução de Almeida do ano de 1681, eles já apareciam.

Controvérsia protestante

Os cristãos protestantes têm denominado esses livros do Antigo Testamento como "apócrifos", pois neles haveria incoerências e falta de concretização de fatos narrados nesses livros, e não admitem a utilização dos mesmos nas suas listas, não os considerando divinamente inspirados.

Outro argumento apontado é de que foram escritos no período intertestamentário (período de 400 anos compreendidos entre o Novo e o Velho testamento); ou seja, em um período que segundo os teólogos reformadores Deus não teria levantado nenhum profeta (também conhecido como "silêncio profético").

  • BITTENCOURT, Benedito P. O Novo Testamento – Cânon – Língua – Texto. São Paulo: Aste, 1965.
  • PASQUERO, Fedele. O Mundo da Bíblia, Autores Vários. São Paulo: Paulinas, 1986.
  • ROST, Leonard. Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudo-Epígrafos do Antigo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1980.
  • SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do desenvolvimento da Igreja Cristã através dos séculos. São Paulo: Shedd, 2004.
  • ALMEIDA, João F. TRADUÇÃO DA BÍBLIA EM PORTUGUÊS - ANO 1681.
  • A Bíblia King James em um único arquivo (Oxford Standard Text, 1769)

Referências

  1. «http://www.ewtn.com/vexperts/showmessage.asp?number=438095&Pg=Forum9&Pgnu=1&recnu=5» (php) (em inglês). Ewtn.com. Consultado em 26 de fevereiro de 2011  Ligação externa em |titulo= (ajuda)

Ligações externas

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