Posições políticas e sociais de João Paulo II

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João Paulo II em visita ao Parlamento Polonês a 11 de Junho de 1999.

João Paulo II foi considerado um conservador em doutrina e questões relacionadas com a reprodução e a ordenação de mulheres.[1] Uma série de 129 palestras dadas por João Paulo durante uma quarta-feira de audiências em Roma entre setembro de 1979 e novembro de 1984, foram mais tarde compilados e publicados em uma única obra, intitulada Teologia do Corpo, uma longa meditação sobre a sexualidade humana. O Papa condenou o aborto e sobre isso disse,"Toda a vida humana, desde os momentos de concepção e por todas as fases subsequentes, é sagrada",[2] também condenou a eutanásia e praticamente todos os usos da pena de morte,[3] chamando isso de "cultura da morte" que é difundida no mundo moderno. Ele fez campanha para a anulação da dívida mundial, escreveu a carta apostólica intitulada Tertio Millennio Adveniente tratando sobre o assunto[4] e também fez esforço pela justiça social.[5][1]

Apartheid[editar | editar código-fonte]

O papa João Paulo II foi um adversário ferrenho do apartheid na África do Sul. Em 1985, enquanto visitava os Países Baixos, ele discursou condenando o apartheid no Tribunal Internacional de Justiça, dizendo que nenhum sistema de segregação seria aceitável.[6] Em setembro de 1988, Wojtyła fez uma peregrinação a dez países sul-africanos, incluindo aqueles que fazem fronteira com a África do Sul, enquanto demonstrativamente evitou a África do Sul.[7] Depois da morte de João Paulo II, tanto Nelson Mandela como o arcebispo Desmond Tutu elogiaram o papa por ter defendido os direitos humanos e condenado a injustiça econômica.[8]

Diálogo com os jovens[editar | editar código-fonte]

A Jornada Mundial da Juventude é um evento temático popular da fé católica internacional voltado para jovens, esse evento foi iniciado pelo Papa João Paulo II.

João Paulo II tinha uma relação especial com a juventude católica e é conhecido por alguns como O Papa para a juventude. João Paulo II mostrou um carinho especial para os jovens desde seus primeiros dias do sacerdócio. Aos 29 anos, ele foi enviado para uma paróquia universitária em Cracóvia, onde ele imediatamente se envolveu profundamente na vida dos alunos, estabelecendo um "Rosário Vivo", um círculo de oração e interagindo com os jovens, tanto em reuniões ou como diretor espiritual e conselheiro de atividades em grupo como caminhadas, camping, e retiros de fim de semana.[9][10]

Antes de seu pontificado, ele participou de acampamentos e caminhadas nas montanhas com os jovens. Ele ainda fez caminhadas na montanha, quando ele foi papa.[9] O papa era a favor de programas especiais para crianças deficientes.[10] Ele estava preocupado com a educação dos futuros sacerdotes e desde cedo fez muitas visitas a seminários romanos, incluindo a Venerável Faculdade Inglesa, em 1979.[11] Ele criou a Jornada Mundial da Juventude em 1984 com a intenção de aproximar os jovens católicos de todas as partes do mundo a se reunirem para celebrar a fé.[11][9][10] Estes encontros de uma semana da juventude ocorrem a cada dois ou três anos, atraindo centenas de milhares de jovens, que vão para cantar, festejar, passar bons momentos e aprofundar a sua fé.[11][10] A 19ª Jornada Mundial da Juventude celebrada durante o seu pontificado, reuniu milhões de jovens de todo o mundo. Durante este tempo, seus cuidados para com a família foram expressos nos Encontros Mundiais das Famílias, que ele começou em 1994.[11]

Em 8 de agosto de 1995, João Paulo II denunciou o uso de crianças como soldados em conflitos, que essas crianças são seduzidas por promessas de comida e escolaridade, mas que acabam passando fome, maus-tratos, abusos e são incentivadas a matar. O papa também denunciou que as crianças são usadas para limpar campos-minados.[13]

Evolução[editar | editar código-fonte]

Em 22 de outubro de 1996, em um discurso para a seção plenária na Pontifícia Academia das Ciências, no Vaticano, o Papa João Paulo II disse da evolução que "esta teoria tem sido progressivamente aceita pelos pesquisadores, após uma série de descobertas em vários campos do conhecimento. A convergência, nem pensada, nem fabricada, dos resultados do trabalho que foi conduzido de forma independente é em si um argumento significativo em favor dessa teoria". O Papa classificou isto notando que, "ao invés da teoria da evolução, deveríamos falar de várias teorias da evolução." Algumas dessas teorias, ele observou, têm uma base puramente materialista filosófica que não é compatível com a fé católica: "Consequentemente, as teorias da evolução que, de acordo com as filosofias que as inspiram, consideram a mente como emergente das forças da matéria viva, ou como um mero epifenômeno desta matéria, são incompatíveis com a verdade sobre o homem.[14][15][16]

Embora geralmente aceitando a teoria da evolução, João Paulo II fez uma grande exceção – a alma humana. "Se o corpo humano tem sua origem na vida material que pré-existe, a alma espiritual é imediatamente criada por Deus".[15][16] Quando João Paulo II citou essa frase ele fez menção para a encíclica Humani Generis do papa Pio XII, que foi a primeira encíclica a tocar no assunto aceitando a teoria de Darwin.[17] O papa acreditava que que a teoria da evolução é praticamente um consenso entre os cientistas.[18] O papa também criou, em 1982, a Pontifício Conselho para a Cultura, que tem como objetivo "o diálogo da Igreja com as culturas do nosso tempo",[19] essa instituição já realizou congressos internacionais contando com a presença de cientistas de renome para dialogar com filósofos e teólogos.[18]

Genocídio em Ruanda[editar | editar código-fonte]

João Paulo II foi o primeiro líder mundial a descrever como genocídio o massacre de tutsis por hutus no país de maioria católica de Ruanda, que começou em 1990 e atingiu seu auge em 1994. Ele apelou para um cessar-fogo e condenou os massacres em 10 de Abril e 15 de maio de 1990.[20] em 1995, durante sua terceira visita ao Quênia, antes de uma audiência, João Paulo II pediu o fim da violência em Ruanda e Burundi, pedindo perdão e a reconciliação como uma solução para o genocídio. Ele disse aos refugiados de ambos os países que ele "estava perto deles e partilhava a sua imensa dor".[21]

Guerra do Iraque[editar | editar código-fonte]

Em 2003, tornou-se um proeminente crítico da Invasão do Iraque em 2003 liderada pelos EUA.[5] Em seu discurso em 2003, o Papa declarou sua oposição à invasão ao afirmar, "Não à guerra! A guerra não é sempre inevitável. É sempre uma derrota para humanidade."[22] Ele mandou o ex-Pró-Núncio Apostólico para os Estados Unidos Cardeal Pío Laghi para conversar com o presidente americano George W. Bush para expressar a oposição à guerra. João Paulo II disse que cabe para as Nações Unidas resolver os conflitos internacionais por meio da diplomacia e que uma agressão unilateral é um crime contra a paz e uma violação do direito internacional.[12]

Teologia da Libertação[editar | editar código-fonte]

João Paulo II criticou fortemente a aproximação da Igreja com o marxismo nos países em desenvolvimento, e em especial a Teologia da Libertação.[23] Em 1984 e 1986, através do Cardeal Ratzinger, líder da Congregação para a Doutrina da Fé, João Paulo II oficialmente condenou vários aspectos da Teologia da libertação, especialmente proeminente na América do Sul. A tentativa de Óscar Romero, durante a visita de João Paulo II à Europa, de obter uma condenação para o regime de El Salvador, denunciado por violações dos direitos humanos e por sustentar o Esquadrão da Morte, foi um fracasso. Em sua viagem para Manágua, Nicarágua em 1983, João Paulo II duramente condenou o que ele apelidou de "Igreja popular"[24] (i.e. "comunidades eclesiais de base" (CEBs) apoiado pelo CELAM), e tendências do clero nicaraguense, para apoiar a esquerda Sandinista, lembrando o clero das suas funções de obediência para com a Santa Sé.[24] Durante essa visita Ernesto Cardenal, um padre e ministro no governo sandinista, ajoelhou-se para beijar a mão do Papa, João Paulo II levantou-o, lhe apontou o dedo, e disse: "Você deve endireitar a sua posição com a Igreja".[25] Sua posição contra a Teologia da Libertação fez que o frei Leonardo Boff que defendia a Teologia deixasse de exercer suas funções de padre na Igreja, segundo Boff sobre o papa: "Este papa me perseguiu por anos. Não vou falar mais nada sobre ele enquanto ele estiver vivo".[26]

Visões sobre a sexualidade[editar | editar código-fonte]

Um estudo de 1997 determinou que 3% das declarações do papa foram sobre a questão da moralidade sexual.[27] O Papa reafirmou que os ensinamentos existentes da Igreja em relação aos transsexuais, como a Congregação para a Doutrina da Fé, que ele supervisionou, deixando claro que os transexuais não poderiam servir em posições da Igreja.[5][1]

Enquanto que tomou uma posição tradicional sobre a sexualidade, defendendo a oposição moral da Igreja em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Papa afirmou que as pessoas com inclinações homossexuais possuem a mesma dignidade e direitos como todos os outros. Em seu último livro, Memória e Identidade, ele se referiu às "pressões" sobre o Parlamento Europeu para permitir o "'casamento' homossexual". No livro, citado pela Reuters, ele escreveu: "É legítimo e necessário perguntar-se se isso não é, talvez, parte de uma nova ideologia do mal, talvez mais insidiosa e oculta, que é contra os direitos humanos contra a família e contra o homem".[5]

A revista holandesa de temática gay, Gay Krant e seus leitores, iniciaram um processo contra ele em um tribunal holandês, argumentando que seu comentário de que os atos homossexuais são contrários às leis da natureza[28] por supostamente "dar lugar ao ódio contra, e discriminação de certos grupos de pessoas" em violação da lei holandesa.[29] O processo acabou quando o tribunal decidiu que ele era imune a processos por ser um chefe de Estado, no caso o Vaticano.[30]

Referências

  1. a b c Küng, Hans (26 de março de 2005). «The Pope's Contradictions». Der Spiegel. Consultado em 18 de dezembro de 2013 
  2. «Pope John Paul II Visits the U.S., 1977 Year in Review.». Upi.com. Consultado em 29 de outubro de 2013 
  3. «"John Paul II-The Millennial Pope" Synopsis "Pope John Paul II-The Millennial Pope"». Frontline. Consultado em 5 de novembro de 2013 
  4. Dobdinga C. Fonchamnyo (2009). The Paradox of External Debt. Lessons from Two Decades of Debt Relief. [S.l.]: ProQuest. p. 1. ISBN 9781109125740 
  5. a b c d «John Paul II: A strong moral vision». CNN. 11 de Fevereiro de 2005. Consultado em 22 de dezembro de 2006 
  6. «Pope Attacks Apartheid in Speech at U.N. Court». Los Angeles Times. 13 de maio de 1985. Consultado em 6 de junho de 2015 
  7. «Pope's South Africa Visit Honors 2 Vows». NYTimes.com. 17 de setembro de 1995. Consultado em 6 de junho de 2015 
  8. «Mandela 'deeply inspired' by Pope». southafrica.info. 5 de abril de 2005. Consultado em 6 de junho de 2015 
  9. a b c Bonacci, Mary Beth (5 de maio de 2005). «The Pope of the Youth». Crisis Magazine. Consultado em 25 de abril de 2014 
  10. a b c d Bauman, Michelle (2 de abril de 2006). «John Paul II: Pope of the Youth». Catholic News Agency. Consultado em 1 de janeiro de 2009 
  11. a b c d «His Holiness John Paul II : Short Biography». Sala de Imprensa da Santa Sé. 30 de junho de 2005. Consultado em 9 de fevereiro de 2014 
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  13. Bakalar, Nick (2013). The Wisdom of John Paul II. [S.l.]: eBookIt.com. p. YOUTH. ISBN 1456609890, 9781456609894 Verifique |isbn= (ajuda) 
  14. Linder, Doug (13 de abril de 2004). «The Vatican's View of Evolution: The Story of Two Popes». University Missouri-Kansas City School of Law. Consultado em 3 de janeiro de 2014 
  15. a b «Magisterium Is Concerned with Question of Evolution For It Involves Conception of Man». National Centre for Science Education. 24 de outubro de 1996. Consultado em 7 de julho de 2014 
  16. a b Tagliabue, John (25 de outubro de 1996). «Pope Bolsters Church Support for Evolution». The New York Times. Consultado em 4 de junho de 2012 
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  18. a b «'A Igreja católica nunca condenou Darwin ou seus escritos'». estadao.com.br. 16 de março de 2009. Consultado em 4 de outubro de 2014 
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  20. Dariusz Rosiak (21 de julho de 2013). «Arcybiskup i maczety» (em polonês). Tygodnik Powszechny. Consultado em 6 de junho de 2015 
  21. Donatella Lorch (20 de setembro de 1995). «Pope Calls for End to Killings in Rwanda». The New York Times. Consultado em 6 de junho de 2015 
  22. John Paul II, "Address to the Diplomatic Corps," Vaticano, Acessado em 14 de julho de 2015.
  23. «Centesimus annus - Ioannes Paulus PP. II - Carta Encíclica (1991.05.01)». Vatican.va. Consultado em 8 de janeiro de 2012 
  24. a b Garvin, Glenn (18 de julho de 1999). «Hostility to the U.S. a costly mistake». The Miami Herald. Consultado em 18 de janeiro de 2014 
  25. Ostling, Richard N.; Roberto Suro (10 de setembro de 1984). «Religion: Berating Marxism's False Hopes». Time. Consultado em 27 de julho de 2011 
  26. «O Papa e a História - Superinteressante». Revista Super Interessante. 4 de março de 2005. Consultado em 6 de julho de 2014 
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  28. «Dutch dismiss case against homophobic pope"». IOL News. 18 de julho de 2000. Consultado em 23 de novembro de 2014 
  29. George Neumayr (23 de maio de 2003). «Diabolizing the Pontiff"». The American Spectator. Consultado em 23 de novembro de 2014 
  30. Matthew D. Staver, Same-Sex Marriage (B&H Publishing Group 2004 ISBN 978-0-80543196-4), p. 64