Saliente nordestino

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Saliente nordestino

Estreito do Atlântico e definição do Exército Brasileiro para o saliente, em amarelo e vermelho.

Geografia
País
Banhado por
Funcionamento
Estatuto
objeto geográfico (en)
promontório
História
Origem do nome

O saliente ou promontório nordestino é a parte da América do Sul mais próxima da África, onde a região Nordeste do Brasil projeta-se para o meio do Oceano Atlântico. Os 2 900 quilômetros entre os dois continentes são conhecidos como o “estreito do Atlântico”, cujos pontos estratégicos em cada lado são Natal e Dakar.[1] A região é também relativamente próxima à Europa.[2] Quatro capitais estaduais — Natal, João Pessoa, Recife e Maceió — estão na faixa litorânea. Estrategistas do Exército Brasileiro definiram essa faixa como externa a um setor interiorano, delimitado por um arco de círculo da divisa ocidental do Rio Grande do Norte até a barra do rio São Francisco, com centro na cidade de Parnamirim, Pernambuco. Juntos, os dois setores compreendem a 7.ª Região Militar.[3] O jargão geopolítico usa o termo “promontório” para o Nordeste, enquanto os militares preferem “saliente”.[1]

Por “encaixar” no litoral africano, o formato do promontório é antigo exemplo da deriva continental.[1] A plataforma continental, com 50 km de extensão no litoral cearense, estreita-se mais a leste e a sul. A indústria petrolífera está ativa na plataforma e no continente. Fora do litoral estão o atol das Rocas e os arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Fernando de Noronha.[4] O comércio marítimo brasileiro a partir do porto de Santos ramifica-se no saliente para seguir à região Norte, as Américas Central e do Norte e Europa. O Nordeste como um todo tem muitos portos,[5] mas o litoral de Natal e do Rio Grande do Norte, na ponta do saliente, não são propícios à concentração do poder naval.[1] O aeroporto de Parnamirim, Região Metropolitana de Natal, tornou-se parada importante nas rotas aéreas mundiais desde a década de 1920.[2]

A importância estratégica de sua localização é permanente. O estreito do Atlântico é um choke point [en] ou estrangulamento entre o Atlântico Norte e Sul, onde as linhas de comunicação marítimas são mais facilmente cortadas. O estreito é largo e, como no Cabo da Boa Esperança, o estrangulamento é por apenas um lado, o saliente nordestino, que separa os dois Atlânticos. Ele é uma plataforma conveniente para a projeção de poder naval ou aéreo brasileiro no estreito e no Atlântico Sul.[6][5][1] As invasões holandesas no Brasil, no século XVII, aproveitaram-se do porto bem protegido do Recife para atacar o comércio do Império Espanhol e bloquear o apoio espanhol e português ao Brasil Colonial.[7] Na Segunda Guerra Mundial os planejadores militares dos Estados Unidos incluíram a região como uma das arestas de seu perímetro defensivo, considerando-a possível cabeça de ponte para o Eixo na América do Sul e ponto de partida para um ataque ao Canal do Panamá.[8] Eles chegaram a traçar planos de invasão da região.[9] Eles não foram necessários, pois o governo brasileiro permitiu a operação da Marinha e Força Aérea americanas no saliente,[10] além de investir ele mesmo na defesa militar.[7] Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco eram em 2009 os estados nordestinos com a maior participação dos militares na população economicamente ativa.[2] A França mantém controle dos dois lados do estreito do Atlântico com sua posse da Guiana Francesa e influência na África Ocidental.[1]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f Albuquerque, Edu Silvestre de (maio–agosto de 2017). «A importância do choke point de Natal no controle aéreo e naval do Atlântico Sul». Revista de Escola de Guerra Naval. 23 (2): 511-534 
  2. a b c Maia, Manuel Thiago de Araújo; Rodrigo, Désio (julho–dezembro de 2012). «O território do Rio Grande do Norte como ponto estratégico e seus equipamentos militares». Natal. Revista de Geopolítica. 3: 124-138 
  3. Duarte, Paulo de Queiroz (1971). O Nordeste na II Guerra Mundial - Antecedentes e ocupação. Rio de Janeiro: Record . p. 90-93.
  4. Beatriz Maria Soares (julho–dezembro de 2012). «O valor estratégico do Promontório Nordestino». Natal. Revista de Geopolítica. 3: 4-36 
  5. a b Bonturi, Orlando (1988). Brazil and the vital South Atlantic (PDF). Washington, DC: National Defense University Press . p. 48-53.
  6. Branco, Robert J. (1984). The United States and Brazil: opening a new dialogue (PDF). Washington, DC: National Defense University Press . p. 78.
  7. a b Bento, Cláudio Moreira (1991). «Participação das Forças Armadas e da Marinha Mercante do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1942-1945)». Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (172). Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  8. Child, John (maio de 1979). «From "Color" to "Rainbow": U.S. Strategic Planning for Latin America, 1919-1945». Journal of Interamerican Studies and World Affairs. 21 (2) . p. 234-235 e 248.
  9. Chaves, André d'Almeida (2007). O Brasil e a política estratégica dos Estados Unidos: o fim da Guerra Fria: hemisfério Ocidental, América Latina e as Relações Brasil-Estados Unidos (PDF) (Mestrado em Relações Internacionais). São Paulo: PPGRI UNESP, UNICAMP e PUCSP . p. 10-11.
  10. Daróz, Carlos Roberto Carvalho (junho de 2017). «A artilharia brasileira e a defesa de Fernando de Noronha durante a 2ª Guerra Mundial». Caracas. Tiempo y Espacio. 27 (67)