Tristão da Cunha
Gravura de Tristão da Cunha, Stich, Basileia, 1575]] | |
Nascimento | ca. 1460 |
Morte | ca. 1540 (80 anos) |
Nacionalidade | Português |
Tristão da Cunha (ca. 1460 — ca. 1540), 1.º Senhor de Gestaçô e de Panóias, foi cavaleiro do conselho d'El-Rei D. Manuel I, explorador português e comandante naval. Foi nomeado, em 1504, o primeiro vice-rei e governador da Índia Portuguesa, mas não chegou a ocupar o cargo por motivos de cegueira temporária, ocupando-o D. Francisco de Almeida.
Filiação
Era filho de Nuno da Cunha e de sua mulher, da qual foi primeiro marido, Catarina de Albuquerque, filha de Luís Álvares Pais e de sua mulher Teresa de Albuquerque, e irmão de Joana de Albuquerque, mulher de Lopo Soares de Albergaria, 3.º Governador da Índia. Seu pai era o Nuno da Cunha, Fidalgo e Camareiro-Mor da Casa do Infante D. Fernando, a quem, a 18 de Setembro de 1462, D. Afonso V de Portugal confirma o aforamento dum alpendre do Concelho, na Praça da Ribeira em Setúbal, era certamente o Nuno da Cunha, do Conselho, a quem D. Afonso V, a 20 de Outubro de 1470, couta a sua Herdade de (Lmolea), no termo da vila de Ourique, bem como o Nuno da Cunha, Comendador de Ourique e Fidalgo do Duque de Viseu e de Beja, a quem o mesmo Rei, a 9 de Maio de 1475, concede licença para arrendar as suas rendas por três anos, e o que foi Alcaide-Mor de Palmela, cargo em que, por sua morte, foi substituído por Antão de Faria em documento de D. Afonso V com data ilegível, mas posterior a 1480. Seu pai era filho do célebre João Pereira da Cunha Agostim, um dos Doze de Inglaterra, e de sua mulher Isabel Fernandes de Moura.[1]
Biografia
Em 1506, foi nomeado comandante da frota de 10 navios de carga, sob a qual seguia também o 2.º Governador da Índia, Afonso de Albuquerque, seu primo segundo, que tinha a seu cargo uma esquadra com outros quatro navios[2], que operaram ao longo da costa este de África e nas Índias.
Nesta viagem Tristão da Cunha descobriu um grupo de ilhas remotas no sul do Oceano Atlântico, a 2816 km (1750 milhas) da África do Sul. Apesar do mar revolto ter impedido a aportagem, nomeou a ilha principal que permanece até hoje com o seu nome, no arquipélago de Tristão da Cunha.
Mais tarde desembarcou em Madagáscar. No estreito de Moçambique socorreu o seu amigo João da Nova e recuperou a nau Frol de la mar, juntando-os à sua armada, na Brava reduziu o poder árabe, Barawa e conquistou Socotorá com Afonso de Albuquerque, iniciando a construção de uma fortaleza. Chegado à Índia em Agosto de 1507, distinguiu-se em diversas ações como o apoio decisivo no cerco de Cananor, e prestou auxílio ao vice-rei D. Francisco de Almeida derrotando a frota do Samorim de Calecute em Novembro, após o que regressou ao reino com a frota carregada.
Embaixada ao Papa Leão X
Em 1514 foi mandado a Roma como embaixador ao papa Leão X, tendo como seu secretário Garcia de Resende.[3] A embaixada faustosíssima que comandava, acompanhado por Diogo Pacheco e João de Faria, percorreu as ruas da cidade numa extravagante procissão, a 12 de março de 1514, onde se viam animais selvagens das colónias e riquezas das Índias[4]. O cortejo trazia um elefante como presente para o papa, a que este deu o nome Hanno), e que durante quase 3 anos foi sua mascote. Vinham também dois leopardos, uma pantera, alguns papagaios, perus raros e cavalos indianos. Hanno carregava um palanque de prata no seu dorso, em forma de castelo, contendo um cofre com os presentes reais, entre os quais paramentos bordados com pérolas e pedras preciosas, e moedas de ouro cunhadas para a ocasião.
O papa recebeu o cortejo no Castelo de Santo Ângelo. O elefante ajoelhou-se três vezes em sinal de reverência e depois, obedecendo a um aceno do seu mahout (tratador) indiano, aspirou a água de um balde com a tromba e espirrou-a sobre a multidão e os cardeais.
Para a mesma ocasião viria um rinoceronte, que seria retratado por Albrecht Dürer em uma famosíssima xilografia. Apesar de nunca o ter visto, o artista baseara-se numa descrição extremamente precisa do animal. O barco com o rinoceronte terá naufragado ao mesmo tempo que Hanno chegava de Lisboa.
Ainda que nunca tivesse assumido o cargo de vice-rei e governador da Índia, o seu filho Nuno da Cunha, 2.º Senhor de Gestaçô e de Panóias, casado com Isabel da Silveira, com geração, foi o 9.º governador da Índia em 1529. Do seu casamento com Antónia Pais nasceu também Simão da Cunha, Comendador de Torres Vedras, casado com Isabel da Grã e com geração.
O túmulo de Tristão da Cunha encontra-se na Igreja de N. Sra. da Encarnação do séc. XVII em Olhalvo (perto de Alenquer).
Ver também
Referências
- ↑ Manuel Abranches de Soveral, Ascendências Visienses. Ensaio genealógico sobre a nobreza de Viseu. Séculos XIV a XVII, Porto, 2004
- ↑ The Cambridge History of India: British India, 1497-1858, p.9, ed. by H. H. Dodwell, Edward James Rapson, Wolseley Haig, Richard Burn, Henry Dodwell
- ↑ Sanjay Subrahmanyam, "The Career and Legend of Vasco Da Gama", p. 269, Cambridge University Press, 1998 ISBN 0521646294
- ↑ Jorge Nascimento Rodrigues, Tessaleno C. Devezas, "PIONEERS OF GLOBALIZATION: Why the Portuguese surprised the World", p.113, Centro Atlantico, 2007, ISBN 9896150567