Arte paleocristã: diferenças entre revisões

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A '''Arte paleocristã''' ou '''Arte cristã primitiva''' é a [[arte]], [[arquitetura]], [[pintura]] e [[escultura]] produzida por cristãos ou sob o patrocínio cristão desde o início do [[século II]] até o final do [[século V]]. Não há arte cristã sobrevivente no [[século I]]. Após aproximadamente o final do [[século V]] a arte cristã mostra o início do [[Arte bizantina|estilo artístico bizantino]].
A '''Arte paleocristã''' ou '''Arte cristã primitiva''' é a [[arte]], [[arquitetura]], [[pintura]] e [[escultura]] produzida por cristãos ou sob o patrocínio cristão desde o início do [[século II]] até o final do [[século V]]. Não há arte cristã sobrevivente no [[século I]]. Após aproximadamente o final do [[século V]] a arte cristã mostra o início do [[Arte bizantina|estilo artístico bizantino]].

Revisão das 14h40min de 14 de outubro de 2011

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A Arte paleocristã ou Arte cristã primitiva é a arte, arquitetura, pintura e escultura produzida por cristãos ou sob o patrocínio cristão desde o início do século II até o final do século V. Não há arte cristã sobrevivente no século I. Após aproximadamente o final do século V a arte cristã mostra o início do estilo artístico bizantino.

Antes do início do século II os cristãos, sendo um grupo minoritário perseguido, pode ter sido coagido por sua posição há não produzir obras de arte duradouras. Uma vez que nesse período o cristianismo era uma religião exclusiva das classes mais baixas, a falta de arte sobrevivente pode refletir uma falta de recursos para patrociná-la. Os primeiros indícios claros na afirmação de um estilo próprio cristão surgem em inícios do século II, sendo seu expoente as pinturas murais nas catacumbas romanas, lugar de culto e refúgio cristãos. Normalmente os primeiros cristãos representavam o corpo humano de maneira proporcional e bidimensional, por vezes adaptando elementos da arte pagã, e obviamente harmonizando-os com os ensinamentos cristãos,[1] bem como também desenvolveram sua própria iconografia, por exemplo, símbolos como o peixe (Ictus).

Três primeiros séculos

Artigo principal: Catacumba cristã
A mais antiga imagem conhecida de Maria com o Menino Jesus.
(Século II, Catacumbas de Santa Priscila, Roma)

Durante a perseguição aos cristãos sob o Império Romano, a arte cristã era deliberadamente furtiva e ambígua e, por vezes, era colocado em locais junto com a com a arte pagã comum, mas possuía um significado especial para os cristãos. É provável que tenham existido vários centros artísticos com estilos artísticos próprios, como Alexandria e Antióquia, mas é em Roma que se revelam as primeiras pinturas murais em catacumbas, locais que serviam de cemitério subterrâneo aos aderentes do cristianismo, de fato, a arte cristã sobrevivente mais antiga provém do início do século II nas paredes dos túmulos nas catacumbas de Roma. Inicialmente, Jesus foi representado indiretamente pelo pictograma simbólico do Ictus (peixe), pavão , Cordeiro de Deus, ou uma âncora. Mais tarde foram utilizados símbolos personificados, incluindo a representação do individuo bíblico Jonas, cujos três dias no ventre da baleia foram pré-figurados como o intervalo entre a morte de Cristo e sua ressurreição e Daniel na cova dos leões. A imagem do "Bom Pastor ", um jovem recolhendo ovelhas, era a mais comum dessas imagens.[2]

Arquitectura

Ilustração de 1891 do traçado original da Basílica de S. Pedro em Roma.

Até à declaração de liberdade de culto, a arte cristã não tinha uma tipologia arquitectónica própria, optando por celebrar o seu culto em lugares pouco relevantes. Com o Édito de Milão, Constantino apoia a construção de templos próprios, em Roma, Milão, Ravena, de modo a divulgar a nova religião e acolher o crescente número de convertidos.

A basílica

As novas igrejas, desenvolvidas a partir da basílica romana, vão revelar a base do que será a arquitectura religiosa da Europa ocidental ao longo dos séculos. A basílica clássica, um espaço amplo onde se possibilita o agrupamento de um avultado número de pessoas, pode satisfazer várias necessidades (tribunal, mercado, audiências etc), mas nunca serve o propósito de local de culto. Com a nova necessidade arquitectónica do cristianismo este espaço vai-se revelar como o indicado à nova procura de grandiosidade da nova religião e ao acolhimento dos fiéis, sem entrar em conflito com possíveis significados religiosos anteriormente atribuídos ao espaço. Observa-se o nascimento de um espaço que sintetiza em si elementos da basílica romana, da casa particular e originais.

Basílica de S. Paulo extra-muros, já bastante alterada.

Mas embora se tenham levado a cabo várias edificações, estas foram sendo alteradas ao longo dos tempos e nenhuma se apresenta hoje com o seu traçado original. É possível, mesmo assim, formar uma ideia da sua caracterização observando a ilustração da planta original da Basílica de São Pedro, ou o interior da Basílica de São Paulo extra-muros em Roma (que apresenta já algumas alterações, mas que se manteve no seu estado original até 1823).

A basílica paleocristã compõe-se, então, por uma nave central com clerestório de janelas altas, abertas em paredes assentes em arquivoltas ou em arquitraves, cujas colunas fazem a ligação a outras duas naves laterais (colaterais) de menor altura. Todo o espaço segue um eixo longitudinal e converge a oriente na ábside, onde se situa o altar, e que é emoldurada por um arco triunfal. Este arco pode estar assente numa área elevada denominada bema. Em algumas basílicas, entre as naves e a ábside, situa-se uma nave transversal, o transepto, que forma um T com a nave central. Os tectos eram de travejamento à vista, de madeira.

O exterior, pouco ornamentado, oferece a entrada do recinto a ocidente através de um atrium, um pátio rodeado de arcadas, que estabelece a sua ligação à igreja através de um nártex (ver ilustração).

Edificações de planta centralizada

Ainda contemporâneo das edificações de Constantino surge o edifício religioso de planta centralizada (circular, poligonal ou em cruz) baseado no balneário romano, adaptado agora como basílica (como a Basílica de Santa Constanza) e que servirá de base ao tipo de panteão construído a partir do Renascimento. O interior desenvolve-se à volta do núcleo com deambulatório concêntrico de cobertura em abóbada de berço, clerestório e coroação em cúpula. A esta estrutura podem surgir também anexados capelas funerárias e baptistérios. Embora se tenha observado também a ocidente, esta edificação vai sobretudo ter maior aderência na arte bizantina.

Mosaico

Basílica de São Apolinário, Ravena, séc. VI.

O desenvolvimento da arquitectura e a emergente necessidade de decorar vastas superfícies vão impulsionar a produção artística do mosaico, uma técnica com origens na arte antiga, difundida na Mesopotâmia e com profundas tradições no período greco-romano. O mosaico romano, geralmente utilizado para o revestimento de pavimentos, é feito à base de pequenos cubos de mármore (tesserae) que se adaptam bem à reprodução cuidada de pinturas, mas de pouca intensidade cromática.

A arte paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural a fresco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis pela substituição do mármore por pedaços de vidro colorido. Este novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o mundo real, as personagens apresentam-se como seres transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de luz e ouro.

Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes superfícies da ábside, do arco triunfal e da nave, representando cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos religiosos e isso pode-se ainda observar-se na Basílica de Santa Maria Maggiore pela forte geometrização e pelo ilusionismo espacial. É também de referir o novo objectivo de sintetizar as formas para que estas sejam compreensíveis à distância, ou seja, para que a mensagem principal possa ser compreendida de longe. Este facto vai acentuar a importância simbólica do gesto e do olhar como elementos relevantes na transmissão de mensagens, sendo também para isso distorcida a sua proporção em relação à figura.

Iluminura

Génesis de Viena

Em oposição à arte romana pagã, o cristianismo baseia o seu conteúdo nos textos sagrados da bíblia, cunhando os manuscritos com ilustrações, as iluminuras, de elevada importância no processo de manutenção e propagação das escrituras. Acompanhando este aumento produtivo está também o desenvolvimento da técnica da produção dos suportes para manuscritos. Até então eram usados rolos de papiro que não permitiam grande liberdade artística no que diz respeito à ilustração. O permanente enrolar e desenrolar do papiro causava a deteriorização da tinta criando–se apenas cabeçalhos com formas simples e lineares. Com a introdução do pergaminho, na século II a.C., que se pode dobrar sem partir, surgem os primeiros livros com encadernações ricas em madeira e decoração em metal e pedras preciosas, os códices (vellum codex), onde a liberdade formal e cromática não encontra os limites anteriormente estabelecidos pelo suporte.

Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do século V, apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura greco–romana. No Génesis de Viena, uma das mais antigas iluminuras conhecidas do cristianismo, pode–se observar a sumptuosidade das cores e já a quebra com o uso de molduras de limite espacial. Aqui as imagens e o texto fazem parte de um todo em comunhão. De modo a optimizar o aproveitamento de espaço no pergaminho, a descrição dos acontecimentos não se desenrola em bandas horizontais, mas sim seguindo uma linha curva imaginária onde os diferentes momentos se vão sucedendo sem interrupção, a designada narração contínua.

Escultura

Díptico de marfim, representando Cristo e dois apóstolos, século V.

Nos dois primeiros séculos há poucas esculturas e estátuas, uma vez que elas eram mais difíceis de confeccionar, e custavam mais caro, no entanto, a partir do século III surgem diversos exemplos de seu uso pelos fiéis.[3] No século IV São João Crisóstomo escreveu sobre a distribuição de estátuas de São Meleto de Antioquia, e Teodoreto de Ciro, e relata que retratos de Simeão eram vendidos em Roma.[4]

Dípticos de marfim

Ver artigo principal: Díptico

De herança clássica, os dípticos de marfim (duas abas com relevos no exterior em marfim e superfície de cera no interior) eram peças pessoais de trabalho decorativo requintado, que serviam de invólucro para guardar documentos ou manuscritos. Reflectindo gostos pessoais estas peças possuiam, muitas vezes, a conjugação de elementos clássicos e simbologia cristã, consoante a fé do autor da encomenda.

Bustos

Embora se tenha renunciado à escultura de escala monumental, o busto de forte tradição clássica mantém-se por um longo período, efectuando-se retratos de carácter formal abstracto e transcendental, de imperadores e altos funcionários do estado.

Notas

  1. «Christian Iconography». Catholic Encyclopedia; New Advent. Consultado em 25 de dezembro de 2010 
  2. Eduard Syndicus; Early Christian Art; Burns & Oates, London, 1962. pag.: 21-3
  3. «Veneration of Images». Catholic Encyclopedia; New Advent. Consultado em 9 de novembro de 2010 
  4. Карташёв А. В. Вселенские соборы. Клин. 2004. pg. 574, 575, 576, 577, 601.

Ver também

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Arte paleocristã

  • CALADO, Margarida, PAIS DA SILVA, Jorge Henrique, Dicionário de Termos da Arte e Arquitectura, Editorial Presença, Lisboa, 2005, ISBN 20130007
  • HINDLEY, Geoffrey, O Grande Livro da Arte - Tesouros artísticos dos Mundo, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1982
  • JANSON, H. W., História da Arte, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1992, ISBN 972-31-0498-9
  • PARTSCH, Susanna, Kunst-Epochen – Frühchristliche und byzantinische Kunst, Reclam, Stuttgart, 2004, ISBN 3-15-01868-4