Caipiras: diferenças entre revisões
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A música caipira tem uma temática rural, e, segundo Cornélio Pires que a conheceu em seu estado original, se caracteriza "por suas letras românticas, por um [[canto]] triste que comove e lembra a [[senzala]] e a ''tapera''" mas sua [[dança]] é alegre". Entre suas mais destacadas variações, está a [[moda de viola]]. O termo "moda de viola" usado por Cornélio Pires é o mais antigo nome da música feita pelo caipira. |
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=== Contos ou causos do caipira === |
=== Contos ou causos do caipira === |
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O termo caipira (do tupi Ka'apir ou Kaa - pira, que significa "cortador de mato"), é o nome que os indígenas guaianás do interior do estado de São Paulo, no Brasil, deram aos colonizadores brancos, caboclos, mulatos e negros.
É também uma designação genérica dada, no país, aos habitantes das regiões situadas principalmente no interior do sudeste e centro-oeste do país. Entende-se por "interior", todos os municípios que não pertencem às grandes regiões metropolitanas nem ao litoral onde existe o caiçara. O termo caipira teve sua origem e costuma ser utilizado com mais frequência no estado de São Paulo. Seu congênere em Minas Gerais é capiau (palavra que também significa cortador de mato), na região Nordeste, matuto, e no Sul, colono.
Origens
O núcleo original do caipira foi formado pela região do Médio Tietê, estão entre as primeiras vilas fundadas no Estado de São Paulo, durante o Brasil colonial, e de onde partiram algumas das importantes bandeiras no desbravamento do interior brasileiro. Os bandeirantes partiam da Vila de São Paulo de Piratininga e desta região do Médio Tietê, nas chamadas "monções", embarcando em canoas, no atual município de Porto Feliz, para desbravarem o interior do Brasil.
No quadrilátero formado pelas cidades de Campinas, Piracicaba, Botucatu e Sorocaba, no médio rio Tietê, ainda se preservam a cultura e o sotaque caipiras. Nesta região, o caipira sofreu muitas transformações, influenciado que foi pela maciça imigração italiana para as fazendas de café.
Na região norte paulista (de Campinas a Igarapava) povoada posteriormente, no início do século XIX, a presença de migrantes de Minas Gerais foi grande dando outra característica à região.[1][2] Já o Oeste de São Paulo, de colonização recente (início do século XX), já surgiu com a presença italiana, japonesa, mineira e nordestina, também formando uma cultura bem diferente das regiões mais antigas de São Paulo.[3]
Cultura caipira
Assim, bastante isolados, geraram uma cultura bem peculiar e localizada, e, por outro lado, preservaram muito da cultura da época em que o Brasil era uma colônia de Portugal. A chamada "cultura caipira" é fortemente caracterizada pela intensa religiosidade católica tradicional, por superstições e pelo folclore rico e variado.
O caipira usa um falar, o dialeto caipira que, muitas vezes, preserva elementos do falar do português arcaico (como dizer "pregunta" e não "pergunta") e, principalmente, do tupi e do nheengatu. Nestas duas línguas indígenas não há certos fonemas como o "lh" (ex: palha) e o "l" gutural (ex: animal). Por este motivo, na fala do caipira, a palavra "palha" vira "paia" e "animal" vira algo como "animar". Este modo de falar, o dialeto caipira, é também conhecido como tupinizado ou acaipirado.
Música caipira
Sua música é chamada de música caipira, posteriormente, para se distinguir da música sertaneja, recebe o nome de "música de raiz" também é conhecida por 'música do interior'. o compositor Renato Teixeira, com sua composição "Rapaz Caipira", foi um dos responsáveis pela volta do nome "música caipira".
A música caipira tem uma temática rural, e, segundo Cornélio Pires que a conheceu em seu estado original, se caracteriza "por suas letras românticas, por um canto triste que comove e lembra a senzala e a tapera" mas sua dança é alegre". Entre suas mais destacadas variações, está a moda de viola. O termo "moda de viola" usado por Cornélio Pires é o mais antigo nome da música feita pelo caipira. A música é geralmente homofônica ou, algumas vezes, no estilo primitivo do organum. O CAIPIRAAAA
Contos ou causos do caipira
Também é típico do caipira os "causos", (historietas contadas através de pai para filho durante séculos), que o caipira gosta de contar.
Os vários tipos de caipira
O tipo humano do caipira e sua cultura tiveram sua origem no contato dos colonizadores brancos bandeirantes com os nativos ameríndios (ou gentios da terra, ou bugres) e com os negros africanos escravizados. Os negros de São Paulo eram na sua grande maioria provenientes de Angola e Moçambique, ao contrário dos negros da Bahia na sua maioria provenientes da Costa da Guiné.
Assim, o caipira se dividia em quatro categorias, segundo sua etnia, cada uma delas com suas peculiaridades:
- caipira caboclo: descendente de índios catequizados pelos jesuítas. Nele é que surgiu a inspiração para o personagem Jeca Tatu descrito no conto Urupês e no artigo "Velha Praga" de Monteiro Lobato e para a criação do Dia do Caboclo, comemorado em 24 de junho, São João Evangelista; Dele diz Cornélio Pires:
“ | Coitado do meu patrício! Apesar dos governos os outros caipiras se vão endireitando à custa do próprio esforço, ignorantes de noções de higiene... Só ele, o caboclo, ficou mumbava, sujo e ruim! Ele não tem culpa... Ele nada sabe. Foi um desses indivíduos que Monteiro Lobato estudou, criando o Jeca Tatu, erradamente dado como representante do caipira em geral! | ” |
- caipira negro: descendente de escravos, na época de Cornélio Pires chamado de Caipira Preto: Foi imortalizado pelas figuras folclóricas da mãe-preta e do preto-velho que é homenageado por Tião Carreiro e Pardinho nas músicas "Preto inocente" e "Preto Velho". É, em geral, pobre. Sofre, até hoje, as consequências da escravidão; Cornélio Pires diz dele: "É batuqueiro, sambador, e "bate" dez léguas a pé para cantar um desafio num fandango ou "chacuaiá" o corpo num baile da roça".
- caipira branco: descendente dos bandeirantes, uma nobreza decaída, orgulha-se de seu sobrenome bandeirante: os Pires, os Camargos, os Paes Lemes, os Prados, os Siqueiras, os Prados, entre outros. É católico, e se miscigenou com o colono italiano. Pobre, mas é, ainda, proprietário de pequenos lotes de terras rurais: os chamados sítios. Cornélio Pires, em seu livro "Conversas ao Pé do Fogo", conta que o caipira branco, descendente dos "primeiros povoadores, fidalgos ou nobres decaídos", se orgulhava do seu sobrenome:
“ | Se o caipira branco diz: "Eu sou da família Amaral, Arruda, Campos, Pires, Ferraz, Almeida, Vaz, Barros, Lopes de Souza, Botelho, Toledo", ou outra, dizem os caboclos: "Eu sou da raça, de tal gente"! | ” |
- caipira mulato, descendente de africanos com europeus. Raramente são proprietários. Cornélio Pires os tem como patriotas e altivos. Diz dele Cornélio Pires: “o mais vigoroso, altivo, o mais independente e o mais patriota dos brasileiros”. Excessivamente cortês, galanteador para com as senhoras, jamais se humilha diante do patrão. Apreciador de sambas e bailes, não se mistura com o “caboclo preto”.
Cornélio Pires informa, em Conversas ao Pé do Fogo, onde descreveu a vida do caipira, que o caipira cafuzo e o caipira "caboré" são raros no Estado de São Paulo.
O caipira na cultura brasileira
O caipira foi estigmatizado por Monteiro Lobato, que conheceu apenas o caipira caboclo, tomando-o como paradigma e protótipo de todos os caipiras.
O cineasta Amácio Mazzaropi criou uma personagem, nos anos de 1950, que fez muito sucesso no cinema brasileiro: O Jeca, inspirado no caipira branco (Mazzaropi tinha ascendência italiana).
O cartunista Maurício de Sousa também tem um personagem caipira nas histórias da Turma da Mônica que é o Chico Bento: um menino caipira que representa o confronto da cultura caipira com a urbanização do Brasil. Notável é o fato de as falas nas historietas em quadrinhos do "Chico Bento" serem escritas no dialeto caipira, em vez do português culto, contudo as falas se tornam justificáveis por serem utilizadas em negrito, tecnicamente o erro ficaria subentendido.
O caipira foi retratado com precisão e maestria pelo pintor José Ferraz de Almeida Júnior nas suas obras-primas "caipira picando fumo" e "violeiro".
O maior estudioso do caipira foi Cornélio Pires que compreendeu, valorizou e divulgou a cultura caipira nos centros urbanos do Brasil. Cornélio Pires em sua obra Samba e Cateretês, registrou inúmeras letras de música caipiras, que ouviu em suas viagens, e que, sem esta obra, teriam caído no esquecimento. Cornélio Pires registrou também a influência da imigração italiana entrando em contato com o caipira. Cornélio Pires também registrou os termos caipiras mais usados em seu Dicionário do Caipira publicado na obra "Conversas ao pé do Fogo".
Cornélio Pires foi o primeiro que lançou, em discos de 78 Rpm, a música caipira, hoje chamada de "música de raiz", em oposição à música sertaneja e produziu cerca de 500 discos em 78 rpm.
Os seguintes termos servem de sinônimo para o caipira brasileiro (sendo alguns regionais):
araruama; babaquara; babeco; baiano; baiquara; beira-corgo; beiradeiro; biriba ou biriva; botocudo; brocoió; bruaqueiro; caapora; caboclo; caburé; cafumango; caiçara; cambembe; camisão; canguaí; canguçu; capa-bode; capiau; capicongo; capuava; capurreiro; cariazal; casaca; casacudo; casca-grossa; catatuá; catimbó; catrumano; chapadeiro; curau; curumba; groteiro; guasca; jeca; macaqueiro; mambira; mandi ou mandim; mandioqueiro; mano-juca; maratimba; mateiro; matuto; mixanga; mixuango ou muxuango; mocorongo; moqueta; mucufu; pé-duro; pé-no-chão; pioca; piraguara; piraquara; queijeiro; restingueiro; roceiro; saquarema; sertanejo; sitiano; tabaréu; tapiocano; urumbeba ou urumbeva.[5]
O Programa Revelando São Paulo
O governo do Estado de São Paulo promove anualmente, desde 1997, no mês de julho, o Festival da Cultura Paulista Tradicional Revelando São Paulo realizado em diversas cidades do interior paulista e na capital paulista com o objetivo de divulgar a cultura caipira com shows e apresentações do artesanato e da culinária caipira.
Notas
- CÂNDIDO, Antônio, Os parceiros do Rio Bonito, Editora José Olympio, São Paulo, 1957.
- CHIACHIRI FILHO, José, Do Sertão do Rio Pardo a Vila Franca do Imperador, Franca, Ribeirão Gráfica, 1986.
- MARCONI, Marina de Andrade, Linguagem na Região de Franca, UNESP, Franca, 1991.
- MOMBEIG, Pierre, Pioneiros e fazendeiros de São Paulo, Editora Hucitec, São Paulo, 1983.
- MONTEIRO LOBATO, José Bento de, Urupês, Editora Monteiro Lobato e Cia., São Paulo, 1923.
- NEPOMUCENO, Rosa, Música Caipira, da roça ao rodeio, Editora 34, 1999.
- QUEIROZ, Renato da Silva, Caipiras Negros no Vale do Ribeira, Editora da USP, 1983.
- PIRES, Cornélio, Conversas ao pé do fogo, IMESP, edição fac-similar, 1984.
- PIRES, Cornélio, Sambas e Cateretês, 2º edição, Editora Ottoni, Itu, São Paulo, 2004.
- RODRIGUES, Ada Natal, O Dialeto Caipira na Região de Piracicaba, Editora Ática, 1974.
Ver também
- Dialeto caipira
- Comida caipira
- Caipirinha
- Catira
- Jeca Tatu
- Chico Bento
- Viola caipira
- Moda de viola
- Música sertaneja
- Tropeiro
- Língua geral paulista
- Dia do Caboclo
- Movimento mestiço