Neutralidade de gênero
Neutralidade de gênero (português brasileiro) ou género (português europeu), outras vezes conhecida como movimento do neutralismo de gênero, descreve a ideia que visa a linguagem, e outras instituições sociais, de modo a evitar distinguir normas de gênero de acordo com o sexo ou gênero delas, a fim de prevenir a discriminação e segregação resultante da impressão de que existem papéis sociais para os quais um gênero é mais adequado que outro,[1] como objetivo eliminar (desbinarizar ou neutralizar) referência ao sexo ou gênero, em termos de descrever pessoas.[2] Isso pode envolver o desencorajamento do uso de títulos específicos de gêneros da profissão, tais como aeromoça/aeromoço, bombeiro/bombeira, e secretária/secretário, em favor de termos gênero-neutros, como aeromoce, comissárie de bordo, bombeire e secretárie.[3] Termos específicos de outros gêneros, tais como ator e atriz, podem ser substituídos pelo substantivo originalmente masculino (atores utilizado para ambos os gêneros).[4] A neutralidade surge como alternativa ao masculino como norma e genericidades masculina e feminina.[5][6]
Os pronomes ele ou ela podem ser substituídos por elu ou ile[7][8] quando o gênero da pessoa a que se refere é desconhecido.[9][10] Alguns também advogam por um pronome epiceno a ser usado mesmo quando o sexo de uma pessoa é conhecido, em um esforço para remover efeitos subconscientes alegados da linguagem no reforço de género e os estereótipos de género.[11] Além disso, aqueles que não se identificam como mulheres ou homens podem usar um pronome gênero-neutro, como o they singular, para referir-se a elas próprias ou a outras pessoas a se referirem a elas.[12][13][14]
Em 2012, um pronome "hen" foi proposto na Suécia. O sueco foi a primeira língua oficial a adicionar um pronome neutro de terceira-pessoa por uma autoridade institucional. "Hen" pode ser usado para descrever qualquer pessoa, independentemente da identificação de sexo ou de gênero.[15]
"Linguagem gênero-neutra" não deve ser confundida com "língua sem gênero" ou "agênera", que se refere a uma língua (idioma) que não tem gênero gramatical.
Relação a feminismo e masculinismo
[editar | editar código-fonte]Neutralidade de gênero enfatiza a equidade e/ou igualdade de tratamento entre homens e mulheres e as pessoas de qualquer outro gênero, legalmente, sem discriminação de qualquer natureza. Este objetivo é, em princípio, compartilhados com as feministas e masculinistas. No entanto, em termos de neutralidade, a ênfase é sobre transcender a perspectiva de gênero completamente ao invés de focar sobre os direitos específicos de gênero, podendo ser vista como um centrismo. O neutrismo, ou neutralismo, também pode ser usado para se estender ao machismo versus femismo e antifeminismo versus antimasculinismo.[16][17]
O pós-generismo também é empregado como uma subcategoria de pós-estruturalismo, havendo pessoas que fazem uma ambivalência humanista ou pós-humanista do masculinismo e feminismo, advogando também pelos direitos das pessoas não binárias e não conformes de gênero.[18]
Relação com o transumanismo
[editar | editar código-fonte]Transcendência de gênero, assim como a sua neutralidade, é parte do conceito transumanista de pós-generismo, que é definida como o movimento para corroer o papel cultural, biológico, psicológico e social do gênero dentro da sociedade.
Os defensores do "postgenderism" argumentam que a presença de papéis de gênero, a estratificação social, disparidades e diferenças cogno-físicas são, geralmente, em prejuízo dos indivíduos e da sociedade. Dado o potencial radical para assistência avançadas de opções reprodutivas, pós-generistas acreditam que o sexo para causas reprodutivas irá tornar-se obsoleto, ou que todos os seres humanos pós-gêneros têm a capacidade de, se assim escolherem, levar uma gravidez e conceber uma criança como pai, o que, pós-generistas acreditam, teria o efeito de eliminar a necessidade de gêneros definitivos em tal sociedade.[19]
Na educação
[editar | editar código-fonte]Houve alguns avanços na incorporação da neutralidade de gênero na sala de aula. Tentativas de encorajar essa mentalidade nas escolas são demonstradas por instituições como Nicolaigarden e Egalia, duas pré-escolas na Suécia. Seus esforços para substituir os termos "menina" e "menino" pelo pronome neutro de gênero "hen" (equivalente a "menine", no português) garantem aos alunos a capacidade de desafiar ou cruzar fronteiras de gênero. Há, no entanto, preconceitos implícitos no corpo docente e na equipe das escolas que, em última análise, impedem a fluidez de gênero em ambientes de sala de aula. Em um estudo feito em 2016 que mediu as facilitações de atividades gênero-típicas e gênero-neutras de professores durante o jogo livre, concluiu-se que os professores facilitavam as atividades masculinas em taxas mais altas do que as femininas. É sugerido pelo estudo que "Informar os professores sobre essa tendência pode levá-los a refletir sobre suas próprias práticas de ensino e servir como um catalisador para a promoção de práticas de ensino que criam ambientes de sala de aula em que meninos e meninas recebem apoio para engajamento variedade de atividades em sala de aula."[20] Outras sugestões e buscas para ampliar a mentalidade por trás da neutralidade de gênero nas escolas incluem:
- permitir programas e bailes de atendimento e tribunais para acomodar participantes transexuais e casais do mesmo sexo
- a designação de alojamentos e banheiros unissex em casas do campus[21]
- o estabelecimento de organizações estudantis fraternais gênero-neutros
- não separar brinquedos em áreas específicas de gênero
- não terem esportes de gêneros específicos nas lições de educação física[22]
Código de vestimenta
[editar | editar código-fonte]A abolição de certos códigos de vestibilidade têm sido conservada entre as instituições dependendo das limitações impostas sobre os alunos e o seu conforto em tal vestimenta. Para os alunos transexuais, rigorosos códigos de vestimenta podem complicar o seu caminho em direção a confirmação de sua identidade de gênero, a um custo que pode afetar esses indivíduos bem durante toda a sua vida. Formas em que a conformidade com trajes em instituições pode causar repercussões em outras áreas da vida são fatores como a diminuição do desempenho acadêmico, maior a taxa de abandono, e o aumento da ação disciplinar.[23] Desde 2017[update], 150 escolas primárias no Reino Unido introduziram uniformes gênero-neutros e os alunos sentem-se mais no controle de sua identidade como resultado desta mudança de política.[24]
Na parentalidade
[editar | editar código-fonte]Helen Davies descreve o gênero como "a classificação de masculino ou feminino que inclui características sociais, psicológicas e intelectuais. A teoria da neutralidade de gênero é uma teoria que afirma que o sexo biológico não determina inevitavelmente características sociais, psicológicas e intelectuais".[25] Estratégias de controle parental podem ser definidas como qualquer estratégia que um pai usa para alterar, mudar ou influenciar o comportamento, pensamentos ou sentimentos de seus filhos. A meta-análise de Endendijk revela "a base da parentalidade neutra de gênero, também conhecida como PNG, não projeta um gênero em uma criança. Ela permite que responsáveis e seus filhos se afastem da binariedade de gênero".[26] A parentalidade neutra de gênero está permitindo que as crianças sejam expostas a uma variedade de tipos de gênero, para que as crianças possam explorar seu gênero sem restrições da sociedade ou do gênero com o qual nasceram. As estratégias de apoio à autonomia proporcionam à criança uma quantidade apropriada de controle, uma quantidade desejada de escolha, reconhecem as perspectivas da criança e fornecem à criança raciocínios significativos quando a escolha é restringida. Mesmo que uma criança não apresente comportamentos de flexão de gênero, o PNG permite que eles explorem e não sejam constrangidos a partir do gênero com o qual nasceram. Isso pode ser feito através de brincadeiras com brinquedos não estereotipados para o gênero, permitindo que colham suas próprias roupas, permitindo que ajam de forma mais "feminina" ou masculina", e permitindo que as crianças questionem seu gênero. No livro de sociologia Diferenças Sexuais Em Comportamento Social: Uma Interpretação do Papel Social, Alice Eagly teoriza que as diferenças sexuais foram propostas, baseadas em fatores biológicos, na socialização da primeira infância e em outras perspectivas, permitindo que as crianças se expressem sem pressão para serem extremamente masculinas ou femininas.[27] A elas também serão concedido a exposição a papéis de gênero e ser capaz de pensar criticamente sobre eles em uma idade jovem.[28]
Como expressão de gênero
[editar | editar código-fonte]A neutralidade pode denotar uma expressão de gênero, conotando uma aparência que não é tipicamente feminina nem masculina, em alusão a androginia, que seria a mescla de ambas as expressões, sendo assim nenhuma das duas, por vezes vista como outra totalmente aparte.[29] Há também, quem veja tal neutralidade intermediando ambas as masculinidades e feminilidades, estando no meio, em um espectro linear, como muitos infográficos.[30][31][32][33] Nem todo indivíduo neutro de expressão é de identidade (neutrois).[34][35]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Carolina Martins, Maria; Duarte, Marcelo; Viveiros, Jessika; Andrade, Naiana. «Uso das linguagens inclusiva e neutra mostra movimento das formas de comunicação». Universidade Federal de Minas Gerais. Universidade Federal de Minas Gerais. Consultado em 30 de setembro de 2022
- ↑ Rodrigues, Franciele; Brevilheri, Ursula Boreal Lopes; Nalli, Morgana Camargo (5 de julho de 2022). «Da proibição da neolinguagem a "infinitas possibilidades de gêneros não existentes"». Revista Relegens Thréskeia (1): 231–246. ISSN 2317-3688. doi:10.5380/rt.v11i1.86250. Consultado em 30 de setembro de 2022
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