Saltar para o conteúdo

Smara

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Saara Ocidental Smara

سمارة , as-Samārah

Es-Semara, Semara, Esmara

 
  Município  
Vista de Smara
Vista de Smara
Vista de Smara
Localização
Smara está localizado em: Saara Ocidental
Smara
Localização de Smara no Saara Ocidental
Coordenadas 26° 44′ 22″ N, 11° 40′ 13″ O
País Saara Ocidental (de jure)

Marrocos (de facto)

Região de Marrocos (1997-2015) Guelmim-Es Semara
Província Smara
História
Fundação Século XIX
Fundador Maa el-Ainin
Características geográficas
População total (2004) [1][2] 33 910 hab.
 • Estimativa (2012) 49 652
Altitude 300 m
Outras informações
Soco semanal quinta-feira
Território do Saara Ocidental sob o controle de Marrocos

Smara, Semara ou Es-Semara (em castelhano: Esmara; em árabe: سمارة; romaniz.: as-Samārah) é uma cidade do Saara Ocidental administrada de facto por Marrocos, que a considera parte do seu território. É a capital da província marroquina de homónima, que faz parte da região de Guelmim-Es Semara. Em 2004 tinha 33 910 habitantes[1] e estimava-se que em 2012 tivesse 49 652 habitantes.[2]

Smara situa-se em pleno deserto do Saara, no vale de Saguia el Hamra, 225 km a leste de El Aaiún e 230 km a sul de Tan-Tan (distâncias por estrada). É a única cidade importante do Saara Ocidental que não foi fundada durante o período colonial espanhol.

Atualmente, a importância de Smara deve-se sobretudo às guarnições militares marroquinas e das forças de manutenção da paz das Nações Unidas e ao comércio, nomeadamente o soco (mercado) semanal que se realiza todas as quintas-feiras. Os principais monumentos da cidade são a zauia (santuário), palácio e grande mesquita de Maa el-Ainin (ou Ma al-'Aynayn, Mohamad Mustafa Ould Sheikh Mohamad Fadel), o fundador da cidade, além da chamada mesquita velha e das muralhas.[3][4] Nos arredores há diversos locais com pinturas rupestres: no oued Selouan (23 km), oued Aasli Boukerch (30 km), Amgala (80 km), oued Tazouwa (135 km) e oued Mirane (145 km). Nos três últimos sítios encontram-se também sepulturas pré-islâmicas.[5]

Zauia de Maa el-Ainin
Interior da mesquita velha

Até ao final do século XIX Smara pouco mais era que um ponto de passagem, cruzamento e abastecimento de caravanas transarianas. A cidade foi fundada no final do século XIX pelo chamado "sultão azul", Maa el-Ainin, o xeque saaráui que combateu o colonialismo espanhol e francês. Apesar de se situar longe da costa, Smara era rica em pastagens e água e estava bem situada para controlar as caravanas, e passou a ser a capital de Maa el-Ainin, que ali construiu um arrábita (fortaleza), um palácio e uma grande mesquita em Smara.

Maa el-Ainin combateu os ocupantes espanhóis a partir de 1898, com o apoio do sultão de Marrocos. Em 1902 transformou Smara na sua capital sagrada e tornou-a um centro religioso importante, dotando-a de uma biblioteca islâmica. Em 1904 Maa el-Ainin proclamou-se imã e declarou a jiade (guerra santa) contra o colonialismo francês. Em 1910 o sultão marroquino retira o seu apoio devido às pressões dos franceses e o xeque passa então a apoiar os combatentes antifranceses do sul de Marrocos. Em 1913, Smara é ocupada e quase completamente arrasada por tropas francesas, que devolvem a cidade a Espanha. A resistência continuou, mas foi diminuindo gradualmente até se extinguir em 1920.

Em 1958 Smara assistiu à operação aerotransportada Huracan, levada a cabo conjuntamente por tropas espanholas e francesas, com o objetivo de desalojar o Exército de Libertação de Marrocos do sul.[6] No mesmo ano, a Espanha cedeu a faixa de Tarfaia a Marrocos.

A Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental, foi fundada em Smara em 10 de maio de 1973. As tropas marroquinas ocuparam a cidade a 27 de novembro de 1975, causando a fuga de inúmeros saaráuis para a Argélia, para escaparem às represálias dos marroquinos pelo seu apoio à Frente Polisário. A força aérea marroquina usou napalm, fósforo branco e bombas de fragmentação contra os refugiados, provocando centenas de mortos, que a Amnistia Internacional estima em 530.

Um dos campos de refugiados saaráuis da região argelina de Tindouf administrados pela chamada República Árabe Saaraui Democrática tem o nome de Smara.[7]

Em 2005 a cidade assistiu a fortes protestos contra a ocupação marroquina.

No inverno, os dias são quentes, com temperaturas máximas entre 23 e 34°C, e as noites temperadas, com mínimas entre os 14 e 21°C. No verão, as temperaturas máximas situam-se sempre acima dos 30°C, e frequentemente acima dos 40°C, chegando por vezes aos 50°C. A par de Marraquexe, Smara tem o recorde de temperatura máxima de cidades marroquinas, com 53°C. A média das temperaturas máximas do mês mais quente é 40°C e a média das temperaturas mínimas do mês mais frio é 17°C.

Na literatura

[editar | editar código-fonte]

Smara deu nome a um livro do aventureiro francês Michel Vieuchange (1904-1930), que percorreu 1 400 km a pé disfarçado de mulher berbere desde Tiznit até Smara, onde chegou a 1 de novembro de 1930, onde contraiu uma disenteria que seria a causa da sua morte pouco depois em Agadir. O livro Chez les dissidents du sud marocain et du Rio de Oro; Smara ("Entre os dissidentes do sul marroquino e do Rio do Ouro; Smara) foi publicado postumamente em 1932 pelo irmão Jean Vieuchange, a partir dos sete blocos de notas e mais de 200 fotografias do irmão, e foi um sucesso de vendas.[8] Em 1987 foi publicada uma edição em inglês com o título Smara, The Forbidden City ("Smara, A Cidade Proibida").[9]

Notas e referências

[editar | editar código-fonte]
  1. a b «Recensement général de la population et de l'habitat 2004». www.hcp.ma (em francês). Royaume du Maroc - Haut-Comissariat au Plan. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  2. a b «Sahara Occidental: Les villes les plus grandes avec des statistiques de la population». gazetteer.de (em francês). World Gazeteer. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  3. Ellingham, Mark; McVeigh, Shaun; Jacobs, Daniel; Brown, Hamish (2004). The Rough Guide to Morocco (em inglês) 7ª ed. Nova Iorque, Londres, Deli: Rough Guide, Penguin Books. p. 651-652. 824 páginas. ISBN 9-781843-533139 
  4. Kjeilen, Tore. «Smara - Red and friendly». LookLex.com (Lexic Orient) (em inglês). Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  5. «Province d'Es-Smara». www.crt-guelmim.com (em francês). Conseil Regional de Tourisme Guelmim-Smara. Consultado em 26 de fevereiro de 2012. Cópia arquivada em 24 de outubro de 2010 
  6. Baltzer, Jacques (maio de 2011). «Les parachutistes de l'armée de l'air». Revista Assaut (em francês) (62). 82 páginas. ISSN 1777-2958 
  7. «Day 14: Tinfou to Tindouf». Sahara with Michael Palin (em inglês). Prominent Palin Productions Limited. 2002. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  8. Vieuchange, Michel; Vieuchange, Jean (1932). Chez les dissidents du sud marocain et du Rio de Oro; Smara (em francês). [S.l.]: Plon. 296 páginas. ISBN 9780880011464 
  9. Vieuchange, Michel; Vieuchange, Jean (1987). Smara, The Forbidden City (em inglês). [S.l.]: W. W. Norton, Ecco travels. 290 páginas. ISBN 9780880011464 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Smara
  • Wisner, Geoff (15 de janeiro de 2010). «Smara: The Forbidden City». wordswithoutborders.org (em inglês). Words Without Borders. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  • Maoulainine, Naama. «Smara Paradise of Sahara». maoulainine.8m.com (em inglês). Maoulainine.8m.com. Consultado em 26 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 27 de outubro de 2010 
  • «Smara». touraumaroc.com (em francês). Touraumaroc.com. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  • Moncelon, Jean. «Smara». www.moncelon.com (em francês). D'Orient & D'Occident. Consultado em 26 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 14 de novembro de 2008