Tetrahidrocanabinol: diferenças entre revisões

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'''Tetrahidrocanabinol''', também conhecido como '''THC''' (do [[língua inglesa|inglês]] ''Tetrahydrocannabinol'') , '''Δ<sup>9</sup>-THC''', '''Δ<sup>9</sup>-tetrahidrocanabinol''' (delta-9-tetrahidrocanabinol), ou '''dronabinol''' (sintético), é a principal [[Droga psicoativa|substância psicoactiva]] encontrada nas plantas do género ''[[Cannabis]]'',<ref>{{citar jornal| autor = Takahashi RN| coautores = Zuardi AW, Karniol IG| ano = 1977| mes = Dezembro| titulo = Chemical composition of Brazilian marihuana samples and the importance of several constituents to the pharmacological activity of the plant| jornal = Revista brasileira de pesquisas médicas e biológicas| volume = 10(6):379-85.| pmid = 609775}}</ref> e pode ser obtido por extracção a partir dessa planta ou por síntese em laboratório.
'''Tetrahidrocanabinol''', também conhecido como '''THC''' (do [[língua inglesa|inglês]] ''Tetrahydrocannabinol'') , '''Δ<sup>9</sup>-THC''', '''Δ<sup>9</sup>-tetrahidrocanabinol''' (delta-9-tetrahidrocanabinol), ou '''dronabinol''' (sintético), é a principal [[Droga psicoativa|substância psicoactiva]] encontrada nas plantas do gênero ''[[Cannabis]]'',<ref>{{citar jornal| autor = Takahashi RN| coautores = Zuardi AW, Karniol IG| ano = 1977| mes = Dezembro| titulo = Chemical composition of Brazilian marihuana samples and the importance of several constituents to the pharmacological activity of the plant| jornal = Revista brasileira de pesquisas médicas e biológicas| volume = 10(6):379-85.| pmid = 609775}}</ref> e pode ser obtido por extração a partir dessa planta ou por síntese em laboratório.


O Δ<sup>9</sup>-THC (conhecido segundo uma anterior convenção de nomenclatura como Δ<sup>1</sup>-THC) foi isolado na forma pura pela primeira vez em [[1964]] por Raphael Mechoulam, Yechiel Gaoni e Habib Edery no [[Instituto Weizmann da Ciência|Instituto Weizmann]] em [[Rehovot]], [[Israel]], através da extracção a partir do [[haxixe]] com [[éter de petróleo]], seguido de repetidas [[cromatografia]]s.<ref>{{citar jornal|autor=Gaoni Y.|coautores=Mechoulam R.|ano=1971|jornal=Journal of the American Chemical Society|titulo=Isolation and structure of. DELTA.+-tetrahydrocannabinol and other neutral cannabinoids from hashish|url=http://pubs.acs.org/cgi-bin/abstract.cgi/jacsat/1971/93/i01/f-pdf/f_ja00730a036.pdf|formato=pdf}}</ref>
O Δ<sup>9</sup>-THC (conhecido segundo uma anterior convenção de nomenclatura como Δ<sup>1</sup>-THC) foi isolado na forma pura pela primeira vez em [[1964]] por Raphael Mechoulam, Yechiel Gaoni e Habib Edery no [[Instituto Weizmann da Ciência|Instituto Weizmann]] em [[Rehovot]], [[Israel]], através da extração a partir do [[haxixe]] com [[éter de petróleo]], seguido de repetidas [[cromatografia]]s.<ref>{{citar jornal|autor=Gaoni Y.|coautores=Mechoulam R.|ano=1971|jornal=Journal of the American Chemical Society|titulo=Isolation and structure of. DELTA.+-tetrahydrocannabinol and other neutral cannabinoids from hashish|url=http://pubs.acs.org/cgi-bin/abstract.cgi/jacsat/1971/93/i01/f-pdf/f_ja00730a036.pdf|formato=pdf}}</ref>


É discutido até que ponto este composto é responsável pelos efeitos verificados com o consumo da planta. Um estudo não encontrou diferenças nos efeitos subjectivos entre a [[maconha]] e o THC puro,<ref>{{citar jornal|autor=Wachtel SR|coautores=ElSohly MA, Ross SA, Ambre J, de Wit H|ano=2002|mes=Junho|titulo=Comparison of the subjective effects of Delta(9)-tetrahydrocannabinol and marijuana in humans|jornal=Psychopharmacology|volume=161(4):331-9|pmid=12073159}}</ref> mas críticas a esse estudo apontam para que tenha sido usada maconha de fraca qualidade e parcialmente deteriorada, que não mantinha os componentes normais de [[terpeno|terpenóides]] e [[flavonóide]]s tais como [[canabinol]] (CBN) e [[canabidiol]] (CBD), defendendo que os efeitos do consumo da planta não se devem só ao THC.<ref name="resposta">{{citar jornal|autor=Russo EB|coautores=McPartland JM|ano=2003|mes=Fevereiro|titulo=Cannabis is more than simply Δ<sup>9</sup>-tetrahydrocannabinol|jornal=Psychopharmacology|volume=165:431–432|pmid=12491031}}</ref>
É discutido até que ponto este composto é responsável pelos efeitos verificados com o consumo da planta. Um estudo não encontrou diferenças nos efeitos subjetivos entre a [[maconha]] e o THC puro,<ref>{{citar jornal|autor=Wachtel SR|coautores=ElSohly MA, Ross SA, Ambre J, de Wit H|ano=2002|mes=Junho|titulo=Comparison of the subjective effects of Delta(9)-tetrahydrocannabinol and marijuana in humans|jornal=Psychopharmacology|volume=161(4):331-9|pmid=12073159}}</ref> mas críticas a esse estudo apontam para que tenha sido usada maconha de fraca qualidade e parcialmente deteriorada, que não mantinha os componentes normais de [[terpeno|terpenóides]] e [[flavonóide]]s tais como [[canabinol]] (CBN) e [[canabidiol]] (CBD), defendendo que os efeitos do consumo da planta não se devem só ao THC.<ref name="resposta">{{citar jornal|autor=Russo EB|coautores=McPartland JM|ano=2003|mes=Fevereiro|titulo=Cannabis is more than simply Δ<sup>9</sup>-tetrahydrocannabinol|jornal=Psychopharmacology|volume=165:431–432|pmid=12491031}}</ref>


Na utilização clínica de ''Cannabis'', os extractos são compostos geralmente pelos topos a florescer e com abundantes [[tricoma]]s glandulares (sem sementes), com um potência de até 20% de THC.<ref name="resposta" /> Dados quanto à composição dos extractos usados para consumo recreacional são escassos devido ao facto do seu consumo ser ilegal em muitos países. Um estudo da quantidade de THC em amostras de maconha e haxixe apreendidas pela polícia italiana entre 1997 e 2004 revela valores que variam entre 0,5 e 20%, com a média a subir nos últimos anos para cerca de 13%.<ref>{{citar web|titulo=δ9 THC content in illicit cannabis products over the period 1997-2004 (first four months)|url=http://www.iss.it/binary/publ2/cont/Licata.1140528795.pdf|formato=pdf|acessodata=[[14 de Abril]] de [[2008]]}}</ref>
Na utilização clínica de ''Cannabis'', os extratos são compostos geralmente pelos topos a florescer e com abundantes [[tricoma]]s glandulares (sem sementes), com um potência de até 20% de THC.<ref name="resposta" /> Dados quanto à composição dos extratos usados para consumo recreacional são escassos devido ao fato do seu consumo ser ilegal em muitos países. Um estudo da quantidade de THC em amostras de maconha e haxixe apreendidas pela polícia italiana entre 1997 e 2004 revela valores que variam entre 0,5 e 20%, com a média a subir nos últimos anos para cerca de 13%.<ref>{{citar web|titulo=δ9 THC content in illicit cannabis products over the period 1997-2004 (first four months)|url=http://www.iss.it/binary/publ2/cont/Licata.1140528795.pdf|formato=pdf|acessodata=[[14 de Abril]] de [[2008]]}}</ref>


== Farmacocinética ==
== Farmacocinética ==
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25% dos metabolitos são eliminados na urina sob a forma de éster de ácido glucurónico.
25% dos metabolitos são eliminados na urina sob a forma de éster de ácido glucurónico.


A maioria é liberada no intestino pelo fígado, e pode ser reabsorvido (circulação entero-hepática), prolongando a sua acção, ou eliminado nas fezes onde se verifica a predominância da forma não conjugada.
A maioria é liberada no intestino pelo fígado, e pode ser reabsorvido (circulação entero-hepática), prolongando a sua ação, ou eliminado nas fezes onde se verifica a predominância da forma não conjugada.


A eliminação total pode demorar até 30 dias.
A eliminação total pode demorar até 30 dias.


Devido à sequestração e à existência de metabolitos activos, é difícil estabelecer uma relação entre a concentração de THC no plasma ou urina e a intoxicação.
Devido à sequestração e à existência de metabólitos ativos, é difícil estabelecer uma relação entre a concentração de THC no plasma ou urina e a intoxicação

== Interacções Farmacológicas ==
== Interacções Farmacológicas ==
O THC reforça a acção sedativa de outras substâncias psicotrópicas como o [[álcool]] e as [[benzodiazepina]]s.
O THC reforça a ação sedativa de outras substâncias psicotrópicas como o [[álcool]] e as [[benzodiazepina]]s.


Reforça ainda a acção de relaxantes musculares, brocodilatadores, medicamentos antiglaucoma, da acção analgésica de opiáceos, do efeito antiemético das fenotiazinas e do efeito antiepilético das benzodiazepinas.
Reforça ainda a ação de relaxantes musculares, broncodilatadores, medicamentos antiglaucoma, da ação analgésica, de opiáceos, do efeito antiemético, das fenotiazinas e do efeito antiepilético das benzodiazepinas.
Inibidores da [[ciclooxigenase]] (COX), como os [[AINE]]s e a [[indometacina]], antagonizam o efeito do THC.
Inibidores da [[ciclooxigenase]] (COX), como os [[AINE]]s e a [[indometacina]], antagonizam o efeito do THC.


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Algumas pesquisas sugerem que o THC pode estar indicado em caso de [[epilepsia]], [[Depressão nervosa|depressão]], [[distúrbio bipolar]], quadros de [[ansiedade]], dependência de [[opiáceo]]s e álcool, sintomas de retirada, assim como distúrbios do comportamento na [[doença de Alzheimer]], mas revela-se necessária uma investigação mais aprofundada.
Algumas pesquisas sugerem que o THC pode estar indicado em caso de [[epilepsia]], [[Depressão nervosa|depressão]], [[distúrbio bipolar]], quadros de [[ansiedade]], dependência de [[opiáceo]]s e álcool, sintomas de retirada, assim como distúrbios do comportamento na [[doença de Alzheimer]], mas revela-se necessária uma investigação mais aprofundada.


Provas crescentes demonstram a efectividade dos efeitos do THC contra os espasmos provocados pela [[esclerose múltipla]], lesão na [[medula espinhal]] e na [[síndrome de Tourette]] (não só diminuição dos tiques, mas também melhoria do comportamento). Verifica-se também actividade em outras desordens do movimento, como [[distonia]].
Provas crescentes demonstram a efetividade dos efeitos do THC contra os espasmos provocados pela [[esclerose múltipla]], lesão na [[medula espinhal]] e na [[síndrome de Tourette]] (não só diminuição dos tiques, mas também melhoria do comportamento). Verifica-se também atividade em outras desordens do movimento, como [[distonia]].


A acção do THC no tratamento da asma e do glaucoma está praticamente confirmada.
A ação do THC no tratamento da asma e do glaucoma está praticamente confirmada.


Clinicamente, o THC é usado no tratamento das náuseas e vómitos refractários causados por medicamentos antineoplásicos, no tratamento da perda de apetite na [[anorexia]] e na [[caquexia]] em doentes com HIV/SIDA.
Clinicamente, o THC é usado no tratamento das náuseas e vômitos refratários causados por medicamentos antineoplásicos, no tratamento da perda de apetite na [[anorexia]] e na [[caquexia]] em doentes com HIV/SIDA.


== Toxicidade ==
== Toxicidade ==
Os benefícios terapêuticos atribuídos à ''Cannabis'' têm sido alvo de alguma relutância, uma vez que os seus efeitos adversos tendem a tornar a relação risco/benefício desfavorável ao seu uso clínico.
Os benefícios terapêuticos atribuídos à ''Cannabis'' tem sido alvo de alguma relutância, uma vez que os seus efeitos adversos tendem a tornar a relação risco/benefício desfavorável ao seu uso clínico.


=== Toxicidade aguda ===
=== Toxicidade aguda ===
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* Distúrbios de acomodação oftálmica e diminuição da reacção da pupila à luz
* Distúrbios de acomodação oftálmica e diminuição da reacção da pupila à luz
* Diminuição da secreção lacrimal
* Diminuição da secreção lacrimal
* Dores de cabeça, náuseas, vómitos
* Dores de cabeça, náuseas, vômitos
* Relaxamento muscular
* Relaxamento muscular


Por causar perturbações na coordenação motora, na percepção e nas funções cognitivas e afectivas, o consumo de THC pode apresentar perigos na condução de automóveis, pilotagem de aviões e utilização de máquinas.
Por causar perturbações na coordenação motora, na percepção e nas funções cognitivas e afetivas, o consumo de THC pode apresentar perigos na condução de automóveis, pilotagem de aviões e utilização de máquinas.
Para um ser humano morrer devido a dose letal de tetraidrocanabinol seria necessario fumar 15.000 charros em 20 minutos
Para um ser humano morrer devido a dose letal de tetraidrocanabinol seria necessário fumar 15.000 charros em 20 minutos


=== Toxicidade crónica ===
=== Toxicidade crônica ===
O uso de ''Cannabis'' por longos períodos de tempo não está associado à morte de animais ou humanos, mas estão descritos diversos efeitos crónicos devido ao uso de ''Cannabis'', efeitos estes que dependem da intensidade e duração do consumo.
O uso de ''Cannabis'' por longos períodos de tempo não está associado à morte de animais ou humanos, mas estão descritos diversos efeitos crônicos devido ao uso de ''Cannabis'', efeitos estes que dependem da intensidade e duração do consumo.


==== Risco de fumar ====
==== Risco de fumar ====
O uso fumígeno de ''Cannabis'' está relacionado com a diminuição da capacidade de respiração durante o exercício físico, dificuldades respiratórias, produção de expectoração, tosse crónica. Note-se que esses sintomas devem-se principalmente à inalação de produtos de combustão da ''Cannabis'', incluindo hidrocarbonetos policíclicos mutagénicos, e compostos químicos como a amônia, não directamente relacionados com o THC.
O uso fumígeno de ''Cannabis'' está relacionado com a diminuição da capacidade de respiração durante o exercício físico, dificuldades respiratórias, produção de expectoração, tosse crônica. Note-se que esses sintomas devem-se principalmente à inalação de produtos de combustão da ''Cannabis'', incluindo hidrocarbonetos policíclicos mutagênicos, e compostos químicos como a amônia, não diretamente relacionados com o THC.


==== Efeitos psicóticos ====
==== Efeitos psicóticos ====
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* Aumento do risco da progressão da fibrose na hepatite C crónica
* Aumento do risco da progressão da fibrose na hepatite C crónica
* Influência na resposta humoral e na resposta imunitária dos linfócitos T (estudos experimentais)
* Influência na resposta humoral e na resposta imunitária dos linfócitos T (estudos experimentais)
* Decréscimo na contagem de espermatozóides; inibição da reacção do acrossoma e diminuição da motilidade dos espermatozóides (estudos in vitro)
* Decréscimo na contagem de espermatozóides; inibição da reação do acrossoma e diminuição da motilidade dos espermatozóides (estudos in vitro)


== Bibliografia ==
== Bibliografia ==

Revisão das 23h06min de 23 de julho de 2013

 Nota: "THC" redireciona para este artigo. Para o canal The History Channel (THC), veja History.
Tetrahidrocanabinol
Alerta sobre risco à saúde
Nome IUPAC (−)-(6aR,10aR)-6,6,9-trimethyl-
3-pentyl-6a,7,8,10a-tetrahydro-
6H-benzo[c]chromen-1-ol
Outros nomes Dronabinol
Identificadores
Número CAS 1972-08-3
PubChem 16078
DrugBank DB00470
ChemSpider 15266
Código ATC A04AD10
SMILES
Propriedades
Fórmula química C21H30O2
Massa molar 314.45 g mol-1
Solubilidade em água 0.0028 [1] (23 °C)
Farmacologia
Biodisponibilidade 10-35% (inalação),
6-20% (oral)[2]
Metabolismo sobretudo hepático pela CYP2C[2]
Meia-vida biológica 1,6-59 horas [2]
Ligação plasmática 95-99%[2]
Excreção 65-80% (fezes), 20-35% (urina) como metabolito ácido[2]
Classificação legal



{{{legal_status}}}

Riscos na gravidez
e lactação
C
Compostos relacionados
Compostos relacionados Canabinol
Tetraidrocanabivarina (em vez do pentil, um propil)
Página de dados suplementares
Estrutura e propriedades n, εr, etc.
Dados termodinâmicos Phase behaviour
Solid, liquid, gas
Dados espectrais UV, IV, RMN, EM
Exceto onde denotado, os dados referem-se a
materiais sob condições normais de temperatura e pressão

Referências e avisos gerais sobre esta caixa.
Alerta sobre risco à saúde.

Tetrahidrocanabinol, também conhecido como THC (do inglês Tetrahydrocannabinol) , Δ9-THC, Δ9-tetrahidrocanabinol (delta-9-tetrahidrocanabinol), ou dronabinol (sintético), é a principal substância psicoactiva encontrada nas plantas do gênero Cannabis,[3] e pode ser obtido por extração a partir dessa planta ou por síntese em laboratório.

O Δ9-THC (conhecido segundo uma anterior convenção de nomenclatura como Δ1-THC) foi isolado na forma pura pela primeira vez em 1964 por Raphael Mechoulam, Yechiel Gaoni e Habib Edery no Instituto Weizmann em Rehovot, Israel, através da extração a partir do haxixe com éter de petróleo, seguido de repetidas cromatografias.[4]

É discutido até que ponto este composto é responsável pelos efeitos verificados com o consumo da planta. Um estudo não encontrou diferenças nos efeitos subjetivos entre a maconha e o THC puro,[5] mas críticas a esse estudo apontam para que tenha sido usada maconha de fraca qualidade e parcialmente deteriorada, que não mantinha os componentes normais de terpenóides e flavonóides tais como canabinol (CBN) e canabidiol (CBD), defendendo que os efeitos do consumo da planta não se devem só ao THC.[6]

Na utilização clínica de Cannabis, os extratos são compostos geralmente pelos topos a florescer e com abundantes tricomas glandulares (sem sementes), com um potência de até 20% de THC.[6] Dados quanto à composição dos extratos usados para consumo recreacional são escassos devido ao fato do seu consumo ser ilegal em muitos países. Um estudo da quantidade de THC em amostras de maconha e haxixe apreendidas pela polícia italiana entre 1997 e 2004 revela valores que variam entre 0,5 e 20%, com a média a subir nos últimos anos para cerca de 13%.[7]

Farmacocinética

Os efeitos do Δ9-THC devem-se sobretudo à sua ligação a receptores canabinóides CB1, presentes em muitas áreas do cérebro.[8][9] Estes receptores têm importância em diversos processos fisiológicos, tais como regulação do metabolismo, dor, ansiedade, crescimento ósseo e função imunitária.

Biodisponibilidade oral menor que por inalação (25-30%):

  • Sofre efeitos de primeira passagem, sendo metabolizado no fígado;
  • Efeito demora 1~6 horas a instalar-se, mas tem maior duração;
  • Absorção lenta e contínua no intestino;
  • Distribui-se por todo o organismo;

Absorvido por inalação atravessa os alvéolos pulmonares, entra na circulação e atinge o cérebro em minutos.

Uma vez absorvido para a corrente, as concentrações de THC diminuem rapidamente devido ao metabolismo feito pelo fígado, onde a depuração plasmática pode atingir 950 mL/min, ou à sequestração. Acumula-se preferencialmente no tecido adiposo (devido à sua grande lipofília), atingindo o pico de concentração em 4~5 dias. É depois lentamente liberado, atingindo outros compartimentos como o cérebro.

No cérebro é distribuído de diferentes formas, alcançando concentrações mais elevadas nas áreas neocortical, límbica, sensorial e motora.

É metabolizado no fígado pela CYP 450 essencialmente a 11-hidróxi-THC (potencialmente mais potente que o THC), mas existe uma enorme variedade de metabólitos, com elevados tempos de meia-vida. Posteriormente o 11-hidroxi-THC pode ainda ser substrato da álcool desidrogenase.

Devido à sequestração, o tempo de meia-vida do THC pode variar desde 20h até 10~13 dias.

25% dos metabolitos são eliminados na urina sob a forma de éster de ácido glucurónico.

A maioria é liberada no intestino pelo fígado, e pode ser reabsorvido (circulação entero-hepática), prolongando a sua ação, ou eliminado nas fezes onde se verifica a predominância da forma não conjugada.

A eliminação total pode demorar até 30 dias.

Devido à sequestração e à existência de metabólitos ativos, é difícil estabelecer uma relação entre a concentração de THC no plasma ou urina e a intoxicação

Interacções Farmacológicas

O THC reforça a ação sedativa de outras substâncias psicotrópicas como o álcool e as benzodiazepinas.

Reforça ainda a ação de relaxantes musculares, broncodilatadores, medicamentos antiglaucoma, da ação analgésica, de opiáceos, do efeito antiemético, das fenotiazinas e do efeito antiepilético das benzodiazepinas. Inibidores da ciclooxigenase (COX), como os AINEs e a indometacina, antagonizam o efeito do THC.

Usos Terapêuticos

Devido às suas propriedades, os canabinóides podem ser potencialmente usados com vista à analgesia, relaxamento muscular, imunossupressão, como anti-inflamatórios, antialérgicos, sedativos, para melhorar o humor, como estimulante do apetite, antiemético, diminuidores da pressão intra-ocular, broncodilatação, neuroproteção e efeitos antineoplásicos.

O THC teve aprovação do FDA em 1986. Actualmente é usado um THC sintético, o dronabinol (Marinol, Unimed, Marietta, Ga., USA) com duas indicações terapêuticas: náuseas e enjoos induzidos pela quimioterapia e anorexia associada a SIDA.

Verificou-se que agonistas canabinóides inibem a proliferação celular no cancro da mama, na mulher e in vitro, e apresentam actividade antineoplásica em gliomas malignos em ratos Algumas pesquisas sugerem que o THC pode estar indicado em caso de epilepsia, depressão, distúrbio bipolar, quadros de ansiedade, dependência de opiáceos e álcool, sintomas de retirada, assim como distúrbios do comportamento na doença de Alzheimer, mas revela-se necessária uma investigação mais aprofundada.

Provas crescentes demonstram a efetividade dos efeitos do THC contra os espasmos provocados pela esclerose múltipla, lesão na medula espinhal e na síndrome de Tourette (não só diminuição dos tiques, mas também melhoria do comportamento). Verifica-se também atividade em outras desordens do movimento, como distonia.

A ação do THC no tratamento da asma e do glaucoma está praticamente confirmada.

Clinicamente, o THC é usado no tratamento das náuseas e vômitos refratários causados por medicamentos antineoplásicos, no tratamento da perda de apetite na anorexia e na caquexia em doentes com HIV/SIDA.

Toxicidade

Os benefícios terapêuticos atribuídos à Cannabis tem sido alvo de alguma relutância, uma vez que os seus efeitos adversos tendem a tornar a relação risco/benefício desfavorável ao seu uso clínico.

Toxicidade aguda

A toxicidade aguda do THC é muito baixa. A dose letal em humanos não é ainda conhecida nem há relatos comprovados de morte em seres humanos por THC ou Cannabis. A gravidade, duração e frequência destes sintomas variam com a susceptibilidade do indivíduo, com meio cultural em que este se insere e com a frequência e intensidade do consumo prévio de Cannabis.

No cérebro, o consumo agudo de Cannabis pode desencadear efeitos adversos psicóticos, cognitivos e no controlo psicomotor.

Efeitos no controlo psicomotor

  • Desajustes no controle e coordenação motora
  • Redução da actividade psicomotora
  • Alterações da percepção sensorial e temporal
  • Perturbações da comunicação oral
  • Inibição do movimento

Efeito cognitivos

  • Dificuldades de concentração
  • Distúrbios na memória a longo prazo
  • Danos em todos os estágios da memória incluindo codificação, consolidação e recuperação
  • Dificuldades de atenção
  • Diminuição do desempenho aritmético
  • Efeitos amnésicos (relacionados com a inibição da liberação de neurotransmissores)

Efeitos psicóticos

  • Euforia
  • Sensação de bem-estar
  • Sonolência
  • Sedação
  • Síndrome de ansiedade
  • Despersonalização
  • Aumento do apetite

Efeitos físicos

Os efeitos físicos do THC têm menor relevância que os efeitos comportamentais, excepto nas crianças que se intoxicam por acidente. Entre outros efeitos destacam-se:

  • Taquicardia
  • Aumento da pressão diastólica associada à diminuição do tónus paras-simpático
  • Hipotensão ortostática (que causa tonturas e síncope)
  • Hipossalivação e secura da boca
  • Distúrbios de acomodação oftálmica e diminuição da reacção da pupila à luz
  • Diminuição da secreção lacrimal
  • Dores de cabeça, náuseas, vômitos
  • Relaxamento muscular

Por causar perturbações na coordenação motora, na percepção e nas funções cognitivas e afetivas, o consumo de THC pode apresentar perigos na condução de automóveis, pilotagem de aviões e utilização de máquinas. Para um ser humano morrer devido a dose letal de tetraidrocanabinol seria necessário fumar 15.000 charros em 20 minutos

Toxicidade crônica

O uso de Cannabis por longos períodos de tempo não está associado à morte de animais ou humanos, mas estão descritos diversos efeitos crônicos devido ao uso de Cannabis, efeitos estes que dependem da intensidade e duração do consumo.

Risco de fumar

O uso fumígeno de Cannabis está relacionado com a diminuição da capacidade de respiração durante o exercício físico, dificuldades respiratórias, produção de expectoração, tosse crônica. Note-se que esses sintomas devem-se principalmente à inalação de produtos de combustão da Cannabis, incluindo hidrocarbonetos policíclicos mutagênicos, e compostos químicos como a amônia, não diretamente relacionados com o THC.

Efeitos psicóticos

  • Indução do aparecimento de psicoses devido à modulação das concentrações de dopamina por acção nos receptores CB1)
  • Síndromes de confusão
  • Depressão
  • Ansiedade

Efeitos na função cognitiva

  • Danos na memória
  • Dificuldades de atenção
  • Diminuição da capacidade para organizar e integrar informação complexa
  • Tem 1% a mais de chance de desenvolver esquizofrenia de um não fumante

Existe alguma controvérsia relativa à reversibilidade dos efeitos cognitivos: alguns estudos defendem que, após um período de abstinência, os sintomas são reversíveis; outros defendem que o consumo massivo de Cannabis está associado a danos irreversíveis na performance cognitiva.

Riscos do consumo na adolescência

  • Mais efeitos tóxicos na saúde mental dos adolescentes do que em adultos
  • Maior risco de depressões
  • Efeitos mais pronunciados na performance cognitiva, nomeadamente no QI verbal
  • Síndrome de “desmotivação”, caracterizado por apatia, retraimento social e dificuldades de concentração, o que implica consequências na performance académica

Efeitos na gravidez e desenvolvimento fetal

Não está comprovado, mas pesquisas feitas por alto monstram que há um sutil risco de malformações fetais e de danos cognitivos (de 0% a 9%) devido ao consumo de Cannabis .[carece de fontes?]

Efeitos noutros órgãos

O consumo de Cannabis a longo prazo tem um impacto negativo em sistemas de órgãos incluindo o sistema imunitário e a circulação; entre outros efeitos destacam-se:

  • Influência em processos hormonais por interagir com o eixo hipotálamo-hipófise
  • Inibição da motilidade gástrica e do esvaziamento gástrico
  • Aumento do risco da progressão da fibrose na hepatite C crónica
  • Influência na resposta humoral e na resposta imunitária dos linfócitos T (estudos experimentais)
  • Decréscimo na contagem de espermatozóides; inibição da reação do acrossoma e diminuição da motilidade dos espermatozóides (estudos in vitro)

Bibliografia

Cannabis:a health perspective and research agenda; Division of mental health and prevention of substance abuse World Health Organization 11-12.

Franjo Grotenhermen, Nova-Institut, Goldenbergstraße 2, D-50354 Hürth, GERMANY; Pharmacology of Cannabinoids, Neuroendocrinology Letters Nos.1/2, Feb-Apr Vol.25, 2004

C. HEATHER ASHTON, Pharmacology and effects of cannabis: a brief review The British Journal of Psychiatry (2001) 178: 101-102, 2001

Gregory T Carter, Patrick Weydt, Muraco Kyashna-Tocha & Donald I Abrams; Medicinal cannabis: Rational guidelines for dosing, IDrugs, 2004 7(5): The Thomson Corporation ISSN 1369-7056

Franjo Grotenhermen, Nova-Institut, Goldenbergstraße 2, D-50354 Hürth, GERMANY; Pharmacology of Cannabinoids, Neuroendocrinology Letters Nos.1/2, Feb-Apr Vol.25, 2004

Wall ME, Sadler BM, Brine D, Taylor H, Perez-Reyes M.; Metabolism, disposition, and kinetics of delta-9-tetrahydrocannabinol in men and women. Clin Pharmacol Ther. 1983 Sep;34(3):352-63.

Kirsten R Müller-Vahl, Department of Clinical Psychiatry and Psychotherapy, Medical School Hannover, Carl-Neuberg-Str. 1, D-30625 Hannover, Germany; Cannabinoids reduce symptoms of Tourette’s syndrome. Expert Opinion on Pharmacotherapy, October 2003, Vol. 4, No. 10, Pages 1717-1725

Walsh D.,Nelson K.,Mahmoud F.;Established and potential therapeutic applications of cannabinoids in oncology; The Harry R Horvitz Center for Palliative Medicine; Support Care Cancer (2003)137-138.

Mackie K.; Cannabinoid receptors as therapeutic targets; Departments of Anesthesiology and Physiology and Biophysics, University of Washington School of Medicine, Seattle, Washington 101.

Chemistry and Biodiversity Vol.4 (2007), Review The Toxicology of Cannabis and Cannabis Prohibition by Franjo Grotenhermen, pg. 1745-1747, 1750, 1752-1761

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