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Renato Freitas[editar | editar código-fonte]

Renato Freitas
Wexforder/Testes
Renato Freitas em 2022.
Vereador por Curitiba
Período 01 de Janeiro de 2021
31 de Dezembro de 2024
Dados pessoais
Nascimento 12 de dezembro de 1983
Sorocaba, SP
Partido PT

Renato de Almeida Freitas Junior (Sorocaba, 12 de dezembro de 1983) é um jurista, político, ativista e ex-líder estudantil brasileiro. Exerce atualmente o cargo de vereador da cidade de Curitiba pelo Partido dos Trabalhadores.[1]

Freitas alcançou repercussão internacional após a polêmica gerada por sua participação em um protesto pelo assassinato de Moïse Kabagambe. O ato, que iniciou-se em uma rua de Curitiba, migrou para o interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito e foi interpretado como profanação por parte da sociedade brasileira.[2][3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Renato nasceu na cidade de Sorocaba no interior paulista. Sua mãe era retirante da cidade paraibana de Princesa Isabel que, fugindo da miséria e da violência, decidiu juntar-se à sua irmã mais velha que já morava em Sorocaba. Renato estava no ventre de sua mãe quando seu genitor foi preso e transferido para o Paraná. Sua mãe mudou-se para a Vila Macedo, em Piraquara, município que abriga o maior complexo penitenciário do estado, para viabilizar as visitas ao companheiro aprisionado. O local era caracterizado pela extrema pobreza e pelo descaso das autoridades. Após alguns anos sustentando sozinha os filhos como empregada doméstica, a mãe de Renato descobriu que seu companheiro, mesmo encarcerado, possuía uma outra família. Mudou-se então com os filhos para a Paraíba, onde residiu em diferentes municípios, retornando ao Paraná após encontrar dificuldades para se estabelecer no outro estado. Renato experimentou em sua infância a realidade extrema da periferia brasileira: a violência, o trabalho infantil, o uso de entorpecentes e a falta de saneamento básico.

Aos onze anos, Freitas passou a estudar em Curitiba graças aos empregadores de sua mãe, que pagavam a sua passagem de ônibus. Em 1994, ao escutar uma fita de rap pela primeira vez, Renato afirma ter observado uma inédita coesão em seus pensamentos. Renato familiarizou-se com a rotina do centro de Curitiba, com os meninos infratores e seus hábitos. Aos catorze anos a família muda-se para Pinhais, município vizinho a Piraquara e Curitiba, pois seu irmão sofria ameaças em Piraquara. Em razão do fraco desempenho escolar causado pela baixa frequência, renato concluiu o ensino fundamental através de supletivo. Enquanto cursava o ensino médio, seu genitor saiu da prisão e foi morto em seguida.

Universidade Federal do Paraná, Alma Mater de Renato Freitas

Renato começou a frequentar a Biblioteca Pública do Paraná durante o tempo que flanava pelo centro de Curitiba. Ocasionalmente pegou gosto pelo xadrez e aos poucos começou a competir em torneios municipais, estaduais e nacionais. Observara no entanto que as pessoas que o cercavam, de classe média-alta, tinham prioridades muito diversas das suas, pois não precisavam ter um aguçado instinto de sobrevivência e não eram pressionados pelas necessidades imediatas. Isso o fez se apegar aos amigos da periferia que com ele compartilhavam o gosto musical, a raça e as dificuldades. Em 2004, após flertar com o crime e com o desencanto, Renato ingressou no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná mas evadiu o curso pois os horários não o permitiam trabalhar. Em 2007, enquanto estudava visando ingressar no curso de direito, Renato teve que lidar com o súbito assassinato de seu irmão.[4]

Freitas é graduado e mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisador na área de Direito Penal, Criminologia e Sociologia da Violência, já trabalhou na Defensoria Pública do Estado do Paraná e atuava como professor universitário e advogado popular.[5] Mantém relação com seus amigos de infância e juventude. Alguns presos, sentenciados a mais de 50 anos de prisão, outros viciados em crack e uma minoria que, após o trauma da experiência no cárcere, apegou-se ao trabalho precarizado, braçal.[4]

Renato possui uma filha chamada Aurora.[5]

Política[editar | editar código-fonte]

Autodeclarado de esquerda, Renato Freitas participou de três eleições. Em 2016, disputou uma das vagas para a Câmara de Curitiba pelo Partido Socialismo e Liberdade. Em 2018, já pelo Partido dos Trabalhadores, foi candidato a deputado estadual, quando obteve 15 mil votos. No terceiro pleito consecutivo, agora para a Câmara Municipal de Curitiba, conquistou uma das cadeiras com 5.097 votos.

Educação, segurança e moradia são as principais bandeiras do vereador. “Sou ciente do poder emancipador que a educação tem e desejo que essa transformação alcance todos e todas”, relata.[1]

Incidente do dia 5 de Fevereiro de 2022[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

No dia 24 de janeiro de 2022 o imigrante congolês Moïse Mugenyi Kabagambe foi espancado até a morte por três homens em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O linchamento só foi noticiado no dia 29 de janeiro[6] e resultou em protestos no Brasil e em outros países como Inglaterra, Estados Unidos[7] e Alemanha[8], bem como uma nota da Anistia Internacional[9]. Poucos dias após a disseminação dessa notícia, Durval Teófilo Filho, negro, 38 anos, foi assassinado dentro do condomínio onde morava em São Gonçalo após ter sido "confundido com um assaltante" por um vizinho.[10]

Manifestação[editar | editar código-fonte]

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito de Curitiba

O Coletivo Núcleo Periférico, movimento popular paranaese, realizou no dia 5 de fevereiro de 2022 um ato de repúdio aos recentes assassinatos de homens negros que dominavam os noticiários naquela semana.[11] O local escolhido para o protesto foi o centro histórico de Curitiba, especificamente o largo situado em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito. O local do ato fora escolhido pela relação histórica que possui com a população negra na cidade: a Igreja, inaugurada em 1737, foi construída por e para pessoas escravizadas, uma vez que negros e negras não poderiam entrar em outras igrejas de nossa cidade. Há relatos históricos de que negros eram açoitados ali em frente – a poucos metros da porta, onde hoje há um chafariz.[11] Pouco antes das 18 horas o padre Luiz Haas encerrou uma missa e foi até a porta da igreja. Incomodado com o barulho, o vigário interpelou alguns manifestantes que estavam na escadaria e reclamou que tivera que encerrar a celebração por causa do vozerio. O grupo reagiu chamando o padre de "racista". Com o princípio de confusão, o padre foi puxado para dentro da igreja e a porta central do templo foi fechada. Quase ao mesmo tempo, um grupo de poucas dezenas de pessoas conseguiu entrar pela lateral. Freitas dirigiu-se até o pé do altar e, aos gritos e com punho cerrado, comandou um protesto antirracista que durou oito minutos - durante os quais bandeiras de partidos foram agitadas dentro do templo. Nos dias seguintes, imagens da manifestação dentro da igreja viralizaram nas redes sociais.[12]

Repercussão e críticas[editar | editar código-fonte]

A Arquidiocese de Curitiba se manifestou sobre o caso, repudiou o acontecido e disse que na ação do grupo houve "agressividades e ofensas". De acordo com a arquidiocese, a ação tratou-se de profanação injuriosa, e a "lei e a livre cidadania foram agredidas".[13] Os vereadores Éder Borges (PSD), Pier Petruziello (PTB) e Pastor Marciano Alves (Republicanos), opositores políticos do vereador, protocolaram representações por quebra de decoro contra Renato Freitas, após o petista participar do protesto dentro da igreja.[14] O Presidente da República Jair Bolsonaro criticou a invasão da igreja, salientando o fato de que o vereador pertence ao Partido dos Trabalhadores, principal oposição ao presidente. “Acreditando que tomarão o poder novamente, a esquerda volta a mostrar sua verdadeira face de ódio e desprezo às tradições do nosso povo. Se esses marginais não respeitam a casa de Deus, um local sagrado, e ofendem a fé de milhões de cristãos, a quem irão respeitar?”, escreveu Bolsonaro no Twitter.[15] Sérgio Moro (União) classificou o ato como uma "absurda e revoltante invasão".[16]

Desculpas e alegações de racismo[editar | editar código-fonte]

Renato Freitas pediu desculpas às pessoas que eventualmente sentiram-se ofendidas pelo ato, salientando o fato de que ele também é cristão.[17] “Eu sou cristão e muitos ali são cristãos. A porta estava aberta e nós entramos. Tinha seis viaturas da Guarda Municipal, que não entrou [SIC] atrás, porque não havia crime. Era uma manifestação por vidas negras", acrescentou. O ex-vereador diz que fez em frente ao altar uma pequena “homilia”, lembrando que Deus condena a discriminação de pessoas, e depois gritou vivas à vida.[12] Renato recebeu ameaças e sofreu injúria racial após a polêmica. A mais significativa partiu do e-mail de um outro parlamentar, Sidnei Toaldo(Patriota), contendo frases como "A Câmara de vereadores de Curitiba não é seu lugar, Renato", "Volta para a senzala" e "Vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não, seu negrinho".[16] Carol Dartora (PT), vereadora negra que também participava da manifestação mas que não participou do ato no interior da igreja, também sofreu injúria racial. As mensagens recebidas por ela a chamam, por exemplo, de "macaca fedorenta" e "preta safada". Os autores dos ataques afirmam ainda que a parlamentar "merecia estar na cadeia" e que ela "vai pagar pelo o que fez".[17] Outra parlamentar de Curitiba relatam que as características físicas de Renato geram desconforto e estranhamento entre alguns membros da Câmara. Djiovanni Marioto, cientísta político da Universidade Federal do Paraná, atribui essa aversão de outros vereadores à cultura gentrificada da cidade de Curitiba e a uma tradicional ausência de pessoas negras nos espaços de poder.[16]

A igreja defende o vereador[editar | editar código-fonte]

A Arquidiocese de Curitiba chegou a apresentar ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Vereadores (CMC), em março de 2022, um documento pedindo que o vereador não fosse cassado. “A movimentação contra o racismo é legítima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja. Percebe-se na militância do vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito”.[18]

Cassação do mandato e decisão do STF[editar | editar código-fonte]

Após meses de deliberação, no dia 5 de agosto de 2022, Renato Freitas teve o mandato cassado. A proposta de cassação foi aprovada pela maioria absoluta dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba, em dois turnos.[19] A cassação também o tornou inelegível ao cargo de deputado estadual, posição pleiteada por Renato nas eleições a serem realizadas no dia 2 de outubro de 2022. A defesa do parlamentar impetrou recurso junto ao Tribunal de Justiça do Paraná, mas tal recurso foi negado. No dia 23 de setembro de 2022 o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso restabeleceu o mandato de Renato Freitas. "A cassação do vereador em questão ultrapassa a discussão quanto aos limites éticos de sua conduta, envolvendo debate sobre o grau de proteção conferido ao exercício do direito à liberdade de expressão por parlamentar negro voltado justamente à defesa da igualdade racial e da superação da violência e da discriminação que sistematicamente afligem a população negra no Brasil", diz Barroso na decisão, que possuía caráter provisório mas que era categória em relação ao reconhecimento de motivações raciais nas decisões da Câmara Municipal de Curitiba.

O advogado Guilherme Gonçalves, que atua na defesa de Freitas, afirmou saber que em algum momento "injustiça seria corrigida". "A decisão não reconhece só a ilegalidade da cassação do Renato Freitas, a liminar reconhece a injustiça, a inconstitucionalidade, e a inexistência de qualquer quebra de decoro de um menino jovem, negro, periférico, que ousa superar o apartheid social e se eleger vereador", disse. Com a suspensão da cassação, Renato retomou sua elegibilidade para as eleições de 2022.[20]

No momento em que Barroso decidia pela suspensão da cassação do mandato de Freitas, o parlamentar encontrava-se na Itália para uma audiência com o Papa Francisco.[21]

Referências

  1. a b «Renato Freitas — Portal da Câmara Municipal de Curitiba». www.curitiba.pr.leg.br. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  2. cruxnow.com https://cruxnow.com/church-in-the-americas/2022/04/archdiocese-sides-with-politician-accused-of-desecrating-church-in-brazil. Consultado em 24 de setembro de 2022  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  3. «Renato Freitas: entenda a cronologia do caso sobre a cassação do vereador em Curitiba». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  4. a b Junior, Freitas; Almeida, Renato de (2017). «Prisões e quebradas : o campo em evidência». Consultado em 24 de setembro de 2022 
  5. a b «Renato Freitas — Portal da Câmara Municipal de Curitiba». www.curitiba.pr.leg.br. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  6. «Polícia investiga morte de congolês em quiosque na Barra da Tijuca». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  7. joaomalar. «Caso Moïse: ato no Rio acontece em frente a quiosque onde congolês foi morto». CNN Brasil. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  8. «Protesto em Berlim pede justiça por Moïse – DW – 06/02/2022». dw.com. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  9. Comunicação, Tom. «"A morte de Moïse Kabamgabe é inaceitável", afirma a Anistia Internacional Brasil». Anistia Internacional. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  10. «Pai, amigo e brincalhão: quem era Durval Teófilo, o homem morto por um vizinho que o confundiu com um ladrão». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  11. a b «Renato Freitas: entenda a cronologia do caso sobre a cassação do vereador em Curitiba». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  12. a b «A verdadeira história da cassação do vereador negro de Curitiba». revista piauí. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  13. «Grupo que pedia justiça pela morte de Moïse invade igreja e interrompe missa durante manifestação, diz padre; vereador que participava disse que ato foi pacífico». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  14. «Vereadores de Curitiba citam quebra de decoro e representam contra parlamentar que interrompeu missa em igreja durante ato em memória de Moïse». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  15. «Bolsonaro sobre invasão de igreja católica: "Marginais"». Poder360. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  16. a b c «'Volta pra senzala': as ofensas ouvidas por vereador de Curitiba». noticias.uol.com.br. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  17. a b «Vereador que participou de invasão em igreja durante protesto, em Curitiba, pede desculpas: 'Não foi intenção ofender o credo de ninguém'». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  18. «"Cassação de Renato Freitas é insustentável e ilegal", dizem advogados do vereador». Revista Fórum. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  19. «Câmara de Curitiba confirma cassação de vereador em segundo turno — Portal da Câmara Municipal de Curitiba». www.curitiba.pr.leg.br. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  20. «Barroso restabelece mandato de Renato Freitas e anula ato que decretou cassação». G1. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  21. «Renato Freitas encontra Papa Francisco após ser cassado». Jornal Plural. Consultado em 24 de setembro de 2022