Usuário:Music01/Testes/Don't Tell Me (canção de Madonna)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
"Bedtime Story"
Single de Madonna
do álbum Bedtime Stories
Lado B "Survival"
Lançamento 13 de fevereiro de 1995 (1995-02-13)
Formato(s) CD single, fita cassete, maxi single, vinil
Gravação 1994
Estúdio(s) Chappell Studios
Gênero(s) Eletrônica
Duração 4:53
Gravadora(s) Maverick, Sire, Warner Bros.
Composição Björk, Nellee Hooper, Marius de Vries
Produção Madonna, Nellee Hooper
Cronologia de singles de Madonna
""Take a Bow""
(1994)
""Human Nature""
(1995)
Lista de faixas de Bedtime Stories
"Sanctuary"
(9)
"Take a Bow"
(11)

"Bedtime Story" é uma canção da cantora estadunidense Madonna, contida em seu sexto álbum de estúdio Bedtime Stories (1994). Foi composta por Björk, Marius de Vries e Nellee Hooper, e produzida pela própria artista em conjunto com o último. Como parte de seu objetivo de "realizar um impacto" no cenário musical soul, Madonna decidiu colaborar com novos produtores para a concepção de seu novo disco e explorar outros estilos musicais, como o R&B e a cena musical britânica. A intérprete contatou profissionais ligados à música eletrônica, como Nellee Hooper e Marius de Vries; através de seus contatos com eles, propôs à islandesa Björk que composse uma canção para o seu novo trabalho, inspirado pelo álbum Debut, lançado por ela no anterior. de Vries e Hooper refizeram a demo, até então intitulada "Let's Get Unconscious", com o último encarregando-se da produção juntamente com Madonna.

"Bedtime Story" foi gravada nos Chappell Studios em Encino, Califórnia, onde ocorreram outras sessões com Hooper, e acabou por servir de base para o título do álbum. Foi lançada como o terceiro single do disco em 13 de fevereiro de 1995 através das gravadoras Maverick, Sire e Warner Bros., acompanhada de diversos remixes e sendo disponibilizada em diversos formatos. Em termos musicais, é uma canção eletrônica de ritmo moderado com influências de acid, house, techno e música ambiente. Sua estrutura consiste numa melodia subjacente e esquelética de sintetizadores, apoiada por efeitos como palmas, loops de caixa de ritmos, órgão e cordas. É um afastamento do repertório prévio de pop e R&B da cantora, em favor de músicas eletrônicas e inconvencionais. Em termos líricos, retrata as alegrias do mundo inconsciente.

"Bedtime Story" foi aclamada por críticos musicais, que elogiaram a sua produção e o seu estilo eletrônico e hipnótico; alguns resenhistas a selecionaram como um dos destaques do disco e notaram o seu afastamento da discografia de Madonna, enquanto outros compararam-na com trabalhos de Björk e observaram sua influência em trabalhos posteriores. Em retrospecto, autores apontaram que a faixa serviu de prévia à exploração da música eletrônica feita pela cantora em Ray of Light (1998), e consideraram-na subestimada e uma das músicas com potencial menos aproveitado em sua carreira. Obteve um desempenho comercial moderado, atingindo as dez primeiras posições na Austrália, Itália e Reino Unido, enquanto nos Estados Unidos tornou-se o primeiro de Madonna desde "Burning Up" a não atingir as quarenta primeiras posições da Billboard Hot 100, parando na 42.ª posição. Apesar disso, liderou a genérica Hot Dance Club Songs e foi a terceira mais bem sucedida naquele ano, tornando-se uma favorita de boates.

O vídeo musical correspondente foi dirigido por Mark Romanek e filmado num período de seis dias nos Universal Studios. É um dos vídeos mais caros de todos os tempos, custando US$ 5 milhões em sua produção, e passou por uma série de tratamentos e problemas nas filmagens até chegar ao produto final — uma gravação composta por imagens surrealistas e da nova era, com influências de artistas como Remedios Varo, Frida Kahlo e Leonora Carrington. Lançado em 10 de março de 1995 em cinemas da rede Odeon Cineplex, algo inovador para a época, o vídeo foi aclamado pela crítica, tendo sido colocado em exposição permanente no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. "Bedtime Story" foi apresentada ao vivo uma única vez, como o número de abertura dos Brit Awards de 1995, onde utilizou-se o remix de Junior Vasquez e Madonna se caraterizou com um vestido prateado Versace e uma longa peruca. Outra vertente da música foi usada como interlúdio de vídeo na Re-Invention Tour (2004).

Antecedentes e desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Creio que na época, sim, [Vamos ficar inconscientes] era o que eu queria ouvir da boca [de Madonna]. Mas isso foi, tipo, há seis anos atrás, quando tudo sobre ela parecia muito controlado. Acho ela uma pessoa muito intuitiva, e definitivamente seus instintos de sobrevivência são incríveis. Eles são ultrajantes. Na época, as palavras que pensei que ela diria foram, 'Não estou mais usando palavras, vamos ficar inconscientes, querido. Dane-se a lógica. Apenas seja intuitivo. Seja mais livre. Vá com o fluxo'. Agora, parece que ela está sim indo com o fluxo.

—Björk sobre a criação de "Bedtime Story" em entrevista para a revista Nylon em 2001.

Em 1992, Madonna lançou seu polêmico livro Sex e o seu quinto álbum de estúdio Erotica, ambos os quais apresentaram temáticas explícitas e centradas no sexo e em fantasias, além de estrelar o filme de terror erótico Body of Evidence. Todos os lançamentos foram vistos de forma negativa por jornalistas e fãs, que consideraram que "ela tinha ido longe demais" e que sua carreira estava acabada. Além disso, sua controversa entrevista no programa de David Letterman em 1994, marcada pelo uso de palavrões e comentários de teor sexual, contribuiu para o ápice de rejeição da mídia e do público geral em relação à imagem exageradamente sexual da cantora.[1][2][3] Naquela mesma época, Madonna lançou a faixa "I'll Remember" para a trilha sonora do filme With Honors. Bem recebida criticamente e comercialmente, foi vista como o primeiro passo positivo da intérprete em se reconectar com o público de massa e reparar os danos em sua carreira causados por sua personalidade provocante.[1]

De acordo com a autora Lucy O'Brien em seu livro Madonna: Like an Icon, Madonna queria "realizar um impacto" no cenário da soul music e, para isso, começou a trabalhar com famosos produtores do R&B, como Dallas Austin, Babyface e Dave Hall, sendo uma das poucas ocasiões em que ela colaborou com profissionais conhecidos.[4][5] A cantora também queria explorar a cena musical das boates britânicas, onde gêneros como o dub estavam crescendo em popularidade, e decidiu trabalhar com produtores e compositores europeus ligados à cena eletrônica, incluindo Nellee Hooper, que elogiou Madonna devido à sua "sensibilidade bem europeia".[4] Após convidar Hooper para Los Angeles, iniciaram-se sessões nos Chappell Studios em Encino, Califórnia, que foram as últimas a serem realizadas para o disco.[4][6] Madonna queria que as pessoas se concentrassem nos aspectos musicais do projeto, e que as músicas falassem por si mesmas.[7] O produto final, Bedtime Stories, é um álbum derivado do pop e R&B predominantemente composto de canções lentas e com uma abordagem lírica menos sexual do que o seu antecessor, incorporando estilos inéditos na discografia da cantora como trip hop, hip hop e techno.[6][8]

"Bedtime Story" foi escrita pela cantora e compositora islandesa Björk, Marius de Vries e Hooper, e produzida por Madonna e Hooper. De acordo com o autor Mark Pytlik em seu livro Björk: Wow and Flutter, Madonna estava inspirada na época pelo segundo álbum de Björk, Debut (1993). Através de suas conexões com de Vries e Hooper, Madonna entrou em contato com Björk e lhe ofereceu a chance de compor uma faixa para o seu disco. A islandesa não se considerava fã de Madonna, mas ficou intrigada pela oferta e aceitou.[9] Ela escreveu uma música inicialmente intitulada "Let's Get Unconscious", com as linhas iniciais "Hoje é o último dia / Em que estou usando palavras", concebidas a partir de seu próprio criticismo em relação à estética de Madonna. Ela esclareceu: "Quando fui oferecida a oportunidade de escrever uma música [para Madonna], eu realmente não conseguia me imaginar fazendo uma canção que se encaixaria com ela. (...) Mas, num repensamento, decidi fazer isso — escrever as coisas que sempre quis a ouvir dizendo [e] que ela nunca disse".[9]

Eu estive num estado mental reflexivo. Fiz muitas procuras na alma e me senti num espírito romântico quando estava compondo [as músicas], então foi sobre isso que eu escrevi. (...) Eu decidi que queria trabalhar com uma série de produtores diferentes. O álbum de Björk foi um dos meus preferidos por anos — é brilhantemente produzido. (...) Nellee foi a última pessoa com quem trabalhei, e não foi até esse ponto que tive uma percepção de como seria o som do disco, então eu tive que voltar e refazer muitas [coisas].[6]
 
Madonna falando sobre o envolvimento de Björk e Nellee Hooper na elaboração do álbum.

Assim que a demo foi finalizada, de Vries e Hooper rearranjaram a faixa e a versão final foi intitulada de "Bedtime Story". A versão original foi mais tarde retrabalhada por Björk e lançada sob o título de "Sweet Intuition", aparecendo como o lado B do single "Army of Me" e em versão remixada no single "It's Oh So Quiet". Ela mais tarde declarou que Madonna pronunciou algumas das letras erroneamente, como "abandonando a lógica e a razão" ao invés da original "aprendendo a lógica e a razão".[10] O título da música serviu de base para o nome do álbum, com Madonna considerando que o nome remetia à ideia de "histórias sendo contadas, de palavras que você ensina a crianças".[11]

Lançamento e divulgação[editar | editar código-fonte]

"Bedtime Story" foi lançada como o terceiro single do disco em 13 de fevereiro de 1995 no Reino Unido, e em 11 de abril nos Estados Unidos, acompanhada de sete remixes, distribuídos nos diferentes formatos disponibilizados. Jose F. Promise, do portal Allmusic, comentou que os remixes de William Orbit e Junior Vasquez "são puro material de pistas de dança, às vezes agressivos, às vezes etéreos, às vezes trance". Ele considerou o "Orbital Mix" "mais sonhador" do que os de Vasquez, enquanto o "Junior's Sound Factory" foi descrito como "muito mais profundo, em determinadas vezes lembrando uma marcha".

Um remix feito por Vasquez foi utilizado para a apresentação de "Bedtime Story" na edição de 1995 dos Brit Awards, na qual serviu como o número de abertura. Madonna usou um vestido Versace prateado e uma longa peruca loira, semelhante à campanha da marca que estava promovendo na época. A cantora chegou a convidar Björk para a performance, mas ela recusou, comentando: "Eu iria pegar o número pessoal [da Madonna] e ligar para ela, mas não me pareceu certo. Eu adoraria encontrá-la acidentalmente, muito bêbada num bar. É que toda essa formalidade me confunde". A revista Marie Claire posicionou a interpretação na quarta colocação dos 30 melhores momentos da premiação. Um escritor a considerou a melhor abertura dos Brit Awards e avaliou que "[Madonna] trouxe todas as paradas, tratando o público com um show de luzes e um trio de dançarinos vestidos em cetim".

"Bedtime Story" foi incluída, até a data, em apenas uma turnê de Madonna, na Re-Invention Tour (2004), onde elementos da versão de William Orbit foram usadas num interlúdio de vídeo. Conforme a gravação era apresentada, três dançarinos acrobatas surgiam do teto em balanços. Madonna apareceu no vídeo usando uma roupa branca, cantando na frente de um espelho e deitada num grande escaneador. Um cavalo branco foi visto com ela no vídeo, andando num deserto branco e passando por lençóis brancos. Terminado o interlúdio, a cantora surgiu no palco para apresentar "Nothing Fails".

Estrutura musical e letras[editar | editar código-fonte]

"Bedtime Story" é uma canção derivada da música eletrônica, sendo um notável distanciamento das outras músicas do álbum, que são majoritariamente R&B e new jack swing. Ao contrário dos trabalhos mais acelerados e melódicos da cantora, a obra é mais lenta e possui menos melodia porém apresenta uma estrutura rítmica complexa. Contém um som influenciado pela música ambiente, com uma batida house "pulsante", "profunda [e] borbulhante". Há comparações estilísticas ao acid house, com seu "esquelético" arranjo de sintetizadores, além de influências de trance minimalista e techno. A instrumentação da faixa é sintetizada, consistindo em loops de caixas de ritmos, órgãos, cordas, gorgolejos e palmas, bem como um coral "homofônico" digitalmente alterado. De acordo com a partitura publicada pela Alfred Publishing no portal Musicnotes.com, "Bedtime Story" é composta no tom de sol menor e possui um andamento moderado de 108 batidas por minuto. Os vocais de Madonna abrangem-se entre as notas de 3 e sol bemol5, com a canção contendo uma sequência básica formada pelas notas de sol menor9, ré menor, mi e lá como sua progressão harmônica.

A canção é ligada ao final da faixa anterior no álbum, "Sanctuary", e começa com o som de alguns de seus acordes. Após isso, se inicia o arranjo de sintetizadores, sobre o qual a cantora pode ser ouvida gemendo, dando sequência ao som das caixas de ritmos e palmas. Madonna interpreta a faixa de maneira suave, incorporando o canto e falas, iniciando com a linha "Hoje é o último dia / Em que estou usando palavras". Alguns trechos são também cantados num estilo hipnótico. O final da faixa possui uma batida pulsante e uma mistura de sintetizadores, com a voz da intérprete soando soluçante e pronunciando "Ha-ha-aahs". Ela termina abruptamente com a passagem "E tudo que você aprendeu / Tente esquecer / Eu não irei explicar novamente", levando o ouvinte a crer que foi tudo parte de um sonho.

De acordo com o autor Victor Amaro Vicente em seu livro The aesthetics of motion in musics for the Mevlana Celal ed-Din Rumi, a estrutura musical da canção apresenta muitas semelhanças ao new age e a diferentes formas de música sufista. Ele comparou suas qualidades de atmosfera lenta ao "relaxamento Mevlevi-sufista", enquanto a "constante e contínua" estrutura rítmica foi comparada à cerimônia zikr. Björk foi creditada por dar à canção seu estilo particular; de Vries considerou a construção da faixa "distintivamente Björkiana" e comentou que a islandesa "tem uma abordagem particular e idiossincrática para a construção das letras e das frases". Num capítulo de Music and Technoculture, os autores Charity Marsh e Melissa West escreveram que é possível ouvir a influência de Björk nos vocais de Madonna durante a canção.

Rikky Rooksby, autor de The Complete Guide to the Music of Madonna, notou que as letras de "Bedtime Story" são um ode às alegrias da inconsciência e uma rejeição às supostas restrições da razão e da linguagem, citando como exemplo o trecho "Palavras são inúteis / Especialmente frases / Elas não significam nada / Como poderiam explicar o que eu sinto?". Liricamente, embora seja uma canção que fala sobre uma viagem ao inconsciente, foram apontadas outras conotações no significado da canção. Vicente notou a prevalência de temas pós-modernistas e new age nas letras, especialmente se tratando da incapacidade de articular o conceito de verdade, além da meditação e relaxamento. O autor notou ainda que as referências clichês a "querido", "saudando" e "ansiando", além das conotações sexuais de estar "molhada por dentro" não se referem ao amor "secular", mas sim à poesia sufista "extática". O conteúdo lírico é um contraste dos trabalhos anteriores de Madonna, que eram altamente sexuais. Eles se referem a conceitos de movimentos que são "centrais" na filosofia sufista: "Indicam atingir a fana através da sema (ficar 'perdido' e 'deixar a lógica e a razão nos braços da inconsciência')".

Vídeo musical[editar | editar código-fonte]

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

O vídeo musical de "Bedtime Story" foi dirigido por Mark Romanek e filmado num período de seis dias nos Universal Studios em Universal City, Califórnia. Madonna havia primeiramente entrado em contato com Romanek para dirigir o vídeo de "Bad Girl", single do álbum Erotica. Ela lhe apresentou como inspiração uma pintura escura e perturbadora, o que surpreendeu o diretor. A gravação acabou por ser dirigida por David Fincher, mas Romanek veio a trabalhar no vídeo de "Rain", também faixa de trabalho daquele álbum. Ele comentou em seu DVD, The Work of Director Mark Romanek, ter sido contatado novamente para dirigir o vídeo de "Bedtime Story", aceitando a proposta depois de ouvir a música — considerando-a um recurso para demonstrar seu "surrealismo pictórico".

Em seguida, Romanek contatou o artista de storyboard Grant Shaffer para criar as storyboards para o vídeo. Eles se encontraram no dia seguinte na Spot Welders, uma empresa de edição cinematográfica em Venice, Los Angeles, onde Romanek estava finalizando o processo de edição do vídeo de "Closer", da banda de rock Nine Inch Nails. O diretor tocou "Bedtime Story" para Shaffer e também lhe mostrou algumas fotos de Madonna, que na época estavam sendo consideradas para a capa do álbum. As imagens inspiradas pelo surrealismo apresentavam a cantora num estilo místico, com cabelos brancos ondulados atrás dela. Romanek queria que o vídeo capturasse a mesma aparência para a intérprete. Ele detalhou a Shaffer cada cena que havia concebido com Madonna; ela ligou da Flórida e explicou o orçamento necessário para o vídeo, bem como seus próprios conceitos por trás dele. Nos dias seguintes, Shaffer desenhou as storyboards e enviou-as por fax ao diretor, que acrescentava revisões a elas. Cerca de vinte dias depois, Shaffer apresentou os esboços finais à Propaganda Films, que estava encarregada da produção do vídeo.

Produção e filmagens[editar | editar código-fonte]

Durante os três meses seguintes, Shaffer esperou para serem iniciadas as gravações, uma vez que Bedtime Stories estava sendo lançado e os vídeos das duas primeiras faixas de trabalho, "Secret" e "Take a Bow", estavam em alta rotação em canais de música. As filmagens do vídeo de "Bedtime Story" começaram e 5 de dezembro de 1994 nos Universal Studios. Ao chegar no local, Shaffer impressionou-se pela grandiosidade e a aparência futurística dos cenários. Suas storyboards foram coladas num quadro gigante em conjunto com os horários destinados à gravação de cada cena. Ele observou que muitas de suas ideias haviam evoluído, mas que os conceitos principais haviam sido mantidos.

Madonna chegou logo depois e prosseguiu com as cenas em que estaria dentro d'água. As gravações foram interrompidas por algumas horas, quando um pequeno terremoto atingiu o estúdio. Para os alinhamentos de pré-filmagens nos adereços, foi utilizado nos ângulos e nas posições da câmera um dublê de Madonna. Algumas complicações ocorreram durante as filmagens, como Madonna sendo tingida de azul por sentar num tanque de água com caveiras, além de dificuldades técnicas que causaram o cancelamento de uma storyboard mostrando a artista abrindo sua cavidade torácica. Uma tomada em que ela estaria sentada no colo de um esqueleto precisou ser adiada pois o adereço era pequeno demais para a cantora, e teve de ser reconstruído totalmente. A última cena filmada envolveu um laboratório em que Madonna estaria dormindo, usando um vestido futurista.

Com um orçamento estimado em US$ 5 milhões, o vídeo de "Bedtime Story" é um dos mais caros de todos os tempos, tendo sido o mais caro na época de seu lançamento — em conjunto com o de "Express Yourself", lançado por Madonna em 1989 e também com produção avaliada em US$ 5 milhões. Filmado pelo cinematógrafo Harris Savides, o vídeo foi feito em lentes 35 mm, com design de produção de Tom Foden. Devido ao grande número de efeitos digitais necessários, a pós-produção do vídeo durou semanas. Em entrevista com a revista Aperture, Madonna revelou a inspiração para o vídeo: "Meu vídeo de 'Bedtime Story' foi completamente inspirado por todas as pintoras surrealistas como Leonora Carrington e Remedios Varo. Há uma cena em que as minhas mãos estão no ar e estrelas giram ao meu redor. E também [cenas de] mim voando pelo corredor com o meu cabelo se arrastando atrás de mim, os pássaros voando para fora do meu roupão aberto — todas essas imagens foram homenagens à pintoras surrealistas; há também um pouco de Frida Kahlo [no vídeo]".

Lançamento e sinopse[editar | editar código-fonte]

Em 10 de março de 1995, o vídeo foi lançado em três cinemas diferentes da rede Odeon Cineplex: no Broadway Cinemas em Santa Mônica, Califórnia, no Chelsea Theater em Nova Iorque e no Biograph Theater em Chicago, Illinois. De acordo com Abbey Konowitch, gerente geral da Maverick Records, eles decidiram se juntar à Odeon para certificar-se de que o vídeo seria visto de uma maneira inovadora. Contudo, ele e sua equipe estavam cientes de que tal evento não poderia ser organizado para cada lançamento, pois causaria problemas com investimentos. Freeman Fisher, vice-presidente da rede, explicou que aquela era uma temporada lenta de ingressos, portanto lançar do vídeo em seus cinemas permitia que eles vendessem mais ingressos, complementando: "[P]or quatro minutos o público vê imagens cinematográficas surpreendentes numa produção de primeira classe. Não é apenas outro artista mexendo a boca por cima da música".

A fim de promover o vídeo, Madonna realizou um evento no Webster Hall em Nova Iorque no dia 18 seguinte, onde leu uma história de ninar aos convidados — dentre os quais estava o DJ Junior Vasquez, que apresentou remixes da faixa. O especial, intitulado Madonna's Pajama Party, foi transmitido pela MTV e também pela rádio nova-iorquina Z100, algo inédito na carreira da cantora. A gravação audiovisual foi incluída no álbum de vídeo The Video Collection 93:99 e no DVD Celebration: The Video Collection.

A trama se inicia com uma tela de monitor azul com um olho, exibindo a palavra "Welcome". O vídeo progride para dentro de uma sala azul em estilo de nave espacial, com Madonna deitada para realizar o que parece ser um experimento científico. A imagem demonstrada nesta cena foi comparada ao hermetismo. A gravação segue com uma sequência de sonhos, contendo variados visuais e símbolos surrealistas, místicos, new age, sufista e egípcios. Tais imagens incluem uma cena na qual a cantora está deitada num girassol rotatório, e imagens de uma mulher com cabelos grandes, um homem alquimista segurando um cubo com a cara de Madonna — caracterizada com longos cabelos pretos — em cada face, além de dançarinos sufistas girando. A sequência de sonhos continua com cenários usuais, como Madonna numa piscina com caveiras parcialmente visíveis. Uma cena em que ela, usando um vestido branco, dá à luz pássaros, também é vista — e foi comparada aos trabalhos de René Magritte e à pintura Mi nacimiento (1932), de Frida Kahlo.

Na cena seguinte, ela é vista dormindo e deitando no colo de um esqueleto completo, que a abraça. De repente, ela voa num corredor usando um vestido branco com seus longos cabelos loiros, e aparece numa projeção preta-e-branca de uma sala de cinema. Madonna não usa mais cabelos pretos e comanda algo. Conforme a música segue, o sonho continua cada vez mais intenso, e a cantora pode ser vista novamente no espaço com seus cabelos loiros; as imagens de caveiras e cicatrizes aparecem atrás dela, assustadas. Uma cena na qual os olhos de Madonna são substituídos por sua boca, e sua boca por um olho, antecede o final, novamente influenciada pelo trabalho de Kahlo; o vídeo termina com Madonna acordando e olhando ao redor.

Recepção e análise[editar | editar código-fonte]

O vídeo de "Bedtime Story" recebeu aclamação crítica desde seu lançamento. Foi exibido e mantido permanentemente em diferentes galerias de arte e museus, incluindo o Museu de Arte Moderna e a Escola de Artes Visuais de Nova Iorque. O'Brien elogiou o trabalho, chamando-o de "um dos vídeos mais experimentais" de Madonna e um "épico Dali-esco", o que permitiu-o de entrar "nos portais das belas artes". Numa edição de 1995 da revista Billboard, a gravação foi descrita como um "vídeo elaborado". Escrevendo para a MTV um artigo elencando as referências à cultura pop presentes no vídeo de "Hold It Against Me", de Britney Spears, James Montgomery adjetivou o de Madonna como um vídeo "ultra artístico" e notou sua influência no trabalho de Spears, destacando os seus cenários futuristas, os dançarinos em sincronização e a cena em que ela usa um grande vestido branco flutuante.

Outros autores analisaram suas referências surrealistas. Corinna Herr, para o livro Madonna's Drowned Worlds, escreveu que "referências visuais à pinturas surrealistas parecem ser uma chave ao mundo de imagens de Madonna" e listou o vídeo de "Bedtime Story" como um destes trabalhos. No mesmo livro, os autores Santiago Fouz-Hernández e Freya Jarman-Ivens ponderaram que Herr considera este vídeo, assim como outros, relacionado à tradições alquimistas e hermeticistas, investigando em particular os conceitos de androginia e máscara. Ela também se manisfestou a respeito das influências new age no vídeo e do conceito de um mundo idealizado — "um do qual ela não faça parte necessariamente, mas ao qual, porém, ela não parece estar atraída". Rettenmund comentou que o vídeo estava repleto de tradições místicas e sufistas, chamando-o de uma "criação singular na obra de Madonna".

O vídeo também rendeu comparações aos filmes The Fall (2006) e The Cell (2000), de Tarsem Singh, no sentido de que ambos incorporam elementos místicos islã, como a cena onde a dança sufi é executada, bem com o cubo flutuante. O escritor Brad Brevet, que notou as semelhanças, questionou: "Isso me faz pensar, será que Tarsem está tão interessado neste vídeo quanto eu?". Ele deduziu que tanto o vídeo como os filmes lidam com o mergulho no subconsciente da mente humana e, assim, os resultantes visuais estranhos foram diretamente uma referência de "Bedtime Story". James Steffen, autor de The Cinema of Sergei Parajanov, opinou que os visuais do trabalho foram inspirados pelo filme soviético The Color of Pomegranates (1969), de Sergei Parajanov, incluindo as tomadas mostrando um pé esmagando um cacho de uvas numa inscrição árabe, e outra representando báculos de um bispo caindo em mãos. Steffen também observou que algumas influências de Romanek para o vídeo incluíram os trabalhos do cineasta russo Andrei Tarkovsky, como Stalker (1983) e Nostalghia (1983). Jake Hall, da publicação Dazed, declarou "Bedtime Story" como o modelo para "a tendência futurista dos anos 1990", acrescentando que o vídeo "evita o óbvio e, em vez disso, depende de CGI ondulante".

  1. a b Feldman 2000, p. 255
  2. Ken Tucker (15 de abril de 1994). «Madonna's shocking David Letterman interview». Entertainment Weekly (em inglês). Time Inc. Consultado em 7 de outubro de 2019 
  3. «Top 10 Disastrous Letterman Interviews | Don't F___ with Madonna». Time (em inglês). Time Inc. 13 de fevereiro de 2009. Consultado em 7 de outubro de 2019 
  4. a b c O'Brien 2008, pp. 291–292
  5. Sullivan 2013, p. 648
  6. a b c Rooksby 2004, p. 45
  7. «Madonna interview». FAX. 25 de novembro de 1994. MuchMusic 
  8. Sal Cinquemani (14 de fevereiro de 2011). «The Best Albums of the 1990s» (em inglês). Slant Magazine. Consultado em 7 de outubro de 2019 
  9. a b Pytlik 2003, pp. 82–83
  10. Rettenmund 2016, p. 51
  11. Chris Heath (dezembro de 1994). «Madonna: Come and get it!». Condé Nast Publications. Details (em inglês). 185 (12). ISSN 0740-4921