Saltar para o conteúdo

Desnutrição: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Protegeu "Desnutrição": Vandalismo excessivo ([Editar=Permitir apenas utilizadores autoconfirmados] (expira a 01h18min de 28 de setembro de 2017 (UTC)) [Mover=Permitir apenas utilizadores autoconfirmados] (expira a 01h18min de 28 de...
agora com fontes
Etiqueta: Inserção de predefinição obsoleta
Linha 1: Linha 1:
{{Info/Patologia
{{Info/Patologia
| Name = Malnutrition
| Nome = Desnutrição
| Imagem = Orange ribbon.svg
| Imagem = Orange ribbon.svg
| Legenda = A fita laranja é o símbolo do combate a desnutrição.
| Legenda = Laço laranja, [[laço solidário]] para a desnutrição.
| Width = 120
| DiseasesDB =
| ICD10 = {{ICD10|E|40}}-{{ICD10|E|46}}
| DiseasesDB =
| ICD10 =
| ICD9 = 263.9
| ICD9 = 263.9
| ICDO =
| ICDO =
Linha 14: Linha 13:
| MeshID = D044342
| MeshID = D044342
}}
}}
<!-- Definição -->
'''Desnutrição''' é uma condição em que se verificam problemas de saúde como resultado de uma [[dieta]] com consumo insuficiente ou excessivo de [[nutriente]]s.<ref name=Dor2017>{{DorlandsDict|five/000062745|malnutrition}}</ref><ref name=FFL2010>{{cite book|title=Facts for life|date=2010|publisher=United Nations Children's Fund|location=New York|isbn=978-92-806-4466-1|pages=61 and 75|edition=4th|url=http://www.unicef.org/nutrition/files/Facts_for_Life_EN_010810.pdf}}</ref> A desnutrição pode ter origem em desiquilíbrios de [[caloria]]s, [[proteína]]s, [[hidratos de carbono]] ou [[sais minerais]].<ref name="FFL2010" /> O consumo insuficiente de nutrientes denomina-se '''subnutrição''' e o consumo excessivo '''supernutrição'''.<ref name=Young2012>{{cite book|last1=Young|first1=E.M.|title=Food and development|date=2012|publisher=Routledge|location=Abingdon, Oxon|isbn=9781135999414|pages=36–38|url=https://books.google.com/books?id=XhwKwNzJVjQC&pg=PA36}}</ref> O termo desnutrição é muitas vezes usado como sinónimo de subnutrição para se referir especificamente aos casos em que a pessoa não consome calorias, proteínas ou [[micronutriente]]s em quantidade suficiente.<ref name=Young2012/><ref name=Jones2011>{{cite book|title=Essentials of International Health|date=2011|publisher=Jones & Bartlett Publishers|isbn=9781449667719|page=194|url=https://books.google.com/books?id=lt7TqZPZSlIC&pg=PA194}}</ref> A subnutrição durante a [[gravidez]] ou antes dos dois anos de idade pode causar problemas permanentes a nível do desenvolvimento físico e intelectual.<ref name=FFL2010/> A subnutrição extrema, denominada [[inanição]], manifesta-se através de sintomas como baixa estatura, corpo muito magro, níveis de energia muito baixos e pernas e [[abdómen]] inchados.<ref name=FFL2010/><ref name=Young2012/> As pessoas subnutridas apresentam maior risco de contrair [[Infeção|infeções]] e estão frequentemente [[Hipotermia|frias]].<ref name=Young2012/> Os sintomas da deficiência de micronutrientes dependem do micronutriente em falta.<ref name=Young2012/>


<!-- Causas -->
A '''desnutrição''' é uma doença causada pela [[dieta]] inapropriada, com falta de nutrientes essenciais. Segundo a organização [[Médicos sem Fronteiras|Médicos Sem Fronteiras]], a cada ano entre 3,5 a 5 milhões de crianças com menos de cinco anos morrem de desnutrição nos [[país subdesenvolvido|países subdesenvolvidos]].<ref>{{citar web |url=http://www.msf.org.br/Noticia.aspx?c=788 |publicado=Msf.org.br |obra=MSF Notícias |título=MSF faz apelo por maiores fundos para a desnutrição infantil |acessodata= |autor=Ana Rosa Reis |data=11 de novembro de 2009}}</ref>
A causa mais comum de subnutrição é a indisponibilidade de alimentos de qualidade.<ref name=WHO2014/> Esta situação tem geralmente origem na [[pobreza]] ou no elevado custo económico dos alimentos.<ref name=FFL2010/><ref name=WHO2014/> Podem também contribuir para esta condição a falta de [[amamentação]] e uma série de [[doenças infeciosas]] como a [[gastroenterite]], [[pneumonia]], [[malária]] e [[sarampo]], as quais aumentam a necessidade de nutrientes.<ref name=WHO2014/> Existem dois tipos principais de subnutrição: [[desnutrição proteico-calórica|desnutrição proteico-energética]] e desnutrição causada por deficiências dietéticas.<ref name=Jones2011/> A desnutrição proteico-energética tem duas formas graves: [[marasmo]] (falta de proteínas e calorias) e [[kwashiorkor]] (falta de proteínas).<ref name=Young2012/> Entre as deficiências de micronutrientes mais comuns estão a [[deficiência de ferro]], [[deficiência de iodo]] e [[deficiência de vitamina A]].<ref name=Young2012/> Estas deficiências são mais comuns durante a [[gravidez]], dado que aumentam as necessidades do corpo.<ref>{{cite book|last1=Konje|first1=editor, Mala Arora ; co-editor, Justin C.|title=Recurrent pregnancy loss|date=2007|publisher=Jaypee Bros. Medical Publishers|location=New Delhi|isbn=9788184480061|edition=2nd}}</ref> Em alguns [[países em vias de desenvolvimento]] começa-se a verificar sobrenutrição na forma de [[obesidade]] nas mesmas comunidades em que existe subnutrição.<ref>{{cite web|title=Progress For Children: A Report Card On Nutrition|url=http://www.unicef.org/nutrition/files/Progress_for_Children_-_No._4.pdf|publisher=UNICEF}}</ref> Entre outras causas de desnutrição estão a [[anorexia nervosa]] e [[cirurgia bariátrica]].<ref>{{cite book|last1=Prentice|first1=editor-in-chief, Benjamin Caballero ; editors, Lindsay Allen, Andrew|title=Encyclopedia of human nutrition|date=2005|publisher=Elsevier/Academic Press|location=Amsterdam|isbn=9780080454283|page=68|edition=2nd|url=https://books.google.com/books?id=DHtERWm0mrcC&pg=RA1-PA68}}</ref><ref>{{cite book|title=Stoelting's anesthesia and co-existing disease|date=2012|publisher=Saunders/Elsevier|location=Philadelphia|isbn=9781455738120|page=324|edition=6th|url=https://books.google.com/books?id=yxTtmJYPUV0C&pg=PA324}}</ref>


<!-- Tratamento -->
== Classificação ==
A melhoria da nutrição é uma das formas mais eficazes de [[ajuda ao desenvolvimento]].<ref name=UK2012/> A [[amamentação]] permite diminuir a incidência de desnutrição e morte em crianças.<ref name=FFL2010/><ref name=Bh2013/> Nas crianças mais novas, fornecer alimentos para além do leite materno entre os seis meses e dois anos de idade melhora o prognóstico.<ref name=Bh2013/> Há evidências sólidas que apoiam a eficácia de [[Suplemento alimentar|suplementação alimentar]] de vários micronutrientes em grávidas e crianças mais novas nos países em vias de desenvolvimento.<ref name=Bh2013/> Para garantir o acesso a alimentos, tanto a distribuição de comida como a distribuição de dinheiro para que as pessoas possam comprar alimentos nos mercados locais são medidas eficazes.<ref name=UK2012/><ref>{{cite web|title=World Food Programme, Cash and Vouchers for Food|url=http://documents.wfp.org/stellent/groups/public/documents/communications/wfp246176.pdf|website=WFP.org|accessdate=July 5, 2014|date=April 2012}}</ref> Apenas alimentar as crianças nas escolas não é suficiente.<ref name=UK2012/> Em muitos casos, é possível tratar a desnutrição na residência da pessoa com alimentos terapêuticos.<ref name=Bh2013/> O tratamento hospitalar está recomendado para casos de desnutrição grave com complicações de saúde.<ref name=Bh2013/> O tratamento geralmente consiste em tratar a [[hipoglicemia]] e [[hipotermia]], revertendo a [[desidratação]] e alimentando gradualmente a pessoa.<ref name=Bh2013/><ref name=WHO2003>{{cite book|author= Ann Ashworth|title=Guidelines for the inpatient treatment of severely malnourished children|date=2003|publisher=World Health Organization|location=Geneva|isbn=9241546093}}</ref> Os [[antibióticos]]s de rotina estão recomendados devido ao elevado risco de infeções.<ref name=WHO2003/> Entre as medidas a longo prazo estão a melhoria das [[Agricultura|práticas agrícolas]],<ref name=solcultivateplanet>{{cite journal |author=Jonathan A. Foley, Navin Ramankutty, Kate A. Brauman, Emily S. Cassidy, James S. Gerber, Matt Johnston, Nathaniel D. Mueller, Christine O’Connell, Deepak K. Ray, Paul C. West, Christian Balzer, Elena M. Bennett, Stephen R. Carpenter, Jason Hill1, Chad Monfreda, Stephen Polasky1, Johan Rockström, John Sheehan, Stefan Siebert, David Tilman1, David P. M. Zaks |title=Solutions for a cultivated planet |journal=Nature |volume=478 |issue=7369 |pages=337–342 |date=October 2011|pmid=21993620|url=http://www.nature.com/nature/journal/v478/n7369/full/nature10452.html |doi=10.1038/nature10452}}</ref> a diminuição da pobreza, o investimento em [[saneamento]] e a emancipação das mulheres.<ref name=UK2012/>
[[Ficheiro:VOA Heinlein - Somali refugees September 2011 - 09.jpg|miniaturadaimagem|Criança refugiada somaliana sendo tratada de desnutrição em 2010.]]


<!-- Epidemiologia, sociedade e cultura, populações especiais -->
Pode ser classificada pelo nutriente que está em falta:
A subnutrição é mais comum nos [[países em vias de desenvolvimento]].<ref>{{cite book|author1=Liz Young|title=World Hunger Routledge Introductions to Development|date=2002|isbn=9781134774944|page=20|url=https://books.google.com/books?id=w4CGAgAAQBAJ&pg=PA20}}</ref> Em 2015 existiam em todo o mundo 793 milhões de pessoas subnutridas, o que corresponde a 13% do total da população.<ref name=UNFAO2015>{{cite web|title=The State of Food Insecurity in the World 2015|url=http://www.fao.org/hunger/key-messages/en/|publisher=Food and Agricultural Organization of the United Nations|accessdate=December 27, 2015}}</ref> A percentagem tem vindo a diminuir gradualmente desde 1990, ano em que 23% da população se encontrava subnutrida.<ref name=UNFAO2015/><ref name=FAO2010>{{cite web|title=Global hunger declining, but still unacceptably high International hunger targets difficult to reach|url=http://www.fao.org/docrep/012/al390e/al390e00.pdf|website=Food and Agriculture Organization of the United Nations|accessdate=July 1, 2014|date=September 2010}}</ref> Estima-se que em 2012 outros mil milhões de pessoas tivessem deficiências de vitaminas e sais minerais.<ref name=UK2012>{{cite web|title=An update of ‘The Neglected Crisis of Undernutrition: Evidence for Action’|url=https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/67319/undernutrition-finalevidence-oct12.pdf|website=www.gov.uk|publisher=Department for International Development|accessdate=July 5, 2014|date=Oct 2012}}</ref> Estima-se que em 2015 a desnutrição proteico-energética tenha causado a morte a {{formatnum:323000}} pessoas, uma diminuição em relação às {{formatnum:510000}} mortes em 1990.<ref name=GBD2015De/><ref name=GBD2013>{{cite journal|last1=GBD 2013 Mortality and Causes of Death|first1=Collaborators|title=Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.|journal=Lancet|date=December 17, 2014|pmid=25530442|doi=10.1016/S0140-6736(14)61682-2|volume=385|issue=9963|pages=117–71|pmc=4340604}}</ref> As outras deficiências dietéticas, como a deficiência de iodo ou de ferro, causaram a morte a outras {{formatnum:83000}} pessoas.<ref name=GBD2015De>{{cite journal|last1=GBD 2015 Mortality and Causes of Death|first1=Collaborators.|title=Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015.|journal=Lancet|date=October 8, 2016|volume=388|issue=10053|pages=1459–1544|pmid=27733281|doi=10.1016/s0140-6736(16)31012-1|pmc=5388903}}</ref> Em 2010, a desnutrição foi a causa de 1,4% de todos os [[Esperança de vida corrigida pela incapacidade|anos de vida corrigidos pela incapacidade]].<ref name=UK2012/><ref name=Murray2012>{{cite journal|last1=Murray|first1=CJ|title=Disability-adjusted life years (DALYs) for 291 diseases and injuries in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010.|journal=Lancet|date=Dec 15, 2012|volume=380|issue=9859|pages=2197–223|pmid=23245608|doi=10.1016/S0140-6736(12)61689-4}}</ref> Acredita-se que cerca de um terço das mortes de crianças tenham origem em subnutrição, embora raramente seja esta a indicação da causa da morte.<ref name=WHO2014>{{cite web|title=Maternal, newborn, child and adolescent health|url=http://www.who.int/maternal_child_adolescent/topics/child/malnutrition/en/|website=WHO|accessdate=July 4, 2014}}</ref> Estima-se que em 2010 a subnutrição tenha contribuído para a morte de 1,5 milhões de mortes entre mulheres e crianças,<ref name=Lim2012>{{cite journal |vauthors=Lim SS, Vos T, Flaxman AD, etal |title=A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010 |journal=Lancet |volume=380 |issue=9859 |pages=2224–60 |date=December 2012 |pmid=23245609 |doi=10.1016/S0140-6736(12)61766-8 |pmc=4156511}}</ref> embora algumas estimativas apontem para valores superiores a 3 milhões.<ref name="Bh2013"/> Estima-se que em 2013 cerca de 165 milhões de crianças tivessem atrasos no desenvolvimento devido a desnutrição.<ref name=Bh2013>{{cite journal|last1=Bhutta|first1=ZA|last2=Das|first2=JK|last3=Rizvi|first3=A|last4=Gaffey|first4=MF|last5=Walker|first5=N|last6=Horton|first6=S|last7=Webb|first7=P|last8=Lartey|first8=A|last9=Black|first9=RE|last10=Lancet Nutrition Interventions Review|first10=Group|last11=Maternal and Child Nutrition Study|first11=Group|title=Evidence-based interventions for improvement of maternal and child nutrition: what can be done and at what cost?|journal=Lancet|date=Aug 3, 2013|volume=382|issue=9890|pages=452–77|pmid=23746776|doi=10.1016/s0140-6736(13)60996-4}}</ref> A subnutrição é mais comum entre alguns grupos populacionais, como crianças com menos de cinco anos, idosos e mulheres, em particular as grávidas ou que se encontram a amamentar. Em idosos, a subnutrição deve-se a fatores físicos, psicológicos e sociais.<ref>{{cite book|last1=editors|first1=Ronnie A. Rosenthal, Michael E. Zenilman, Mark R. Katlic,|title=Principles and practice of geriatric surgery|date=2011|publisher=Springer|location=Berlin|isbn=9781441969996|page=78|edition=2nd|url=https://books.google.com/books?id=VcgmpMZE6a8C&pg=PA87}}</ref>
* [[Marasmo]] ou [[Desnutrição seca]]: Falta de fontes de energia;
* [[Kwashiorkor]] ou [[Desnutrição molhada]]: Falta de proteína e vitaminas;
* Marasmo-kwashiorkor ou Desnutrição mista: Falta de todos nutrientes.
E pode ser classificada pela causa:
* '''Primária''': Causada por dieta inadequada;
* '''Secundária''': Causada por patologia, como [[parasita|parasitas]] ou má-absorção dos alimentos.


== Causas ==
== Ver também ==
* [[Fome]]
A causa mais frequente da desnutrição é uma má [[alimentação]]. Ainda, outras patologias podem desencadear má absorção ou dificuldade de alimentação e causar a desnutrição e falta de alimento como [[gastroenterite]]s, [[doenças parasitárias]] e [[doenças crônicas]] que causam [[perda do apetite]], [[vômito]] e [[diarreia]]. Dificuldades econômicas, [[inflação]], [[guerra]]s e falta de opções alimentares diversificadas também é um problema sério mesmo em alguns países desenvolvidos.<ref>Musaiger, Abdulrahman O.; Hassan, Abdelmonem S., Obeid, Omar (August 2011). "The Paradox of Nutrition-Related Diseases in the Arab Countries: The Need for Action". International Journal of Environmental Research and Public Health 8 (9): 3637–3671. doi:10.3390/ijerph8093637. PMC 3194109. PMID 22016708.</ref>
* [[Carestia]]
* [[Distúrbio alimentar]]
* [[Insegurança alimentar]]


== Epidemiologia ==
[[Ficheiro:Percentage population undernourished world map.PNG|miniaturadaimagem|Porcentagem de desnutrição no mundo em 2012. Dados da ONU. (países em cinza: sem dados suficientes)]]


{{Referências|col=2}}
No mundo, a desnutrição aumentou em valores absolutos de 840 a 925 milhões de habitantes entre 1990 e 2010, mas obteve um declínio relativo de 20% para 17% da população. O problema não é a falta de comida, há comida para 12 bilhões de habitantes, o que falta é uma distribuição mais equilibrada.<ref>"Global hunger declining, but still unacceptably high International hunger targets difficult to reach". Food and Agriculture Organization of the United Nations. September 2010. Retrieved 1 July 2014.</ref> É mais comum na fase de crescimento, durante a gravidez e lactância quando as necessidades nutricionais são maiores, em idosos e doentes crônicos com falta de apetite e problemas gastro-intestinais.

== Fisiopatologia e quadro clínico ==
Em um indivíduo primeiramente com estado nutricional normal, ao ter sua [[alimentação]] altamente limitada, sofre primeiramente com o gasto energético. Gasta-se rapidamente os [[ATP]]s produzidos pelas [[mitocôndria]]s e em seguida a [[glicose]] dos [[tecido]]s e do sangue com a liberação de [[insulina]].

Com o esgotamento da glicose, a próxima fonte de energia a ser utilizada é o [[glicogênio]] armazenado nos músculos e no [[fígado]]. Ele é rapidamente lisado em glicose e fornece um aporte razoável de energia. Sua depleção irá causar [[apatia]], prostração e até [[síncope]]s - o [[cérebro]] que utiliza apenas a glicose e corpos cetônicos, como fonte de energia sofre muito quando há [[hipoglicemia]].

Em seguida, a [[gordura]] ([[triacilglicerol]]) é liberada das reservas adiposas, é quebrada em acido-graxo mais glicerol. O glicerol é transportado para o fígado a fim de produzir novas moléculas de glicose. O ácido-graxo por meio de beta-oxidação forma corpos cetônicos que causa aumento da acidez sanguínea (ph sanguineo normal 7,4). O acumulo de corpos cetônicos no sangue pode levar a um quadro de cetomia, sua progressão tende a evoluir com o surgimento de ceto-acidose (ph<7,3) compensado pelo organismo com liberação de bicarbonatos na circulação.

A [[pele]] fica mais grossa, sem o tecido adiposo subcutâneo. Nessa etapa, as [[proteínas]] dos músculos e do fígado passam a ser quebradas em aminoácidos para que esses por meio da gliconeogênese passem a ser a nova fonte de glicose (energia). Na verdade, o organismo pode usar ainda várias substâncias como fonte de energia além dessas, se for possível. Há grande perda de massa muscular e as feições do indivíduo ficam mais próximas ao esqueleto. A força muscular é mínima e a consequência seguinte é o [[óbito]].

== Sinais e sintomas ==
* '''[[Coração]]:''' o coração perde massa muscular, assim como os outros [[músculos]] do corpo. Em estágio mais avançado há [[insuficiência cardíaca]] e posteriormente morte.
* '''[[Sistema imune]]:''' torna-se ineficiente. O corpo humano não vai ter os nutrientes necessários para produzir as células de defesa. Logo, é comum infecções intestinais subsequentes, respiratórias e outros acontecimentos. A duração das [[doenças]] é maior e o prognóstico é sempre pior em comparação a indivíduos normais. A cicatrização é lentificada.
* '''[[Sangue]]:''' É possível ocorrer um quadro de [[anemia ferropriva]] relacionada à desnutrição.
* '''[[Trato gastro-intestinal]]:''' há menor secreção de HCl pelo [[estômago]], tornando esse ambiente mais propício para proliferação bacteriana. O [[intestino]] diminui seu ritmo de [[peristalse]] e a absorção de [[nutrientes]] fica muito reduzida.

== Tratamento ==
{{aviso-médico}}
Não se deve alimentar demais uma pessoa severamente desnutrida ou pode-se causar um quadro de [[desequilíbrio hidroeletrolítico]] com consequentes [[Neuropatia|alterações neurológicas]] e [[insuficiência cardíaca]], potencialmente fatal. Esse quadro é conhecido na literatura médica como [[Síndrome de realimentação]]. A alimentação deve seguir sendo de quatro refeições diárias, sendo mais importante manter uma boa hidratação com quantidades saudáveis de [[sais minerais]] como sódio, potássio, cálcio, ferro, fósforo, magnésio e zinco. Assim, antes de alimentar, o ideal é que seja feitos exames clínicos para descobrir quais minerais, como está a pressão arterial e se a pessoa está apropriadamente hidratada e formular a dieta e soros adequados para suprir os nutrientes que faltam.<ref>VIANA, Larissa de Andrade; BURGOS, Maria Goretti Pessoa de Araújo and SILVA, Rafaella de Andrade. Qual é a importância clínica e nutricional da síndrome de realimentação?. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2012, vol.25, n.1 [cited 2014-08-23], pp. 56-59 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202012000100013&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-6720. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-67202012000100013</ref>

{{referências}}

== Ver também ==
* [[Insegurança alimentar]]
* [[Inanição]]
* [[Pobreza]]
* [[Fome (crise humanitária)]]
* [[Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura|Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO]]
* [[Lista de fomes em massa]]


{{Patologia nutricional}}
{{Patologia nutricional}}

Revisão das 14h35min de 28 de dezembro de 2017

Desnutrição
Desnutrição
Laço laranja, laço solidário para a desnutrição.
Especialidade endocrinologia, medicina intensiva, nutrição
Classificação e recursos externos
CID-10 E40-E46
CID-9 263.9
MedlinePlus 000404
eMedicine ped/1360
MeSH D044342
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

Desnutrição é uma condição em que se verificam problemas de saúde como resultado de uma dieta com consumo insuficiente ou excessivo de nutrientes.[1][2] A desnutrição pode ter origem em desiquilíbrios de calorias, proteínas, hidratos de carbono ou sais minerais.[2] O consumo insuficiente de nutrientes denomina-se subnutrição e o consumo excessivo supernutrição.[3] O termo desnutrição é muitas vezes usado como sinónimo de subnutrição para se referir especificamente aos casos em que a pessoa não consome calorias, proteínas ou micronutrientes em quantidade suficiente.[3][4] A subnutrição durante a gravidez ou antes dos dois anos de idade pode causar problemas permanentes a nível do desenvolvimento físico e intelectual.[2] A subnutrição extrema, denominada inanição, manifesta-se através de sintomas como baixa estatura, corpo muito magro, níveis de energia muito baixos e pernas e abdómen inchados.[2][3] As pessoas subnutridas apresentam maior risco de contrair infeções e estão frequentemente frias.[3] Os sintomas da deficiência de micronutrientes dependem do micronutriente em falta.[3]

A causa mais comum de subnutrição é a indisponibilidade de alimentos de qualidade.[5] Esta situação tem geralmente origem na pobreza ou no elevado custo económico dos alimentos.[2][5] Podem também contribuir para esta condição a falta de amamentação e uma série de doenças infeciosas como a gastroenterite, pneumonia, malária e sarampo, as quais aumentam a necessidade de nutrientes.[5] Existem dois tipos principais de subnutrição: desnutrição proteico-energética e desnutrição causada por deficiências dietéticas.[4] A desnutrição proteico-energética tem duas formas graves: marasmo (falta de proteínas e calorias) e kwashiorkor (falta de proteínas).[3] Entre as deficiências de micronutrientes mais comuns estão a deficiência de ferro, deficiência de iodo e deficiência de vitamina A.[3] Estas deficiências são mais comuns durante a gravidez, dado que aumentam as necessidades do corpo.[6] Em alguns países em vias de desenvolvimento começa-se a verificar sobrenutrição na forma de obesidade nas mesmas comunidades em que existe subnutrição.[7] Entre outras causas de desnutrição estão a anorexia nervosa e cirurgia bariátrica.[8][9]

A melhoria da nutrição é uma das formas mais eficazes de ajuda ao desenvolvimento.[10] A amamentação permite diminuir a incidência de desnutrição e morte em crianças.[2][11] Nas crianças mais novas, fornecer alimentos para além do leite materno entre os seis meses e dois anos de idade melhora o prognóstico.[11] Há evidências sólidas que apoiam a eficácia de suplementação alimentar de vários micronutrientes em grávidas e crianças mais novas nos países em vias de desenvolvimento.[11] Para garantir o acesso a alimentos, tanto a distribuição de comida como a distribuição de dinheiro para que as pessoas possam comprar alimentos nos mercados locais são medidas eficazes.[10][12] Apenas alimentar as crianças nas escolas não é suficiente.[10] Em muitos casos, é possível tratar a desnutrição na residência da pessoa com alimentos terapêuticos.[11] O tratamento hospitalar está recomendado para casos de desnutrição grave com complicações de saúde.[11] O tratamento geralmente consiste em tratar a hipoglicemia e hipotermia, revertendo a desidratação e alimentando gradualmente a pessoa.[11][13] Os antibióticoss de rotina estão recomendados devido ao elevado risco de infeções.[13] Entre as medidas a longo prazo estão a melhoria das práticas agrícolas,[14] a diminuição da pobreza, o investimento em saneamento e a emancipação das mulheres.[10]

A subnutrição é mais comum nos países em vias de desenvolvimento.[15] Em 2015 existiam em todo o mundo 793 milhões de pessoas subnutridas, o que corresponde a 13% do total da população.[16] A percentagem tem vindo a diminuir gradualmente desde 1990, ano em que 23% da população se encontrava subnutrida.[16][17] Estima-se que em 2012 outros mil milhões de pessoas tivessem deficiências de vitaminas e sais minerais.[10] Estima-se que em 2015 a desnutrição proteico-energética tenha causado a morte a 323 000 pessoas, uma diminuição em relação às 510 000 mortes em 1990.[18][19] As outras deficiências dietéticas, como a deficiência de iodo ou de ferro, causaram a morte a outras 83 000 pessoas.[18] Em 2010, a desnutrição foi a causa de 1,4% de todos os anos de vida corrigidos pela incapacidade.[10][20] Acredita-se que cerca de um terço das mortes de crianças tenham origem em subnutrição, embora raramente seja esta a indicação da causa da morte.[5] Estima-se que em 2010 a subnutrição tenha contribuído para a morte de 1,5 milhões de mortes entre mulheres e crianças,[21] embora algumas estimativas apontem para valores superiores a 3 milhões.[11] Estima-se que em 2013 cerca de 165 milhões de crianças tivessem atrasos no desenvolvimento devido a desnutrição.[11] A subnutrição é mais comum entre alguns grupos populacionais, como crianças com menos de cinco anos, idosos e mulheres, em particular as grávidas ou que se encontram a amamentar. Em idosos, a subnutrição deve-se a fatores físicos, psicológicos e sociais.[22]

Ver também


Referências

  1. malnutrition em Dicionário Médico de Dorland
  2. a b c d e f Facts for life (PDF) 4th ed. New York: United Nations Children's Fund. 2010. pp. 61 and 75. ISBN 978-92-806-4466-1 
  3. a b c d e f g Young, E.M. (2012). Food and development. Abingdon, Oxon: Routledge. pp. 36–38. ISBN 9781135999414 
  4. a b Essentials of International Health. [S.l.]: Jones & Bartlett Publishers. 2011. p. 194. ISBN 9781449667719 
  5. a b c d «Maternal, newborn, child and adolescent health». WHO. Consultado em July 4, 2014  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  6. Konje, editor, Mala Arora ; co-editor, Justin C. (2007). Recurrent pregnancy loss 2nd ed. New Delhi: Jaypee Bros. Medical Publishers. ISBN 9788184480061 
  7. «Progress For Children: A Report Card On Nutrition» (PDF). UNICEF 
  8. Prentice, editor-in-chief, Benjamin Caballero ; editors, Lindsay Allen, Andrew (2005). Encyclopedia of human nutrition 2nd ed. Amsterdam: Elsevier/Academic Press. p. 68. ISBN 9780080454283 
  9. Stoelting's anesthesia and co-existing disease 6th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier. 2012. p. 324. ISBN 9781455738120 
  10. a b c d e f «An update of 'The Neglected Crisis of Undernutrition: Evidence for Action'» (PDF). www.gov.uk. Department for International Development. Oct 2012. Consultado em July 5, 2014  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  11. a b c d e f g h Bhutta, ZA; Das, JK; Rizvi, A; Gaffey, MF; Walker, N; Horton, S; Webb, P; Lartey, A; Black, RE; Lancet Nutrition Interventions Review, Group; Maternal and Child Nutrition Study, Group (Aug 3, 2013). «Evidence-based interventions for improvement of maternal and child nutrition: what can be done and at what cost?». Lancet. 382 (9890): 452–77. PMID 23746776. doi:10.1016/s0140-6736(13)60996-4  Verifique data em: |data= (ajuda)
  12. «World Food Programme, Cash and Vouchers for Food» (PDF). WFP.org. April 2012. Consultado em July 5, 2014  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  13. a b Ann Ashworth (2003). Guidelines for the inpatient treatment of severely malnourished children. Geneva: World Health Organization. ISBN 9241546093 
  14. Jonathan A. Foley, Navin Ramankutty, Kate A. Brauman, Emily S. Cassidy, James S. Gerber, Matt Johnston, Nathaniel D. Mueller, Christine O’Connell, Deepak K. Ray, Paul C. West, Christian Balzer, Elena M. Bennett, Stephen R. Carpenter, Jason Hill1, Chad Monfreda, Stephen Polasky1, Johan Rockström, John Sheehan, Stefan Siebert, David Tilman1, David P. M. Zaks (October 2011). «Solutions for a cultivated planet». Nature. 478 (7369): 337–342. PMID 21993620. doi:10.1038/nature10452  Verifique data em: |data= (ajuda)
  15. Liz Young (2002). World Hunger Routledge Introductions to Development. [S.l.: s.n.] p. 20. ISBN 9781134774944 
  16. a b «The State of Food Insecurity in the World 2015». Food and Agricultural Organization of the United Nations. Consultado em December 27, 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  17. «Global hunger declining, but still unacceptably high International hunger targets difficult to reach» (PDF). Food and Agriculture Organization of the United Nations. September 2010. Consultado em July 1, 2014  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  18. a b GBD 2015 Mortality and Causes of Death, Collaborators. (October 8, 2016). «Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015.». Lancet. 388 (10053): 1459–1544. PMC 5388903Acessível livremente. PMID 27733281. doi:10.1016/s0140-6736(16)31012-1  Verifique data em: |data= (ajuda)
  19. GBD 2013 Mortality and Causes of Death, Collaborators (December 17, 2014). «Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.». Lancet. 385 (9963): 117–71. PMC 4340604Acessível livremente. PMID 25530442. doi:10.1016/S0140-6736(14)61682-2  Verifique data em: |data= (ajuda)
  20. Murray, CJ (Dec 15, 2012). «Disability-adjusted life years (DALYs) for 291 diseases and injuries in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010.». Lancet. 380 (9859): 2197–223. PMID 23245608. doi:10.1016/S0140-6736(12)61689-4  Verifique data em: |data= (ajuda)
  21. Lim SS, Vos T, Flaxman AD, et al. (December 2012). «A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010». Lancet. 380 (9859): 2224–60. PMC 4156511Acessível livremente. PMID 23245609. doi:10.1016/S0140-6736(12)61766-8  Verifique data em: |data= (ajuda)
  22. editors, Ronnie A. Rosenthal, Michael E. Zenilman, Mark R. Katlic, (2011). Principles and practice of geriatric surgery 2nd ed. Berlin: Springer. p. 78. ISBN 9781441969996