Saltar para o conteúdo

Ruminantes: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m +{{Controle de autoridade}}, correções gerais ativado, typos fixed: Familia → Família
Etiquetas: Inserção de predefinição obsoleta Editor Visual Edição via dispositivo móvel Edição feita através do sítio móvel Edição móvel avançada
Linha 1: Linha 1:
{{mais fontes|data=janeiro de 2016}}
{{Info/Taxonomia
{{Info/Taxonomia
|nome = Ruminantes
|nome = Ruminantes
Linha 13: Linha 12:
|subdivisão = <center>''Ver texto.''</center>
|subdivisão = <center>''Ver texto.''</center>
}}
}}
'''Ruminantes''' são [[Artiodátilos|artiodáctilos]] [[Herbívoro|herbívoros]] pertencentes à [[Ordem (biologia)|subordem]] '''Ruminantia''' que são capazes de adquirir [[Nutriente|nutrientes]] de [[Alimento|alimentos]] [[Plantae|vegetais]], [[Fermentação entérica|fermentando]]-os em um [[estômago]] especializado antes da [[digestão]], principalmente por meio de ações microbianas. O processo, que ocorre na parte frontal do [[Aparelho digestivo|sistema digestivo]] e, portanto, é chamado de [[fermentação anterior]], normalmente requer que a ingesta fermentada (conhecida como [[ruminação]]) seja [[Regurgitação|regurgitada]] e [[Mastigação|mastigada]] novamente. O processo de remastigar a ruminação para quebrar ainda mais a [[Biomassa|matéria vegetal]] e estimular a digestão é chamado de '''ruminação'''.<ref>{{cite web|title=Ruminant Digestive System|url=http://faculty.fortlewis.edu/LASHELL_B/Nutr2-Rumdigestion.pdf}}</ref> A palavra "ruminante" vem do latim ''ruminare'', que significa "mastigar novamente".
{{Wikispecies|Ruminantia}}
Os '''ruminantes''' ([[latim científico]]: ''Ruminantia'') são uma subordem de mamíferos [[Artiodátilos|artiodáctilos]] denominada ''Ruminantia''. São [[mamífero]]s [[herbívoro]]s.


As cerca de duzentas espécies de ruminantes incluem [[Espécie|espécies]] [[Domesticação|domésticas]] e [[Selvageria|selvagens]].<ref name="Fernández-2005">{{Cite journal|last1=Fernández|first1=Manuel Hernández|last2=Vrba|first2=Elisabeth S.|date=1 May 2005|title=A complete estimate of the phylogenetic relationships in Ruminantia: a dated species-level supertree of the extant ruminants|journal=Biological Reviews|volume=80|issue=2|pages=269–302|doi=10.1017/s1464793104006670|issn=1469-185X|pmid=15921052|s2cid=29939520}}</ref> Os [[mamíferos]] ruminantes incluem [[gado]], todos os [[bovinos]] domesticados e selvagens, [[Cabra-doméstica|cabras]], [[Ovis aries|ovelhas]], [[Girafa|girafas]], [[Cervídeos|veados]], [[Gazela|gazelas]] e [[Antílope|antílopes]].<ref name="Fowler, M.E. 2010">Fowler, M.E. (2010). "[https://books.google.com/books?id=Z2XBSPBZU3EC Medicine and Surgery of Camelids]", Ames, Iowa: Wiley-Blackwell. Chapter 1 General Biology and Evolution addresses the fact that camelids (including camels and llamas) are not ruminants, pseudo-ruminants, or modified ruminants.</ref> Também foi sugerido que os [[Notoungulata|notoungulados]] também dependiam da ruminação, ao contrário de outros [[Atlantogenata|atlantogenados]] que dependem da fermentação mais típica do [[intestino posterior]], embora isso não seja totalmente certo.<ref>Richard F. Kay, M. Susana Bargo, [https://books.google.com/books?id=lFEgAwAAQBAJ Early Miocene Paleobiology in Patagonia: High-Latitude Paleocommunities of the Santa Cruz Formation], Cambridge University Press, 11 October 2012</ref>
De um modo geral, estes animais têm intestinos longos com Cecos Desenvolvidos, que auxiliam a digestão da matéria vegetal. Os herbívoros ruminantes têm, ainda, um estômago composto, isto é, um estômago com mais do que uma cavidade digestiva.
O estômago composto dos ruminantes é formado por quatro dilatações: a pança, o barrete, o folhoso e a coalheira.


Os ruminantes representam o grupo mais diversificado de [[ungulados]] vivos.<ref>{{cite web|title=Suborder Ruminatia, the Ultimate Ungulate|url=http://www.ultimateungulate.com/cetartiodactyla/Ruminantia.html}}</ref> A subordem Ruminantia inclui seis famílias diferentes: [[Tragulidae]], [[Giraffidae]], [[Antilocapridae]], Cervidae, [[Moschidae]] e [[Bovídeos|Bovidae]].<ref name="Fernández-2005" />
No primeiro percurso dos alimentos, os alimentos são deglutidos, chegam à pança, onde são armazenados; passam ao barrete, onde são comprimidos, e depois regurgitados, regressando à boca. Aí, são ensalivados e mastigados, isto é, são ruminados.


==Abundância, distribuição e domesticação==
No segundo percurso, os alimentos passam do esófago para o folhoso, onde a água é absorvida, e percorrem a coalheira, onde o [[suco gástrico]] os digere.
Os ruminantes selvagens somam pelo menos 75 milhões<ref name="hackmann">Hackmann. T. J., and Spain, J. N. 2010.[http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302%2810%2900105-0/abstract "Ruminant ecology and evolution: Perspectives useful to livestock research and production"]. ''Journal of Dairy Science'', 93:1320–1334</ref> e são nativos de todos os continentes, exceto [[Antártida]] e [[Austrália]].<ref name="Fernández-2005" /> Quase 90% de todas as espécies são encontradas na [[Eurásia]] e na [[África]].<ref name="hackmann" /> As espécies habitam uma ampla variedade de [[Clima|climas]] (do [[trópico]] ao [[ártico]]) e [[Habitat|habitats]] (de [[Planície|planícies]] abertas a [[Floresta|florestas]]).<ref name="hackmann" />


A população de ruminantes domésticos é superior a 3,5 mil milhões, com bovinos, ovinos e [[Caprinae|caprinos]] representando cerca de 95% da população total. As [[Cabra-doméstica|cabras]] foram domesticadas no [[Oriente Próximo]] por volta de 8.000 a.C. A maioria das outras espécies foi domesticada por volta de 2.500 a.C., no Oriente Próximo ou no [[Ásia Meridional]].<ref name="hackmann" />
Os animais que fazem parte deste grupo são os '''[[bovino]]s''', '''[[ovino]]s''', '''[[caprino]]s''', '''[[bubalino]]s''', '''[[girafa]]s''', '''[[veado]]s,''' '''[[camelo]]s''', '''[[lhama]]s''' e outros herbívoros com essa anatomia digestiva. Estes dois últimos são exceções, pois não fazem parte desta subordem, sendo classificados na subordem ''Tylopoda.''


==Fisiologia de ruminantes==
O termo ruminante está relacionado com o hábito de ruminar destes animais, ou seja, depois que ingerem os alimentos, este é regurgitado para a boca, onde é novamente mastigado (ruminado) e deglutido.
Os animais ruminantes possuem diversas características [[Fisiologia|fisiológicas]] que lhes permitem sobreviver na [[natureza]]. Uma característica dos ruminantes são os [[Dente|dentes]] em crescimento contínuo. Durante o [[pastoreio]], o teor de [[Dióxido de silício|sílica]] na forragem provoca [[abrasão]] dos dentes. Isto é compensado pelo crescimento contínuo dos dentes ao longo da vida do ruminante, ao contrário dos [[Humano|humanos]] ou outros não ruminantes, cujos dentes param de crescer após uma determinada idade. A maioria dos ruminantes não possui incisivos superiores; em vez disso, eles têm uma almofada dentária grossa para mastigar bem os alimentos vegetais.<ref>{{cite web|url=http://www.vivo.colostate.edu/hbooks/pathphys/digestion/pregastric/cowpage.html|title=Dental Anatomy of Ruminants}}</ref> Outra característica dos ruminantes é a grande capacidade de armazenamento ruminal que lhes dá a capacidade de consumir a ração rapidamente e completar o processo de mastigação posteriormente. Isso é conhecido como ruminação, que consiste na [[regurgitação]] do alimento, na nova mastigação, na ressalivação e na nova [[deglutição]]. A ruminação reduz o tamanho das partículas, o que melhora a função microbiana e permite que a digesta passe mais facilmente pelo trato digestivo.<ref name="Rickard-2002" />


==Microbiologia ruminal==
Os ruminantes fazem a apreensão dos alimentos com o auxílio da língua. Em seguida é feita a [[deglutição]] deste alimento, após um breve período de mastigação, chegam ao primeiro compartimento, o rúmen. Este é o maior de todos os compartimentos, localizado na porção esquerda da cavidade abdominal. Por meio de uma [[simbiose]] mutualística com uma [[microbiota]], é realizada a digestão de alimentos fibrosos. Em seguida, o alimento passa para o segundo compartimento (o menor de todos), o retículo, que possui uma mucosa semelhante a um favo de mel, e nele, ocorre a formação de pequenos bolos de comida que retornam para a cavidade oral do animal para ser ruminado (remastigado) e, novamente deglutido.
Os [[vertebrados]] não têm a capacidade de [[Hidrólise|hidrolisar]] a ligação beta [1–4] [[Glicosídeo|glicosídica]] da [[celulose]] vegetal devido à falta da [[enzima]] [[celulase]]. Assim, os ruminantes dependem completamente da flora microbiana, presente no [[rúmen]] ou [[intestino grosso]], para digerir a celulose. A digestão dos alimentos no rúmen é realizada principalmente pela microflora ruminal, que contém [[População (biologia)|populações]] densas de diversas espécies de [[Bactéria|bactérias]], [[Protozoário|protozoários]], às vezes [[Levedura|leveduras]] e outros fungos — estima-se que 1 ml de rúmen contenha 10–50 bilhões de bactérias e 1 milhão de protozoários, bem como diversas leveduras e [[Fungi|fungos]].<ref>{{cite web|url=http://arbl.cvmbs.colostate.edu/hbooks/pathphys/digestion/herbivores/microbes.html|title=Fermentation Microbiology and Ecology|access-date=25 January 2011|archive-date=26 September 2011|archive-url=https://web.archive.org/web/20110926050349/http://arbl.cvmbs.colostate.edu/hbooks/pathphys/digestion/herbivores/microbes.html|url-status=dead}}</ref>


Como o ambiente dentro do rúmen é [[Anaerobiose|anaeróbico]], a maioria dessas espécies microbianas são anaeróbios obrigatórios ou facultativos que podem [[Decomposição|decompor]] materiais vegetais complexos, como celulose, [[hemicelulose]], [[amido]] e [[Proteína|proteínas]]. A hidrólise da celulose resulta em [[Carboidrato|açúcares]], que são posteriormente fermentados em [[acetato]], [[Ácido láctico|lactato]], [[Ácido propanoico|propionato]], butirato, [[dióxido de carbono]] e [[metano]].
Ao retornar para o estômago, o alimento dirige-se para o omaso, que possui uma parede muscular muito forte e uma mucosa laminada, para que ocorra a reabsorção da água presente no bolo alimentar. Em seguida, este bolo cai no compartimento chamado de estômago verdadeiro, o abomaso ou coagulador. Este compartimento é um saco alongado, estruturalmente e funcionalmente comparável ao estômago de animais não ruminantes, e é nele que o bolo alimentar irá ser digerido pelas enzimas presentes neste compartimento, que são produzidas por glândulas existentes na parede do abomaso. Deste modo, o bolo passa para o intestino delgado dos ruminantes, sofrendo a ação de outras enzimas do trato digestivo.


À medida que as bactérias conduzem a fermentação no rúmen, elas consomem cerca de 10% do [[carbono]], 60% do [[fósforo]] e 80% do [[Azoto|nitrogênio]] que o ruminante ingere.<ref name="Callewaert">{{cite journal|last1=Callewaert|first1=L.|last2=Michiels|first2=C. W.|title=Lysozymes in the animal kingdom|journal=Journal of Biosciences|date=2010|volume=35|issue=1|pages=127–160|doi=10.1007/S12038-010-0015-5|pmid=20413917|s2cid=21198203}}</ref> Para recuperar esses nutrientes, o ruminante digere as bactérias no [[abomaso]]. A enzima [[lisozima]] se adaptou para facilitar a digestão de bactérias no abomaso de ruminantes.<ref name="Irwin">{{cite journal|last1=Irwin|first1=D. M.|last2=Prager|first2=E. M.|last3=Wilson|first3=A. C.|title=Evolutionary genetics of ruminant lysozymes|journal=Animal Genetics|date=1992|volume=23|issue=3|pages=193–202|doi=10.1111/j.1365-2052.1992.tb00131.x|pmid=1503255}}</ref> A [[ribonuclease pancreática]] também degrada o [[Ácido ribonucleico|RNA]] bacteriano no [[intestino delgado]] de ruminantes como fonte de nitrogênio.<ref>{{cite journal|last1=Jermann|first1=T. M.|last2=Opitz|first2=J. G.|last3=Stackhouse|first3=J.|last4=Benner|first4=S. A.|title=Reconstructing the evolutionary history of the artiodactyl ribonuclease superfamily |url=http://64.238.189.139/pubs/Reconstructing%20the%20evolutionary%20history%20of%20the%20artiodactyl%20ribonuclease%20superfamily.pdf|archive-url=https://web.archive.org/web/20190521104301/http://64.238.189.139/pubs/Reconstructing%20the%20evolutionary%20history%20of%20the%20artiodactyl%20ribonuclease%20superfamily.pdf|url-status=dead|archive-date=21 May 2019|journal=Nature|date=1995|volume=374|issue=6517|pages=57–59|doi=10.1038/374057a0|pmid=7532788|bibcode=1995Natur.374...57J|s2cid=4315312}}</ref>
Nos recém-nascidos, este processo de digestão possui algumas diferenças. O rúmen e o retículo comunicam-se através da goteira esofágica. Quando o animal é adulto, esta goteira está aberta, sendo assim, ocorre à passagem do alimento por todos os compartimentos do estômago. Já nos filhotes, o movimento de sucção do leite faz com que a goteira esofágica se dobre, fazendo com que o leite passe diretamente para o abomaso, sendo assim, este sofrerá a ação apenas das enzimas secretadas no abomaso.


Durante o [[pastoreio]], os ruminantes produzem grandes quantidades de [[saliva]] – as estimativas variam de 100 a 150 litros de saliva por dia para uma [[Bos taurus|vaca]].<ref>{{cite journal | last1 = Reid| first1 = J.T.| last2 = Huffman| first2 = C.F.| year = 1949 | title = Some physical and chemical properties of Bovine saliva which may affect rumen digestion and synthesis | url = http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302%2849%2992019-6/abstract | journal = Journal of Dairy Science | volume = 32 | issue = 2| pages = 123–132 | doi=10.3168/jds.s0022-0302(49)92019-6| doi-access = free}} {{open access}}</ref> O papel da saliva é fornecer amplo fluido para a fermentação ruminal e atuar como agente tampão.<ref>{{cite web|url=http://arbl.cvmbs.colostate.edu:80/hbooks/pathphys/digestion/herbivores/rumination.html|archive-url=https://web.archive.org/web/19980129111027/http://arbl.cvmbs.colostate.edu:80/hbooks/pathphys/digestion/herbivores/rumination.html|url-status=dead|archive-date=29 January 1998|title=Rumen Physiology and Rumination}}</ref> A fermentação ruminal produz grandes quantidades de [[Ácido carboxílico|ácidos orgânicos]], portanto, manter o [[pH]] adequado dos fluidos ruminais é um fator crítico na fermentação ruminal. Depois que a digesta passa pelo rúmen, o [[omaso]] absorve o excesso de líquido para que as enzimas digestivas e o ácido do abomaso não sejam diluídos.<ref name="Clauss2014">{{cite journal|last1=Clauss|first1=M.|last2=Rossner|first2=G. E.|title=Old world ruminant morphophysiology, life history, and fossil record: exploring key innovations of a diversification sequence|journal=Annales Zoologici Fennici|date=2014|volume=51|issue=1–2|pages=80–94|doi=10.5735/086.051.0210|s2cid=85347098|url=http://www.zora.uzh.ch/id/eprint/94203/1/AnnZoolFenn_omasum_2014.pdf}}</ref>
== Classificação ==
* '''Subordem''' Ruminantia
** Família [[Amphimerycidae]] (extinta)
** '''Infraordem''' [[Tragulina]]
*** Família [[Tragulidae]]''
*** Família [[Prodremotheriidae]] (extinta)
*** Família [[Hypertragulidae]] (extinta)
*** Família [[Praetragulidae]] (extinta)
*** Família [[Leptomerycidae]] (extinta)
*** Família [[Archaeomerycidae]] (extinta)
*** Família [[Lophiomerycidae]] (extinta)
** Infraordem [[Tylopoda]]
*** Família [[Camelidae]]
** '''Infraordem''' [[Pecora]]
*** Família [[Moschidae]]
*** Família [[Cervidae]]
*** Família [[Giraffidae]]
*** Família [[Antilocapridae]]
*** Família [[Bovidae]]


==Toxicidade de taninos em animais ruminantes==
== Filogenia ==
Os [[Tanino|taninos]] são compostos fenólicos comumente encontrados nas [[Plantae|plantas]]. Encontrados nos tecidos das [[Folha|folhas]], [[Gomo (botânica)|botões]], [[Semente|sementes]], [[Raiz|raízes]] e [[Caule|caules]], os taninos estão amplamente distribuídos em muitas espécies diferentes de plantas. Os taninos são separados em duas classes: taninos hidrolisáveis ​​e taninos condensados. Dependendo da sua concentração e natureza, qualquer uma das classes pode ter efeitos adversos ou benéficos. Os taninos podem ser benéficos, tendo demonstrado aumentar a produção de [[leite]], o crescimento da [[lã]], a taxa de [[Ovocitação|ovulação]] e a percentagem de [[Pártia|partos]], bem como reduzir o risco de [[Turgidez|inchaço]] e reduzir a carga [[Parasitismo|parasitária]] interna.<ref name="Barry">B.R Min, et al (2003) [https://www.academia.edu/12736001/The_effect_of_condensed_tannins_on_the_nutrition_and_health_of_ruminants_fed_fresh_temperate_forages_a_review The effect of condensed tannins on the nutrition and health of ruminants fed fresh temperate forages: a review] Animal Feed Science and Technology 106(1):3–19</ref>


Os taninos podem ser tóxicos para os ruminantes, pois precipitam [[Proteína|proteínas]], tornando-as indisponíveis para digestão, e inibem a absorção de nutrientes, reduzindo as populações de bactérias proteolíticas do rúmen.<ref name="Barry"/><ref name="Bate-Smith">{{cite book|title=Comparative biochemistry|author=Bate-Smith and Swain|publisher=Academic Press|year=1962|editor=Florkin M., Mason H.S.|volume=III|location=New York|pages=75–809|chapter=Flavonoid compounds}}</ref> Níveis muito elevados de ingestão de tanino podem produzir toxicidade que pode até causar a morte.<ref>{{cite web|url=http://www.ansci.cornell.edu/plants/toxicagents/tannin.html|title='Tannins: fascinating but sometimes dangerous molecules' [Cornell University Department of Animal Science? (c) 2018]}}</ref> Animais que normalmente consomem plantas ricas em taninos podem desenvolver mecanismos de defesa contra os taninos, como a implantação estratégica de [[Lípido|lipídios]] e [[Polissacarídeo|polissacarídeos]] extracelulares que têm alta afinidade de ligação aos taninos.<ref name="Barry" /> Alguns ruminantes (cabras, veados, alces, alces) são capazes de consumir alimentos ricos em taninos (folhas, galhos, cascas) devido à presença em sua saliva de proteínas de ligação aos taninos.<ref>{{cite journal | last1 = Austin | first1 = PJ | display-authors = etal | year = 1989 | title = Tannin-binding proteins in saliva of deer and their absence in saliva of sheep and cattle | journal = J Chem Ecol | volume = 15 | issue = 4| pages = 1335–47 | doi = 10.1007/BF01014834 | pmid = 24272016 | s2cid = 32846214 }}</ref>
├─o [[Ruminantia]]
│ ├─? [[Amphimerycidae]] +
│ └─o
│ ├─o ''[[Indomeryx]]'' +
│ ├─o [[Hypertragulidae]] +
│ ├─o [[Praetragulidae]] +
│ └─o
│ ├─o [[Tragulidae]]
│ └─o
│ ├─o [[Bachitheriidae]] +
│ └─o
│ ├─o [[Leptomerycidae]] +
│ ├─? [[Archaeomerycidae]] +
│ └─o
│ ├─o [[Lophiomerycidae]] +
│ └─o [[Pecora]]
│ ├─o ''[[Gelocus]]'' +
│ └─o
│ ├─? ''[[Notomeryx]]'' +
│ └─o
│ ├─o ''[[Prodromotherium]]'' +
│ └─o
│ ├─? ''[[Rutitherium]]'' +
│ ├─o [[Giraffoidea]]
│ │ ├─o [[Climacoceratidae]] +
│ │ └─o [[Giraffidae]]
│ │ ├─o [[Sivatheriinae]] +
│ │ └─o [[Giraffinae]]
│ │ ├─o [[Giraffini]]
│ │ └─o [[Palaeotragini]]
│ │ ├─o [[Paleotragina]] +
│ │ └─o [[Okapiina]]
│ └─o
│ ├─o [[Bovidae]]
│ │ ├─? [[Peleini]]
│ │ ├─o [[Antilopinae]]
│ │ │ ├─o [[Antilopini]]
│ │ │ └─o [[Neotragini]]
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Caprinae]]
│ │ │ ├─o [[Caprini]]
│ │ │ └─o
│ │ │ ├─o [[Ovibovini]]
│ │ │ └─o [[Naemorhedini]]
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Bovinae]]
│ │ │ ├─o [[Boselaphini]]
│ │ │ └─o
│ │ │ ├─o [[Bovini]]
│ │ │ └─o
│ │ │ ├─o [[Udabnocerini]]
│ │ │ └─o [[Tragelaphini]]
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Hippotraginae]]
│ │ │ ├─o [[Reduncini]]
│ │ │ └─o [[Hippotragini]]
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Cephalophinae]]
│ │ └─o [[Alcelaphinae]]
│ │ ├─o [[Aepycerotini]]
│ │ └─o [[Alcelaphini]]
│ └─o [[Cervoidea]]
│ ├─? ''[[Walangania]]'' +
│ └─o
│ ├─o [[Moschidae]]
│ │ ├─o [[Dremotheriinae]] +
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Blastomerycinae]] +
│ │ └─o [[Moschinae]]
│ └─o
│ ├─o [[Antilocapridae]]
│ │ ├─? [[Merycodontinae]] +
│ │ └─o [[Antilocaprinae]]
│ │ ├─o ''[[Proantilocapra]]'' +
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Ilingoceratini]] +
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Antilocaprini]]
│ │ └─o [[Stockoceratini]] +
│ └─o
│ ├─o [[Palaeomerycidae]] +
│ │ ├─o [[Palaeomerycinae]] +
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Aletomerycinae]] +
│ │ └─o [[Dromomerycinae]] +
│ │ ├─o [[Dromomerycini]] +
│ │ └─o [[Cranioceratini]] +
│ └─o
│ ├─o [[Hoplitomerycidae]] +
│ └─o [[Cervidae]]
│ ├─o [[Hydropotinae]]
│ └─o
│ ├─o [[Muntiacinae]]
│ │ ├─o [[Lagomerycini]] +
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Dicrocerini]]+
│ │ └─o [[Muntiacini]]
│ └─o
│ ├─o [[Odocoilinae]]
│ │ ├─o [[Capreolini]]
│ │ └─o
│ │ ├─o [[Odocoileini]]
│ │ └─o [[Alceini]]
│ └─o [[Cervinae]]
│ ├─o [[Pliocervini]] +
│ └─o
│ ├─o [[Megacerini]] +
│ └─o [[Cervini]]
└─o [[Cetancodonta]]
├─o [[Ancodonta]]
└─o '''[[Cetacea]]'''


==Importância religiosa==
== Descrição ==
A [[Lei de Moisés]] na [[Bíblia]] permitia comer alguns mamíferos que tinham cascos fendidos (ou seja, membros da ordem Artiodactyla) e "que ruminam",<ref>{{sourcetext|source=Bible|version=King James|book=Leviticus|chapter=11|verse=3}}</ref> uma estipulação preservada até hoje nas [[Tabu alimentar|leis dietéticas]] [[Judaísmo|judaicas]].
Os ruminantes são [[mamíferos]] [[herbívoro]]s que possuem vários compartimentos gástricos, por isso também denominados de [[poligástrico]]s, que ao contrário dos [[monogástrico]]s que possuem um só compartimento gástrico, o [[estômago]], os ruminantes possuem quatro, o [[rúmen]], [[Barrete (anatomia)|retículo]], [[omaso]] e [[abomaso]].


==Ruminantes e mudanças climáticas==
O termo ruminantes advém do facto destes animais [[Ruminação|ruminarem]], isto é, depois de ingerirem rapidamente o alimento, após um período eles tornam a regurgitar o alimento para a [[boca]], onde ele é de novo mastigado e [[deglutição|deglutido]].
O metano é produzido por um tipo de [[archaea]], chamado [[Metanogênese|metanógenos]], conforme descrito acima dentro do rúmen, e esse metano é liberado para a [[atmosfera]]. O rúmen é o principal local de produção de metano em ruminantes.<ref>{{Cite journal |doi = 10.3168/jds.S0022-0302(99)75296-3|title = Effect of the Addition of Fumarate on Methane Production by Ruminal Microorganisms in Vitro|journal = Journal of Dairy Science|volume = 82|issue = 4|pages = 780–787|year = 1999|last1 = Asanuma|first1 = Narito|last2 = Iwamoto|first2 = Miwa|last3 = Hino|first3 = Tsuneo|pmid = 10212465|doi-access = free}}</ref> O metano é um forte [[Gases do efeito estufa|gás do efeito estufa]], com um potencial de [[aquecimento global]] de 86% em comparação com o CO2 durante um período de vinte anos.<ref name="AR5WG1">[[Intergovernmental Panel on Climate Change|IPCC]] Fifth Assessment Report, [http://www.climatechange2013.org/images/uploads/WGIAR5_WGI-12Doc2b_FinalDraft_Chapter08.pdf Table 8.7, Chap.&nbsp;8, pp.&nbsp;8–58] (PDF)</ref><ref>{{cite journal| doi = 10.1126/science.1174760| pmid = 19900930| title = Improved Attribution of Climate Forcing to Emissions| journal = Science| volume = 326| issue = 5953| pages = 716–728| year = 2009| last1 = Shindell| first1 = D. T.| last2 = Faluvegi| first2 = G.| last3 = Koch| first3 = D. M.| last4 = Schmidt| first4 = G. A.| last5 = Unger| first5 = N.| last6 = Bauer| first6 = S. E.| bibcode = 2009Sci...326..716S| s2cid = 30881469| url = https://zenodo.org/record/1230902 |via=Zenodo |url-status=live |archive-url=https://web.archive.org/web/20230930040644/https://zenodo.org/record/1230902 |archive-date= 30 September 2023 }}</ref>


Como subproduto do consumo de celulose, o gado [[Arroto|arrota]] metano, devolvendo assim o carbono sequestrado pelas plantas de volta à atmosfera. Após cerca de dez a doze anos, esse metano é decomposto e convertido novamente em CO2. Uma vez convertido em CO2, as plantas podem novamente realizar a [[fotossíntese]] e fixar esse carbono de volta à celulose. A partir daí, o gado pode comer as plantas e o ciclo começa novamente. Em essência, o metano arrotado pelo gado não está adicionando novo carbono à atmosfera. Em vez disso, é parte do ciclo natural do carbono através do [[ciclo do carbono]] biogênico.<ref>{{Cite web |last=Werth |first=Samantha |date=19 February 2020 |title=The Biogenic Carbon Cycle and Cattle |url=https://clear.ucdavis.edu/explainers/biogenic-carbon-cycle-and-cattle |website=CLEAR Center |language=en |url-status=live |archive-url=https://web.archive.org/web/20240221070734/https://clear.ucdavis.edu/explainers/biogenic-carbon-cycle-and-cattle |archive-date= 21 February 2024 }}</ref>
A tomada do alimentos por parte dos ruminantes é feita com a ajuda da [[língua]] como se fosse uma "[[foice]]" que recolhe o alimento no [[pasto]], cuja altura deve ser compatível com o movimento lingual. O alimento é imediatamente deglutido e chega no primeiro compartimento, o rúmen, onde vários [[microrganismo]]s se encarregam de quebrar [[polissacarídeos]] como a [[celulose]]. Após isso, o alimento volta a boca do animal para ser mastigado e, então, deglutido novamente para o término da digestão do alimento.


Em 2010, a fermentação entérica foi responsável por 43% do total de [[emissões de gases do efeito estufa]] de todas as atividades agrícolas no mundo,<ref>Food and Agriculture Organization of the United Nations (2013) [https://web.archive.org/web/20190521225304/http://www.fao.org/3/i3107e/i3107e04.pdf#page=54 "FAO Statistical Yearbook 2013 World Food and Agriculture - Sustainability dimensions"]. Data in Table 49 on p. 254.</ref> 26% do total de emissões de gases de efeito estufa da atividade agrícola nos [[Estados Unidos|EUA]] e 22% do total das [[emissões de metano]] dos EUA.<ref name="Inventory of U.S. Greenhouse Gas Emissions and Sinks: 1990-2014">{{cite journal|title=Inventory of U.S. Greenhouse Gas Emissions and Sinks: 1990–2014|date=2016|url=https://www.epa.gov/ghgemissions/inventory-us-greenhouse-gas-emissions-and-sinks-1990-2014 |website=US EPA |url-status=live |archive-url= https://web.archive.org/web/20240224230935/https://www.epa.gov/ghgemissions/inventory-us-greenhouse-gas-emissions-and-sinks-1990-2014 |archive-date= 24 February 2024 }}</ref> A carne de ruminantes criados internamente tem uma pegada equivalente de carbono mais elevada do que outras carnes ou fontes vegetarianas de [[proteína]], com base numa [[metanálise]] global de estudos de avaliação do [[ciclo de vida]].<ref>Ripple, William J.; Pete Smith; Helmut Haberl; Stephen A. Montzka; Clive McAlpine & Douglas H. Boucher. 2014. [https://web.archive.org/web/20170809043449/https://health.gov/dietaryguidelines/dga2015/comments/uploads/CID230_Ripple__2014_NatureClimateChange-Ruminants.pdf "Ruminants, climate change and climate policy"]. Nature Climate Change. Volume 4 No. 1. pp. 2–5.</ref> A produção de metano por animais de corte, principalmente ruminantes, é estimada em 15–20% da produção global de metano, a menos que os animais tenham sido caçados na natureza.<ref>Cicerone, R. J., and [[Ronald Oremland|R. S. Oremland]]. 1988 [https://web.archive.org/web/20190521231210/https://cloudfront.escholarship.org/dist/prd/content/qt3xq3t703/qt3xq3t703.pdf "Biogeochemical Aspects of Atmospheric Methane"]</ref><ref>Yavitt, J. B. 1992. Methane, biogeochemical cycle. pp. 197–207 in Encyclopedia of Earth System Science, Vol. 3. Acad.Press, London.</ref> A atual população doméstica de gado bovino e leiteiro nos EUA é de cerca de 90 milhões de cabeças, aproximadamente 50% maior do que o pico da população selvagem de [[Bisonte|bisões]] americanos de 60 milhões de cabeças em 1700,<ref name="BSFW">{{cite journal|author=Bureau of Sport Fisheries and Wildlife|title=The American Buffalo|journal=Conservation Note|date=January 1965|volume=12}}</ref> que percorria principalmente a parte da [[América do Norte]] que agora constitui os Estados Unidos.
Há uma teoria sobre a origem desses animais que diz que estes evoluíram de um [[ancestral]] comum que era capaz de ruminar, e, portanto, sendo menos dependente da permanência constante em [[pastagem|pastagens]] em [[campo]]s abertos, sujeitos a ataques de [[predador]]es.


{{Referências}}
A característica principal dos ruminantes é o consumo de [[fibra]]s ([[celulose]] e [[hemicelulose]]) obtidas das [[gramíneas]] ([[poaceas]]) e das [[leguminosas]] ([[fabaceae]]), e como não possuem um sistema [[enzima|enzimático]] dotado de [[celulase]], estes necessitam de um conjunto de microorganismos que façam a [[digestão]] das fibras. Estes microorganismos são [[bactéria]]s e [[protozoário]]s [[celulítico]]s, que fermentam, no rúmen, as fibras e produzem [[ácido]]s orgânicos ([[acetato]], [[butirato]] e [[propionato]]) que são assimilados pelo ruminante para obter [[energia]]. Estes organismos, depois de saírem do rúmen para o [[intestino]], são fonte de [[proteína]] e de [[vitamina]]s para os ruminantes.


==Ligações externas==
O [[sistema digestivo]] dos ruminantes é composto por:<ref>{{Citar web|url=https://www.extension.umn.edu/agriculture/dairy/feed-and-nutrition/feeding-the-dairy-herd/ruminant-anatomy-and-physiology.html|titulo=Ruminant anatomy and physiology : Dairy Extension : University of Minnesota Extension|acessodata=2017-05-08|obra=www.extension.umn.edu|lingua=en}}</ref>
{{Wikispecies|Ruminantia}}
* [[Boca]]
* [[Língua]]
* [[Esôfago]]
* [[Estômago]]
** [[Rúmen]]
** [[Barrete (anatomia)|Retículo]]
** [[Omaso]]
** [[Abomaso]]
* [[Fígado]] (glândula anexa)
* [[Pâncreas]] (glândula anexa)
* [[Intestino grosso]]
* [[Intestino delgado]]
* [[Recto]]
* [[Ânus]]

<center>
<gallery>
Bovine buccal cavity (upper and lower parts).jpg|Cavidade bucal bovina. Em exposição no [[Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP|MAV/USP]].
Goat liver (bile ducts).jpg|[[Fígado]] de cabra.
Bovine duodenal papilla.jpg|[[Duodeno|Papila duodenal]] bovina. Em exposição no [[Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP|MAV/USP]].
Ovine stomach.jpg|Estomago ovino. Em exposição no [[Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP|MAV/USP]].
Sheep liver (bile ducts).jpg|Fígado de ovelha.
Didactic model of a bovine Rumen and Reticulum-FMVZ USP-27.jpeg|[[Brinquedo educacional|Modelo didático]] do [[Rúmen]] e [[Retículo]] bovino.
Didactic model of a bovine omasum and abomasum-FMVZ USP-26.jpeg|[[Brinquedo educacional|Modelo didático]] do [[Omaso]] e [[Abomaso]] bovino.
Bovine liver.jpg|Fígado bovino. Em exposição no [[Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP|MAV/USP]].
</gallery>
</center>

{{Referência}}


*[https://web.archive.org/web/20170321060123/http://arbl.cvmbs.colostate.edu/hbooks/pathphys/digestion/herbivores/index.html Digestive Physiology of Herbivores] – Colorado State University (Last updated on 13 July 2006)
*Britannica, The Editors of Encyclopaedia. "Ruminant". Encyclopædia Britannica, Invalid Date, https://www.britannica.com/animal/ruminant. Accessed 22 February 2021.
* {{Cite EB1911|wstitle=Ruminantia |short=x}}
{{Portal3|Medicina}}
{{Controle de autoridade}}
{{Controle de autoridade}}


[[Categoria:Ruminantia]]
[[Categoria:Ruminantia]]
[[Categoria:Medicina veterinária]]
[[Categoria:Medicina veterinária]]

[[wa:Bounete (pansreye)]]

Revisão das 16h14min de 26 de junho de 2024

Como ler uma infocaixa de taxonomiaRuminantes
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Artiodactyla
Subordem: Ruminantia
Scopoli, 1777
Infraordens
Ver texto.

Ruminantes são artiodáctilos herbívoros pertencentes à subordem Ruminantia que são capazes de adquirir nutrientes de alimentos vegetais, fermentando-os em um estômago especializado antes da digestão, principalmente por meio de ações microbianas. O processo, que ocorre na parte frontal do sistema digestivo e, portanto, é chamado de fermentação anterior, normalmente requer que a ingesta fermentada (conhecida como ruminação) seja regurgitada e mastigada novamente. O processo de remastigar a ruminação para quebrar ainda mais a matéria vegetal e estimular a digestão é chamado de ruminação.[1] A palavra "ruminante" vem do latim ruminare, que significa "mastigar novamente".

As cerca de duzentas espécies de ruminantes incluem espécies domésticas e selvagens.[2] Os mamíferos ruminantes incluem gado, todos os bovinos domesticados e selvagens, cabras, ovelhas, girafas, veados, gazelas e antílopes.[3] Também foi sugerido que os notoungulados também dependiam da ruminação, ao contrário de outros atlantogenados que dependem da fermentação mais típica do intestino posterior, embora isso não seja totalmente certo.[4]

Os ruminantes representam o grupo mais diversificado de ungulados vivos.[5] A subordem Ruminantia inclui seis famílias diferentes: Tragulidae, Giraffidae, Antilocapridae, Cervidae, Moschidae e Bovidae.[2]

Abundância, distribuição e domesticação

Os ruminantes selvagens somam pelo menos 75 milhões[6] e são nativos de todos os continentes, exceto Antártida e Austrália.[2] Quase 90% de todas as espécies são encontradas na Eurásia e na África.[6] As espécies habitam uma ampla variedade de climas (do trópico ao ártico) e habitats (de planícies abertas a florestas).[6]

A população de ruminantes domésticos é superior a 3,5 mil milhões, com bovinos, ovinos e caprinos representando cerca de 95% da população total. As cabras foram domesticadas no Oriente Próximo por volta de 8.000 a.C. A maioria das outras espécies foi domesticada por volta de 2.500 a.C., no Oriente Próximo ou no Ásia Meridional.[6]

Fisiologia de ruminantes

Os animais ruminantes possuem diversas características fisiológicas que lhes permitem sobreviver na natureza. Uma característica dos ruminantes são os dentes em crescimento contínuo. Durante o pastoreio, o teor de sílica na forragem provoca abrasão dos dentes. Isto é compensado pelo crescimento contínuo dos dentes ao longo da vida do ruminante, ao contrário dos humanos ou outros não ruminantes, cujos dentes param de crescer após uma determinada idade. A maioria dos ruminantes não possui incisivos superiores; em vez disso, eles têm uma almofada dentária grossa para mastigar bem os alimentos vegetais.[7] Outra característica dos ruminantes é a grande capacidade de armazenamento ruminal que lhes dá a capacidade de consumir a ração rapidamente e completar o processo de mastigação posteriormente. Isso é conhecido como ruminação, que consiste na regurgitação do alimento, na nova mastigação, na ressalivação e na nova deglutição. A ruminação reduz o tamanho das partículas, o que melhora a função microbiana e permite que a digesta passe mais facilmente pelo trato digestivo.[8]

Microbiologia ruminal

Os vertebrados não têm a capacidade de hidrolisar a ligação beta [1–4] glicosídica da celulose vegetal devido à falta da enzima celulase. Assim, os ruminantes dependem completamente da flora microbiana, presente no rúmen ou intestino grosso, para digerir a celulose. A digestão dos alimentos no rúmen é realizada principalmente pela microflora ruminal, que contém populações densas de diversas espécies de bactérias, protozoários, às vezes leveduras e outros fungos — estima-se que 1 ml de rúmen contenha 10–50 bilhões de bactérias e 1 milhão de protozoários, bem como diversas leveduras e fungos.[9]

Como o ambiente dentro do rúmen é anaeróbico, a maioria dessas espécies microbianas são anaeróbios obrigatórios ou facultativos que podem decompor materiais vegetais complexos, como celulose, hemicelulose, amido e proteínas. A hidrólise da celulose resulta em açúcares, que são posteriormente fermentados em acetato, lactato, propionato, butirato, dióxido de carbono e metano.

À medida que as bactérias conduzem a fermentação no rúmen, elas consomem cerca de 10% do carbono, 60% do fósforo e 80% do nitrogênio que o ruminante ingere.[10] Para recuperar esses nutrientes, o ruminante digere as bactérias no abomaso. A enzima lisozima se adaptou para facilitar a digestão de bactérias no abomaso de ruminantes.[11] A ribonuclease pancreática também degrada o RNA bacteriano no intestino delgado de ruminantes como fonte de nitrogênio.[12]

Durante o pastoreio, os ruminantes produzem grandes quantidades de saliva – as estimativas variam de 100 a 150 litros de saliva por dia para uma vaca.[13] O papel da saliva é fornecer amplo fluido para a fermentação ruminal e atuar como agente tampão.[14] A fermentação ruminal produz grandes quantidades de ácidos orgânicos, portanto, manter o pH adequado dos fluidos ruminais é um fator crítico na fermentação ruminal. Depois que a digesta passa pelo rúmen, o omaso absorve o excesso de líquido para que as enzimas digestivas e o ácido do abomaso não sejam diluídos.[15]

Toxicidade de taninos em animais ruminantes

Os taninos são compostos fenólicos comumente encontrados nas plantas. Encontrados nos tecidos das folhas, botões, sementes, raízes e caules, os taninos estão amplamente distribuídos em muitas espécies diferentes de plantas. Os taninos são separados em duas classes: taninos hidrolisáveis ​​e taninos condensados. Dependendo da sua concentração e natureza, qualquer uma das classes pode ter efeitos adversos ou benéficos. Os taninos podem ser benéficos, tendo demonstrado aumentar a produção de leite, o crescimento da , a taxa de ovulação e a percentagem de partos, bem como reduzir o risco de inchaço e reduzir a carga parasitária interna.[16]

Os taninos podem ser tóxicos para os ruminantes, pois precipitam proteínas, tornando-as indisponíveis para digestão, e inibem a absorção de nutrientes, reduzindo as populações de bactérias proteolíticas do rúmen.[16][17] Níveis muito elevados de ingestão de tanino podem produzir toxicidade que pode até causar a morte.[18] Animais que normalmente consomem plantas ricas em taninos podem desenvolver mecanismos de defesa contra os taninos, como a implantação estratégica de lipídios e polissacarídeos extracelulares que têm alta afinidade de ligação aos taninos.[16] Alguns ruminantes (cabras, veados, alces, alces) são capazes de consumir alimentos ricos em taninos (folhas, galhos, cascas) devido à presença em sua saliva de proteínas de ligação aos taninos.[19]

Importância religiosa

A Lei de Moisés na Bíblia permitia comer alguns mamíferos que tinham cascos fendidos (ou seja, membros da ordem Artiodactyla) e "que ruminam",[20] uma estipulação preservada até hoje nas leis dietéticas judaicas.

Ruminantes e mudanças climáticas

O metano é produzido por um tipo de archaea, chamado metanógenos, conforme descrito acima dentro do rúmen, e esse metano é liberado para a atmosfera. O rúmen é o principal local de produção de metano em ruminantes.[21] O metano é um forte gás do efeito estufa, com um potencial de aquecimento global de 86% em comparação com o CO2 durante um período de vinte anos.[22][23]

Como subproduto do consumo de celulose, o gado arrota metano, devolvendo assim o carbono sequestrado pelas plantas de volta à atmosfera. Após cerca de dez a doze anos, esse metano é decomposto e convertido novamente em CO2. Uma vez convertido em CO2, as plantas podem novamente realizar a fotossíntese e fixar esse carbono de volta à celulose. A partir daí, o gado pode comer as plantas e o ciclo começa novamente. Em essência, o metano arrotado pelo gado não está adicionando novo carbono à atmosfera. Em vez disso, é parte do ciclo natural do carbono através do ciclo do carbono biogênico.[24]

Em 2010, a fermentação entérica foi responsável por 43% do total de emissões de gases do efeito estufa de todas as atividades agrícolas no mundo,[25] 26% do total de emissões de gases de efeito estufa da atividade agrícola nos EUA e 22% do total das emissões de metano dos EUA.[26] A carne de ruminantes criados internamente tem uma pegada equivalente de carbono mais elevada do que outras carnes ou fontes vegetarianas de proteína, com base numa metanálise global de estudos de avaliação do ciclo de vida.[27] A produção de metano por animais de corte, principalmente ruminantes, é estimada em 15–20% da produção global de metano, a menos que os animais tenham sido caçados na natureza.[28][29] A atual população doméstica de gado bovino e leiteiro nos EUA é de cerca de 90 milhões de cabeças, aproximadamente 50% maior do que o pico da população selvagem de bisões americanos de 60 milhões de cabeças em 1700,[30] que percorria principalmente a parte da América do Norte que agora constitui os Estados Unidos.

Referências

  1. «Ruminant Digestive System» (PDF) 
  2. a b c Fernández, Manuel Hernández; Vrba, Elisabeth S. (1 May 2005). «A complete estimate of the phylogenetic relationships in Ruminantia: a dated species-level supertree of the extant ruminants». Biological Reviews. 80 (2): 269–302. ISSN 1469-185X. PMID 15921052. doi:10.1017/s1464793104006670  Verifique data em: |data= (ajuda)
  3. Fowler, M.E. (2010). "Medicine and Surgery of Camelids", Ames, Iowa: Wiley-Blackwell. Chapter 1 General Biology and Evolution addresses the fact that camelids (including camels and llamas) are not ruminants, pseudo-ruminants, or modified ruminants.
  4. Richard F. Kay, M. Susana Bargo, Early Miocene Paleobiology in Patagonia: High-Latitude Paleocommunities of the Santa Cruz Formation, Cambridge University Press, 11 October 2012
  5. «Suborder Ruminatia, the Ultimate Ungulate» 
  6. a b c d Hackmann. T. J., and Spain, J. N. 2010."Ruminant ecology and evolution: Perspectives useful to livestock research and production". Journal of Dairy Science, 93:1320–1334
  7. «Dental Anatomy of Ruminants» 
  8. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Rickard-2002
  9. «Fermentation Microbiology and Ecology». Consultado em 25 January 2011. Cópia arquivada em 26 September 2011  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  10. Callewaert, L.; Michiels, C. W. (2010). «Lysozymes in the animal kingdom». Journal of Biosciences. 35 (1): 127–160. PMID 20413917. doi:10.1007/S12038-010-0015-5 
  11. Irwin, D. M.; Prager, E. M.; Wilson, A. C. (1992). «Evolutionary genetics of ruminant lysozymes». Animal Genetics. 23 (3): 193–202. PMID 1503255. doi:10.1111/j.1365-2052.1992.tb00131.x 
  12. Jermann, T. M.; Opitz, J. G.; Stackhouse, J.; Benner, S. A. (1995). «Reconstructing the evolutionary history of the artiodactyl ribonuclease superfamily» (PDF). Nature. 374 (6517): 57–59. Bibcode:1995Natur.374...57J. PMID 7532788. doi:10.1038/374057a0. Cópia arquivada (PDF) em 21 May 2019  Verifique data em: |arquivodata= (ajuda)
  13. Reid, J.T.; Huffman, C.F. (1949). «Some physical and chemical properties of Bovine saliva which may affect rumen digestion and synthesis». Journal of Dairy Science. 32 (2): 123–132. doi:10.3168/jds.s0022-0302(49)92019-6Acessível livremente  publicação de acesso livre - leitura gratuita
  14. «Rumen Physiology and Rumination». Cópia arquivada em 29 January 1998  Verifique data em: |arquivodata= (ajuda)
  15. Clauss, M.; Rossner, G. E. (2014). «Old world ruminant morphophysiology, life history, and fossil record: exploring key innovations of a diversification sequence» (PDF). Annales Zoologici Fennici. 51 (1–2): 80–94. doi:10.5735/086.051.0210 
  16. a b c B.R Min, et al (2003) The effect of condensed tannins on the nutrition and health of ruminants fed fresh temperate forages: a review Animal Feed Science and Technology 106(1):3–19
  17. Bate-Smith and Swain (1962). «Flavonoid compounds». In: Florkin M., Mason H.S. Comparative biochemistry. III. New York: Academic Press. pp. 75–809 
  18. «'Tannins: fascinating but sometimes dangerous molecules' [Cornell University Department of Animal Science? (c) 2018]» 
  19. Austin, PJ; et al. (1989). «Tannin-binding proteins in saliva of deer and their absence in saliva of sheep and cattle». J Chem Ecol. 15 (4): 1335–47. PMID 24272016. doi:10.1007/BF01014834 
  20. Predefinição:Sourcetext
  21. Asanuma, Narito; Iwamoto, Miwa; Hino, Tsuneo (1999). «Effect of the Addition of Fumarate on Methane Production by Ruminal Microorganisms in Vitro». Journal of Dairy Science. 82 (4): 780–787. PMID 10212465. doi:10.3168/jds.S0022-0302(99)75296-3Acessível livremente 
  22. IPCC Fifth Assessment Report, Table 8.7, Chap. 8, pp. 8–58 (PDF)
  23. Shindell, D. T.; Faluvegi, G.; Koch, D. M.; Schmidt, G. A.; Unger, N.; Bauer, S. E. (2009). «Improved Attribution of Climate Forcing to Emissions». Science. 326 (5953): 716–728. Bibcode:2009Sci...326..716S. PMID 19900930. doi:10.1126/science.1174760. Cópia arquivada em 30 September 2023 – via Zenodo  Verifique data em: |arquivodata= (ajuda)
  24. Werth, Samantha (19 February 2020). «The Biogenic Carbon Cycle and Cattle». CLEAR Center (em inglês). Cópia arquivada em 21 February 2024  Verifique data em: |arquivodata=, |data= (ajuda)
  25. Food and Agriculture Organization of the United Nations (2013) "FAO Statistical Yearbook 2013 World Food and Agriculture - Sustainability dimensions". Data in Table 49 on p. 254.
  26. «Inventory of U.S. Greenhouse Gas Emissions and Sinks: 1990–2014». US EPA. 2016. Cópia arquivada em 24 February 2024  Verifique data em: |arquivodata= (ajuda)
  27. Ripple, William J.; Pete Smith; Helmut Haberl; Stephen A. Montzka; Clive McAlpine & Douglas H. Boucher. 2014. "Ruminants, climate change and climate policy". Nature Climate Change. Volume 4 No. 1. pp. 2–5.
  28. Cicerone, R. J., and R. S. Oremland. 1988 "Biogeochemical Aspects of Atmospheric Methane"
  29. Yavitt, J. B. 1992. Methane, biogeochemical cycle. pp. 197–207 in Encyclopedia of Earth System Science, Vol. 3. Acad.Press, London.
  30. Bureau of Sport Fisheries and Wildlife (January 1965). «The American Buffalo». Conservation Note. 12  Verifique data em: |data= (ajuda)

Ligações externas

Wikispecies
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Ruminantes