Flagelação de Jesus

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Cristo na coluna.
1607. Por Caravaggio, atualmente no Museu de Belas Artes de Ruão, na França.

A flagelação de Jesus, também conhecido como Cristo na coluna, é um episódio da Paixão de Cristo que aparece com bastante frequência na arte cristã, em ciclos da Paixão ou como um grande tema nos ciclos da Vida de Cristo. É também a quarta estação da versão moderna (e alternativa) das estações da cruz e um dos Mistérios Dolorosos do Santo Rosário.[1][2] A coluna à qual Jesus geralmente aparece amarrado, e a corda, o flagelo, são elementos que aparecem nas Arma Christi.[3]

A Basilica di Santa Prassede, em Roma, alega ter a coluna original.[4] O mesmo acontece com a Catedral de São Jorge, em Istambul.[5]

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

Flagelação de Cristo.
1644. Por Guercino, atualmente no Museu de Belas Artes de Budapeste, na Hungria.

O evento é mencionado em três dos quatro evangelhos canônicos, em João 19:1, Marcos 14:65 e Mateus 27:26. Lucas 22:63–65 relata um episódio onde os guardas do Sinédrio surram e zombam de Jesus, mas não a flagelação nas mãos dos romanos. A flagelação é um prelúdio usual à condenação pela crucificação sob o direito romano. Na Paixão de Cristo, o evento precede a Zombaria de Jesus e a Coroa de Espinhos e está contido no episódio mais amplo da Corte de Pilatos.[6]

Arte[editar | editar código-fonte]

O episódio aparece na arte ocidental pela primeira vez no século IX, quase nunca aparecendo na arte bizantina e sendo muito raro na arte ortodoxa oriental em qualquer época. Inicialmente encontrado em manuscritos iluminados e em pequenos marfins, há diversos murais monumentais de por volta do ano 1000 ainda existentes na Itália. Desde o início, aparecem geralmente três figuras: Cristo e dois servos de Pôncio Pilatos, que o chicoteiam. Nas primeiras representações, Cristo aparecia nu ou vestindo um longo manto, com o rosto virado ou visto de costas; a partir do século XII, o padrão é Cristo vestindo uma proteção genital e olhando para quem vê a pintura.[7]

Pilatos por vezes aparece assistindo a cena, com um servo de sua esposa se aproximando para entregar-lhe uma mensagem (veja esposa de Pôncio Pilatos), e, na Baixa Idade Média, provavelmente sob a influência das peças da Paixão, o número de pessoas chicoteando Jesus aumenta para três ou quatro, com faces cada vez mais grotescas e caricatas no Norte da Europa, sempre vestidos como os mercenários da época.[8] Às vezes, outra figura, que pode ser Herodes, está presente. Apesar da flagelação ter ocorrido a mando de Pilatos, os carrascos por vezes são representados com chapéus judeus.[9] Seguindo o exemplo da Maestà de Duccio,[10] a cena também passa a ser representada em público, perante uma audiência de judeus.[11]

Os franciscanos, que promoveram a auto-flagelação como meio de se identificarem com o sofrimento de Cristo, foram provavelmente os responsáveis pelas grandes cruzes processionais italianas, nas quais a flagelação ocupa o verso da cruz, com a crucificação na frente. Estas foram presumivelmente seguidas em procissão pelos flagelantes, que podiam ver Cristo sofrendo à sua frente.[6]

A partir do século XV, o tema também passou a ser pintado em obras individuais ao invés de uma cena numa série da Paixão. Nesta mesma época, "Cristo na coluna" se desenvolveu como uma imagem de Jesus sozinho, atado à uma coluna ou estaca. Este novo tema foi mais popular na escultura barroca e, também relacionado, era o tema, não encontrado nos evangelhos canônicos, de "Cristo na masmorra". É geralmente difícil distinguir entre os dois e entre "Cristo na coluna" e a "Flagelação de Cristo".[12]

Em tempos modernos, produtores de cinema representaram Jesus sendo chicoteado. É uma cena importante no filme de 2004 de Mel Gibson, "A Paixão de Cristo". No filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, Alex se imagina como um soldado romano chicoteando Jesus.[13]

Exemplos notáveis[editar | editar código-fonte]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. The encyclopedia of visual art, Volume 4 by Lawrence Gowing 1983, Ency Brittanica, page 626
  2. Old Master Paintings and Drawings by Roy Bolton 2009 ISBN 1907200010 page 70
  3. Iconography of Christian Art: The Passion of Christ by Gertrud Schiller 1972 ASIN: B000KGWGH4 pages 66-68
  4. Que estaria ainda in situ. Veja imagem
  5. imagem
  6. a b Schiller, 67
  7. Schiller, 66–67
  8. Schiller,68
  9. Veja por exemplo Schiller fig. 231, um mural do séc. XIII de Colônia.
  10. Maestà de Duccio
  11. Schiller, 68
  12. Schiller, 69
  13. D.K. Holm (4 de fevereiro de 2004). «The Passion of the Christ». Nocturnal Admissions. Movie Poop Shoot. Consultado em 6 de novembro de 2009. Arquivado do original em 8 de setembro de 2012 
  14. Flagelação, de Giotto

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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  • Schiller, G. (1972). Iconography of Christian Art, Vol. II (em inglês). English translation from German. London: Lund Humphries. pp. 66–69, figures 225–234 etc. ISBN 0853313245