José Sanjurjo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
José Sanjurjo
José Sanjurjo
Conhecido(a) por Leão do Rife
Nascimento 28 de março de 1872
Pamplona, Espanha
Morte 20 de julho de 1936 (64 anos)
Cascais, Portugal
Ocupação oficial militar
Serviço militar
País Reino da Espanha (1896–1931)
República Espanhola (1931–1936)
Espanha Nacionalista (1936)
Serviço Exército Espanhol
Anos de serviço 1896-1932
Patente tenente-general
Conflitos Guerra de Independência Cubana
Guerra Hispano-Americana
Guerra de Melilla
Guerra do Rife
Guerra Civil Espanhola
Condecorações Cruz Laureada de São Fernando
Ordem de Carlos III

José Sanjurjo y Sacanell, 1º Marquês do Rife (pronúncia espanhola: [saŋˈxuɾxo]; Pamplona, 28 de Março de 1872 – Cascais, 20 de Julho de 1936), foi um general do Exército Espanhol que foi um dos principais conspiradores da revolta militar que levou ao início da Guerra Civil Espanhola.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Sanjurjo nasceu em Pamplona. O seu pai, o capitão Justo Sanjurjo Bonrostra, era um veterano carlista. A sua mãe era Carlota Sacanell Desojo.

Carreira militar[editar | editar código-fonte]

Ele serviu em Cuba em 1896, na Guerra de Melilha (1909) em Marrocos e na Guerra do Rife (1920–1927), incluindo a recuperação do território em Melilha, perdida após a Batalha de Annual em 1921. Em 1922 foi designado para investigar a corrupção no comando do exército de Larache. Foi o Alto Comissário da Espanha em Marrocos e alcançou o posto de tenente-general. Em 1925 participou do desembarque anfíbio em Alhucemas. Em 1928 ele foi nomeado chefe de uma diretoria principal da Guarda Civil. Com a conclusão da Guerra do Rife, o rei Afonso XIII concedeu-lhe a Grã-Cruz de Carlos III em 28 de Março de 1931.

Durante a Segunda República[editar | editar código-fonte]

Em 1923 Miguel Primo de Rivera chegou ao poder num golpe militar, governando a Espanha como ditador.[2] Gradualmente, o apoio a Primo de Rivera desapareceu,[3] e ele renunciou em Janeiro de 1930.[4] O general Dámaso Berenguer foi ordenado pelo rei para formar um governo substituto,[5] o que incomodou Sanjurjo, que se considerava muito melhor qualificado.[6] A ditadura dictablanda de Berenguer não conseguiu fornecer uma alternativa viável a Primo de Rivera.[5] Nas eleições municipais de 12 de Abril de 1931, pouco apoio foi mostrado para os partidos pró-monarquia nas grandes cidades, e um grande número de pessoas reuniram-se nas ruas de Madrid.[7] Questionado se o governo poderia contar com o apoio da Guarda Civil de Sanjurjo, ele rejeitou a sugestão. Sanjurjo anunciou que os homens que estavam sob o seu comando não participariam em qualquer tipo de confrontos para defender o rei.[8] O rei Afonso XIII abdicou e a Segunda República Espanhola foi formada.[7][5]

Apesar das reformas militares de Manuel Azaña em 1931, Sanjurjo manteve o seu posto como comandante da Guarda Civil; sob o seu comando, eles continuaram a usar as suas táticas tradicionalmente brutais, como a "lei de fugas", a desculpa para atirar em prisioneiros e mais tarde alegar que eles estavam a tentar fugir durante um incidente de agitação em Sevilha.[9]

Sanjurjo tornou-se um dos primeiros generais nomeados para o comando do Exército Republicano Espanhol. As suas simpatias, no entanto, permaneceram com a causa monárquica.[10] Quando ele entrou em confronto com o primeiro-ministro Manuel Azaña sobre as reformas militares, foi substituído pelo general Miguel Cabanellas. Foi despromovido a chefe dos oficiais de alfândega em 1932 em consequência dos eventos de Castilblanco e de Arnedo que envolveram a Guarda Civil. O seu confronto com o ministério, as reformas militares de Azaña e as concessões de autonomia regional à Catalunha e ao País Basco levaram Sanjurjo a planear uma rebelião com alguns carlistas sob Manuel Fal Conde, Tomás Domínguez Arévalo e outros oficiais militares. Esta rebelião, que ficou conhecida como a Sanjurjada, foi proclamada em Sevilha em 10 de Agosto de 1932.[11] Sanjurjo afirmou que a rebelião era apenas contra o ministério atual e não contra a República. Conseguiu um sucesso inicial em Sevilha, mas falhou de forma absoluta em Madrid. Sanjurjo tentou fugir para Portugal, mas em Huelva decidiu entregar-se.

Ele foi condenado à morte, sentença que foi posteriormente comutada para prisão perpétua na penitenciária do Dueso. Em Março de 1934 foi amnistiado pelo governo de Lerroux e exilou-se no Estoril, Portugal.

Golpe[editar | editar código-fonte]

Quando Niceto Alcalá-Zamora foi substituído como Presidente da República por Azaña em 10 de Maio de 1936, Sanjurjo juntou-se aos generais Emilio Mola, Francisco Franco e Gonzalo Queipo de Llano numa conspiração para derrubar o governo republicano. Isso levou à insurreição nacionalista em 17 de Julho de 1936, que iniciou a Guerra Civil Espanhola.

Determinado a aniquilar a República Espanhola, quando foi convidado a tornar-se o líder da rebelião pelo enviado Luis Bolín em 12 de Julho de 1936, Sanjurjo declarou:

... querer fazer os partidos políticos desaparecerem, varrer das esferas nacionais toda estrutura liberal e destruir o seu sistema.[12]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 20 de Julho de 1936, Sanjurjo morreu no Estoril num acidente de avião, quando tentou voar de volta para a Espanha. Ele escolheu voar num pequeno avião biplano pilotado por Juan Antonio Ansaldo. Uma das principais razões para o acidente foi a bagagem pesada que Sanjurjo insistiu em levar. Ansaldo avisou-o de que a carga era pesada demais, mas Sanjurjo respondeu:

"Eu preciso usar roupas adequadas como o novo caudilho da Espanha."

De maneira inexplicável, Sanjurjo escolheu voar no avião de Ansaldo em vez de um avião muito maior e mais adequado que estivesse disponível. O avião maior era um De Havilland Dragon Rapide de 8 passageiros, o mesmo que havia transportado Franco das ilhas Canárias para Marrocos. Sanjurjo, no entanto, aparentemente preferiu o drama de voar com um "aviador ousado", como Ansaldo (que sobreviveu ao acidente).[13]

Quando Mola também morreu num acidente de avião, Franco ficou como o único líder efetivo da causa nacionalista. Isso levou a rumores de que Franco havia organizado as mortes dos seus dois rivais, mas nenhuma evidência foi produzida para apoiar essa alegação.[14]

Em 2017, a Lei de Memória Histórica foi aplicada pelas autoridades de Navarra e exigiu que os restos mortais do general fossem desenterrados, com as objeções da família sobrevivente, e enterrados na seção militar de um cemitério municipal na cidade espanhola de Melilha — um enclave na costa de Marrocos, onde o general já havia estado no comando. Outras controvérsias se seguiram quando o general foi sepultado com honras militares num panteão de heróis militar, como confirmado pelo exército.[15] O governo de Navarra recebeu garantias do Ministério da Defesa de que "honrarias especiais não foram oferecidas" e que os restos foram recebidos como "apenas mais um soldado".[16]

Na ficção[editar | editar código-fonte]

A abertura do livro Hitler's War, do escritor de ficção de história alternativa Harry Turtledove, da série The War That Came Early, começa com o fatídico voo de Sanjurjo. O ponto de divergência é que ele aceita o conselho do piloto e abandona a bagagem, o avião já não fica sobrecarregado e portanto chega em segurança. O seu comportamento a partir de então é descrito como divergente do Franco real, com a Espanha assumindo um papel menos isolado na Segunda Guerra Mundial, juntando-se às Potências do Eixo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Site Biografías y Vidas». Consultado em 16 de Maio de 2019 
  2. Thomas (1961). pag. 16.
  3. Preston (2006). pag. 34.
  4. Preston (2006). pag. 36.
  5. a b c Preston (2006). pag. 37.
  6. Beevor (2006). pag. 18.
  7. a b Thomas (1961). pp. 18–19.
  8. Beevor (2006). p. 19.
  9. Beevor (2006) p. 2
  10. Paul Preston. The coming of the Spanish Civil War: reform, reaction, and revolution in the Second Republic. 2nd ed. Routledge, 1994. Pp. 51.
  11. Thomas, Hugh. The Spanish Civil War. Penguin Books. London. 2001. pp.95-97
  12. Desaparición de los partidos políticos, barrer de las esferas nacionales todo tinglado liberal y destruir su sistema de Juan Eslava Galán, Una Historia de la Guerra Civil que no va a Gustar a Nadie, Ed. Planeta. 2005. ISBN 8408058835 pag. 11
  13. Stanley G. Payne, Politics and the Military in Modern Spain, 1967, pag. 352
  14. Jose Sanjurjo Arquivado em 2007-01-02 no Wayback Machine at www.spartacus.schoolnet.co.uk
  15. histórica, Memoria. «Defensa entierra con honores al general golpista José Sanjurjo en Melilla» (em espanhol). eldiario.es. Consultado em 16 de maio de 2019 
  16. «El general Sanjurjo fue enterrado en Melilla como un soldado más». abc (em espanhol). 23 de abril de 2017. Consultado em 16 de maio de 2019 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Beevor, Antony (2006). The Battle for Spain: The Spanish Civil War 1936–1939. Londres: Weidenfeld & Nicolson. ISBN 0-297-84832-1 
  • Preston, Paul (2006). The Spanish Civil War: Reaction, Revolution, and Revenge. Nova Iorque: W. W. Norton and Company. ISBN 0-393-32987-9 
  • Thomas, Hugh (1961). The Spanish Civil War 1.ª ed. Londres: Eyre and Spottiswoode. OCLC 395987 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre José Sanjurjo