História alternativa

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Mapa fictício mostrando a divisão política em 1964 numa Europa onde a Alemanha Nazista não foi derrotada na Segunda Guerra Mundial.

História alternativa (também denominada ucronia), é um subgênero da ficção especulativa (ou da ficção científica) cuja trama transcorre num mundo no qual a história possui um ponto de divergência da história como nós a conhecemos. A literatura de história alternativa faz a seguinte pergunta: "o que aconteceria se a história tivesse transcorrido de maneira diferente?" A maioria das obras do gênero são baseadas em eventos históricos reais, ainda que aspectos sociais, geopolíticos e tecnológicos tenham se desenvolvido diferentemente. Embora em algum grau toda a ficção possa ser descrita como "história alternativa", um representante apropriado do subgênero contém ficção na qual um ponto de divergência ocorre no passado, fazendo com que a sociedade humana se desenvolva de maneira distinta da nossa.

Desde os anos 1950, este tipo de ficção fundiu-se em grande parte com os tropos da ficção científica envolvendo (a) entrecruzamento de períodos históricos, tempo paralelo, viagens entre histórias/universos alternativos (ou conhecimento psíquico da existência do "nosso" universo por pessoas em outro, como em obras de Dick e Nabokov), ou (b) viagens rotineiras "para cima" e "para baixo" no tempo resultando na partição da história em duas ou mais linhas temporais. Cruzamento de épocas, partição do tempo e temas da história alternativa se tornaram tão entrelaçados que é impossível discuti-los separados uns dos outros. O livro de 1962 "O Homem do Castelo Alto" de Philip K. Dick, em que os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial é um dos exemplos mais famosos de história alternativa, tendo marcado profundamente este gênero.

Em francês, romances de história alternativa são denominados uchronie. Este neologismo é baseado na palavra utopia (um lugar que não existe) e na palavra grega para "tempo", chronos. Uma uchronie, então, é definida como um tempo que não existe. Outro termo ocasionalmente utilizado (principalmente em espanhol) é "alohistória" (lit. "outra história")..[1]

História[editar | editar código-fonte]

Antiguidade[editar | editar código-fonte]

O mais antigo exemplo conhecido de história alternativa aparece em História de Roma desde sua fundação de Tito Lívio, livro IX, secções 17-19. Nele, o autor reflete sobre a possibilidade de Alexandre, o Grande ter partido para a conquista à oeste, antes de lançar suas tropas para o leste, o que o teria feito atacar Roma no século IV a.C.[2]

Século XIX[editar | editar código-fonte]

A primeira obra efetivamente alo-histórica parece ter sido o romance de Louis Napoléon Geoffroy-Château, denominado Napoléon et la Conquête du Monde, 1812-1813, no qual Geofffroy-Château imagina que Napoleão teria conquistado Moscou antes do desastroso inverno de 1812, o que lhe possibilitaria dominar boa parte do mundo.

Em língua inglesa, a primeira história alternativa conhecida parece ter sido o romance de Nathaniel Hawthorne, P.s Correspondance de 1845, livro cuja trama se volta para um homem aparentemente louco e que parece perceber uma realidade na qual figuras políticas e personalidades literárias já falecidas em 1845, tais como os poetas Burns, Byron, Shelley e Keats, o ator Edmund Kean, o político britânico George Canning e mesmo Napoleão Bonaparte ainda estão vivas. O primeiro romance inglês é Aristopia de Castello Holford (1895). Holford imagina o que teria sucedido se os primeiros colonizadores da Virgínia tivessem encontrado um recife de ouro puro, o que teria permitido estabelecer uma sociedade utópica na América do Norte.

Em português[editar | editar código-fonte]

O primeiro exemplo conhecido de literatura de história alternativa em português é o romance História Maravilhosa de D. Sebastião Imperador do Atlântico (1940, embora a maioria das cópias estejam não datadas) do escritor regionalista beirão português Samuel Maia, obra curiosa que (numa lógica de louvor do Império Português e da acção deste por lógica luso-tropicalista) imagina uma realidade em que o rei D. Sebastião de Portugal venceu a batalha de Alcácer Quibir e Portugal se tornou império dominante no Atlântico[3][4][5]. O primeiro exemplo no Brasil é a novela do escritor brasileiro José J. Veiga (1915-1999), A Casca da Serpente (1989), que imagina que Antonio Conselheiro (1830-1897) sobreviveu ao Massacre de Canudos (1897) para fundar uma nova Canudos, que existiu ao longo do século XX até a sua destruição durante a o regime militar na década de 1960.

O escritor brasileiro Gerson Lodi-Ribeiro tem feito muito para promover a história alternativa em língua portuguesa. Sua noveleta "A Ética da Traição" (1993) é considerada um clássico moderno da ficção científica brasileira. Imagina um presente alternativo em que o Brasil é um país muito menor, em razão da sua derrota na Guerra do Paraguai (1864-1870). Lodi-Ribeiro também escreveu história alternativa sob o pseudônimo de "Carla Cristina Pereira", explorando um cenário em que os portugueses chegaram à América antes de Colombo, e, aliados aos astecas, passam a construir um império global. Assumindo o pseudônimo em 2009, publicou com o seu próprio nome um romance dentro desse cenário, Xochiquetzal: Uma Princesa Asteca entre os Incas.

Publicada no Brasil em 2009, a antologia Steampunk: Histórias de um Passado Extraordinário, editada por Gianpaolo Celli, traz algumas histórias de história alternativa.

Em 2010, o escritor brasileiro Roberto de Sousa Causo teve publicada em livro a novela Selva Brasil, que imagina uma linha temporal alternativa em que o Brasil teria tentado invadir militarmente as Guianas, no início da década de 1960, ordenada pelo então presidente Jânio Quadros (1917-1992), a história é ambientada em 1993 e imagina um Brasil transformado por um conflito persistente em sua fronteira norte.

No ano de 2015, foram lançados os livros E de Extermínio e Segunda Pátria, ambos respectivamente das editoras Draco e Intrinseca. O primeiro, escrito por Cirilo Lemos, imagina um Brasil que permaneceu sob a monarquia até meados do século XX, até a eclosão de uma guerra civil entre republicanos, apoiados pelos americanos, e monarquistas, apoiados pelos soviéticos, após a saúde do imperador entrar em crise. O segundo, escrito por Miguel Sanches Neto, imagina a vida em um Brasil que às vésperas da Segunda Guerra Mundial, sob o governo de Getúlio Vargas, decide se aliar ao Eixo.

Em 2016, a editora paulista Linotipo Digital lançou o romance de estreia de Edson Miranda, O Agente do Imperador e o Dedo da Morte, que imagina a atuação do agente secreto brasileiro André Reis frente à uma ameaça nuclear. O livro tem como cenário um mundo no qual a monarquia brasileira sobreviveu até os dias atuais e se desenvolveu junto às potências do primeiro-mundo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Allohistory
  2. Livy's History of Rome: Book 9
  3. HISTÓRIA MARAVILHOSA DE DOM SEBASTIÃO IMPERADOR DO ATLÂNTICO, sítio miguel de carvalho: livreiro antiquário - antiquarian bookseller - livros raros e antigos/old and rare books, secção "tema: Literatura Portuguesa" (retirado a 24 de Maio de 2016)
  4. D. Sebastião e o Romance Histórico, Revista da Faculdade de Letras Línguas e Literatura, Porto, XIX, 2002, pp. 365-386. V. pp. 13-14
  5. História Maravilhosa de Dom Sebastião Imperador do Atlântico - Samuel Maia (1940), Álvaro de Sousa Holstein, blogue Memórias da Ficção Científica, sexta-feira, 12 de março de 2010

Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Em inglês[editar | editar código-fonte]

Em português[editar | editar código-fonte]

Em Italiano[editar | editar código-fonte]

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