Reino de Judá

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מַמְלֶכֶת יְהוּדָה
Reino de Judá

Monarquia religiosa


930 a.C. – 586 a.C.
Localização de Judá
Localização de Judá
Reinos de Israel e Judá ca. 830 a.C.
Continente Ásia
Região Antigo oriente
Capital Jerusalém
Língua oficial Hebreu
Governo Monarquia
Período histórico Levante, Idade do Ferro
 • 930 a.C. Fundação
 • 586 a.C. Dissolução

O Reino de Judá (em hebraico: מַמְלֶכֶת יְהוּדָה, Mamlekhet Yehuda), limitava-se ao Norte com o Reino de Israel Setentrional, a Oeste com a inquieta região costeira da Filístia, ao Sul com o deserto de Neguev, e a Leste com o rio Jordão e o mar Morto e o Reino de Moabe. Era uma região alta, geograficamente isolada por colinas de montanhas ao oeste, o mar Morto a leste e pelo deserto de Negueve ao sul. Sua capital era Jerusalém, onde encontrava-se o Templo de Jerusalém, o qual segundo a Bíblia, teria sido erigido por ordem do rei Salomão para abrigar a Arca da Aliança (ou Arca do Pacto).

Após a divisão do reino, no sexto ano do rei Roboão, o faraó Sheshonq I invade o território dos hebreus e transforma o Reino de Judá num estado tributário. Esse fato é pouco evidenciado no relato bíblico, mas comprovado por inscrições egípcias. (Inscrição mural sobre Sheshonq I no Templo de Karnak e a estela de Megiddo). Devido à sua posição estratégica às portas da península do Sinai e acesso ao Baixo Egito, foi utilizada pelo faraó como um Estado "tampão", o que lhe pouparia de usar seus próprios exércitos para defender esta fronteira.

O Reino de Judá entrou em conflitos com os reinos de Moabe, Amom e os filisteus. A Bíblia afirma eque o Reino de Judá permaneceu, de maneira geral, fiel à sua fé em Deus (Jahvé ou Jeová), enquanto que Israel setentrional tornara-se fortemente influenciado pela cultura cananeia e pela religião fenícia. O culto a Hashem e preservação da linhagem real davídica do qual deveria vir o prometido Messias, de acordo com os profetas do Velho Testamento, a justificativa para a misericórdia de Deus sobre o Reino de Judá, ao passo que o politeísmo de Israel Setentrional teria sido responsável por sua ira sobre seus governantes (enquanto o Reino de Judá permaneceu sob a dinastia dos descendentes do rei David, o Reino de Israel setentrional passou por várias dinastias e golpes de Estado).

A arqueologia vem demonstrando que durante os séculos IX e VIII a.C. Judá não passava de uma região atrasada, predominantemente rural, prejudicado pelo isolamento geográfico e com uma população politeísta formada principalmente por pastores nômades e mencionado por fontes estrangeiras pela primeira vez apenas em 750 a.C., dois séculos após a formação do reino de Israel. Este, por outro lado, localizado numa região mais privilegiada para a agricultura e rota de comércio entre os portos fenícios e os Estados mesopotâmicos, gozou de grande desenvolvimento anterior, durante os séculos IX e VIII a.C., estendendo suas fronteiras entre os territórios arameus ao norte da Galileia, instalando palácios em diversas partes do reino e formando um poderoso exército. [1]

O Reino de Judá viu o perigo das potências estrangeiras emergentes quando a capital de Israel, Samaria foi tomada pelo rei assírio Sargão II, em 722 a.C., o que o levou a buscar prestar vassalagem junto à Assíria. Ironicamente, a destruição do reino do norte pelos assírios causou um grande florescimento do reino de Judá, ao sul. A população cresceu enormemente, alimentada pelos refugiados hebreus do norte e, Jerusalém, antes uma pequena cidade de um reino pobre e isolado no sul, tornou-se o grande centro de influência entre todos os hebreus. Mais tarde, devido à recusa do rei Ezequias em continuar pagando tributos à Assíria, o rei Senaqueribe invade o Reino de Judá e sitia Jerusalém, mas sem a conquistar. Segundo a Bíblia, o seu exército foi "subitamente destruído por obra de Deus". Os registros assírios em Nínive e os trabalhos arqueológicos realizados na região apontam para uma situação diferente. Embora Jerusalém tenha sido apenas saqueada e poupada da devastação e do terrorismo de estado praticados pelos assírios contra populações rebeldes, outras cidades do reino de Judá, como a rica Laquis, na região oeste do reino, não contaram com a mesma sorte e foram pilhadas, com seus moradores assassinados ou escravizados. [2] Ao encerrar Senaqueribe sua campanha na Palestina, o saldo para o reino de Judá foi desastroso, com uma redução de um terço da população do reino e a perda da rica região do Sefelá, produtora de cereais, transferida pelos assírios aos seus vassalos filisteus.

Lista dos reis

Para esta época, a maioria dos historiadores segue as cronologias estabelecidas por William F. Albright ou Edwin R. Thiele, ou a nova cronologia de Gershon Galil. Todas elas são indicadas no quadro. Todas as datas são a.C. (Antes de Cristo).

Datas de Albright Datas de Thiele Datas de Galil Nome comum/ Nome biblico Tradução alternativa Nome Hebraico Notas
922–915 931–913 931–914 Roboão Reoboão רחבעם בן-שלמה מלך יהודה
Rehav’am ben Shlomoh
 
915–913 913–911 914–911 Abias Abião
Abiam
אבים בן-רחבעם מלך יהודה
’Aviyam ben Rehav’am
 
913–873 911–870 911–870 Asa   אסא בן-אבים מלך יהודה
’Asa ben ’Aviyam
 
873–849 870–848 870–845 Josafat Josafá
Jeosafá
יהושפט בן-אסא מלך יהודה
Yehoshafat ben ’Asa
 
849–842 848–841 851–843 Jorão Jeorão יהורם בן-יהושפט מלך יהודה
Yehoram ben Yehoshafat
Assassinado
842–842 841–841 843–842 Ocozias Acazias אחזיהו בן-יהורם מלך יהודה
’Ahazyahu ben Yehoram
Morto por Jeú, Rei de Israel
842–837 841–835 842–835 Atália   עתליה בת-עמרי מלכת יהודה
‘Atalyah bat ‘Omri
Assassinada
837–800 835–796 842–802 Joás Jeoás יהואש בן-אחזיהו מלך יהודה
Yehoash ben ’Ahazyahu
Assassinado
800–783 796–767 805–776 Amassias Amazias אמציה בן-יהואש מלך יהודה
’Amatzyah ben Yehoash
Assassinado
783–742 767–740 788–736 Ozias Uzias
Azarias
עזיה בן-אמציה מלך יהודה
‘Uziyah ben ’Amatzyah


עזריה בן-אמציה מלך יהודה
‘Azaryah ben ’Amatzyah

 
742–735 740–732 758–742 Jotam Jotão יותם בן-עזיה מלך יהודה
Yotam ben ‘Uziyah
 
735–715 732–716 742–726 Acaz   אחז בן-יותם מלך יהודה
’Ahaz ben Yotam
 
715–687 716–687 726–697 Ezequias   חזקיה בן-אחז מלך יהודה
Hizqiyah ben ’Ahaz
 
687–642 687–643 697–642 Manassés   מנשה בן-חזקיה מלך יהודה
Menasheh ben Hizqiyah
 
642–640 643–641 642–640 Amon Amom אמון בן-מנשה מלך יהודה
’Amon ben Menasheh
Assassinado
640–609 641–609 640–609 Josias   יאשיהו בן-אמון מלך יהודה
Yo’shiyahu ben ’Amon
Morreu em batalha
609 609 609 Joacaz Jeoacaz יהואחז בן-יאשיהו מלך יהודה
Yeho’ahaz ben Yo’shiyahu
אחז בן-יאשיהו מלך יהודה
’Ahaz ben Yo’shiyahu
 
609–598 609–598 609–598 Joaquim Jeoaquim יהויקים בן-יאשיהו מלך יהודה
Yehoyaqim ben Yo’shiyahu
 
598 598 598–597 Jeconias Jeoaquin יהויכין בן-יהויקים מלך יהודה
Yehoyakhin ben Yehoyaqim
יכניהו בן-יהויקים מלך יהודה
Yekhonyahu ben Yehoyaqim
Deposto pelos Babilónios.
597–587 597–586 597–586 Sedecias Zedequias
Matanias
צדקיהו בן-יהויכין מלך יהודה
Tzidqiyahu ben Yo’shiyahu
Ultimo Rei de Judá. Deposto e levado para o exílio.

A queda do Reino de Judá

Levante ca. 830 a.C.

De acordo com o Velho Testamento, Manassés, rei de Judá, teria feito o que é mau aos olhos de Deus, e por causa de suas obras, todo o Reino de Judá estava condenado ao exílio e à escravidão. Isso deve-se ao fato de Manassés ter permitido o culto politeísta das populações rurais do reino, o que não foi visto com bons olhos pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém, os quais defendiam um culto único a Hashem e a extinção completa dos cultos a outras divindades. Segundo registros assírios e achados arqueológicos, Manassés herdou de Ezequias um reino bastante combalido devido à campanha militar do rei Senaqueribe da Assíria, então a maior potência econômica e militar do Oriente Médio, empreendida contra aquele pequeno reino durante o reinado anterior, o que tornou extremamente árdua a tarefa em converter e destruir imagens. Manassés, sabendo das consequências e da impossibilidade em enfrentar de frente a potência assíria, buscou estreitar relações com essa nação, entrando de vez na rota do comércio árabe fomentado pelos assírios.

Durante o reinado de Josias, rei de Judá, o faraó Neco II, aliado do já decadente Império Assírio, empreendendo uma guerra contra os exércitos de Babilónia. Em 609 a.C., trava-se a Batalha de Megido. O rei de Judá entra em batalha para deter o exército egípcio do faraó Neco II, mas acaba por ser morto. Seu filho Joacaz é levado prisioneiro após três meses de reinado, e o Reino de Judá se torna tributário do Egito. Neco II impôs a coroação do irmão de Joacaz, Eliaquim, e mudou-lhe o nome para Joaquim. Em 605 a.C., trava-se a Batalha de Carquemis com a derrota definitiva de Neco II.

A leste, a Assíria sofreu um rápido declínio, e em poucos anos seu território foi absorvido pela Babilônia. Nabucodonosor II, rei da Babilônia, empreendeu uma campanha militar contra Judá. Enfrentando pouca resistência, conseguiu entrar em Jerusalém, em 597 a.C., e levou consigo utensílios do templo e o próprio rei Joaquim como prisioneiro. Em seu lugar, estabeleceu o filho de Joaquim, como rei de Judá. Joaquim, com 8 anos de idade, teve o mesmo destino de seu pai três meses e 10 dias depois de sua coroação. Nabucodonosor então colocou sobre o trono o irmão de Joaquim, Zedequias.

Governando como vassalo da Babilónia, o rei Zedequias manteve-se no poder por 11 anos, quando então rebelou-se contra Nabucodonosor, provavelmente ao recusar-se pagar tributo. Foi o suficiente para que invadisse Jerusalém, matasse seus habitantes, despojasse o templo de todos os seus bens de valor e ateasse fogo a ele. O Reino de Judá deixou assim de existir.

O destino de Judá

No território de Judá permaneceram apenas os mais pobres. Todo o restante do povo que sobreviveu ao ataque de Nabucodonosor II foi levado às cidades do reino da Babilônia. O período de cativeiro na Babilônia fez crescer entre o povo de Judá um sentimento de identidade racial e religiosa indissolúvel. O relato bíblico deste período entre a conquista de Jerusalém e a conquista da Babilônia por Ciro II é onde primeiramente se utiliza de forma consistente o termo "judeu" para identificar o povo de Judá, ou aqueles da mesma raça e seguidores da mesma religião daquele povo. A nação judaica sobreviveu para retornar à Palestina e repovoar a província persa de Judá (Yehud), mais tarde denominada Judeia pelos romanos.

A história de Judá após o Exílio na Babilônia passou a ser a mesma do próprio povo judeu, até os dias de hoje.

Referências

  1. Finkelstein, Israel; Silberman, Neil Asher (2001). The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts
  2. Finkelstein & Silberman 2001, The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts.

Bibliografia